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6 O TRABALHO COM AS RELAÇÕES SONS E LETRAS E LETRAS E SONS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE ALFABETIÇÃO

ATIVIDADES DA P 41 ATÉ A 51.

Atividades que são destinadas ao que se chama “consciência fonológica”, iniciando por atividades de identificação de sons finais de palavras (palavras inseridas em jogos) e em poema (No mundo da lua – Roseana Murray) e atividades propostas nas seções: “Do meu jeito”, “Texto por toda parte” e ”Hora da História”.

Dessarte, devido às semelhanças nas primeiras unidades dos livros em análise, as traremos para um estudo mais detido nos sentido de buscar as intencionalidades contidas no estudo de cada uma delas, como também as principais diferenças de enfoque entre as mesmas nos livros examinados.

Iniciaremos pela unidade 1 do livro Porta Aberta – Letramento e Alfabetização Linguística do 1º ano – Eu sou assim! (p. 7), uma vez que essa unidade não aparece de maneira separada no livro A Escola é Nossa – Letramento e Alfabetização Linguística, apesar de este pedir inicialmente que o aluno também se autoapresente por meio de um desenho. Tal unidade, no primeiro livro citado, é iniciada com o comando: “DESENHE O SEU RETRATO NO QUADRO ABAIXO E ESCREVA, COMO SOUBER, O SEU NOME. DEPOIS MOSTRE O SEU TRABALHO PARA OS COLEGAS E APRESENTE-SE. O PROFESSOR VAI EXPOR OS TRABALHOS NO MURAL DA CLASSE”. Para o professor, o livro recomenda que combine com os alunos que se apresentem falando: nome completo, idade, onde moram, nome das pessoas com quem moram, brincadeiras favoritas e outro item que entender conveniente. Recomenda, ainda, que o professor prepare listas de papel com os nomes dos alunos os quais “[...] servirão de base à reflexão sobre o sistema de escrita”. (p. 07). O livro segue explicitando ao professor que os alunos chegam à escola com “diferentes níveis de conhecimento sobre o sistema de escrita” e ressalta que estes identificam as letras e sua correspondência sonora com mais facilidade no

trabalho de análise de palavras inteiras, entretanto, logo após, sugere o trabalho de

identificação das letras iniciais do próprio nome e do nome dos colegas, pelos alunos.

Compreendemos, assim, com a análise da 1ª unidade apresentada pelo livro Porta

Aberta – Letramento e Alfabetização Linguística do 1º ano, que o aspecto discursivo

“anunciado” em seu título “Eu sou assim!”, o qual poderia subsidiar o diálogo aluno- aluno e aluno-professor, não somente na oralidade como também na escrita, tendo em vista a apresentação de seus nomes e de aspectos de suas vidas, acaba por se tornar pretexto para o estudo desses nomes, na unidade palavra e, após, em unidades ainda menores, as letras, por meio da identificação do número e ordem das letras de cada nome e das letras iniciais destes.

A 1ª unidade do livro A Escola é Nossa – Letramento e Alfabetização Linguística – 1º ano, “Desenhos e símbolos”, traz, de certa forma, conhecimentos que praticamente coincidem com os trazidos pela 2ª unidade do livro Porta Aberta – Letramento e Alfabetização Linguística – 1º ano, pois essas duas unidades trabalham com a noção de símbolo, dirigindo seu objetivo para a diferenciação entre as escritas ideográficas, baseadas nos significados e os sistema de escrita baseados nos significantes, como a escrita alfabética. Essa diferenciação é mais enfocada no livro

Porta Aberta – Letramento e Alfabetização Linguística – 1º ano, pois, enfatizando a

concepção da linguagem como um sistema de representação, apesar de essa concepção não ser trazida no apêndice destinado ao professor, como explicitado, o livro dirige-se aos professores e explicita que “É importante que os alunos compreendam que os símbolos e as letras têm a função de representar algo do mundo relativo a ele, pois isso facilitará o entendimento de que a escrita é um sistema de representação” (PORTA ABERTA – LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO LINGUÍSTICA – 1º ANO – p. 09).

