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Os instrumentos de política econômica

CAPÍTULO 3 MERCADO DE TRABALHO E DESEMPREGO

3.5 O Macroambiente Econômico

3.5.2 Os instrumentos de política econômica

Os instrumentos de política econômica genericamente podem ser condensados em quatro grupos: Política Monetária, Política Fiscal, Política Cambial e Política Comercial e de Rendas, sendo que as duas primeiras têm maior impacto sobre o sistema econômico.

A política monetária refere-se às ferramentas de atuação do governo sobre a oferta de moeda, e, conseqüentemente, sobre a taxa de juros da economia, podendo, assim, estimular ou conter a atividade econômica. A princípio um aumento da oferta de moeda reduz a taxa de juros do sistema, estimulando a atividade produtiva. O inverso também é verdadeiro, ou seja, quando o objetivo é conter o crescimento da demanda o governo reduz a liquidez monetária, fazendo com que a taxa de juros aumente. Evidentemente, sob um prisma keynesiano o governo deve reduzir a taxa de juros, estimulando, desta maneira, a demanda agregada e o

crescimento econômico. Por outro lado, seguindo uma visão neoclássica, o governo deve participar o menos possível da atividade econômica, mantendo no sistema somente a quantidade de moeda necessária para a circulação de bens e serviços.

Dentre os instrumentos de política econômica podemos destacar as operações de mercado aberto, ou open market, o depósito compulsório e o redesconto bancário. As operações de open market estão relacionadas à atuação do governo no mercado aberto, vendendo títulos públicos quando o objetivo é reduzir a quantidade de moeda em circulação, e realizando o inverso quando o objetivo é aumentar a quantidade de moeda em circulação.

Um segundo instrumento é o depósito compulsório. Este instrumento atua sobre o total de depósitos na rede bancária. Deste volume de depósitos, o governo exige que uma parte seja esterilizada junto ao Banco Central, evitando, desta forma, a sua circulação no sistema econômico. Quando o objetivo é limitar a circulação de moeda no sistema, o governo eleva o depósito compulsório, fazendo com que uma parcela maior fique retida. Por outro lado, o governo pode ampliar a oferta de meios de pagamento, reduzindo o percentual recolhido do depósito compulsório.

O redesconto bancário deve ser entendido como o terceiro mais importante instrumento de política monetária. Quando os bancos comerciais atravessam dificuldades de caixa, inicialmente buscam cobrir suas posições através de crédito obtido junto a outros bancos, no chamado mercado interbancário. Porém, quando os recursos obtidos no mercado interbancário são insuficientes, só resta ao banco recorrer ao Banco Central, através da chamada operação de redesconto. Todavia, o juro cobrado pelo Banco Central nesta situação é sempre punitivo, pois o objetivo das autoridades econômicas é impedir que os bancos exagerem no crédito e fiquem a descoberto, ou seja, o redesconto bancário visa primordialmente controlar a solvência do sistema financeiro, não sendo um instrumento prioritário no controle da taxa de juros da economia. Contudo, através da utilização de uma taxa de juros de

redesconto mais elevada, ou mais baixa, o Banco Central pode, indiretamente, afetar a taxa de juros da economia como um todo.

Além dos instrumentos tradicionais de política monetária, o governo pode também afetar a taxa de juros da economia, administrando a taxa de juros com a qual remunera seus títulos, ou que adota como referência. No caso brasileiro trata-se da taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia). Gerenciando esta taxa de juros o governo pode, de maneira similar à administração da taxa de redesconto, afetar a taxa de juros do sistema como um todo.

Um segundo grupo de políticas econômicas está relacionado à política fiscal, ou seja, ao controle de gastos (política de gastos), e à arrecadação do governo (política tributária). O estímulo do governo ao econômico vem de um aumento de gastos e redução da carga tributária, sendo logicamente, esta prática, contrária à visão neoclássica, segundo a qual o governo não deve intervir na atividade econômica, sob pena de perturbar o equilíbrio natural, trazendo como conseqüência, por exemplo, o crescimento dos preços. O papel do governo na atividade econômica, portanto, deve ser o inverso, ou seja, evitar qualquer interferência no mercado.

Já de acordo com a teoria keynesiana, os instrumentos de política fiscal do governo exercem um papel fundamental, devendo, principalmente os gastos do governo, efetuar um papel anticíclico, reduzindo os gastos quando a economia está em expansão, mas elevando-os quando a economia atravessa períodos de recessão.

Os instrumentos pertencentes ao grupo dos instrumentos de política cambial e comercial têm estreito relacionamento com as políticas monetária e fiscal. O instrumento mais autêntico de política cambial refere-se à atuação do governo no mercado cambial. As formas tradicionais de atuação sobre o mercado cambial são câmbio livre ou flexível, e o câmbio fixo. No câmbio livre típico, a cotação da moeda externa se dá pelo equilíbrio da oferta e da demanda de divisas no mercado sem intervenção do governo. Já no chamado câmbio fixo, o governo fixa a cotação para a

moeda externa e intervém sempre que necessário no mercado, para evitar que a taxa de câmbio sofra alteração.

Além das formas puras de administração do mercado cambial, câmbio livre e câmbio fixo, existem inúmeras formas híbridas, como o regime de bandas cambiais, em que as autoridades fixam um teto e um piso, dentro dos quais o câmbio pode flutuar, e a chamada flutuação suja (dirty float), através da qual a taxa de câmbio, a princípio, pode flutuar livremente. Contudo, quando algum objetivo macroeconômico, por exemplo o controle inflacionário, puder ser comprometido com a flutuação da variação cambial, o governo passa a atuar no mercado.

A política comercial está vinculada principalmente à atuação da política fiscal direcionada às relações externas, como subsídios, reduções tributárias e criação de infra-estrutura ao setor exportador. Também o estudo e desenvolvimento de estratégias competitivas compõem este grupo de políticas econômicas.

Quando nos referimos às políticas de renda, tratamos da atuação direta do governo através de gastos sociais, como bolsa-família, bolsa-escola, seguro- desemprego, entre outros, que buscam propiciar uma melhor distribuição de renda em benefício dos menos assistidos.