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A territorialização e o trabalho (numa lógica de partenariado e de inter- institucionalidade), do ponto de vista da intervenção institucional, adquirem um papel central na “ativação” e no envolvimento das diferentes instituições no projeto de integração social. O centralismo dá lugar à lógica territorial e descentralizada constituindo-se como um instrumento de adaptação das intervenções e de participação das instituições locais numa estrutura de efetiva parceria. (Rodrigues, 2010:194)

Botelho (2010) considera, que a multidimensionalidade dos problemas sociais atuais tem vindo a provocar a necessidade de implementação de novas políticas sociais globais, não restritas num grupo específico da população, mas sim num espaço de atuação, por exemplo, regional ou nacional.

Para Mouro & Simões (2001), é fundamental articular as profundas mudanças do capitalismo com as questões da democracia, e da gestão da cidadania e com os desafios do trabalho em rede, fortalecendo o protagonismo dos cidadãos, por sua vez integrado ao protagonismo da população. Também para Rodrigues (2010), o trabalho em rede é um dos aspetos fundamentais no novo modelo de segurança social, uma vez que deixa de existir uma estrutura de organização piramidal e rígida para uma estrutura reticular e interinstitucional.

As novas metodologias de abordagem incluem, também, uma ação descentralizada que são na linha de Hespanha (2008:6-7), numa partilha de responsabilidades de ação com as organizações da sociedade civil, através das parcerias ou redes sociais de parceiros, onde a dimensão das políticas locais traduzem em regra, três tendências principais: um envolvimento mais ativo dos níveis inferiores de governação ou parcerias locais no desenvolvimento e gestão dos projetos e políticas nacionais; desfrutar de uma margem de manobra maior no que

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diz respeito à execução das políticas nacionais; devolver a competência para se elaborar políticas a níveis inferiores de governação.

O processo de descentralização, citado pelo mesmo autor, é acompanhado, a nível orgânico, através da criação de parcerias de agências locais, dos sectores público, privado, comunitário e não lucrativo, tendo como objetivo a identificação necessidades e conceber estratégias ou a criação projetos conjuntos (Hespanha, 2008). Citando Ferreira (2008) a tendência é para os projetos locais produzirem linguagens e práticas uniformes dos programas nacionais.

Porém, a descentralização das políticas, embora considerada de uma maneira geral, positiva, tem algumas limitações que na opinião de Hespanha (2008), só se podem corrigir mediante uma boa articulação, com os princípios gerais do sistema através de uma estrutura coordenadora que controle o seu cumprimento, podemos conhecer esses problemas pela análise do quadro 13.

Quadro 13- Os níveis e os problemas da Intervenção Descentralizada.

Níveis de Intervenção Problemas de Intervenção

Eficácia

As iniciativas locais não conseguem por si resolver os problemas sociais (como a exclusão ou o desemprego) e devem ser acompanhadas por medidas de carácter nacional

Equidade

Pode gerar-se uma distribuição desigual de proteção social pelos diferentes territórios, sendo os mesmos problemas cobertos desigualmente consoante o território em que ocorrem.

Localismo Possibilidade de “desvios” significativos na execução de políticas, entre os

objetivos nacionais e a sua concretização local

Efeito de

proximidade/familiaridade

Nem sempre a proximidade corresponde a uma maior consciência das necessidades e das oportunidades locais por falta de distanciamento face ao que é familiar.

Escala

Certas funções devem ser asseguradas à escala regional e não local (por exemplo, certos tipos de equipamentos coletivos).

Fonte: adaptado de Políticas Sociais: novas abordagens, novos desafios, Hespanha (2008)

Segundo Gonçalves (2012), está em curso uma dinâmica de mudança institucional que sugere o aumento da importância da dimensão infranacional e aparecimento de novos atores, nomeadamente as regiões, as autarquias e as organizações não-governamentais, com aumento de reforço de resposta integrada, participação e cidadania. Pese embora partilhar-se o pressuposto da afirmação das coletividades perante o Estado, através de quadros corporativos, associativos e comunitários capazes de (política, económica e culturalmente) processarem

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“soluções” integradas implementadas a partir de mecanismos democráticos, o processo de governança pública que poderá estar envolto no risco de diluir as responsabilidades do Estado Social por novos atores.

Vários autores têm analisado as características das sociedades pós-industriais, marcadas pelo capitalismo avançado e o consequente desgaste das regras da modernidade, nomeadamente o conceito de Estado-Nação e de Estado-Providência28, que no contexto Europeu é considerado por Ramalho (2009), uma realidade heterógena e plural, marcada por transformações impostas por diversas variáveis: a crescente relevância do setor privado (lucrativo e não lucrativo) na posição de bem-estar, a territorialização da intervenção pública, e as novas formas de regulação e articulação entre atores.

