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5 A POLÍTICA DE AVALIAÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS NO BRASIL: O PROCESSO HISTÓRICO

5.3 A POLÍTICA DE AVALIAÇÃO DO PNLD: OS GUIAS DE LIVRO DIDÁTICO E SUAS MODIFICAÇÕES

Como destacado no histórico do Programa, muitas foram as ações empreendidas até se chegar à atual política de avaliação de livros didáticos executada pelo PNLD/MEC, dentre elas a criação de planos, a elaboração de livros, a promoção de seminários, entre outras, que suscitaram mudanças que podem ser visualizadas nos diferentes Guias no decorrer dos anos. Assim, buscaremos sinalizar, de maneira geral, o caminho empreendido por esse programa, tendo em vista a avaliação dos livros didáticos, tentando apontar, dentre as modificações, aquelas mais significativas e aparentes, principalmente no que concerne aos livros didáticos de alfabetização.

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A ISO (International Organization for Standardization) é uma federação mundial dos organismos nacionais de normalização. A ISO é formada por representantes dos países-membros. No Brasil, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é a entidade responsável por representar o país perante a ISO. Já o INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) é o organismo de acreditação para o Brasil, ligado à ABNT (MARIANI, 2006).

Mesmo sabendo que o primeiro Guia data de 1996, destacamos o ano de 1993 como o da iniciativa primeira de uma política de avaliação dos livros didáticos, com a criação do Plano Decenal de Educação para Todos, cujas metas faziam referência à qualidade física e pedagógica de material, entregues sob a total responsabilidade do MEC. Esse Ministério, naquele mesmo ano, nomeou uma comissão de especialistas com o objetivo de instituir critérios para a avaliação dos livros didáticos de 1ª a 4ª séries, a partir da análise dos livros mais escolhidos pelos professores. Essa avaliação foi descrita no livro Definição de Critérios para Avaliação de Livros

Didáticos127, tendo repercussão negativa, principalmente no tocante à má qualidade

dos livros distribuídos pelo Governo aos alunos. A avaliação dos especialistas acabou sendo desqualificada pelo MEC, resultando na suspensão da distribuição do referido livro às Secretarias de Educação (CARVALHO, 2008, p. 04).

No ano de 1995, novos esforços são empreendidos. Segundo Mantovani (2009, p. 42),

[...] foram convocados especialistas dos vários componentes curriculares do ensino de 1.ª a 4.º séries pela Secretaria do Ensino Fundamental. Esses especialistas deveriam preparar uma avaliação dos livros apresentados pelas editoras e pelos autores para o PNLD 1997. Vários desses profissionais já tinham feito parte do grupo formado pela FAE na avaliação- piloto de 1993.

É então nesse contexto e por meio dessa convocação, considerando as comissões por área do conhecimento formadas em 1995, que, no ano de 1996, é publicado o primeiro Guia de Livros Didáticos de 1ª a 4ª série, com vistas ao PNLD 1997. Cada comissão era responsável pela avaliação, elaboração de critérios e classificação dos títulos de sua respectiva área do conhecimento. Visando a uma categorização das obras, no Guia – 1996/PNLD – 1997, os livros didáticos foram divididos em categorias de classificação: Livro excluído; Livro não recomendado; Livro recomendado com ressalvas; e Livro recomendado. Esse primeiro Guia apresentava, além da categorização das obras por área de conhecimentos, os princípios e critérios norteadores dessa análise e as resenhas de cada obra recomendada.

Essa categorização, principalmente no que dizia respeito às obras excluídas e não recomendadas, gerou polêmicas e discussões entre o MEC, editoras e autores, com

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repercussões tanto no meio jornalístico quanto no jurídico (MANTOVANI, 2009). Logo, modificações foram inseridas no Guia – 1997/PNLD – 1998, cujo processo passou a ser realizado pelo FNDE e não mais pela FAE, como já enfatizado em subcapítulo anterior. Um dado primordial que destacamos nessa edição do PNLD é a inclusão dos livros de alfabetização, dentre os quais as cartilhas, que também começam a passar pelo processo de avaliação. A categorização das obras persistiu, porém agora as classificações podiam ser identificadas por meio de abreviaturas e ícones (estrelas), assim distribuídas: Livro recomendado com ressalvas (RR – * – 1 estrela), Livro recomendado (REC – ** – 2 estrelas); e Livro recomendado com distinção (RD – *** – 3 estrelas). Os livros didáticos incluídos na categoria 3 estrelas (RD) se referiam a obras muito próximas do idealizado nos princípios e critérios definidos pelas comissões e, portanto, consideradas de alta qualidade pelo MEC. Além das resenhas dos livros RR, REC e RD, o Guia – 1997/PNLD – 1998 trazia a listagem das obras não recomendadas, as quais podiam ser escolhidas pelos professores.

