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A redução da jornada de trabalho na França

CAPÍTULO 4 A QUESTÃO DA REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

4.3 A Abordagem Histórica

4.3.1 A redução da jornada de trabalho na França

Durante o período da chamada revolução industrial, as leis referentes às condições de trabalho na França, de maneira semelhante ao que ocorreu na Inglaterra, pouco evoluíram no sentido da redução da jornada de trabalho, ficando direcionadas, com maior ênfase, à redução e proibição do trabalho infantil.

Fracalanza traz as principais leis promulgadas neste período:

• 1841 - primeiro texto legal de real importância na França sobre a duração

do tempo de trabalho. A Lei regulamentava o trabalho de crianças nas manufaturas, fábricas e oficinas com mais de vinte empregados, estabelecendo, entre outras medidas: interdição do trabalho infantil antes dos oito anos de idade, duração máxima do trabalho infantil em oito horas diárias para as crianças de 8 a 12 anos e em 12 horas diárias para aquelas entre 12 e 16 anos, e obrigação do repouso dominical.

Todavia, esta lei tinha cunho mais simbólico, e seu objetivo principal era a redução da concorrência predatória entre as indústrias têxteis. Na prática, suas determinações eram em muito desrespeitadas.

• 1848 - decreto que instituía a jornada de trabalho diária de 10 horas em

Paris e de 11 horas nas demais cidades francesas.

Em setembro deste mesmo ano um novo decreto instituiu a jornada de 12 horas em toda a França.

• 1874 - foi somente em 1874 que uma nova lei substituiu o texto de 1841.

Contudo, novamente reportava-se ao trabalho infantil, diminuindo o tempo de trabalho, extrapolando, contudo, os limites da indústria. A idade mínima foi ampliada de 8 para 12 anos, sendo também a jornada reduzida para 6 horas diárias. A lei também proibiu o trabalho noturno para crianças e manteve o descanso aos domingos.

• 1814 - estabelecia a garantia de repouso aos finais de semana e festas

• 1880 - anula a Lei de 1814 e define que o repouso semanal dos trabalhadores

adultos deveria seguir as convenções e usos locais.

• 1906 - restabelece o repouso dominical obrigatório para todos os trabalhadores.

Com a expectativa da Primeira Grande Guerra, fortaleceram-se os movimentos de trabalhadores, ocorrendo, na prática, sensível redução da duração da jornada de trabalho, que diminuiu em aproximadamente 11% no período 1881-1913.

• 1882 - fixação em 11 horas diárias para o trabalho feminino; proibição

do trabalho noturno, já existente para crianças até 18 anos e para todas as mulheres.

A idade mínima para crianças trabalharem passou de 12 para 13 anos, sendo a duração máxima de 10 horas para crianças de 13 a 16 anos, e de 11 horas para crianças de 16 a 18 anos de idade.

• 1890 - redução da jornada de trabalho para 11 horas diárias.

• 1902 - redução da jornada de trabalho para 10 horas e meia diárias. • 1904 - redução da jornada de trabalho para 10 horas diárias.

• 1910 - institui o mecanismo de aposentadoria em 65 anos de idade.

Período entre Guerras

• 1910 - fixou-se a duração máxima da jornada de trabalho em oito horas

diárias (48 horas de trabalho semanal).

• 1936 - fixação de 40 horas semanais e de duas semanas de férias

anuais pagas.

De acordo com Fracalanza (2001),

Em princípio a semana de 40 horas, que tinha entre outros objetivos a criação de empregos, teve por resultado a diminuição da duração semanal efetiva do trabalho. Era a primeira vez, em verdade, que se garantia aos trabalhadores o direito ao lazer, não apenas pela redução do tempo de trabalho, mas também pela garantia das férias remuneradas (FRACALANZA, 2001, p.42).

Contudo, tendo em vista a insipiência da Segunda Grande Guerra, isto fez com que os esforços bélicos e armamentistas fossem aos poucos, na prática, elevando a duração da jornada de trabalho. Como conseqüência deste processo, a duração efetiva semanal do trabalho aumentou significativamente, ultrapassando largamente o previsto em lei.

Duração do Trabalho na França no Pós-Guerra

Como foi dito, no período que antecede a Segunda Grande Guerra, e naquele em que esta se desenrola, a duração da jornada de trabalho aumenta, ocorrendo uma desregulamentação "voluntária" em vários campos.

• 1956 - concessão da terceira semana de férias anuais.

Durante este período discute-se mais a duração das férias do que propriamente a duração da jornada semanal.

• 1969 - fica estabelecida a quarta semana legal de férias.

A evolução da jornada legal de trabalho para o período de 1998 e a Lei Aubry serão abordadas no capítulo 4.6.

4.3.1.1 O Decreto-Lei de 1982

Em 1982, durante o governo Mitterrand, seguindo pela política de redução do tempo de trabalho, diminuiu a duração da semana legal de 40 horas para 39 horas, aumentando de quatro para cinco semanas a duração legal das férias pagas e diminuindo a idade de aposentadoria de 65 anos para 60 anos. Os resultados desta experiência foram vistos por muitos como um profundo fracasso político, sendo que o ganho foi a abertura de brechas para um prática que se tornaria bastante difundida com o correr dos anos, a adequação dos horários de trabalho.

Dentro do que se entende como adequação dos horários de trabalho, é possível considerar diversas práticas que objetivam tornar mais flexíveis os horários de trabalho e a modelação destes.

A modulação dos horários de trabalho permite à empresa adaptar-se às flutuações da demanda por seus produtos por meio de uma gestão mais flexível dos horários de trabalho de seus efetivos. Respeitados certos limites estabelecidos pelo texto legal, a duração semanal do trabalho pode variar amplamente ao longo do ano.

Na modulação do horário de trabalho, três condições devem ser observadas: 1. O cômputo da duração semanal média do trabalho ao longo do ano não

deveria ultrapassar o limite legal das 39 horas.

2. As modificações dos horários de trabalho deveriam ser comunicadas aos trabalhadores com antecedência.

3. A duração diária do trabalho não poderia ultrapassar o teto das dez horas.

Fracalanza (2001) afirma:

Acreditava-se, por exemplo, que a taxa de desemprego recuaria sensivelmente poucos meses depois da aplicação do novo dispositivo das 39 horas. Inevitavelmente, essa expectativa seria frustrada, pois os efeitos de uma política de redução do tempo de trabalho sobre o nível de emprego da economia exigem certo tempo para se manifestarem (FRACALANZA, 2001, p.159).