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Subscrevendo a ideologia de Marlatt, (1999) citado por Santos (2010), as políticas de Redução de Danos (RD) surgiram nos anos 80, através de um movimento internacional para dar resposta ao crescimento da transmissão do VIH/SIDA, através do qual vários países decidiram implementar estratégias diferentes e mais adequadas com objetivo de reduzir o risco da transmissão, em especial junto dos consumidores de drogas injetáveis. A Holanda, Reino Unido e na Áustria, implementaram medidas com programas de troca de seringas e a prescrição médica de substâncias aditivas, tendo sido obtidos resultados positivos, levando a que, outros países implementassem medidas semelhantes através da criação de outras respostas durante os anos 90.

Na Europa também tem havido necessidade de adotar medidas, nomeadamente quanto à melhoria da assistência ao abuso das drogas, tal como referido na Resolução nº 43/3 aprovada pela comissão de Estupefacientes da ONU no 45º, sessão, em março de 2000, onde é assumido que os estados membros devem definir estratégias e multiplicar esforços para tornar os serviços acessíveis para ajuda aos que abusam de drogas, por forma a poder promover uma redução de riscos para a saúde do consumidor e para a saúde pública. (Marques, 2008)

As políticas de redução de danos em Portugal, de acordo com Morales et al., (1998) aludido em Barbosa (2009), foram implementadas mais tarde, contrariamente ao seu percurso na Europa, e nunca foram assumidas como natureza prioritária no contexto das políticas das drogas. Em Portugal, nunca existiu uma verdadeira cultura de redução de danos, sabe-se que existiram 3 fases para a sua emergência, que atravessam o período de transição do século XX para o século XXI:

- Fase clandestina (1977-1992), implementação de programas de substituição

opiácea com manutenção de metadona e rastreio de doenças infeciosas, como ações de tratamento da toxicomania, tendo sido dada prioridade ao levantamento epidemiológico do nível de infeção pelo vírus da SIDA, junto da população toxicómana, referenciada como grupo de risco (Resolução do Conselho de Ministros N.º 23/87), e em simultâneo foram criadas as campanhas de prevenção de comportamentos sexuais de risco.

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- Fase experimental (1993-1998) registou-se o crescimento do número de utilizadores de drogas injetáveis e infetados pelo VIH, acentuando-se a preocupação social em torno da gestão dos riscos sociais, foram dinamizados alguns projetos experimentais de redução de danos dirigidos à população toxicodependente, nomeadamente: projeto STOP- SIDA, em Coimbra, intervenção no bairro do Casal Ventoso, em Lisboa, e programa “Contrato de Cidade”, na cidade do Porto. Na sequência da implementação destes projetos, houve um aumento dos programas de troca de seringas (Programa Diz Não a uma Seringa em Segunda Mão). Apesar de serem apontadas algumas limitações a estes projetos, nomeadamente, (cobertura geográfica, acessibilidade e a composição do KIT), atualmente são reconhecidos, como atividades de sucesso pelos resultados obtidos no controle da infeção pelo VIH/SIDA. De acordo com o estudo – Estimativa do impacto do programa “Diz não a uma seringa em segunda mão” no risco de infeção por VIH/ SIDA na população portuguesa de utilizadores de droga injetada” (Exigo Consultores, 2002) – durante o período 1993 – 2001, conclui-se que este programa, evitou cerca de 6.300 infeções por cada 10.000 utilizadores de drogas injetáveis.

- Fase de legitimação política (1999-2005) - Em 1999 foi aprovada, pelo Conselho de Ministros, a Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga no âmbito das drogas e das toxicodependências (Resolução do Conselho de Ministros n.º 46/99 de 22 de Abril). Assente em princípios do Humanismo e Pragmatismo, através da implementação de uma política de redução de danos que visa eliminar ou minimizar os danos, ou os riscos, causados pelo consumo de drogas, em todas as situações, mesmo quando o consumo se mantém. Esta lei18 para os consumidores, subscrevendo Domostawski (2011) elimina o motivo pelo qual os dependentes tinham medo de se submeter a tratamento. Esta abordagem é baseada em razões humanistas (uma pessoa doente precisa de ajuda) e pragmáticas (as medidas repressivas têm sido ineficazes em limitar os consumos).

Segundo o OEDT (2012), a adoção de estratégias e planos de ação nacionais de luta contra a Droga19 constitui-se, como uma pedra angular da política da União Europeia,

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Domostawaski (2011:24), esta lei estipula as quantidades exatas de cada substância, para que seja considerada uma contra- ordenação. Na generalidade, esta quantidade foi assumida como suficiente para o consumo próprio de uma pessoa para um período de 10 dias (a lei estipula a quantidade em detalhe – em gramas ou comprimidos – para cada substância: cannabis folha, 25 gramas; haxixe, 5 gramas; cocaína, 2 gramas; heroína, 1 grama; LSD ou ecstasy, 10 comprimidos). Contudo, é tarefa da polícia esclarecer qual a intenção da posse. Se uma pessoa tem em sua posse, uma quantidade que pode ser considerada para consumo, mas é apanhada a vendê-la, esta situação continua a configurar um crime.

