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CAPÍTULO I – REFERENCIAL TEÓRICO

1.8. A TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA ESTADUAL E MUNICIPAL

1.8.1. Estado de Pernambuco

O instituto da transação tributária vigora no Estado de Pernambuco desde 2007 com a publicação da Lei Complementar n° 105 de 20 de dezembro de 2007, a qual instituiu, naquele Estado, a transação tributária, conforme art. 3° ao 9°, da Seção II. A Lei, além da transação também dispõe sobre a dispensa de propositura ou desistência de ações judiciais e recursos, adjudicação de bens móveis e imóveis, compensação de créditos inscritos em precatório e requisições de pequeno valor.

A lei pernambucana demonstra uma clara preocupação em melhorar os procedimentos de cobrança de dívidas tributárias do Estado, com redução de custos e maior efetividade. É uma proposta inovadora e alinhada aos novos paradigmas do Direito Administrativo e Constitucional que preza pela eficiência do Estado. Nas palavras de Arnaldo Godoy, confirmamos o caráter de vanguarda da proposta da lei:

Ao que parece, afasta-se de percepção reducionista do interesse público fiscal. Reformula-se o papel da administração tributária, que deixa de ser uma mera coletora e que passa também a protagonizar o papel de facilitadora. Resgatam-se possibilidades, em favor do cidadão. Acena-se com eficiência, aponta-se para o direito à boa administração.

O modelo é bem engendrado, é um marco regulatório prenhe de medidas de segurança. Remete-se à observância do interesse público e da conveniência administrativa. Distancia-se de uma tipologia fechada, que plasma o interesse público na intransigência. Tem-se uma nova dimensão de discricionariedade, oxigenada pela participação do interessado, do contribuinte, a quem compete também fiscalizar como é cobrado. Mitigam-se alguns focos de tensão. Minimiza-se a demanda dos serviços do Poder Judiciário. Reduzem-se os custos de aquiescência. Persegue-se a eficiência, que deixa de ser um paradigma metafísico da

administração pública, inserido em uma cláusula constitucional, plasmando-se em uma medida concreta, realista, de resolução de problemas.

Poder-se-ia objetar que a transação seria uma norma indutora do não- recolhimento voluntário das obrigações fiscais. No entanto, a insistência para com essa premissa negativa é típica da rotina dos subordinados à ditadura da falta de alternativas. Toma-se a parte pelo todo. A razão construída no consenso é triunfante, apresenta resultados, e a experiência fiscal internacional é da premissa indicativo eloqüente. 76

A então Procuradora da Fazenda Estadual (PGE/PE), em 2009, Luciana Santos Pontes de Miranda, declarou como melhor prática ao Instituto Innovare, a efetividade da lei de transação tributária adotada no referido Estado e seus benefícios:

Permite a cobrança direta aos devedores, por meio da transação tributária, oferecendo de maneira prática e desburocratizada uma forma eficaz de solução de conflito, compatível com o princípio conciliador e evitando recorrer a medidas judiciais.

Retira do acervo de processos do Judiciário os executivos fiscais que sejam objeto de transação tributária. A transação tributária tem se mostrado eficaz exatamente em relação a grandes devedores ativos. Só em 2009, estão em andamento transações tributárias que envolvem mais de 100 (cem) processos de execução fiscal, representando mais de R$30.0000.000,00 (trinta milhões de reais).

Dessa forma, permanecem apenas aqueles processos cujos créditos públicos recuperáveis, em valores significativos e cujos devedores resistem ao pagamento.77

A Tabela 01 demonstra o salto na arrecadação do Estado de Pernambuco a partir de 2008, ano de início de incidência das medidas para recuperação de créditos tributários em dívida ativa, adotadas por meio da Lei Complementar n° 105, de 2007.

