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Tecnologia e emprego no contexto avançado

CAPÍTULO 3 MERCADO DE TRABALHO E DESEMPREGO

3.4 A Questão da Tecnologia

3.4.1 Tecnologia e emprego no contexto avançado

Tanto o mercado de trabalho, como o próprio trabalho, têm sofrido alterações, assim como a própria configuração do sistema capitalista, motivo pelo qual neste subcapítulo estaremos discutindo a relação de emprego e a tecnologia em um contexto avançado.

Existe, inegavelmente, uma crise no trabalho. Mas essa crise não é igual às anteriores. Sempre houve desemprego. A economia funciona em ciclos, com fases ascendentes e descendentes. Mas agora vivemos uma situação nova: a supressão de postos de trabalho. Estamos atravessando uma profunda mudança nos conceitos de trabalho e experimentamos um novo arranjo nos valores sociais. Por isso, é tão importante conhecer o passado e saber distinguir a situação presente, para tentar entender suas demandas, reconhecer as possibilidades e reinventar novas oportunidades (SILVA, F. C. T. da, 1999, p.9).

O fato é que estamos provavelmente às vésperas de uma reestruturação que pode reenquadrar a importância do emprego na vida do homem. Caso o caminho adotado termine por levar a uma distribuição igualitária dos benefícios trazidos pelo desenvolvimento tecnológico, teremos inevitavelmente uma reconfiguração do papel do trabalho na sociedade e na vida das pessoas. Além da reconfiguração do papel do trabalho, também deve ser observada a mudança e reconfiguração do emprego, bem como a importância relativa do posto de trabalho ao longo da cadeia produtiva.

As novas tecnologias de informática e de comunicação, aceleradas com a terceira grande revolução industrial, têm levado ao declínio inevitável dos níveis de emprego nos setores onde atuam. Por outro lado, é possível argumentar que a tecnologia é geradora de empregos, tanto na tecnologia da produção, como na

tecnologia do produto, além do fato de outros empregos serem gerados ao longo da cadeia produtiva.

No passado, quando novas tecnologias substituíram trabalhadores em determinado setor, havia concomitantemente a criação de novos empregos em outros setores, o que acabava por absorver os trabalhadores excluídos. Atualmente este processo de deslocamento da mão-de-obra ocorre ao longo da cadeia produtiva, e vários pontos devem ser observados no que se refere à qualidade e quantidade do emprego gerado.

A eliminação de trabalhadores de alguns setores se deve ao fato de que, ao longo da história, as primeiras tecnologias substituíram a força física do trabalho humano, sendo que as máquinas tinham como finalidade a substituição da força muscular. Com o decorrer do tempo, e de forma acelerada, as novas tecnologias passam a substituir trabalhos que exigem conhecimento e discernimento. Atualmente, a tendência é de que as novas tecnologias venham a substituir a capacidade racional do ser humano. E muitas vezes a realocação desta mão-de- obra ocorre em postos onde a capacidade intelectual não é tão exigida.

As empresas estão cada vez mais eliminando níveis de gerência tradicionais, adotando a chamada horizontalização da pirâmide hierárquica, eliminando, com isto, gerências intermediárias, buscando racionalizar processos produtivos, com vistas à redução de custos. Esta medida, porém, reduz a quantidade de postos de trabalho, e não apenas no chamado chão de fábrica, mas também na estrutura administrativa. Grande parte desta redução está associada ao fracionamento destes postos ao longo da cadeia produtiva.

A tecnologia, que pode ser traduzida em uma redução das oportunidades de emprego, pode, por outro lado, representar ganhos para a categoria dos trabalhadores e para toda a comunidade, desde que os benefícios trazidos por ela possam ser compartilhados por todos. Esta, provavelmente, é uma das questões mais importantes a serem revistas no sistema capitalista.

Estamos sendo arrebatados por uma nova e poderosa revolução tecnológica, que promete grandes transformações sociais, como jamais se viu antes na história. A nova revolução da alta tecnologia poderia significar menos horas de trabalho e maiores benefícios para milhões. Pela primeira vez na história moderna, grande número de pessoas poderia ser libertado de longas horas de trabalho no mercado de trabalho formal e ficar livre para se dedicar a atividades de lazer. Entretanto, as mesmas forças tecnológicas poderiam levar facilmente ao crescente desemprego e a uma depressão global. Se é um futuro utópico ou não que nos aguarda, isto depende muito de como os ganhos de produtividade serão distribuídos.

