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5 A POLÍTICA DE AVALIAÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS NO BRASIL: O PROCESSO HISTÓRICO

3) relativos ao trabalho com a linguagem oral.

5.5.2 A resenha da coleção Porta Aberta – Letramento e Alfabetização Linguística

O livro didático de alfabetização Porta Aberta – Letramento e Alfabetização Linguística nos chamou primeiramente a atenção pelo grande número de escolhas por professores de todo Brasil na edição do PNLD 2010: 1º lugar no país e no estado do Espírito Santo, conforme mostra tabela em anexo. Não obstante o alto índice de escolhas, buscamos em edições anteriores do Programa a recorrência desse livro didático. No Guia do Livro Didático 2007 – Alfabetização – Séries/Anos iniciais do Ensino Fundamental, a coleção Porta Aberta aparece nas resenhas do Bloco 3, no qual estão inseridos os “[...] livros que privilegiam a abordagem da apropriação do sistema de escrita (BRASIL, 2006, p. 233). Nessa edição do Programa, essa obra já aparece inscrita pela mesma editora e mesmas autoras da edição do PNLD 2010.

Ao empreendermos busca em edições anteriores ao PNLD 2007, não encontramos o livro didático Porta Aberta, entretanto, identificamos outra obra, na edição do PNLD 2004, cuja autoria é a mesma da obra citada: Angiolina Bragança e Isabella Carpaneda. Trata-se da Coleção Bem-Te-Li – Língua Portuguesa, que não apareceu inscrita no PNLD 2004 como livro de alfabetização, mas sim como coleção de Língua Portuguesa de 1ª a 4ª séries e obteve a menção Recomendada com

Ressalvas (RR) de acordo com o Guia de Livros Didáticos – 1ª a 4ª séries – Alfabetização – Língua Portuguesa – Volume 1 – PNLD 2004.

Entretanto, mesmo não constando como obra inscrita no PNLD 2004, encontramos o livro de alfabetização Porta de Papel, de autoria de Angiolina Bragança, Isabella Carpaneda e Regina Iara Moreira Nassur em circulação no ano de 2004, sendo, pois, o livro correspondente ao Porta Aberta – Alfabetização. A análise do livro

Porta de Papel nos aponta um trabalho com o método sintético de alfabetização,

baseando-se, assim, numa perspectiva tradicional e transmissiva quanto à apropriação da leitura e da escrita.

Tendo em vista assim, as obras Porta de Papel (alfabetização) e Bem-te-li (coleção

de Língua Portuguesa de 1ª a 4ª séries), compreendemos que não podemos,

necessariamente, afirmar que o livro didático Porta Aberta também esteve presente na edição do PNLD 2004, no entanto, devido à mesma autoria e a pontos em

comum identificados nas obras citadas, tanto na edição de 2004 – ênfase nos aspectos linguísticos – quanto na edição de 2007 – Bloco 3: privilégio da abordagem da apropriação do sistema de escrita – e também na edição de 2010, que passaremos a destacar, podemos ressaltar que temos obras muito semelhantes quanto a aspectos conceituais, didáticos e metodológicos. Seguem as capas desse livro didático nos referidos Guias (2004 e 2007), bem como o livro didático de alfabetização Porta de Papel, ao qual já nos referimos:

Imagem 8: Coleção Bem-te-li / Língua Portuguesa / 2004.

Fonte: Guia de Livros Didáticos –1ª a 4ªséries – Alfabetização – Língua Portuguesa – Volume 1 – PNLD 2004. Imagem 7: Livro Porta de Papel – Alfabetização / 2004.

No Guia de livros didáticos – PNLD 2010 – letramento e alfabetização – língua

portuguesa - 2009, essa obra aparece avaliada apenas nas resenhas das coleções

dos livros de alfabetização e, como já explicitado, sob o título Porta aberta – letramento e alfabetização linguística.

