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CAPÍTULO 3 MERCADO DE TRABALHO E DESEMPREGO

3.3 Tecnologia e Emprego

Desde o final do século passado, têm-se intensificado, nas economias, profundas transformações, as quais, ainda que não sejam inéditas, seu ritmo tem crescido tanto na organização da atividade produtiva, como nas inovações tecnológicas. Estas transformações trazem como reflexo alterações tanto nas formas quanto no volume de emprego de trabalhadores, se não no nível macroeconômico, ao menos no nível setorial ou microeconômico, e isto se deve sobretudo à velocidade da confrontação do modo de produção vigente com um padrão tecnológico mais elevado.

A tecnologia a serviço do homem, a comodidade, a satisfação de desejos antes irrealizáveis, as descobertas de novos produtos e serviços cada vez mais práticos, a busca de criar utilidade e necessidade nas pessoas, enfim, o aprimoramento constante do hardware e do software para a satisfação das pessoas, fazem com que cada vez mais e mais trabalhadores sejam deslocados para as áreas de criação em detrimento das de execução propriamente ditas.

Nas últimas décadas deste século, as economias vêm sendo marcadas por um acelerado processo de mudanças estruturais. Os elementos centrais destas mudanças são o acirramento da concorrência intercapitalista e as inovações tecnológicas – as novas formas de produzir e de organizar a produção que determinam grandes alterações sobre as formas do emprego (SALM & FOGAÇA, 1997, p.158).

No decorrer deste trabalho, buscando atingir os objetivos, pretendeu-se desenvolver uma discussão a respeito da relação emprego-tecnologia acima da relação conjuntural, porque essa relação é estrutural, diferente do impacto, que é sujeito às influências de conjunturas econômicas, buscando verificar os diversos posicionamentos acerca do assunto e colocando-os em debate. Para tanto foi necessária uma definição adequada de conceitos como trabalho, emprego e tecnologia, realizada no segundo capítulo, sendo que o horizonte de análise desses conceitos foi o modo capitalista de produção. Porém, também o processo de abertura e de estabilização da economia brasileira, ocorridos durante a década de 90, e a importação de tecnologia, trouxeram impactos no nível e na estrutura do emprego. Isto serviu de âncora para a realização de um estudo de caso, apresentando a redução da jornada de trabalho como uma possibilidade de absorção de trabalhadores no mercado de trabalho.

À medida que o desemprego cresce, por suas causas estruturais, surgem naturalmente as conseqüências sociais e intensifica-se o quadro de exclusão dos trabalhadores. Além do impacto social, porém, o desemprego traz conseqüências diretas sobre a economia, por ser a variável determinante da renda do trabalhador. Ao ter sua renda diminuída, o consumo será menor e, assim, também será menor a demanda agregada.

Nesse contexto, percebe-se uma contradição, uma vez que, se de um lado há um aumento da produção pela maior produtividade incorporada pela tecnologia que substitui o trabalhador, por outro há um recuo da demanda provocado pela queda do poder aquisitivo da classe trabalhadora.

A importância do estudo sobre o desemprego, sobretudo relacionado à tecnologia, reveste-se de extrema oportunidade em função do momento histórico que se vive neste início de século.

O balanço em termos de participação dos fatores capital e trabalho é questionado a todo momento pelo imenso avanço tecnológico a que o sistema econômico foi submetido (e continua sendo), especialmente a partir da última década. Um mercado de trabalho que procura adequar-se à nova realidade, onde o fator trabalho demonstra sua força enquanto peça indispensável e fundamental ao desenvolvimento do próprio sistema capitalista, é outro ponto em destaque.

Um aspecto importante no nível das empresas, tanto no que se refere à supressão e à geração de empregos, como também à sua qualidade, consiste na reestruturação organizacional implementada por muitas empresas. Sobretudo, a desincorporação de certas atividades e a subcontratação de outras empresas, em muitos casos, acarretam uma redução do emprego para um núcleo de trabalhadores relativamente estáveis e ocupando empregos de melhor qualidade e para um número de trabalhadores contratados por empresas subcontratadas (e também pelas "sub-subcontratadas") ou pseudo-independentes e sem estabilidade de emprego (WELLER, 1998, p.38).

Uma dificuldade na realização da verificação dos fatos reside na quase impossibilidade de isolar os fatores que afetam o desemprego e as mudanças na sua estrutura, pois estes podem ser motivados por inúmeros fatores, podendo ser eles estruturais ou conjunturais, tendo em vista que, na última década – período sobre o qual pretendemos realizar a análise –, a economia brasileira foi palco, além do desemprego tecnológico, de muitas flutuações econômicas que contribuíram para o desemprego e para as transformações de alocação deste no cenário produtivo. Desta maneira, é dificultado o trabalho de verificação da existência de impacto tecnológico e de reestruturação na estrutura de produção e do emprego dentro dos processos produtivos.

