• Nenhum resultado encontrado

AS OFICINAS DE MARCO, LÚCIA E VERÔNICA

B. A oficina com os alunos da Escola E.

No final do ano letivo, Verônica surpreendeu-nos mais uma vez. Dessa vez, sem projeto, sem plano, ela comunicou e convocou a todos para a oficina que faria com seus alunos da 8ª série da Escola E em uma LanHouse próxima a escola. A Escola E tinha uma sala de informática sem condições de uso. Foi uma das escolas contempladas nas primeiras ações do ProInfo.

Não acreditávamos que esta chegaria a acontecer ainda naquele ano, por ser já estar em seu final, apesar de a proposta de utilizar um espaço como esse já ter sido feita por um outro participante do grupo em uma de nossas reuniões. Hoje em dia, conhecendo melhor Verônica, creio ser parte de seu temperamento as decisões rápidas e repentinas.

Nessa época, devido às provas de final de ano e apesar da curiosidade, os alunos do GEPEMNT não puderam acompanhar a oficina, nem mesmo Ana Paula, nossa aluna bolsista do programa. Dessa forma, eu, e as professoras Lúcia e Letícia acompanhamos e auxiliamos Verônica nessa aventura.

A oficina aconteceu no dia 24/11/2005. A LanHouse ficava muito próxima à Escola D. Contudo, nela não haveria assentos suficientes para os quarenta alunos. Verônica então combinou com os alunos e com a coordenação de sua escola que deslocaria algumas cadeiras da sua sala de aula para o local. Assim, num dia de chuva torrencial, eu, Lúcia, Letícia249, Verônica e seus alunos (mais as cadeiras) dirigimo-nos para o local em que seria realizada a oficina. Por se tratar de um estabelecimento comercial, naquela tarde, este foi fechado ao público. Verônica ainda instalou, com aprovação do dono do estabelecimento, os software ReC e Poly para a realização da mesma oficina que oferecera na Escola D. Na LanHouse, os alunos250 desenvolveram todas as tarefas sem piscar seus olhos. Acreditávamos que, cedo ou tarde, eles passariam a acessar jogos, Internet e Orkut, mas,

249 Apesar de seu afastamento das reuniões do grupo no final de 2004 e durante todo o ano de 2005,

Professora Letícia não se afastou totalmente das atividades da FC. Estava na lista de emails e, portanto, sempre sabia o que estava acontecendo. Ao ouvir sobre esta experiência inédita, decidiu que gostaria de ver com seus próprios olhos, os acontecimentos do dia.

250 Nas palavras de Verônica, esses alunos têm acesso mais facilmente a computadores. Ela acredita que, pelo

menos, 25% desses alunos tem computador em sua casa. Devido a proximidade da LanHouse à escola, ela também acredita que alguns alunos da escola freqüentam o local.

144

para a nossa grande satisfação, isto não aconteceu. O momento de síntese da oficina não aconteceu desta vez.

Em conversa informal, alunos e professoras avaliaram positivamente a atividade.

Elementos a serem destacados nas oficinas de Verônica

Com Verônica, como relatado anteriormente, vivemos situações insólitas. Acredito que as oficinas de Verônica causam um impacto maior no grupo de formadores do que nela mesma, como professora. Com a sua experiência de vinte e cinco anos como professora da escola pública, parece que são raras as situações que a abalam.

Com suas decisões rápidas e determinadas, ela marca a data, a hora, o número de alunos e realiza a oficina. Dessa forma, ela gerou no grupo (GEPEMNT) certa tensão, pois temos que nos organizar, para receber alunos. Os integrantes do GEPEMNT participam sempre que possível das oficinas que acontecem no ProTem. Como integrantes de um grupo de estudos e pesquisa, é nosso interesse participar e vivenciar tais experiências. Por outro lado, para os professores que organizam as oficinas, o auxílio do grupo é muito bem vindo.

Contudo, as oficinas de Verônica, em 2005, foram todas marcadas e confirmadas com curto período de antecedência. Na oficina na LanHouse, nenhum integrante do GEPEMNT pode participar. Em 2006, a história se repetiu em mais uma ocasião. No primeiro semestre, Verônica anunciou-nos que traria seus alunos da EJA, e os trouxe, aplicando a mesma oficina que ofertou em 2005.

Nas oficinas que ministrou, Verônica também não se definiu pelo conteúdo matemático que iria abordar e acabou realizando as propostas de Marco e Lúcia. Com isso observamos posteriormente algo que já havíamos discutido em reunião: o excesso de tarefas para um único encontro. Contudo, Verônica dizia que o objetivo de incluir a atividade de Lúcia era para ‘encantar’ o seu aluno. Ela havia participado do planejamento das oficinas de Marco e de Lúcia e, portanto, não víamos grandes problemas nesse sentido. Contudo, não sabíamos se a opção feita se encaixava em seu plano de ensino, ou se o contrário.

Nesse processo de escolha de tópico matemático a ser abordado, é possível perceber que não ficou claro exatamente o que Verônica queria. Ela relatou várias atividades que realizou com seus alunos, utilizando material concreto, tais como, lápis, papel, tesoura.