Com a inclusão da avaliação das obras relativas às séries finais do Ensino

Fundamental (5ª a 8ª séries)128 com vistas ao PNLD 1999, alterações ocorreram,

dentre as quais a eliminação no Guia da classificação de livros não recomendados, que não mais poderiam ser escolhidos e comprados por meio do PNLD, e a inserção do critério de coerência metodológica (unidade pedagógico-metodológica) da obra.

O Guia – 2000/PNLD – 2001, publicado em 2000, apesar de apresentar as mesmas menções do anterior (RR, REC e RD), acrescidas dos respectivos ícones (estrelas), trouxe diversas alterações em seu bojo, levando em conta principalmente as reuniões internas e externas para análise das avaliações. De acordo com Bezerra e Luca (2006, p. 30-31), após reunião(ões) visando à análise da avaliação dos livros didáticos com a presença da equipe de coordenadores e da Secretaria de Ensino Fundamental (SEF), foram expostos alguns pontos sobre os quais se exigiriam mudanças, dentre eles o descompasso constatado entre as expectativas do PNLD e as dos professores das redes públicas de ensino, fato anteriormente enfatizado neste estudo por meio de pesquisas por nós tomadas.

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Posteriormente ao Guia – 2000/PNLD – 2001, a SEF/MEC organiza seminário com o objetivo de subsidiar mudanças necessárias nas próximas avaliações do PNLD. Mediante colocações desse seminário, o PNLD 2002, que visou à aquisição de livros didáticos para os anos finais do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), passou a privilegiar coleções de livros e a avaliação passou a ser executada por universidades brasileiras. Os livros didáticos de alfabetização e os livros didáticos de língua portuguesa ficaram a cargo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); os livros didáticos de Ciências a cargo da Universidade de São Paulo (USP); os livros didáticos de História e Geografia a cargo da Universidade do Estado de São Paulo (UNESP); e os livros didáticos de Matemática a cargo da Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE)129.

O Guia – 2003/PNLD – 2004, executado pelas referidas universidades, assim como

o PNLD – 2002, apresentou os volumes130 de Alfabetização, Língua Portuguesa,

Matemática, Ciências, História e Geografia. Não obstante as alterações trazidas, o(s) Guia(s) ainda apresentou(aram) as obras categorizadas pelas menções anteriores – RR, REC e RD – juntamente às resenhas de cada coleção.

É somente no Guia – 2006/PNLD – 2007 que há uma mudança mais aparente quanto à categorização das obras, pois as menções foram abolidas e os livros

didáticos de alfabetização131 encontraram-se divididos em três blocos distintos, com

justificativa para tal divisão enfatizada no próprio Guia, segundo o qual “[...] o equilíbrio da atenção dada nas obras aos diversos objetos da alfabetização e do letramento – estudo do sistema de escrita e leitura e produção de textos – é variável” (BRASIL, 2007, p. 24). Portanto, considerando tal diversidade, conforme abordado na seção inicial deste trabalho, o referido documento agrupou as 47 obras (livros didáticos de alfabetização) contempladas no ano de 2007 em três grandes blocos:

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Dados obtidos em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=859&catid=195%3Aseb-educacao- basica&id=12637%3Aguias-do-programa-nacional-do-livro-didatico&option=com_content&view= article>. Acesso em: 24 abr. 2012.

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Diferentemente da edição anterior (com um volume para todas as disciplinas), o PNLD 2004 apresentou cinco guias (volumes), para cada área do conhecimento.

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Os livros didáticos de Língua Portuguesa (séries iniciais do EF) também foram divididos em blocos, porém com categorizações diferentes dos livros didáticos de alfabetização, visando ao modo como as coleções estavam organizadas (unidades temáticas, gêneros textuais, eixos, etc.).