Quanto a um dos assuntos inerentes a esta tese, qual seja, promover uma discussão teórica a respeito do emprego, inúmeras são as manifestações e posicionamentos acerca do assunto. Há os posicionamentos mais radicais, que acreditam em um ponto de ruptura na sociedade capitalista, que passa pela exclusão e marginalização dos trabalhadores com o fim dos empregos, sendo, desta maneira, prejudicial àqueles que necessitam do trabalho remunerado como fonte de sustento. Outros posicionamentos, mais otimistas, diferentemente da posição anterior, vêem que o avanço tecnológico, ao invés de ser devastador de empregos, é gerador de oportunidades e criador de postos de trabalho. Aqueles que defendem que a tecnologia é exterminadora de postos de trabalho acreditam que uma das soluções é a redução da jornada de trabalho, pois assim seria possível a inclusão de mais trabalhadores no mercado. Também aqueles que defendem que a tecnologia não tem impactos negativos sobre o desemprego vêem, na redução da jornada de trabalho, um caminho natural ao avanço das relações entre trabalho e emprego. Embora a redução da jornada possa vir a representar aumento nos custos das empresas, pode, por outro lado, provocar um aumento da produtividade dos trabalhadores. Outro aspecto relativo à redução da jornada de trabalho é que, com a inclusão de mais trabalhadores, tem-se, como contrapartida, um aumento da demanda e, deste modo, uma compensação para as empresas. Pois, conforme se mencionou, o processo de consumo está ligado à geração de emprego e renda.

O que configura, hoje, como desde o início do século passado, uma visão otimista sobre os efeitos da inovação tecnológica sobre o emprego, pode ser resumido assim: o aumento de produtividade em um setor produz sempre, de uma forma ou de outra, inclusive através de menores preços, aumentos reais de renda e, portanto, aumentos de gastos que, por sua vez, resultarão em nova demanda de trabalho, naquele setor ou em outras atividades, de modo a compensar os postos perdidos pelo aumento inicial de produtividade (SALM & FOGAÇA, 1997, p.160).

Ambas as posições, diametralmente opostas, são de difícil comprovação, porém são de grande valor para o aprofundamento de nossa discussão, trazendo uma importante reflexão a respeito do assunto em pauta, embora essa verificação tenha como preocupação não a questão quantitativa de extinção ou geração de empregos, mas sim uma apreciação qualitativa de como comporta-se a estrutura do emprego ao longo da cadeia produtiva.

Existem posicionamentos que procuram caracterizar os impactos ao longo do tempo, argumentando que, em curto prazo, os efeitos negativos predominam, mas no longo prazo as posições tornam-se divergentes.

Conclui-se que, no curto prazo, os efeitos negativos das transformações econômicas, tecnológicas e sociais e políticas atuais tendem a predominar. Sobre os resultados a mais longo prazo, há posições divergentes. Diante da perspectiva que sugere que, em mercados sem distorções, as perdas de emprego se compensam automaticamente, torna-se ainda mais importante criar um contrato favorável à geração de empregos de boa qualidade, o que requer políticas adequadas para estimular o crescimento sustentável, a competitividade sistêmica e a adaptação do contexto institucional, com a participação dos atores sociais.

Todavia, inexiste teoria que consiga esclarecer de maneira satisfatória a questão do desemprego e sua relação com a tecnologia, até por suas diversas nuances, características e fatos geradores. E mesmo quando focamos a questão estrutural e diretamente vinculada às transformações do processo produtivo e organizacional, poucas são as conclusões que se consegue obter.

Tal fato faz com que, muitas vezes, sejamos obrigados a recorrer a teorias ou interpretações já deixadas de lado, ou que enfoquem o mundo sob um prisma defasado. "Em outras palavras, parece, pelo menos na questão do emprego, estamos regredindo do ponto de vista teórico." (SALM& FOGAÇA, 1997, p.3).

Existem também manifestações menos controversas, que procuram assumir interpretações mais técnicas, e que realizam uma verificação do fenômeno de

maneira setorial e passível de análise, visando, a partir deste ponto, traçar uma pontuação dos principais fatores e conseqüências da tecnologia que aumentam a produtividade por trabalhador e alcançam a redução de custos, através da redução na utilização dos trabalhadores.

Por motivos acadêmicos e científicos procurou-se seguir esta análise com isenção ideológica, procurando trazer novas contribuições ao horizonte acadêmico. Analisa-se, aqui, um fenômeno que ainda não se encontra entre os de primeira pauta para os economistas e demais cientistas sociais, e que está longe de ser plenamente definido quanto aos fatos e nuances deles decorrentes. De qualquer modo, é inegável que a tecnologia traz efeitos sobre a forma do emprego, ou seja, na sua estruturação e distribuição ao longo dos setores produtivos.