145

Questionava se era possível ‘transpor’ a atividade para o computador. Coloquei meu ponto de vista de que não achava necessário ‘transferir’ todas e quaisquer atividades para o computador.

Por outro lado, ela sempre nos deixou claro que a sua preocupação principal, naquele momento, era com a questão de acesso a informação digital. E disse que caso os alunos tivessem contato com o computador, eles poderiam cobrar a sua utilização em outros momentos:

Verônica: Quando você colocar o aluno em frente ao computador... Quero despertar o aluno. O próprio aluno na escola, trabalhando esse software. Vou colocar nos objetivos, eu quero despertar o aluno que provavelmente na escola vai começar a cobrar por que não vamos ao laboratório?

(Excerto 11, reunião de 01/10/2005) Ela nos contou que por duas vezes, ela e seus alunos viveram a expectativa da entrada de computadores nas escolas. A primeira, por ocasião da implementação do projeto ProInfo, por volta de 1998. Sua escola (confesso que não saberei especificar se a escola D ou escola E) foi contemplada com todo o equipamento, mas, segundo Verônica, a instalação em rede nunca se concretizou, o laboratório nunca utilizado e foi assim esquecido.

Em 2005, Verônica vivia novamente a mesma expectativa. Ela ouvira falar que uma nova leva de computadores havia chegado à escola. Aguardava a instalação dos mesmos, mas tudo parecia muito difícil. Verônica nos diz que não ter, ao menos, um computador para fazer um teste:

Verônica: se a gente tivesse um computador pelo menos. Teresinha: nenhum?

Verônica: Eles desmontaram, falando que iam montar novamente e nunca... Tá muito complicado. Uma gestão... Outra gestão. Você não pode nem interferir não, senão eles falam que você está dando pitaco demais.

Teresinha: Então não tem previsão, é isso?

(Excerto 12, reunião de 03/09/2005)

146 5.3 O final do ano…

Como última ação da FC naquele ano, Jussara propôs aos professores que relatassem suas experiências no I Seminário do GEPEMNT – seminário organizado pelo ‘grupão’ com o objetivo de sintetizar e avaliar as atividades do ano todo. Inicialmente, Lúcia e Verônica demonstraram certa relutância em fazer seus relatos para um público maior que o do grupo de formação. Mas durante uma de nossas últimas reuniões do ano, discutimos coletivamente como poderiam ser suas falas, o formato das apresentações, etc. De certa maneira, este preparo as acalmou. Pelo fato de viver um final de ano atribulado, Marco não comparecia mais às reuniões. Entretanto, não deixou de comparecer ao evento do nosso grupo para dar o seu depoimento.

5.4 Encaminhamentos para a análise dos dados

Finalizo este capítulo com a lista dos elementos que foram destacados nas oficinas de Marco, Lúcia e Verônica. Esses elementos serão retomados no capítulo a seguir dando subsídios para responder a questão desta pesquisa.

147 Elementos destacados na oficina de Marco foram:

M1. Alunos não liam as folhas de trabalho.

M2. Aparentemente, alunos não tiveram dificuldades na manipulação do software. M3. Maior tempo foi despendido na Atividade 1.

M4. Deixei que ‘batizassem’ os seus pontos da forma como queriam

M5. Marco preocupava-se em esclarecer todas as questões no momento em que elas surgiam

M6. Houve um debate (não programado). M7. Aluno comenta “parece um céu estrelado”

M8. Marco e alunos discutiram e avaliaram as atividades.

M9. Fala de um aluno: “Professor, não sabia que podia fazer matemática no computador!”. M10. Marco não teve chance de retornar às reuniões do grupo da FC

Elementos destacados na oficina de Lúcia foram:

L1. Fez a sua primeira oficina a um grupo ‘selecionado’ de alunos L2. A sala de informática de sua escola tinha apenas dez computadores. L3. Seus alunos não tiveram problemas na manipulação do software L4. Contar vértices e arestas gerou polêmicas.

L5. Não sabíamos a resposta

L6. Nosso receio é com respeito ao o que sentiria um professor nessa situação. L7. Lúcia não se abalou com a falta de resposta certa.

L8. Alunos cobraram da professora uma resposta correta

L9. Um aluno disse: agora que eu to entendendo para que serve tanta fórmula de matemática.

L10. Lúcia não teve chance de levar seus outros alunos à sala de informática. Elementos destacados na oficina de Verônica foram:

V1. Oficinas causaram impacto maior no grupo de formadores do que nela mesma. V2. Temos que nos organizar para receber os alunos.

V3. Para a oficina na LanHouse, nenhum integrante do GEPEMNT pode participar. V4. Não se definiu por um conteúdo matemático a ser abordado.

V5. Fez mesmas oficinas de Marco e Lúcia em um único dia.

V6. Verônica dizia que o objetivo de incluir a atividade de Lúcia (com MathSolid) era para ‘encantar’ o seu aluno.

V7. No planejamento, questionava se poderíamos transferir para o computador, atividades que faziam uso de material concreto.

V8. Disse que sua preocupação principal, naquele momento, era com a questão do acesso. V9. Viveu junto com os alunos, a expectativa da chegada dos computadores em sua escola.

148 Capítulo 6

QUANDO A ATIVIDADE DA FORMAÇÃO CONTINUADA ENCONTRA A