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Políticas econômicas e atividade econômica

CAPÍTULO 3 MERCADO DE TRABALHO E DESEMPREGO

3.5 O Macroambiente Econômico

3.5.1 Políticas econômicas e atividade econômica

As políticas econômicas têm como finalidade o alcance de objetivos macro- econômicos a serem cumpridos, entre eles o crescimento e desenvolvimento econômico, a estabilidade de preços e a geração de empregos. Portanto, com vistas a obter sucesso nessas metas, o governo deve utilizar-se de ferramentas, para que, agindo sobre a atividade econômica, venha a atingir o seu intento.

A forma pela qual se dá a condução dessas políticas econômicas não é de opinião unânime, sendo o assunto relativamente controverso, dadas as diferentes interpretações e teorias econômicas existentes. Este trabalho se atém a duas dessas correntes de pensamento econômico, as quais podem ser entendidas como compiladoras das demais vertentes. São elas o pensamento neoclássico e a teoria keynesiana.

A origem da chamada Escola Neoclássica nasce em conjunto com o próprio entendimento da economia enquanto ciência, e remonta ao final do século XVIII, nos ensinamentos de Adam Smith, David Ricardo, Jean Baptiste Say, entre outros. Na

realidade, a distinção entre Escola Clássica e Escola Neoclássica é apenas uma distinção temporal e acadêmica, pois os representantes da Escola Neoclássica, dentre os quais destacamos Alfred Marshall, Leon Walras e Arthur Cecil Pigou, realizaram uma reedição dos postulados clássicos com uma nova "roupagem", utilizando com mais ênfase ferramental matemático e gráfico, para a experimentação e comprovação dos ensinamentos. O próprio Keynes, em sua obra Teoria Geral, critica os postulados da Escola Clássica, tratando indistintamente os pensadores clássicos e neoclássicos, chamando tanto os da primeira quanto os da segunda escola de economistas clássicos.

As Escolas Clássica e Neoclássica adotam como pressuposto a idealização de um regime de mercado de concorrência perfeita, que prevê um mercado atomizado, inexistindo a possibilidade de um agente – ou de um grupo de agentes, seja este representante da oferta ou da demanda – estabelecer domínio ou qualquer influência mais contundente sobre o mercado. Um segundo pressuposto desta teoria, também inerente à concorrência perfeita, é a perfeita mobilidade dos fatores de produção, o que garante que os agentes de produção deficitários dirijam-se para setores onde os agentes estejam obtendo resultados acima do esperado, fazendo com que o lucro econômico seja atingido de forma exata, não havendo, portanto, situações abaixo ou acima deste.

Outro pressuposto fundamental desta escola é a flexibilidade de preços e salários, principalmente na hipótese de que estes poderiam ser reduzidos, o que viria, por sua vez, assegurar que o equilíbrio de mercado fosse atingido naturalmente.

Um aspecto que merece destaque nesta teoria é o exacerbado repúdio à participação do governo na atividade econômica, sendo que a origem desta crítica está na atuação dos Estados Monárquicos Absolutistas do século XVIII, permanecendo a averbação ao entendimento do governo como agente econômico, durante aproximadamente um século, pois ao final do século XIX e início do século XX concentra-se a maior parte dos estudos ditos neoclássicos, não estando isentos destas manifestações os estudos atuais que têm inspiração nesta escola.

Como conseqüência da conjugação desses pressupostos, chega-se à implicação principal da Economia Neoclássica, de que a economia caminha naturalmente para uma situação de equilíbrio de pleno emprego, coexistindo com esta apenas a chamada Taxa Natural de Desemprego, formada pelo denominado desemprego voluntário, que é composto por trabalhadores que não estão dispostos a trabalhar pelo nível salarial vigente no mercado, e pelo desemprego friccional, que se refere ao período de tempo em que os trabalhadores encontram-se em trânsito de um vínculo empregatício para outro. A origem desta interpretação provém da Lei de Say, de 1803, segundo a qual a oferta cria sua própria demanda. Tendo como pano de fundo os pressupostos, e adotando a lógica de que o único objetivo da produção e da oferta é a obtenção de bens e serviços que venham a satisfazer as próprias necessidades de quem oferta, esta última irá corresponder a uma demanda de igual magnitude. Desta maneira, inexistindo fatores externos ao sistema que venham a perturbar esta ordem natural, a economia caminha para o equilíbrio de pleno emprego.

A possibilidade de crises no sistema econômico só irá existir de maneira endógena caso ocorra um imperfeito conhecimento do mercado, que faz com que a produção seja destinada a um único setor ou produto, levando a excedentes deste, e a escassez em outros. Todavia, estas crises seriam pontuais e autocorretivas. Também poderiam existir crises resultantes de fatores exógenos ao sistema, como guerras, pestes, acidentes naturais e interferência do governo no sistema econômico.

Desta forma, a participação do governo no sistema econômico deve ser a mais parcimoniosa e discreta possível, sendo direcionada apenas a atividades que não sejam de interesse do setor privado, no sentido de evitar a desestabilização do equilíbrio natural do sistema econômico.

O maior contraponto à corrente clássica vem apenas na década de 1930, com Keynes e a publicação da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, em 1936. O economista britânico assiste à depressão que assola a Inglaterra, assim como a

outras economias na década de 20, e que culminam na crise de 29-30, com a quebra da bolsa de Nova York.

A crise de 29-30 foi claramente causada por insuficiência de demanda, em que os consumidores optavam por direcionar seus recursos para os ativos das empresas que haviam tido rápido crescimento nas décadas anteriores, em vez de demandar bens, fazendo, desta forma, com que a oferta viesse a superar em muito a demanda agregada, gerando um ciclo acelerado e profundo de recessão. Portanto, para Keynes, o desemprego não pode ser entendido apenas como voluntário, ressaltando, desse modo, o caráter involuntário do desemprego.

Keynes, contrariamente ao que afirma a Teoria Neoclássica, entende que a correção desta crise e outras típicas do sistema capitalista de produção depende da participação ativa do governo no sistema econômico, em que este assumiria um papel anticíclico no sistema, adotando principalmente políticas ativistas, quando da recessão, ou quando o ponto de equilíbrio se distanciasse do pleno emprego.