Como 1ª atividade dessa temática, o livro em questão traz imagens de semáforo, placas com desenhos (ideográficos) e placas com palavras e, primeiramente, pede que os alunos marquem as imagens que conhecem e expliquem aos colegas e ao professor o que significam. Em seguida, apresenta o comando para as crianças circularem as imagens que apresentam palavras. Com essas duas atividades, entendemos que a pretensão é fazer com que os alunos distingam a linguagem, ideográfica da linguagem verbal escrita, sem contudo, explorar sistematicamente os contextos discursivos em que tais imagens se encontram e tematizar a história da escrita, tendo em vista a diversidade entre as linguagens exibidas.

Como última atividade dessa unidade, o livro apresenta a fotografia de uma avenida “recheada” de placas e o comando da atividade pede que os alunos observem a cena e marquem onde aparecem “palavras escritas”. Logo, em nenhum momento, há a apresentação e problematização do contexto em que tal imagem se encontra e que enunciado encerra: o quê? para quem? como? É proposto, também, ao final da 2ª temática, um passeio no entorno escolar com o objetivo de identificar palavras escritas pelo caminho, pedindo que os alunos copiem algumas dessas palavras e as ilustrem. Nesse caso, tendo em vista a proposta de Ferreiro e Teberosky (1985),

mais uma vez, constatamos que o maior objetivo do livro com a 2ª temática é possibilitar aos alunos a diferenciação entre desenhos e letras, sem contudo, possibilitar-lhes perceber e entender que as linguagens (ideográficas ou alfabéticas) somente se dão em contextos enunciativos, trazendo, assim, a linguagem como mero elemento de representação. Finalizando a temática, o livro ressalta ao professor que essa última atividade (passeio) “[...] chamará a atenção dos alunos para o fato de que um dos objetivos da escrita é poder, mais tarde, recuperar uma informação”, não trazendo, assim, a primordialidade do aspecto dialógico e discursivo da linguagem.

Nesse momento, entendemos que seria primordial apresentar ao aluno a história da escrita e tematizar com ele como o desenho também serviu como escrita (linguagem pictográfica), seguindo para as imagens mais estilizadas e simbólicas (ideográficas) e daí para a escrita fonética (tentativa de representação da fala por meio do alfabeto escrito). Segundo Higounet (2003, p. 11) “[...] Conservando apenas as grandes linhas, podemos distinguir, porém, entre as tentativas primitivas e nosso sistema alfabético três etapas essenciais: escritas sintéticas, analíticas e fonéticas”. Logo, juntamente à história da escrita, a relação oral e escrita também viria “à tona”, sendo primordial ser relativizada juntamente com o estudante, tendo em vista principalmente as diferenças entre fala e escrita e, assim, as variedades linguísticas. Obviamente que tais variedades necessitam sempre ser pauta de reflexão quando do estudo das relações entre sons e letras e letras e sons, todavia essa seria uma oportunidade crucial para o início de sua abordagem desde a alfabetização.

A unidade “O Alfabeto” é trazida, respectivamente, como a 2ª e 3ª unidades dos livros A Escola é Nossa – Letramento e Alfabetização Linguística – 1º ano e Porta

Aberta – Letramento e Alfabetização Linguística – 1º ano, como visto nos Quadros 3

e 4. No primeiro livro, o alfabeto é apresentado em letra de forma maiúscula e utilizado para identificação das letras do próprio nome do aluno e para organização de nomes em ordem alfabética. No 2º livro em análise, o alfabeto é apresentado ao aluno em letra de forma maiúscula e minúscula, por meio do seguinte comando: “AS LETRAS DO ALFABETO SÃO SÍMBOLOS QUE USAMOS PARA ESCREVER. OBSERVE ESSAS LETRAS ESCRITAS EM LETRA DE FORMA”. Na observação destinada ao professor, o livro ressalta que é “[...] importante expor o alfabeto na

sala de aula para que os alunos possam consultá-lo sempre que precisarem, aprendam a distinguir as letras entre si e a distingui-las de outros sinais escritos, como números” (PORTA ABERTA – LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO LINGUÍSTICA” – 1º ANO – p. 12); logo em seguida, enfatiza o trabalho com o alfabeto móvel disponibilizado nas páginas finais do livro.

