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5. As Garantias de Proteção dos Dados Pessoais

5.3. Posição Adotada no Ordenamento Jurídico Português

O ordenamento jurídico-tributário português com as reformas introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 398/98, de 12 de dezembro, que aprovou a LGT, pelo Decreto- Lei n.º 433/99, de 26 de Outubro, que aprovou o CPPT, e pela Lei n.º 15/2001 de 5 de Junho, que aprovou o RGIT, veio tutelar a proteção dos dados pessoais tributários dos contribuintes, através das formas de garantia direta e indireta que estivemos a estudar nos capítulos precedentes.

68 Concordamos assim com JOSÉ CALDERÓN CARRERO quando afirma que “La protección indireta, por el

contrario, garantiza la reserva de la información fiscal estableciendo sanciones disciplinarias de caráter administrativo y/o penales en el caso de que las personas al servicio de la Administración tributaria infringieran su deber de sigilo en relación con los datos de los que tuvieran noticia en el ejercicio de sus funciones”. Cfr. JOSÉ CALDERÓN CARRERO, El derecho de los contribuyentes al secreto tributário, Fundamentación y consecuencias materiales y procedimentales… op. cit., p.22.

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Em primeiro lugar legislador consagrou no artigo 64.º da LGT que os dirigentes, funcionários e agentes da administração tributária estão obrigados a guardar sigilo sobre os dados recolhidos que demonstrem a situação tributária dos contribuintes e os elementos de natureza pessoal que obtenham no procedimento, tutelando assim de forma direta a proteção dos dados pessoais, consagrando também nos artigos 91.º e 115.º do RGIT as sanções para os casos de violação dos deveres de sigilo69, reforçando deste modo a posição do legislador nas garantias de proteção dos sujeitos passivos de forma indireta70.

Também o Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República no seu Parecer n.º20/94, veio afirmar que “O exercício de certas profissões, como o funcionamento de determinados serviços exige ou pressupõe, pela própria natureza das necessidades que tais profissões ou serviços visam satisfazer, que os indivíduos que a eles tenham de recorrer revelem factos que interessam à esfera íntima da sua personalidade, quer física, quer jurídica. Quando esses serviços ou profissões são de fundamental importância coletiva, porque virtualmente todos os cidadãos carecem de os utilizar, é intuitivo que a inviolablidade dos segredos conhecidos através do seu funcionamento ou exercício constitui, como condição indispensável de confiança nessas imprescindíveis atividades, um alto interesse público. Daí que a violação da obrigação a que ficam adstritos certos agentes profissionais de não revelarem factos confidenciais conhecidos através da sua atividade funcional - obrigação que informa o conceito do segredo profissional - seja punível não só disciplinarmente mas também criminalmente”71.

Daqui pode ser vislumbrado que o legislador através da consagração do dever de confidencialidade fiscal, procurou de forma direta, a proteção dos dados pessoais dos contribuintes como corolário do princípio da reserva da vida íntima e da confiança na segurança destes face a terceiros, consagrando ainda garantias que permitam de

69 Cfr. Código de Conduta dos Trabalhadores da Autoridade Tributária e Aduaneira, Ministério das Finanças. 70 Se fizermos assim um estudo de Direito Comparado, vemos que existem várias posições quanto às garantias de

confidencialidade. No direito anglo-saxónico, o dever de sigilo esta consagrado de forma eminentemente forte, na medida em que os funcionários não conhecem com exatidão os dados relevantes para efeitos fiscais, de modo a que não seja possível revelar a terceiros, estes dados pessoais; já na família germânica, como ocorre na França ou na Itália, encontra-se enraizado o direito de arquivo aberto, sendo os dados e informações relevantes para efeitos fiscais, revelados a terceiros caso estes desejem.

71 Cfr. Parecer n.º20/94, de 9 de Fevereiro, do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República, disponível

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forma indireta assegurar esta tutela de modo a que a violação deste dever de sigilo leve à aplicação de sanções administrativas ou penais, como forma de prevenção face à violação deste meio de proteção direta.

Nessa medida e uma vez que a proteção dos contribuintes não poderia ficar sujeita a meras expectativas numa matéria tão sensível como é a área dos direitos de personalidade, maxime o direito à reserva da vida íntima e da privacidade dos sujeitos passivos72 - que por razões de interesse superior e da coletividade, observam como é restringido no cumprimento destas obrigações tributárias -, foi instituído pelo legislador, meios de proteção e de garantia que permitem do ponto de vista axiológico, incentivar o cumprimento voluntário das suas obrigações acessórias e informativas, de modo a concretizar a prossecução das atividades da administração tributária.

72 Cfr. ABÍLIO MORGADO, “O Sigilo Fiscal”, in Ciência e Técnica Fiscal - n.º 414, Julho / Dezembro - 2004,

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DIVISÃO II

AS NOVAS TECNOLOGIAS NO SISTEMA DE GESTÃO FISCAL

1. Abordagem Inicial à Relação do Sistema fiscal e do Direito Tributário à Informática

Antes de começar a análise acerca da adoção das novas tecnologias na atividade tributária, não podemos esquecer que a Administração Tributária, num sistema de gestão fiscal de intervenção subsidiária, carece de um grande volume de dados e informações, que lhe permita desenvolver a sua atividade sem qualquer entrave ou dificuldade. Com a adoção destas novas tecnologias, a comunicação entre os contribuintes e a Administração Tributária, tornou-se assim uma tarefa mais célere e eficiente. Nessa medida, a adoção das novas tecnologias pela administração tributária assume-se positivamente, como um meio instrumental que simplica a comunicação entre contribuintes e administração, enquanto negativamente afigura-se como um meio de relativa perigosidade na intromissão por terceiros a estes dados detidos nas repartições públicas, seja pelo acesso às bases de dados informáticas onde estes se encontram depositados, ou pela intromissão nestas comunicações. Cumpre- nos assim começar por estudar a necessidade que os dados e informações relevantes para efeitos tributários, assumem nos sistemas de gestão fiscal hodiernos, e a sua correlação com a adoção das novas tecnologias pela Administração Tributária.

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