Na busca de uma maior eficiência, de aumento da produtividade e de redução dos custos, o que garante a própria sobrevivência das empresas, estas acabam por investir cada vez mais em meios de produção, e isto sempre em um patamar tecnológico mais elevado, causando elevação do nível de desemprego na empresa, ainda que este desemprego possa ser absorvido por outras empresas, inclusive ao longo da cadeia produtiva.

Para Rifkin,

Os críticos, por sua vez, bem como um número crescente de pessoas já deixadas à margem da Terceira Revolução Industrial, estão começando a questionar de onde os novos empregos virão. Em um mundo em que sofisticadas tecnologias da informação e da comunicação serão capazes de substituir uma parte cada vez maior da força de trabalho global, é improvável que mais do que uns poucos afortunados serão retreinados para os relativamente escassos cargos de alta tecnologia científica, profissionais e administradores que serão colocados à disposição no emergente setor do conhecimento. A própria idéia de que milhões de trabalhadores deslocados pela reengenharia e pela automação dos setores agrícola, industrial e de serviços possam ser retreinados para tornarem-se cientistas, engenheiros, técnicos, executivos, consultores, professores, advogados, etc., e depois encontrar o número correspondente de oportunidades de trabalho no setor muito restrito da alta tecnologia [representa], na melhor das hipóteses, um castelo no ar e, na pior, um delírio (RIFKIN, 1995, p.311).

Na visão de Rifkin, o futuro é sombrio e os impactos da tecnologia sobre o emprego são claramente negativos, inexistindo possibilidade de sobrevivência do capitalismo senão através da distribuição dos frutos da riqueza. Segundo ele, o ponto onde nos encontramos é uma encruzilhada, pois, se por um lado podemos encontrar um mundo no qual os benefícios trazidos pela tecnologia são convertidos em bem-estar generalizado da população, em que todos podem usufruir os ganhos de produtividade, pela possibilidade de obter mais tempo livre para lazer, por outro lado temos o risco de extensão da maioria dos postos de trabalho e da condenação dos trabalhadores expulsos do mercado e condenados à miséria.

As empresas, notadamente as do setor industrial, na busca da competitividade e sobrevivência, tentam cada vez mais se modernizar e adotar novas técnicas de gestão da produção, como o Círculo de Controle de Qualidade15, Kambam16, 5 S17,

reengenharia, entre outras.

Segundo Corrêa (1997), ao procurarem a modernização de seu maquinário, as organizações estão afetando diretamente sua força de trabalho, a qual, ou será treinada para utilizar esses novos equipamentos ou será descartada, pela impossibilidade da empresa de mantê-la ociosa. As novas tecnologias estão, assim, constantemente afetando o trabalhador, que, ou ficará sem trabalho e buscará novas formas de sobrevivência, ou verá esse mesmo trabalho sendo intensificado pela necessidade de novos conhecimentos e novas práticas das "transformações no conteúdo do trabalho".

15Círculos de Controle da Qualidade são grupos que se formam com o intuito de melhorar um determinado processo produtivo, à luz das doutrinas dos programas de qualidade total.

16 Kambam se refere a métodos de controle de estoque, em que é anotada em etiquetas, nas mercadorias (insumos), a data em que esta entrou no estoque e o momento que deverá ser utilizada. O objetivo é trabalhar com estoques mínimos.

17 Programa que visa mudar a maneira de pensar das pessoas na direção de um melhor comportamento. Trata-se de uma nova maneira de conduzir a empresa, com ganhos efetivos de produtividade. A sigla 5S deriva de cinco palavras japonesas: Seiri, Seiton, Seisoh, Seiketsu e Shitsuke.

A relação de ganhos e perdas da tecnologia também pode ser discutida pontualmente na empresa ou setor onde ela irá atuar, pois apesar dos efeitos macroeconômicos da tecnologia sobre o emprego não poderem ser comprovados, na maioria dos casos a tecnologia acaba por extinguir postos de trabalho, mesmo que estes venham a crescer ao longo da cadeia produtiva.