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CAPÍTULO 2 A RESPEITO DO HOMEM E DO TRABALHO

2.2 Súmula de Economistas

2.2.6 O pleno emprego e a visão neoclássica

Neste subtópico discute-se não um autor isoladamente, mas são condensadas, de maneira conjunta, as principais idéias desta corrente do pensamento no que tange ao tema.

Inicialmente cabe uma caracterização do que se entende como sendo Teoria Neoclássica. Keynes, em sua obra, empregava o termo "clássicos" para se referir a todos os economistas que trabalhavam a questão macroeconômica antes de 1936, data da publicação da Teoria Geral de Keynes. Contudo, contemporaneamente, convencionou-se dividir o que Keynes chamava de economistas clássicos em Escola

Clássica e Escola Neoclássica. A primeira contempla os trabalhos de Adam Smith (A Riqueza das Nações, 1776), David Ricardo (Princípios de Economia Política, 1817), John Stuart Mill (Princípios de Economia Política, 1848), entre outros autores contemporâneos. A Escola Neoclássica tem como alguns de seus representantes mais proeminentes os atores: Alfred Marshall (Princípios de Economia, 1920), A. C. Pigou (A Teoria do Desemprego, 1933) e Leon Walras (A Teoria da Riqueza Social, 1847). A distinção entre as duas escolas é tênue, sendo que os ensinamentos repousam no mesmo ponto de vista da realidade econômica. A diferença passa por uma mais acurada elaboração científica dos enunciados, com a utilização de gráficos e um arcabouço matemático mais elaborado, principalmente no campo microeconômico.

Para os neoclássicos, o nível dos salários é dado pelo ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda de trabalho. Os diferentes níveis de salário são dados em função da oferta e demanda de trabalho, inexistindo um preço natural conforme defendido pelos clássicos. Na teoria neoclássica surge a concepção da substituição entre os fatores de produção e o princípio marginalista.

A oferta da força de trabalho na economia neoclássica é dada pela desutilidade marginal do trabalho. Isto é, os trabalhadores aceitam trabalhar até o ponto em que um acréscimo de trabalho, seja de carga horária, seja de alteração no tipo de serviço, não lhes cause uma insatisfação superior ao retorno proporcionado pela elevação em seus salários. Em suma, o trabalhador aceita trabalhar mais, produzir mais, desde que o adicional de salário lhe traga maior satisfação.

Já a demanda pela força de trabalho é determinada pela produtividade marginal do trabalho. As empresas empregam até o ponto em que a produção gerada pelo montante adicional de trabalho não se torne inferior ao custo para a empresa. Isto é, reduzindo-se os salários, cresce a demanda pela força de trabalho.

De acordo com Amadeo e Estevão (1994, p.14), o paradigma neoclássico parte de quatro pressupostos básicos iniciais:

1) as firmas são maximizadoras de lucro;

2) as firmas trabalham com uma tecnologia que apresente rendimentos marginais decrescentes;

3) a oferta de trabalho mantém uma relação crescente com o salário real, gerado através de um processo de maximização de utilidade dos trabalhadores a partir do qual escolhem a quantidade de trabalho (e, por conseguinte, de renda e de consumo) e de lazer que lhes fornecerá maior nível de bem-estar possível;

4) o nível de demanda agregada nominal é dado exogenamente.

Dadas as hipóteses, salvo mau funcionamento do mercado, não haveria desemprego na economia.

Para a escola neoclássica a demanda por mão-de-obra é condicionada pela produtividade marginal da mão-de-obra e pelo salário real pago aos trabalhadores, ou seja, pela própria relação custo-benefício de se contratar mais um trabalhador. Por outro lado, a oferta de mão-de-obra é determinada pelo tempo de trabalho e sua relação com o salário real recebido, ou seja, pela análise custo-benefício de se empregar, considerando o ganho salarial, e a renúncia de tempo para outras atividades.

As leis econômicas são enunciados referentes às tendências das ações dos homens sob certas condições. Essas leis não são hipotéticas senão no mesmo sentido em que o são as leis das ciências físicas: pois que estas também contêm ou pressupõem certas condições, é muito mais perigoso deixar de fazê-lo em Economia do que em Física. As leis da ação humana não são, de fato, tão simples, bem definidas, nem tão claramente constatáveis como a lei da gravitação; mas muitas dentre elas podem equiparar-se às leis das ciências naturais que se ocupam de matérias complexas (MARSHALL, 1996, p.105).