Na seção “Visão Geral”, o Guia explicita que a coleção aparece organizada de duas maneiras distintas tendo em vista o 1º e o 2º anos. Enfatiza, logo após, que “Os gêneros são diversificados, e a extensão dos textos é progressivamente ampliada. As atividades exploram tanto a aquisição do sistema alfabético quanto capacidades de leitura e produção de textos escritos ou orais, em ambos os volumes (BRASIL, 2009, p. 118). Todavia, o Guia enfatiza que, devido à introdução de aspectos ortográficos e gramaticais, no livro do 2º ano, há pouco espaço para a consolidação dos aspectos relativos à apropriação do sistema de escrita alfabética. Quanto ao apêndice destinado ao Professor, de acordo com a mesma seção, este contribui para o desenvolvimento e ampliação das atividades, bem como para proposição e organização de “projetos interdisciplinares”.

Relativamente ao eixo aquisição do sistema de escrita, assim como procedido na coleção cuja resenha foi anteriormente apresentada, são trazidos os conteúdos

Imagem 9: Livro Porta Aberta / Língua Portuguesa / 2007.

abordados especificamente em cada um dos dois anos iniciais. Em sequência à listagem dos conteúdos, na subseção “Entenda como este eixo é trabalhado”, o Guia enfatiza que o livro didático de alfabetização Porta Aberta – Letramento e Alfabetização Linguística apresenta uma proposta que se “[...] baseia em uma perspectiva predominantemente transmissiva” (BRASIL, 2009, p. 121), levando em conta o trabalho com a ênfase na memorização, nos exercícios de cópias, nas atividades de separação e formação de palavras, entre outras. Entretanto, a despeito desse enfoque, o documento, logo a seguir, ressalta que “o conjunto de atividades nos dois volumes apresenta uma progressão de complexidade que contribui para a apropriação do sistema de escrita” (BRASIL, 2009, p 121) e ressalta três seções presentes na coleção que colaboram no sentido dessa apropriação, que são: a) “Traçando letras” e “Com que letra?” (com atividades de caligrafia que possibilitam “reflexão sobre a necessidade da legibilidade da escrita”, com atividades de cópia de modelos); b) “Estudo da língua” (atividades de compreensão, aplicação e memorização de regras gramaticais e classes de palavras); e c) “Para aprender um pouco mais” e “Só pra lembrar” (apresentação de outras atividades cujo objetivo é a retomada ou ampliação de conteúdos gramaticais já explicitados) (BRASIL, 2009, p. 121).

A resenha do livro didático de alfabetização em destaque nos revela que este trabalha no sentido da apresentação de aspectos do sistema de escrita aos alunos (letras do alfabeto, vogais, consoantes, sílabas, palavras, etc.) para que estes possam memorizá-los e utilizá-los quando necessário. Percebemos que a reflexão sobre a língua praticamente inexiste e o trabalho com as relações sons e letras e letras e sons somente é citado no volume 2 da coleção, como “correspondências som-grafia” e no sentido da proposição de atividades com rimas e complementação de palavras.

No quadro ATENÇÃO!, no que diz respeito ao eixo aquisição do sistema alfabético, o Guia ressalta que, como a coleção Porta Aberta – Letramento e Alfabetização Linguística trabalha de forma recorrente com cópias e atividades de memorização,

“[...] as propostas destinadas à exploração do sistema alfabético151 devem ser

ampliadas, reservando-se maior espaço à reflexão sobre os princípios e regras

151

Grifos do Guia de livros didáticos – PNLD 2010 – letramento e alfabetização – língua portuguesa -

trabalhados e a sua aplicação em novas situações” (BRASIL, 2009, p. 123). O documento sugere também que as estratégias de leitura e interpretação de textos, bem como as atividades relativas à produção de textos escritos e orais sejam intensificadas e privilegiem diferentes gêneros. No entanto, não explicita se há no livro didático de alfabetização em análise um trabalho organizado e reflexivo no que tange às relações sons e letras e letras e sons e nem uma devida articulação desse trabalho com os outros eixos do ensino.

Daí a necessidade de passarmos ao exame dos próprios livros didáticos de alfabetização selecionados para análise, para melhor problematizarmos nossa temática de estudo – as relações sons e letras e letras e sons – e observarmos de que forma são tratadas/trabalhadas e como se dá (ou não) sua articulação com as demais dimensões da alfabetização, tendo em vista nossa principal questão de pesquisa, se a proposta de trabalho com as relações sons e letras e letras e sons

apresentada pelos livros didáticos analisados facilita ou cria obstáculos para a compreensão dessas próprias relações.

6 O TRABALHO COM AS RELAÇÕES SONS E LETRAS E LETRAS E

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