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CAPÍTULO 2 A RESPEITO DO HOMEM E DO TRABALHO

2.2 Súmula de Economistas

2.2.2 A teoria do valor de Ricardo

Um dos autores que primeiro chamaram a atenção para a possibilidade de existência do desemprego tecnológico foi o economista clássico inglês David Ricardo (1772-1823), em seu livro Princípios de Economia Política e Tributação, publicado no primeiro quarto do século 19, no contexto da Primeira Revolução Industrial na Inglaterra. No capítulo XXXI da referida obra, intitulada "Sobre a Maquinaria", Ricardo destacava o fato de que a incorporação de máquinas nos processos produtivos poderia ser poupadora de mão-de-obra, o que o levou a concluir o que se segue: "...a opinião defendida pela classe trabalhadora de que o emprego da maquinaria é freqüentemente prejudicial aos seus interesses não emana de preconceitos ou erros, mas está de acordo com os princípios corretos da Economia Política" (RICARDO, 1996, p.264).

Para Ricardo, o valor de uma determinada mercadoria irá depender da quantidade relativa de trabalho para sua produção, independendo, este fato, da remuneração paga por este trabalho. Assim, o valor de determinada mercadoria, que é dado pelo trabalho, independe do valor da remuneração paga ao trabalhador, porém no pleno emprego o volume total da força de trabalho é explicado pela produção. Quando a acumulação de capital é intensificada, isto é, quando há um aumento de produção, aumenta-se a demanda por trabalho e eleva-se o salário. Com um aumento da oferta da força de trabalho há uma pressão para baixo dos salários, até o atingimento de seu nível natural.

O nível natural dos salários é dado ao patamar em que permite ao trabalhador um nível de vida socialmente aceito por ele. Esse "preço natural" do trabalho é o salário de subsistência, definido pela quantidade de trabalho contido nos meios de subsistência, ou determinado pelo número de artigos necessários à subsistência do trabalhador.

Respaldado por Smith, Ricardo trabalha com a concepção de valor, distinguindo o conceito de valor em valor de uso e valor de troca, sendo que os bens podem ter elevado valor de uso e baixo valor de troca, ou vice-versa. Por exemplo, o ar que respiramos possui elevado valor de uso, todavia nenhum valor de troca. Desta maneira, a utilidade não é a medida do valor de troca, embora esta seja essencial, também, para a constituição deste valor, pois se um determinado bem, por mais escasso que possa ser, não possuir utilidade, terá pouco valor de troca.

No que diz respeito à relação entre produção e emprego de mão-de-obra, o célebre economista David Ricardo é um dos que apresentam uma das maiores contribuições: "A utilidade, portanto, não é a medida do valor de troca, embora lhe seja absolutamente essencial. Se um bem não fosse de um certo modo útil – em outras palavras, se não pudesse contribuir de alguma maneira para a nossa satisfação –, seria destituído de valor de troca, por mais escasso que pudesse ser, ou fosse a quantidade de trabalho necessária para produzi-lo" (RICARDO, 1996, p.24).

A partir do momento de atribuição da utilidade, o valor das mercadorias passa a derivar de duas fontes: a escassez e a quantidade de trabalho necessária para obtê-las. São raríssimas as situações em que um determinado bem, comercializado cotidianamente no mercado, tenha o seu valor determinado exclusivamente pela escassez. Sem dúvida, a maioria dos bens que são demandados é produzida pelo trabalho. Desta forma, se a quantidade de trabalho contida nas mercadorias determina o seu valor de troca, acréscimos de trabalho devem aumentar o valor da mercadoria, assim como a diminuição de trabalho deve reduzir o valor da mercadoria. Portanto, uma oscilação no valor de uma determinada mercadoria é conseqüência de uma oscilação na quantidade de trabalho necessária para produzi-lo.

É importante observar que não apenas o trabalho diretamente aplicado às mercadorias altera o seu valor, pois na produção também são utilizados implementos, ferramentas e edificações que necessitam de trabalho para ser produzidas. Assim, o trabalho gasto na produção destes também afeta o valor da

mercadoria final, e, assim, o valor relativo das mercadorias também é modificado pelo emprego de maquinaria e de outros capitais fixos e duráveis.

Outro ponto relevante na teoria de David Ricardo procura expor que trabalhos de diferentes qualidades são remunerados diferentemente. Isso não é causa de variação no valor relativo das mercadorias, ou seja, existem trabalhos que apresentam qualidades diversas, sendo sujeitos, assim, a diferentes valores, todavia estas diferenças foram ou serão ajustadas ao longo do tempo. A título de exemplo, caso um dia de trabalho ao joalheiro valha mais do que um dia de trabalho de um trabalhador comum, essa relação foi há muito tempo ajustada.

Para Ricardo, em um primeiro momento, a introdução de novos tipos de maquinaria tende a diminuir os custos de produção do capitalista, e, dessa maneira, levaria a um aumento de produção a menores preços das maquinarias produzidas.

Logicamente, o raciocínio de Ricardo leva em consideração um mercado concorrencial perfeito, onde a existência de lucros ditos extraordinários faz com que ocorra um aumento da oferta (novas empresas entrando no mercado, e com as empresas existentes no mercado ampliando a capacidade produtiva). Com o aumento da oferta tem-se uma redução dos preços e, conseqüentemente, dos lucros, até um patamar chamado de lucros normais.

Em um segundo e definitivo momento, Ricardo considerava que os capitalistas e os proprietários de terra se beneficiariam com a mudança de tecnologia, mas argumentava que a inserção da maquinaria em substituição ao trabalho humano poderia ser, muitas vezes, prejudicial aos trabalhadores. "O que desejo provar é que a descoberta e o uso da maquinaria podem ser acompanhados por uma redução da produção bruta e, sempre que isso acontecer, será prejudicial para a classe trabalhadora, pois uma parte será desempregada e a população torna-se excessiva em comparação com os fundos disponíveis para empregá-la." (RICARDO, 1996, p.290).

A nova maquinaria, quando em uso, necessitaria de alguns trabalhadores, mas o número de operários que voltaria ao trabalho não seria na mesma proporção que o número de trabalhadores demitidos anteriormente.

Isto posto, a maquinaria tinha sido elaborada com a finalidade de reduzir o número de operários para produzir determinada quantidade, bem como para reduzir custos de salários do capitalista e aumentar seus lucros. Mas, Ricardo, em consonância com Marx, verificou que a maquinaria reduzia custos, afastando o trabalhador do posto.