No caso clássico, o desemprego é conseqüência de um custo excessivo do trabalho enfrentado pelas empresas e, como no caso precedente, a oferta no mercado de trabalho excede a demanda. Mas, diversamente da situação de desemprego keynesiano, o problema aqui é que, face à pressão dos custos

enfrentada pelas empresas, o programa de maximização de lucros leva-as a restringir a quantidade oferecida e, portanto, para alcançar o pleno emprego seria preciso uma política que possibilitasse o aumento de rentabilidade das empresas.

Tanto na Escola Clássica como na Neoclássica o nível de renda normal, ou de equilíbrio, é o de pleno emprego. Caso em determinada situação a economia não se encontre em pleno emprego, é porque existem forças externas impedindo que isto ocorra. Todavia, a "mão invisível" e as forças naturais do mercado levariam a economia ao pleno emprego. "Subjacente a essa teoria está a Lei de Say, assegurando que a oferta gera sua própria procura e garantindo, assim, o melhor dos mundos....". (CARDOSO e GUEDES, 1998, p.34).

Um ponto central das abordagens clássica e neoclássica é a função de produção agregada. Esta função de produção baseada na tecnologia das firmas individuais é uma relação entre os níveis da produção e os níveis de insumos.

Y = f (K, N) Onde:

Y - produção total;

K - estoque de capital (planta e equipamentos); N - quantidade de mão-de-obra empregada.

Algumas suposições da escola neoclássica devem ser observadas, como a de que a mão-de-obra é homogênea, e a tecnologia e a população são consideradas constantes em dado período de tempo.

No curto prazo, a produção varia unicamente com as alterações na utilização de mão-de-obra (N), oriunda de uma população, que é fixa, de acordo com os pressupostos neoclássicos.

A Lei dos Rendimentos Decrescentes, um dos principais sustentáculos da Teoria Neoclássica, prega que, utilizando pelo menos um determinado fator de produção fixo, e acrescentando doses adicionais de pelo menos um fator de produção variável, o produto total inicialmente cresce a taxas crescentes. A partir de

um determinado ponto, em que passa a existir a plena utilização do fator de produção fixo, o produto total passa a crescer a taxas decrescentes, podendo, caso permaneça o acréscimo na utilização do fator de produção variável, defronta-se com um ponto de estrangulamento, como conseqüência da exaustão do fator de produção fixo, fazendo com que o produto total venha a decrescer. A figura a seguir traz a representação da Lei dos Rendimentos Decrescentes:

FIGURA 1 - LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES

Y

Y

0

N FONTE: O autor

A partir dos rendimentos decrescentes, o empresário não deixará de contratar trabalhadores até o ponto em que o acréscimo à receita, decorrente da contratação de mais um trabalhador, seja superior ao acréscimo trazido aos custos, representado pelo salário deste trabalhador. De forma semelhante, o empresário não irá contratar mais trabalhadores caso o custo representado por este venha a ser superior à receita resultante do acréscimo à produção trazida por este trabalhador. Desse modo, a demanda por mão-de-obra se dará no ponto onde o produto marginal do trabalho se torna igual aos salários.

Para a Teoria Neoclássica, como conseqüência da Lei dos Rendimentos Decrescentes, o Produto Marginal do Fator de Produção Variável (figura 2), no caso o trabalho, é decrescente, ou seja, considerando o capital constante, cada dose adicional do fator trabalho faz com que o produto total cresça a taxas decrescentes.

FIGURA 2 - PRODUTO MARGINAL DO TRABALHO

PMgN

PMgN

0

N FONTE: O autor

Na teoria neoclássica as variáveis são costumeiramente determinadas pelo equilíbrio de mercado de forças que as explicam. Por exemplo, a taxa de juros é determinada pelo equilíbrio entre poupança e investimento, e os preços são determinados pelo equilíbrio entre a oferta e a demanda do produto. Desse modo, também a quantidade de mão-de-obra empregada e o nível de salário são determinados pela oferta e demanda de mão-de-obra no mercado de trabalho.

Uma característica peculiar da teoria neoclássica é a suposição de que o mercado funciona apropriadamente. As firmas e os trabalhadores individuais escolhem e agem de forma ótima. Todos são perfeitamente informados sobre os preços relevantes. Não há obstáculos aos ajustes dos salários nominais, e o mercado se equilibra automaticamente.