No 1º bloco, encontravam-se os “[...] livros que abordam de forma desigual os

diferentes componentes da alfabetização e do letramento (21 livros)132”. São

livros que ora enfatizam mais a leitura e a produção de textos, ora os conhecimentos sobre o sistema de escrita.

No 2º bloco, “[...] livros que abordam de forma equilibrada os diferentes componentes da alfabetização e do letramento (21 livros)”. Esses livros trabalham tanto os conhecimentos sobre o sistema de escrita quanto a leitura e a produção de textos de maneira adequada.

No 3º bloco, “[...] livros que privilegiam a abordagem da apropriação do sistema de escrita (10 livros)”. A ênfase desses livros é apenas colocada nos conhecimentos sobre o sistema de escrita, com destaque para as relações entre sons e letras (BRASIL, 2007, p. 24).

Quanto à participação das universidades, houve alterações com relação às áreas de Ciências e História, que passam a ter as avaliações executadas, respectivamente, pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Nessa edição do Programa, cada área do conhecimento também foi identificada por cores diferentes, ficando realçada a cor vermelha para a disciplina de Língua Portuguesa e a cor alaranjada para a Alfabetização.

No Guia – 2007/PNLD – 2008, para aquisição de livros para as séries finais do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), foram usadas cores diferenciadas nos quadros que apresentavam a avaliação das coleções aprovadas, tendo em vista a

abordagem metodológica usada133, além da exposição das resenhas. Tais quadros

permitiram a comparação do desempenho das obras mediante a análise dos especialistas.

Chegamos, assim, ao PNLD – 2010, cuja edição destinou-se à aquisição e distribuição de livros didáticos para os anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º

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Por conter o maior número de obras, este bloco foi, ainda, dividido em três grupos devido às diferenças entre os livros que ora enfatizavam o conhecimento das relações entre grafemas e fonemas, ora investiam mais nas atividades de leitura e produção de textos escritos e outros que trabalhavam tanto com os conhecimentos do sistema e escrita quanto com a leitura, mas deixavam a desejar no que tangia à produção de textos escritos (MEC, 2007, p. 29-30).

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No caso específico de Língua Portuguesa, quanto ao tratamento didático dado aos conteúdos, foram usadas as seguintes cores: Vivência (rosa); Transmissão (verde); Uso social (azul claro); Construção Reflexão (amarelo); correlacionados aos princípios organizadores (dimensões): Leitura; Produção de textos escritos; Oralidade; e Conhecimentos Linguísticos.

ano). Antes, entretanto, de passarmos ao Guia referente a essa edição do Programa, entendemos ser necessária a colocação de algumas considerações acerca das mudanças apresentadas desde o ano de 1996. Destacamos, assim, que todas as alterações constantes nos Guias eram anteriormente explicitadas em edital para que editoras e autores tomassem conhecimento e fizessem as devidas modificações nas obras. Outro dado importante diz respeito a uma abertura do programa quanto às modificações introduzidas desde o início do processo, no sentido de seu aperfeiçoamento. Com esse intento, inicialmente foram abolidas obras que apresentassem qualquer tipo de preconceito (cor, raça, origem, etc., dentre quaisquer outras formas de discriminação), passando para aquelas que explicitassem erros conceituais até as incoerências metodológicas, partindo daí para critérios de exclusão mais específicos de cada área do conhecimento.

Ao correlacionarmos as mudanças acontecidas no PNLD, principalmente no tocante ao seu Guia de livros didáticos (livros didáticos de alfabetização e de língua portuguesa), a partir do ano de 1996, com os discursos preconizados nos documentos oficiais e com as transformações ocorridas no ensino da língua materna nessa mesma época, podemos perceber que, de certa forma, essas ocorrências se relacionam e se influenciam. Compreendemos que essa busca nos leva para além desta seção, entretanto, torna-se importante sinalizarmos acerca dela para que, ao seguirmos para o Guia de livros didáticos – PNLD 2010 – letramento e alfabetização

– língua portuguesa - 2009, cujo texto se constitui em uma de nossas fontes de

investigação, possamos atentar nosso olhar a essa questão.

5.4 GUIA DE LIVROS DIDÁTICOS – PNLD 2010 – LETRAMENTO E

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