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O QUE NOS REFERENCIA TEORICAMENTE?

4.3 As gerações da Teoria da Atividade

4.3.3 A terceira geração: novos desenvolvimentos

A partir dos anos 70, rompendo com a tradição russa de estudos com foco somente na aprendizagem infantil, a TA é re-contextualizada por ‘pesquisadores radicais do oeste’ e, com isso, “uma diversidade tremenda de aplicações da TA emergem, como manifestado nas coleções recentes” (ENGESTRÖM, 2001, p.135). As coleções referidas pelo autor são: • CHAIKLIN, S., HEDEGAARD, M. & JENSEN, J.J. (Eds.). Activity Theory and Social

Practice, Aarhus, Asrhus University Press, 1999.

200 Sempre é bom lembrar que a atividade humana “não é uma série ou soma de ações” (Engeström, 1988,

cap.2), mas “é uma unidade molar, não aditiva, da vida…” (Leont’ev, 1981, p. 46).

201 Tradução de activity system. Neste caso, entendo sistema-atividade como uma atividade vista como um sistema. Por outro lado, sistemas de atividades (tradução para activity systems) refere-se a mais de uma

atividade que, de um modo e outro, estão relacionadas entre si de forma sistematizada.

Sujeito Objeto

Artefato

Comunidade Divisão de trabalho

Regras

Figura 4: A estrutura do sistema-atividade humana (Engeström, 1987, p.78)

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• ENGELSTED, N., HEDEGAARD, M., KARPATSCHOF, B. & MORTENSEN, A. (Eds). The Societal Subject, Asrhus University Press, 1993.

NARDI, Bonnie A. (Ed.) Context and consciousness: activity theory and human computer interaction. The MIT Press, Cambridge, Massachusetts, London, England, 2001.

No meu modo de ver, creio ser, a divisão por gerações de pesquisa da TA, uma estratégia didática (e posso, muito bem, estar enganada) que Engeström utilizou para nos explicar, organizadamente, a teoria e seus (complexos) conceitos. Entretanto, para mim, em se tratando da terceira geração, essa divisão não é tão clara. Devido à ‘diversidade de aplicações’, ‘múltiplas vozes’ e, certamente, abordagens múltiplas, para não mencionar as mudanças que o mundo globalizado nos impõe, fica extremamente difícil a caracterização desta geração. Compreendo que, desse modo, a teoria não se desenvolveu em uma linha evolutiva única (unidirecional), mas que tenha expandido em várias direções no espaço e no tempo.

Assim, a chamada terceira geração, no meu entender, parece movimentar-se em torno da expansão da teoria e de seus conceitos, parte deles desenvolvidos pelo autor filandês Yrjö Engeström, inicialmente discutidos em sua obra “Learning by expanding: an activity- theoretical approach to developmental research202, lançado em 1987. Contudo, ao mesmo tempo, outros autores, em diversos países, desenvolvem seus trabalhos fundamentando-os diretamente em trabalhos de Leontiev e/ou Lev Vigotski (segunda e primeira gerações), ou em outros autores como Ilyenkov e Davidov.

O autor canadense Wolff-Michael Roth propõe a discussão da teoria com base na lógica do materialismo dialético. Roth et al. (2005) coloca-nos a par da perspectiva dialética:

“(…) é suficiente dizer que, o nosso entendimento não tem raízes nem na psicologia clássica, que tem como unidade de análise o indivíduo, e nem na sociologia clássica, que adotou a sociedade (ou classes) como a [sua] unidade de análise. Mais que isso, tomamos vantagem das abordagens filosóficas em que indivíduo e coletivo se colocam em uma relação dialética, ou seja, em uma relação em que um pressupõe a [existência do] outro.” (p.5)

202 Nesta obra, considero de grande relevância a sua teoria sobre a aprendizagem expansiva, com base nos

processos de internalização e externalização descritos anteriormente por Leont’ev (1981). Tal noção será abordada com mais detalhes na seção 4.4.5.

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No Brasil, mais especificamente no campo da educação, os trabalhos de José Carlos Libâneo (2004a, 2004b) discutem a contribuição da Teoria Histórico-cultural da Atividade e, em particular, do psicólogo Vasili Davydov para o debate sobre a aprendizagem escolar e a formação de professores.

Destaco também a pesquisa teórica conduzida por Duarte (2002) que analisa a teoria como uma abordagem em potencial para a pesquisa no campo da educação. Em Duarte (2004), o autor faz uma análise da psicologia de Leontiev e suas implicações para a reflexão sobre a educação nos dias de hoje. Discute a questão da alienação do trabalho humano como um fenômeno social e histórico.

Já no campo da educação matemática, o Grupo de Estudos e Pesquisa da Atividade Pedagógica (GEPAPe), coordenado pelo prof. Dr. Manoel Oriosvaldo de Moura da Faculdade de Educação da USP, realiza

“estudos e pesquisas acerca da atividade pedagógica, segundo os princípios teórico- metodológicos da abordagem histórico-cultural, focalizando os elementos constitutivos dos processos de ensino e de aprendizagem na formação inicial e contínua de professores e pesquisadores, exercitando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.” (fonte http://gepape.incubadora.fapesp.br/portal/gepape-novo-sitio; último acesso 28/11/2007)

Finalmente, não poderia de deixar de citar os colegas do PrPG/FaE/UFMG que juntos formamos, em meados de 2005, um grupo de estudos cujo o foco é a abordagem da Teoria Histórico-Cultural da Atividade para pesquisas nos campos da Educação Matemática e Ensino de Ciências. Este grupo vem concentrando os esforços na compreensão da teoria e as possibilidades desta orientar-nos teoricamente em nossas pesquisas. Como frutos, posso citar a tese de Vanessa Sena Tomaz sobre o estudo da transferência em atividade situada e interdisciplinar (TOMAZ, 2007) e também o artigo do doutorando Eduardo Sarquis Soares, sobre a atividade das “aulas compartilhadas” na formação de licenciandos em matemática (SOARES, 2008). A professora Jussara203 de Loiola Araújo está, neste momento, desenvolvendo a pesquisa “Educação Matemática Crítica e Teoria da Atividade: a Matemática em ambientes que incorporam modelagem matemática e tecnologias”, em programa de pós-doutorado na Universidade de Lisboa, Portugal. Anteriormente à

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constituição do grupo, a pesquisadora Maria Inês Mafra Goulart, professora do departamento de psicologia da FaE/UFMG, também integrante de nosso grupo de estudos, já vinha realizando os estudos no campo da TA para a fundamentação teórica de seu trabalho de tese em que descreve e analisa, com inspiração na abordagem histórico- cultural, a participação de crianças entre quatro e seis anos e suas professoras em atividades de exploração do mundo físico realizadas em sala de aula (GOULART, 2005).

4.4 Os princípios da TA (segundo Engeström), um quadro teórico para análise da