Para Santos & Ferreira (2002), o Estado-Providência corporativo dos países da Europa continental, como a Alemanha, França e a Itália, os direitos estão ligados ao desempenho no mercado de trabalho, prevalecendo fortes mecanismos de control social, seja através das ligações ao emprego, seja através das obrigações familiares.

Em síntese, as políticas locais, bem como a compreensão dos modos de ação do Estado devem sustentar-se na análise do conjunto de transformações sociopolíticas que ocorrem nas sociedades ocidentais das últimas décadas, como se pode verificar através do quadro 14.

Quadro 14- Fatores que influenciam a mudança do paradigma da Administração Pública para a Governação Pública.

Os efeitos da globalização da economia, no agravamento do risco social; na marginalização de territórios, nas assimetrias regionais, no desemprego, na precarização do trabalho, no aumento da pobreza e desigualdades, no aumento da divida externa, e no avanço do paradigma tecnológico, têm levado os Estados a redefinirem novas estruturas organizacionais.

O avanço dos quadros teóricos em torno da validada multidimensionalidade dos objetos pobreza e desenvolvimento têm impulsionado a emergência de novos paradigmas de desenvolvimento e de ação social, enfatizando o carácter multidimensional, o território e as pessoas.

A reforma administrativa do Estado no contexto da crise financeira e da procura de sustentabilidade, estimula a descentralização a partir do reforço das competências das estruturas de poder local, ampliando a emergência de novos atores, as regiões, os municípios e as organizações não-governamentais, que reclamam competências de resposta aos problemas locais.

A alteração estrutural da democracia e os seus efeitos no reforço da democracia participativa fica ampliando as hipóteses de participação social dos cidadãos através da criação de instrumentos de participação como os blogs, ou de novas arquiteturas institucionais como as parcerias locais, baseadas na democracia local, no trabalho em rede, no

empowerment, na participação e na cidadania.

Fonte: Gonçalves (2011)

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O termo Estado Providencia, é de origem Francesa tendo sido consequentemente utilizado para caraterizar o desenvolvimento de interações sociais no pós-guerra. Atualmente, muitos autores preferem falar em Estado Social, referindo- se a um sistema caraterizado que se carateriza pela existência de mecanismos de proteção social eficazes e estáveis. No que diz respeito às Políticas sociais elas não constituem em si um conceito, mas sim um conjunto de intervenções públicas(Ramos, 2003:66).

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Subscrevendo Gonçalves (2012), a estratégia de reforma do próprio Estado Social é concretizada, nomeadamente, pela descentralização de competências das entidades públicas da administração central para as entidades públicas da administração local. As sociedades contemporâneas estão, hoje, confrontadas com problemas sociais mais complexos, que alojam dinâmicas produzidas dentro e fora dos seus limites.

De uma maneira geral, é necessário impor uma articulação da coesão social com a competitividade, através de uma atuação sobre a satisfação das necessidades de base, atendendo aos direitos de alojamento, de educação, de saúde e de proteção social, incorporando direitos de remuneração para o consumo, a revitalização do tecido empresarial local assim como o desenvolvimento de uma economia solidária. (Gonçalves, 2012).

Face às novas exigências de intervenção, e às alterações das funções do Estado renova-se o olhar sobre a sociedade civil, e surgem as parcerias locais, citando Ramalho (2009), estas parcerias procuravam fortalecer os mecanismos democráticos de participação e

empowerment, baseados em abordagens endógenos de desenvolvimento, e de articulação

sobre os problemas territorialmente apresentados, apesar de globalmente caracterizados. Em Portugal, IDT desenvolveu planos de ação concretos a diversos níveis, tendo presente a transformação de algumas realidades, através de planos de ação baseados no conhecimento das realidades a nível local, conjugado com as orientações estratégicas globais, utilizando metodologias participativas a nível nacional, regional e local, através de fases sequências: diagnóstico, planificação, implementação, acompanhamento e avaliação.

O PNCDT (2005-2012), salienta que a importância da perceção das realidades dos fenómenos, neste caso da toxicodependência é mais percebida a nível local partindo das suas necessidades e propostas, para a construção de planos de intervenção que correspondam aos diagnósticos territoriais, identificando as prioridades para o início ou continuidade das intervenções. Nesta perspetiva surge o PORI que sustenta esta teoria, na medida em que se baseia no conhecimento com maior profundidade da realidade local por forma a implementar PRI adequados.

No capítulo III procede-se à análise do PORI a partir da abordagem utilizada na construção do diagnóstico. No entanto, para procedermos à reflexão sobre a estratégia de instituições, iniciaremos o capítulo com uma abordagem sobre os modelos de intervenção que se nos mostrou mais adequado.

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CAPÍTULO III – A abordagem do PORI na construção do Diagnóstico