Na teoria neoclássica, a demanda por mão-de-obra é conseqüência da busca pela maximização dos lucros por parte das empresas. A firma perfeitamente competitiva aumentará a produção até o ponto em que o custo marginal de produção seja igual à receita marginal recebida por sua venda, resultado este em que a firma maximiza os seus lucros.

A receita marginal é determinada pelo próprio preço do produto, pois o que será adicionado à sua receita por cada venda efetuada é o próprio preço do produto vendido.

Quanto ao custo marginal, considera-se que apenas a utilização do trabalho é variável, e, portanto, o custo marginal de cada unidade adicional de produção é o custo marginal do trabalho. Tendo em vista que o custo marginal é resultante da variação do custo total por unidade utilizada do fator variável, tem-se que o custo marginal é o próprio salário dividido pelo produto marginal. O custo marginal do trabalho é igual ao salário monetário dividido pelo número de unidades produzidas por unidade adicional de mão-de-obra. Definem-se quantidades produzidas por unidade adicional de mão-de-obra empregada como o produto marginal do trabalho (PMgN). Assim, o custo marginal da firma (CMg) é igual ao salário monetário ou nominal (W) dividido pelo produto marginal do trabalho.

CMg = W / PMgN

A condição para maximização do lucro é:

RMg = CMg

ou:

P = CMg = W / PMgN

podendo ser escrita como:

Dessa forma, a condição para a maximização do lucro é que o salário real (W/P) pago pela firma seja igual ao produto marginal do trabalho.

A partir dessa condição pode-se observar que, traçada contra o salário real, a demanda da firma por horas de trabalho é o produto marginal da hora de trabalho, como mostra a figura 3.

FIGURA 3 - FUNÇÃO DEMANDA POR MÃO-DE-OBRA

PMgN W/P PMgN1 Nd PMgN= W/Pe PMgN2 0 N1 Ne N2 N FONTE: O autor

Considerando o nível real de salário igual a W/Pe, o nível de emprego que maximiza o lucro da empresa é Ne. Em N1 o Produto Marginal do Trabalho supera o salário real, o que faz com que compense a contratação de mais trabalhadores, pois o lucro da empresa estaria aumentando. Em N2 o nível de salário real supera o

PMgN, o que faria com que ocorresse uma redução dos lucros da firma, levando as empresas a demitirem até Ne. Assim, a função do Produto Marginal do Trabalho é igual à demanda por mão-de-obra, relacionada ao salário real.

O fornecimento da mão-de-obra é realizado pelos trabalhadores individuais. Os economistas neoclássicos assumiam que o indivíduo tende a maximizar a utilidade (ou satisfação). O nível de utilidade depende positivamente tanto da renda real – que proporciona ao indivíduo poder de compra dos bens e serviços – quanto do lazer, conforme mostra a figura 4.

Em linguagem técnica, isso pode ser chamado a desutilidade marginal (marginal

disutility) do trabalho. Porque tal como a utilidade marginal cai a cada aumento da

quantidade de uma mercadoria; e como a cada perda da sua desejabilidade, há uma baixa no preço para o total da mercadoria, e não apenas para a sua última porção; assim a desutilidade marginal do trabalho geralmente aumenta a cada aumento em sua quantidade (MARSHALL, 1996, p.205).

FIGURA 4 - FUNÇÃO OFERTA DE MÃO-DE-OBRA

W/P No

0

N FONTE: O autor

As relações em conjunto determinam o produto, o emprego e o salário real no sistema neoclássico. Produto, emprego e salário real são tidos como variáveis endógenas. Na figura a seguir observa-se o equilíbrio no mercado de trabalho por meio da conjunção da oferta e da demanda de trabalho.

FIGURA 5 - EQUILÍBRIO NO MERCADO DE TRABALHO

W/P No

Nd

0

N FONTE: O autor

Dentre as variáveis exógenas figura a mudança tecnológica, que altera a quantidade de produtos obtenível a partir de quantidades fixas de insumos. A posição da curva de demanda por trabalho será deslocada se a produtividade do trabalho mudar em virtude de uma mudança tecnológica ou de formação de capital. Outra variável exógena é o crescimento populacional, só que esta irá deslocar a função oferta de mão-de-obra. Voltando à questão da tecnologia, fica evidenciado que, de acordo com a Teoria Neoclássica, dadas as condições de mercado, um aumento do patamar tecnológico fará crescer a produtividade marginal do trabalho e, como conseqüência, a demanda por mão-de-obra.