Retornando às atividades destinadas aos estudantes, o livro volta a trabalhar com os nomes dos alunos da sala, pedindo que identifiquem a sua letra inicial e, em seguida, sugere o desenho ou o recorte em revistas de figuras cujas letras iniciais sejam as mesmas do nome do colega escolhido. As atividades seguintes (seção “Texto por toda parte”) vão ao encontro da identificação de palavras do cotidiano dos estudantes e de suas letras constituintes (no caso a palavra “escolar”), priorizando sua categorização gráfica.

Para o professor, o livro indica que o objetivo da atividade é, mais uma vez, levar o

aluno a perceber que ele já ‘lê’ muitas palavras no seu dia a dia e, também, que as palavras podem ser escritas com vários tipos de letras. O livro segue com atividades

que continuam explorando os nomes dos colegas de sala, o próprio nome do aluno e do professor, incentivando a identificação das letras que compõem esses nomes. Novamente, chamamos a atenção para a apresentação do alfabeto, nos dois livros em análise, sem nenhuma menção à história do alfabeto, tampouco à relativização entre a linguagem oral e a escrita. Assim, “o livro age” como se a linguagem escrita (o sistema de escrita alfabético) fosse um sistema pronto e acabado e que sempre esteve à disposição de quem dele quisesse lançar mão para se “expressar”. A relação som e letra é aqui tratada como algo dado que deve ser apreendido pelo estudante. Logo, é como se a escrita pudesse representar fielmente a fala, sem consideração das restrições daquela, bem como das variedades linguísticas e variações dialetais apresentadas pelas línguas ao longo da evolução histórica da humanidade, em proporção diacrônica.

Segundo Cagliari (1992, p. 106), “o caminho que a criança percorre na alfabetização é muito semelhante ao processo de transformação pelo qual a escrita passou desde sua invenção”. Assim, compreendemos ser imprescindível, não somente por parte do educador, mas também do educando, o entendimento de que a escrita tem uma

história, de que ela foi uma invenção do homem em atendimento a demandas econômicas, sociais, etc. Nessa perspectiva, ela surge com a necessidade de urbanização e passa, com isso, a ser uma “ferramenta/instrumento” essencial para a vida do ser humano: tornou-se possível a fixação da memória, a reflexão do pensamento, pois, com a escrita, foi possível que os indivíduos voltassem ao que pensaram, criticassem o passado e até fizessem inferências sobre o futuro. A escrita passa, então, a ser parte da vida do homem em diferentes frentes.

Por meio de sua história, torna-se possível a compreensão de que, com a escrita, o homem consiga unir o universo da palavra (com sua configuração fonética) e o universo icônico (desenhos gráficos). Isso se evidencia ao enfocarmos os pictogramas, ideogramas, fonogramas, formas articuladas (silabários, alfabetos consonânticos, alfabetos completos) em que se podem perceber as várias formas criadas de aproximações do som em relação à escrita. Entretanto, como já colocado, não encontramos nos dois livros analisados textos, atividades ou proposições ao professor que vão ao encontro desse entendimento pelo estudante.

A 3ª unidade do livro A Escola é Nossa – Letramento e Alfabetização Linguística – 1º ano (2010, p. 22) traz o estudo do conceito de letra e sílaba. Esses conceitos são trabalhados, primeiramente, por meio dos nomes de cada aluno, de seus colegas e da professora e, após, por palavras diferenciadas (nomes de animais, objetos...). Ao professor é dado o seguinte comando: “Peça ao aluno que pronuncie o próprio nome em voz alta, prestando atenção em quantas vezes o divide quando fala. A quantidade de ‘partes’167 é a quantidade de sílabas [...]”. Novamente, encontramos proposições ao professor que trabalha com a língua escrita como espelho da língua falada. Logo, temos, novamente, a consideração da escrita como mera transcrição da fala e, consequentemente, um tratamento equivocado dado ao ensino das relações sons e letras e letras e sons que não pode ser desconsiderado na alfabetização, uma vez que, como nos colocam Gontijo e Schwartz (2011, p. 177),

[...] sobre a forma de conceber a relação entre fala e escrita, é fundamental lembrar que o pressuposto de que a escrita é um mero artifício para transcrever a fala é um princípio que fundamenta métodos de alfabetização apoiados na psicologia behaviorista ou comportamentalista. Na perspectiva desse método, o processo de aquisição da linguagem escrita é compreendido como mecanicamente adquirido. Sob esse ponto de vista, o

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