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A Estratégia Europeia concentra-se em dois domínios de ação – a redução da procura e a redução da oferta – e em dois temas transversais – a cooperação internacional e a investigação, informação e avaliação – e atribui a coordenação da política para a droga da UE ao Grupo Horizontal Drogas (GHD), grupo transdisciplinar do Conselho da União Europeia cujas

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utilizada pelos países europeus, para definir as metas e os objetivos das suas políticas nesta matéria. Verificam-se diferenças visíveis entre os países, na forma como têm vindo a proceder à integração as drogas, lícitas e ilícitas, em documentos políticos e tal como verificado na figura 2.

Figura 2 - Estratégias Nacionais de Luta Contra a Droga na Europa.

Fonte: Pontos focais nacionais da Reitox (OEDT, 2012)

Segundo o OEDT, as estratégias globais abarcam as drogas lícitas e ilícitas e, em certos casos, os comportamentos que geram dependência. Algumas estratégias de combate às drogas ilícitas incidem também nas drogas lícitas. Enquanto o Reino Unido dispõe de estratégias distintas para as drogas lícitas e ilícitas, Inglaterra e Escócia têm estratégias distintas para as drogas ilícitas, o álcool e o tabaco. O País de Gales e a Irlanda do Norte tem estratégias globais de luta contra a droga que cobrem o álcool, e estratégias separadas de luta contra o tabaco (OEDT, 2012)

No que diz respeito às substâncias e aos novos padrões e a sua utilização, de acordo com o PNCDT, as tendências internacionais, nomeadamente Europeias, têm vindo a demonstrar correspondência na realidade nacional. Alguns países desenvolveram já estratégias que se têm revelado eficazes, o OEDT tem neste o papel fundamental no fornecimento de elementos dando uma visão alargada sobre os resultados das diversas escolhas, e estas são colocadas ao dispor dos decisores políticos (PNCDT, 2005-2012).

As Estratégias Nacionais de Luta Contra a Droga são uma das recomendações para a próxima estratégia da UE, cuja aposta se baseia numa abordagem mais integrada tanto para as drogas lícitas como ilícitas, incluindo também as dependências e comportamentos, tendo em

funções consistem na definição de uma política clara e coerente de luta contra a droga, a aprovar pelo Conselho, e na prossecução da implementação dessa política em nome do Conselho.(PNCDT, 2005 – 2012)

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consideração uma maior articulação entre a política de luta contra a droga e da segurança num âmbito mais alargado, como as que são dirigidas para a criminalidade organizada. (OEDT, 2012)

Desde o início da década de 1990, a UE adotou oito estratégias ou planos de ação em matéria de luta contra a droga, refletindo as mudanças de conteúdo dos sucessivos documentos a evolução da abordagem Europeia, tal como se apresenta na figura 3.

Figura 3 – Evolução das Políticas Europeias em matéria de droga.

Fonte: Elaborado pelo autor de acordo com o relatório Anual. (OEDT, 2011)

Em Portugal, e de acordo com o PNCDT (2005-2012), a Estratégia Nacional de Luta contra a Droga, aprovada pela Resolução de Conselho de Ministros n.º 46/99, de 22 de Abril, para o período 1999/2004, publicada em Maio de 1999, constituiu, indubitavelmente, um marco na intervenção política. Este foi e é um documento estruturante, cujos princípios e fundamentos se mantêm genericamente atuais face às características da problemática onde se destacou, também, um novo modelo de definição das políticas públicas.

Assim, também o IDT, pretende reestruturar a sua organização interna, desconcentrando competências, promovendo a emergência das potencialidades regionais e de gestão descentralizadas. Salientando que perceção das realidades e dos fenómenos é mais sentida e melhor percebida a nível local, sendo que se deve partir das suas necessidades/propostas para construir planos de intervenção que respondam a diagnósticos territoriais, identificando prioridades para o início ou continuidade das intervenções. (PNCDT, 2005-2012)

Plano Europeu de Combate à Droga

Estratégia da União Europeia de Luta Contra a Droga

Plano de Ação da União Europeia de Luta Contra a Droga

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Fazendo, assim, desta forma uma ligação ao PORI na medida em que este pretende a concretização e adequação das intervenções baseadas na proximidade de modo a evitar a dispersão de respostas e definir o papel e a função de cada entidade e/ou ator num território partilhado por outros, através de uma desconcentração e descentralização de competências e promovendo a emergência das potencialidades nos níveis regional e local, constituindo uma forte aposta na tentativa de adequar e melhorar a resposta à missão do IDT de forma corresponsabilizada. (PNCDT, 2005-2012).

