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AS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: UM PANORAMA GERAL DOS ACONTECIMENTOS

2.1 Políticas educacionais brasileiras e as TICs

É possível observar na literatura de pesquisa que o debate sobre mudança decorrente do uso de tecnologias nos processos educacionais vem muitas vezes acompanhado de uma divisão entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, entre o possível e o impossível. Na realidade, essa polarização vem a reboque de uma discussão ainda maior sobre conseqüências inevitáveis – boas, ruins, ou supostamente nem boas, nem ruins – da rápida tecnização e globalização da sociedade atual, da emergência da Sociedade do Conhecimento ou da Era da Informação (CASTELLS, 2005).

Já em 1993, Pierre Lévy, em seu livro “As tecnologias da inteligência”, anunciava que “... na época atual, a técnica é uma das dimensões fundamentais onde está em jogo a transformação do mundo humano por ele mesmo (p. 7)”.

Kaput, Noss e Hoyles (2002), educadores matemáticos e estudiosos sobre o uso da tecnologia computacional no campo da Educação Matemática, por sua vez, discutem que, nos tempos atuais, mudanças são inevitáveis, mas principalmente imprevisíveis, uma vez que as tecnologias computacionais apresentam características diferentes das tecnologias que as precederam.

Por exemplo, no campo da comunicação, a Internet trouxe mudanças profundas e, como principal conseqüência, o processo de globalização mundial. Em artigo publicado no dia 3

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de julho de 2004, no Estado de Minas, no caderno Pensar, a professora Regina Helena Alves da Silva, do Departamento de História da UFMG, afirmava que

“A globalização, os avanços tecnológicos e os efeitos sobre o trabalho, a constituição da sociedade informacional, a ocidentalização da cultura e superexposição da mídia são processos contemporâneos que produzem mudanças nos modos de estar e sentir-se juntos, desarticulam as formas tradicionais de coesão e modificam modelos de sociabilidade.”

Entretanto, a presença das tecnologias per se provoca mudanças, mas não como alguns de nós as vislumbramos. Tais mudanças dependem também das políticas definidoras de seus usos e, como podemos perceber nas citações acima, da forma como delas (das tecnologias) nos (subjetivamente) apropriamos.

No campo da Educação, para os que propõem a inserção de tecnologias no cotidiano da sala de aula, sempre existiu a expectativa de que tecnologias recentes pudessem colaborar de forma substantiva para a melhoria da qualidade dos processos de ensino e aprendizagem. Há expectativas em torno do possível desenvolvimento de ferramentas computacionais a serem utilizadas como novos recursos didáticos e, devido às novas formas de comunicação, existe também a expectativa de uma possível transformação na estrutura rígida das aulas – tradicionalmente centradas na figura do professor. Nessa direção, há quase 20 anos, Almeida Jr (1988, apud CORREIA LIMA, 1997) acreditava que “com o aprimoramento dos veículos de comunicação à distância, as escolas deixariam de ser o meio mais informativo de leitura da realidade” (p.2).

Acreditando também em possíveis mudanças, as ações do governo federal brasileiro, com o objetivo de incorporar a informática nos processos educacionais, se deram através de inúmeros programas propostos pelo Ministério da Educação (MEC). Atualmente, o Programa Nacional de Informática na Educação (ProInfo), lançado em 1997 pela Secretaria de Educação a Distância (SEED), é o programa73 pelo qual o governo federal atua nas escolas públicas da educação básica. A fim de situar o leitor, faço a seguir, uma descrição dos principais pontos deste programa, o ProInfo, e uma breve descrição de outras iniciativas governamentais – o EDUCOM, o subprojeto Formar e o PRONINFE – que antecederam a política atual de implementação da informática educativa na escola básica.

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Através do ProInfo, o governo federal tem como meta equipar grande parte das escolas da rede pública dos ensino médio e fundamental com computadores74, e conectá-los em rede, com acesso à Internet. Para dar suporte logístico, técnico e orientação pedagógica sobre o uso da informática educativa, o programa prevê a criação de Núcleos de Tecnologia Educacional (NTEs), distribuídos em vários municípios brasileiros, abrangendo todos os estados do Brasil. Tais núcleos têm suas infra-estruturas de informática e comunicação providas pela União e educadores e especialistas em tecnologia, capacitados pelo ProInfo. Estes especialistas têm o papel de auxiliar as escolas equipadas pelo programa, situadas em uma mesma região, em todas as fases do processo de incorporação das novas tecnologias e de, posteriormente, dar suporte no andamento, no que se diz respeito à utilização e manutenção do equipamento. Os NTEs também são responsáveis pela capacitação dos professores dessas escolas através de seus agentes multiplicadores75. Apesar da grande preocupação deste programa em ofertar infra-estrutura, em uma leitura cuidadosa de suas diretrizes (BRASIL, 1997), podemos observar que sua meta é, acima de tudo educacional, antes mesmo da intenção de modernização tecnológica das escolas. O ProInfo funciona de forma descentralizada, com a execução de seu projeto ocorrendo nos Estados, nas ações conjuntas, em parcerias estabelecidas entre a Coordenação Estadual do ProInfo e as Secretarias de Educação Estaduais e Municipais. Para que uma escola seja beneficiada76 por este programa77, é preciso que ela apresente o seu Projeto Político Pedagógico78 de uso das TIC na educação; no caso de uma escola da rede estadual, junto à Secretaria Estadual

73 Mais informações sobre o ProInfo na página http://www.proinfo.mec.gov.br. (Último acesso em

dezembro/2007; hoje, a página já não se encontra disponível)

74 Em 1997, a meta inicial estabelecida pelo ProInfo (BRASIL, 1997, p.15) foi a aquisição e instalação de

100 mil computadores na rede pública de ensino de 1° e 2° graus. Ainda, de acordo com esse mesmo documento, cada escola beneficiada pelo programa terá um laboratório de computadores (10), conectados em rede.