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CAPÍTULO 2 A RESPEITO DO HOMEM E DO TRABALHO

2.2 Súmula de Economistas

2.2.1 A riqueza das nações de Adam Smith

O trabalho, para Adam Smith, tem uma relevância fundamental, sendo o preço real de uma mercadoria, para ele, determinado pela dose de sacrifício e de renúncia necessária para a produção, muito embora as correntes econômicas que surgiram posteriormente tenham deixado de dar valor à questão da natureza do valor, ficando esta isolada a algumas vertentes do pensamento marxista.

Para Smith, as fontes do valor são: os salários, que remuneram o trabalho, a renda da terra e os lucros, que remuneram a riqueza acumulada sob a forma de capital; estes três itens comporiam, assim, o chamado preço natural.

Contudo, a grande contribuição de Adam Smith acerca do trabalho, segundo sua visão incipiente do sistema capitalista de produção, ou seja, da relação de emprego, está na chamada divisão do trabalho, que posteriormente irá caracterizar o modo capitalista de produção.

De acordo com a divisão do trabalho de Smith, quando cada trabalhador dedica-se a uma etapa específica do processo produtivo, intensifica-se a sua especialização e eficiência, aumentando, desta maneira, o resultado do processo produtivo. Cada indivíduo torna-se, assim, um especialista na sua atividade e,

conseqüentemente, o volume de trabalho produzido é maior, aumentando também a utilização da ciência e tecnologia.

Esse grande aumento da quantidade de trabalho que, em conseqüência da divisão do trabalho, o mesmo número de pessoas é capaz de realizar, é devido a três circunstâncias distintas: em primeiro lugar devido à maior destreza existente em cada trabalhador; em segundo, à poupança daquele tempo que, geralmente, seria costume perder ao passar de um tipo de trabalho para outro; finalmente à invenção de um grande número de máquinas que facilitam e abreviam o trabalho, possibilitando a uma única pessoa fazer o trabalho que, de outra forma, teria que ser feito por muitos (SMITH, 1996, p.68).

Inicialmente, Smith vê, a partir da própria divisão do trabalho, o espaço necessário para o desenvolvimento e a inovação através das máquinas.

...precisamos todos tomar consciência de quanto o trabalho é facilitado e abreviado pela utilização de máquinas adequadas. É desnecessário citar exemplos. Limitar-me-ei, portanto, a observar que a invenção de todas estas máquinas que tanto facilitam e abreviam o trabalho parece ter sua origem na divisão do trabalho. As pessoas têm muito maior probabilidade de descobrir com maior facilidade e rapidez métodos para atingir um objetivo único, do que quando a mente se ocupa com uma grande variedade de coisas. Mas, em conseqüência da divisão do trabalho, toda a atenção de uma pessoa é naturalmente dirigida para um único objeto muito simples (SMITH, 1996, p.69).

A divisão do trabalho torna possível a especialização, facilitando a mobilidade do fator mão-de-obra, contribuindo, desse modo, para a introdução da maquinaria e gerando, como conseqüência, o aumento da produtividade e o pleno emprego inerente à Teoria Clássica. Na medida em que pode ser introduzida, gera, em cada ofício, um aumento proporcional das forças produtivas do trabalho.

Para Smith, a divisão do trabalho permite um melhor aprimoramento das forças produtivas, divisão que vem juntamente com outra questão estudada por Smith, a da acumulação de capital, existindo entre estas uma relação mútua de causalidade, ou seja, a divisão do trabalho permite maior acumulação de capital e

escalas de produção maiores, possibilitando maior fracionamento e divisão da participação humana no processo produtivo, embora o exemplo utilizado por Smith para a justificativa da divisão do trabalho tenha sido uma pequena manufatura, o célebre exemplo da fábrica de alfinetes10.

Em qualquer outro ofício e manufatura, os efeitos da divisão do trabalho são semelhantes aos que se verificam nessa fábrica insignificante embora em muitas delas o trabalho não possa ser tão subdividido, nem reduzido a uma simplicidade tão grande de operações. A divisão do trabalho, na medida em que pode ser introduzido, gera, em cada ofício, um aumento proporcional das forças produtivas do trabalho... (SMITH, 1996, p.66).

A divisão do trabalho leva, como conseqüência, às trocas, tornando praticamente inevitável a relação de emprego, ou seja, a venda da força de trabalho para que o trabalhador possa adquirir recursos para a sua sobrevivência. Cada trabalhador vende uma quantidade de seu próprio trabalho, além daquela de que ele mesmo necessita, e, pelo fato de todos os outros trabalhadores estarem exatamente na mesma situação, pode ele trocar grande parte de seus próprios bens, ou o resultado da venda de sua força de trabalho, por outros bens de que necessita, os quais, por sua vez, são resultado do empenho de outros trabalhadores.

O princípio da divisão do trabalho, em sua essência, reside no fato de o homem ser um animal coletivo. Assim, a divisão do trabalho aprofunda a necessidade de contato entre os seres humanos, intensificando a vida em comunidade. Desta maneira, é através da negociação, por escambo11 ou por

10Smith utiliza uma fábrica de alfinetes como exemplo para a questão da divisão do trabalho. Se todos os trabalhadores envolvidos no processo fossem efetuar todas as etapas do processo produtivo, o produto total seria inferior, diferentemente do que se daria se cada trabalhador se ocupasse de uma etapa do processo de produção, argumentando, assim, favoravelmente à divisão do trabalho.

11Entende-se por escambo a troca direta de bens, serviços ou fatores, sem a utilização de moeda.

compra, que o ser humano se supre da maior parte dos serviços de que necessita, e é desta tendência à permuta que se origina a divisão do trabalho.

A divisão do trabalho, bastante explorada por Adam Smith, abre espaço à criação de um instrumento que se caracteriza como um dos principais marcos da economia, a criação e uso da moeda12, uma vez que, desde o momento em que o

homem se especializa em uma determinada atividade produtiva, vindo a obter os outros bens de que precisa através das trocas, a moeda passa a exercer papel fundamental na atividade econômica, dado que facilita a circulação no sistema. "Foi dessa maneira que em todas as nações civilizadas o dinheiro se transformou no instrumento universal de comércio, através do qual são compradas e vendidas – ou trocadas entre si – mercadorias de todos os tipos." (SMITH, 1996, p.85).

Para Smith, uma vez que a satisfação das necessidades, ou seja, a obtenção de todos os bens de que o homem precisa se dá através das trocas, torna-se essencial a definição do valor das mercadorias. Assim, a mercadoria que o homem produz tem como valor a quantidade de trabalho que a mercadoria produzida lhe dá condições de comprar. Desta maneira, o trabalho é a medida real do valor de troca de todas as mercadorias.

Nas sociedades ditas desenvolvidas, a compensação pelo esforço do trabalho costuma ser feita mediante os salários. O capital é acumulado pelo capitalista, que passa a empregar este capital, a mão-de-obra e os insumos produtivos, com o objetivo de auferir lucro com a venda do trabalho. A partir desta venda o capitalista espera receber, em dinheiro, o suficiente para pagar o preço dos materiais, os salários dos trabalhadores, e obter lucro. Desse modo, o valor acrescentado pelos trabalhadores ao processo pode ser dividido em duas partes: os salários e o lucro pelo empreendimento que realiza, uma vez que os empresários não terão incentivo

12Embora a moeda tenha surgido no ambiente e no âmbito das teorias econômicas há muito tempo, antes das publicações de Adam Smith.

para investir caso o retorno obtido não seja suficiente para exceder a extensão do patrimônio obtido.