Em 2001 foi aprovado o Regime Geral das Políticas de Redução de Danos20, em Portugal com a criação de: gabinetes de apoio, centros de acolhimento, centros de abrigo, pontos de contacto e de informação, espaços móveis de prevenção de doenças infeciosas, programas de substituição opiácea em baixo limiar de exigência, programa de troca de seringas, equipas de rua e programas de consumo vigiado. (Santos, 2010)

As Comissões para a Dissuasão da Toxicodependência21 (CDT), foram criadas como meio de apoio aos toxicodependentes, em Portugal de acordo com o Plano Estratégico (2013- 2015). Existem (18) Comissões para a Dissuasão da Toxicodependência, e nas Regiões Autónomas (Açores e Madeira), (4) Comissões. (SICAD, 2013-2015)

Assim, e para dar resposta aos casos que não necessitavam de tratamento, ou sempre que fossem sinalizados, quer pela comunidade ou família, independentemente de ser ou não considerado consumo problemático, de acordo com o (PNCDT) (2005-2012), foram criados os programas de intervenção seletiva e indicada, o PORI e o Programa de Intervenção Focalizada (PIF)22.

A implementação do PIF pretende também, desenvolver intervenções preventivas em famílias vulneráveis que promovam competências, para lidar com o risco associado ao consumo de substâncias psicoativas, crianças e jovens vulneráveis, e em indivíduos com padrões do mesmo consumo em contextos recreativos, que conduzam ao uso indevido, abuso e problemas associados ao consumo das mesmas.

Para a população mais jovens, de acordo com o (PNCDT) (2005-2012:49), foram encontradas formas uteis de prevenção universal através da criação dos programas “Eu e os

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Através da publicação do DL n.º 183, de 21 de Junho

21 (Lei nº 30/2000, de 29 de novembro), é uma intervenção específica dirigida a grupos vulneráveis apoiados por uma equipa de apoio técnico multidisciplinar e administrativo, que funcionam em todas as capitais de distrito

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(Decreto-Lei nº269-A/2002, de 29 de novembro), que engloba os princípios e medidas previstas no Plano Nacional Contra a Droga e as Toxicodependências – Horizonte 2012, na Estratégia Europeia 2005-2012 e no Plano de Ação Europeu 2005- 2008

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Outras, e Tu alinhas”, através da construção de um site para jovens, como forma de prevenção aos consumos de substâncias psicoativas.

Estas ações de prevenção alargaram a sua intervenção em termos de abrangência a novos espaços de atuação, de forma a poder atuar o mais cedo possível, através do quadro 11 podemos também verificar o modelo de intervenção centrado na pessoa.

Quadro 11 – Modelo de intervenção centrados no individuo

TIPO CARATERÍSTICA

Crenças em saúde

- Atitudes e crenças do individuo sobre sua condição de saúde, sobretudo quanto à sua perceção da suscetibilidade e severidade da condição de saúde,

- Perceção dos benefícios dos recursos disponíveis e a perceção das barreiras de acesso aos serviços,

- As principais recomendações para o desenvolvimento das ações preventivas preveem o uso dos media, a informação das pessoas e as situações de risco vivenciadas anteriormente.

Aprendizagem social

- Prioriza os estágios de aprendizagem na adoção de práticas sexuais seguras, identificando as seguintes variáveis:

a) O indivíduo reconhece sua situação de risco, sem a intenção de mudar o comportamento;

b) O indivíduo reconhece o problema e pensa em mudar seu comportamento;

c) O indivíduo reconhece o problema e está disposto a mudar seu comportamento num determinado período de tempo e/ou aceitar a mudança de comportamento. Esta teoria fundamenta as ações de prevenção no conhecimento e no processo de aprendizagem sobre a situação de risco e na possibilidade de adoção de práticas sexuais seguras e na toxicodependência.

Ação racional

- O comportamento é definido por 4 componentes: ação, objetivo, contexto e tempo, legitimados e reconhecidos pelo grupo social ao qual o indivíduo pertence da sociedade. Mudança do comportamento pode ser ordenada, desde o reconhecimento de que outras pessoas estão mudar, bem como contar com o apoio das parcerias mais próximas. A relação entre a epidemiologia e a dimensão sociocultural do trabalho de prevenção.

Redução de danos

- Adota estratégias pragmáticas que enfatizam a efetividade e a relação custo/beneficio das intervenções entre consumidores de droga injetáveis diante da epidemia de SIDA, não exigindo a abstinência como critério exclusivo de participação da população-alvo. Torna disponível o aconselhamento para o risco do uso das mesmas seringas e para a prática sexual mais segura e priorizando a prevenção e o tratamento dos toxicodependentes.

Fonte: Adaptado de Política Nacional de DST/AIDS princípios, diretrizes e estratégias (Izolan, 1999)

Neste contexto de mudança, citando Ramalho (2009), as políticas públicas europeias tinham vindo a revestir-se de um caráter passivo, constituindo-se, apenas, como medidas de redistribuição. Daí a necessidade e importância de redefinição do entendimento atual da política social e das suas funções, para que a sociedade possa responder aos novos desafios e novos problemas colocados pela mundialização e pela crise económica do Estado- providência. É pois urgente repensar o social, o político e o económico, assim como as novas formas de viver da sociedade, e repensar a importância do desenvolvimento de alternativas viáveis à construção de uma sociedade mais justa e equitativa, onde o bem-estar social seja para todos. É neste contexto de alternativas e de redefinição das políticas sociais, que surgem com relevância algumas considerações sobre o novo paradigma das políticas sociais ativas bem como o surgimento do conceito de inserção.

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