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3. Os Limites ao Dever de Contribuir

3.2. Limites Derivados da Proteção dos Dados Pessoais

Como vimos supra, o tratamento dos dados pessoais em matéria tributária encontra-se balizado pelos princípios jurídicos que regulam a proteção dos dados pessoais, os quais encontram consagração legal pela Lei n.º 67/98, de 26 de Outubro, que será inteiramente aplicável no tratamento de dados pela Administração Tributária por remissão expressa da alínea c) do artigo 2.º da LGT.

Em termos cronológicos, encontramos como primeiro ato do procedimento do tratamento dos dados pessoais, a recolha dos dados pessoais pela Administração Tributária, encontrando neste momento do procedimento o acesso aos dados e informações pessoais dos contribuintes. É de vislumbrar que esta recolha está legitimada, quando a sua recolha e tratamento tenha subjacente a prossecução de terminada finalidade, tal como determina o artigo 6.º da Lei n.º 67/98, de 26 de Outubro. Nestes casos a lei exceciona aqueles casos em que os dados pessoais devam ser recolhidos e tratados sem o consentimento prévio do seu titular, desde que esses dados pessoais tenham por finalidade a execução de uma missão de interesse público, como é a manutenção do sistema fiscal.

Assim, e constituindo os dados pessoais dos contribuintes um meio essencial na concretização da busca da verdade material efetiva, não poderia o legislador colocar em causa a posição da administração tributária face à falta de consentimento do contribuinte na cessão destes dados pessoais, uma vez que a mesma inviabilizaria todo o funcionamento do sistema tributário.

Por esta razão, o legislador veio consagrar exceções à necessidade do consentimento por parte do contribuinte, sob pena de fazer perigar – ou mesmo impossibilitar - a busca da verdade material e da efetiva capacidade contributiva por

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parte da Administração Tributária, causando-lhe sérias dificuldades na obtenção de dados relevantes, prejudicando a arrecadação de receita por parte da administração159.

No entanto, esta recolha deve ser dada a conhecer aos contribuintes, dando aqui o legislador especial relevância ao dever de informação que impende sobre as entidades que devam tratar os dados pessoais (cf. artigo 10.º da LPDP), pelo qual se deve informar o contribuinte sobre a existência dos dados recolhidos, bem como a possibilidade de exercer os seus direitos de acesso, oposição ou retificação.

Em segundo lugar, o princípio da proporcionalidade e da finalidade funcionam aqui como limite no acesso e no tratamento dos dados pessoais, uma vez que apenas poderão ser recolhidos e tratados os dados pessoais dos contribuintes quando tal se afigure necessário e adequado à finalidade que justifica a sua obtenção, assumindo especial relevo o momento da obtenção dos dados pessoais, mas também o posterior cancelamento, nomeadamente quando os dados já não tenham qualquer finalidade que justifiquem o seu tratamento160.

Assim, impõe-se que, no momento da obtenção dos dados pessoais, estes sejam pertinentes e não excessivos, e que, no momento do tratamento, os dados pessoais sejam adequados às finalidades para que foram recolhidos, não podendo ser tratados para finalidades incompatíveis para aquelas a que foram recolhidos. Neste sentido, sufragamos o entendimento de JUAN MANUEL HERRERO DE EGAÑA quando refere que os dados que deixem de ser necessários ou pertinentes para as finalidades para que foram recolhidos, devem ser cancelados161.

Neste sentido, impõe-se, ainda, que os dados pessoais recolhidos devam ser verdadeiros, exatos e atuais, de modo a que correspondam a informações atuais e verídicas das situações que descrevem e sobre o contribuinte que visam tributar, sendo que, e agora de um ponto de vista negativo, caso estes dados não sejam atuais,

159 Como identifica Cfr. JUAN MANUEL HERRERO DE EGAÑA “pensemos que la Administración Tributaria,

por ejemplo, no pudiera obtener, almacenar y tratar los datos sin el consentimiento de los interesados. Desde luego, ni que decir tiene que quedaría gravemente comprometida la viabilidad de un sistema público de ingresos que estuviera basado en la voluntariedad de los obligados tributarios”. Cfr. JUAN MANUEL HERRERO DE EGAÑA ESPINOSA DE LOS MONTEROS, Intimidad, tributos y protección de datos personales… op. cit. p.15.

160 Cfr. FRANCISCO ENÉRIZ OLAECHEA, La Protección de Datos de Caráter Personal, 2012, pp.19 e

seguintes, disponível em http://www.navarra.es/NR/rdonlyres/517A4434-9C3B-442E-8651- 61A7AE0490AD/226319/pdcp.pdf, consultado a última vez em 02/01/2016.

161 Cfr. JUAN MANUEL HERRERO DE EGAÑA ESPINOSA DE LOS MONTEROS, Intimidad, tributos y

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verídicos ou completos, deverão modificar-se de modo a tornar a situação a que se reportam atual e verídica.

Em terceiro lugar, e como decorre do artigo 268.º da CRP, dos artigos 17.º e 82.º a 85.º, todos do CPA de 2015, e, no âmbito tributário, do artigo 67.º da LGT, bem como do artigo 11.º da LPDP, o contribuinte tem direito de acesso aos dados pessoais que lhe digam respeito, podendo solicitar a consulta gratuita dos dados pessoais que sejam tratados pela Administração Tributária, bem como a obter informação sobre a origem dos dados pessoais, gozando assim do chamado direito à autodeterminação

informativa162, que lhes permite obter as informações e o controlo sobre os dados que a Administração Tributária tenha em seu poder.

Por último, os contribuintes gozam, ainda, do direito à retificação, atualização e cancelamento dos dados pessoais quando estes dados já não sejam relevantes para efeitos fiscais, uma vez que deixarão de servir para a finalidade subjacente ao seu tratamento, devendo por isso ser cancelados em respeito pelo princípio da finalidade.

Deste modo, quando esses dados já não correspondam à realidade que visam expressar devem os mesmos ser atualizados, já que o tratamento de dados pessoais obsoletos e desconformes com a realidade não permite concretizar a finalidade e a prossecução do objeto para que foram recolhidos, tendo assim o contribuinte a faculdade legal de atualizar os dados pessoais que lhe digam respeito163.

Estes direitos constituem, assim, uma importante faculdade que os contribuintes gozam em matéria de proteção dos seus dados pessoais, não podendo estes ser negados sob pena desta omissão ser comunicada à CNPD, uma vez que nos termos do artigo 22.º da LPDP, é a autoridade nacional que tem como competência, controlar e fiscalizar o cumprimento das disposições legais e regulamentares em matéria de proteção de dados pessoais, em rigoroso respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades e garantias consagradas na Constituição e na lei.

162 Cfr. GOMES CANOTILHO, VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Vol. I… op. cit.

pp.551 e seguintes

163 Na Lei Geral Tributária, apesar de o legislador não ter consagrado um direito de retificação dos dados pessoais

desatualizados, num âmbito geral, deixou esparso pela Lei Geral, o direito à retificação de dados pessoais dos contribuintes, sendo exemplo paradigmático deste direito à atualização dos dados pessoais, o direito ou como a Lei Geral Tributária, designa como “dever” de comunicar à Administração Tributária a alteração do domicílio fiscal, como decorre do prescrito no n.º5 do artigo 19.º da LGT.

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4. Princípio da Finalidade no Tratamento dos Dados Pessoais pela

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