Tabela 01 – Arrecadação da Dívida Ativa do Estado de Pernambuco – 2004 a 2010 (em R$)

Mês / Ano 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 Janeiro 4.771,80 3.699,98 3.330,69 3.190,12 2.328,60 2.523,94 2.334,37 Fevereiro 2.200,03 2.095,58 2.584,89 1.622,19 2.962,69 2.500,65 2.030,30 Março 12.009,50 7.752,76 2.718,55 1.611,70 2.225,89 2.908,67 3.436,23 Abril 3.979,40 3.189,97 5.824,67 1.807,15 3.630,30 2.046,23 2.465,98 Maio 3.124,01 7.150,13 2.759,30 5.595,59 1.699,56 1.976,75 2.618,59 Junho 10.106,03 5.947,26 3.539,98 3.914,76 1.711,43 1.698,60 2.227,82 Julho 3.338,62 3.069,15 5.371,61 3.773,92 2.220,01 1.749,52 2.369,82 Agosto 4.853,98 2.643,43 4.978,00 8.260,06 2.569,12 1.725,83 2.602,05 Setembro 5.495,91 11.347,70 8.020,27 2.484,59 1.451,65 1.816,07 2.390,30 Outubro 3.242,78 3.936,67 6.363,77 3.558,80 2.123,63 1.893,61 2.677,10 Novembro 5.972,98 8.194,96 7.169,52 6.297,59 2.380,58 1.725,33 3.090,16 Dezembro 8.871,84 63.919,97 20.982,66 2.391,66 2.217,61 2.120,50 2.877,33 Acumulado 67.966,88 122.947,57 73.643,93 44.508,13 27.521,06 24.685,70 31.120,05

76 GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. A transação tributária em Pernambuco. Disponível

em:<http://cfc.jusbrasil.com.br/noticias/318311/a-transacao-tributaria-em-pernambuco>. Acesso em: 27 nov. 2011.

77 KOEHLER, Luciana Santos Pontes de Miranda. Recuperação tributária para uma justiça eficiente.

Procuradora Chefe da Procuradoria da Fazenda Estadual - PGE/PE – Instituto Innovare – VI Edição – 2009 - <http://www.premioinnovare.com.br/praticas/recuperacao-tributaria-para-uma-justica-eficiente>.

Fonte: Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco78.

1.8.2. Estado da Bahia

O Estado da Bahia também adotou o instituto da transação tributária, nos termos do art. 171 do Código Tributário Nacional com a edição da Lei 12.218, de 10 de junho de 2011, a qual beneficia as pessoas jurídicas e físicas com débitos referentes a ICM ou ICMS, e processos judiciais ajuizados até 31 de dezembro de 2009. O legislador invocou o princípio da eficiência, a modernização tributária com aproximação do contribuinte e da Fazenda Pública, a redução do estoque judicial e a preservação das empresas nos termos do art. 4°:

Art. 4º - São objetivos da presente Lei:

I - ampliar o relacionamento e promover a aproximação do Estado com os sujeitos passivos de obrigação tributária, como meio para solucionar litígios tributários; II - propiciar eficiência na tutela do crédito tributário e conferir maior flexibilidade e agilidade à Secretaria da Fazenda em âmbito administrativo, bem como conferir celeridade à atuação da Procuradoria Geral do Estado, com o propósito de ampliar a capacidade de arrecadação de tributos pelo Estado da Bahia;

III - privilegiar a garantia de segurança e boa-fé no cumprimento das leis tributárias, mediante a modernização da ação fiscal;

IV - reduzir progressivamente o estoque de processos judiciais, com economia para o Estado, mediante o emprego de instrumentos ágeis de solução de controvérsias; V - promover a garantia do crédito tributário, compatibilizando a insolvabilidade ou iliquidez do patrimônio do devedor com preservação da unidade econômica da empresa, pela manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses públicos correspondentes, em reconhecimento à função social e ao estímulo à atividade econômica;

VI - reprimir a evasão fiscal em todas as suas modalidades.

A modalidade adotada na Bahia foi a transação tributária judicial. Nos termos do art. 6°, da Lei 12.218, de 2011, “consiste em concessões mútuas por parte do Estado e do devedor do crédito tributário, amparada por cláusulas exorbitantes do direito comum, e tem por fim a resolução do litígio judicial”. Implica, para o contribuinte, na obrigação de pagamento do débito, na forma transacionada e na “prévia confissão irretratável da dívida em cobrança judicial, bem como renúncia ou desistência de quaisquer meios de defesa ou impugnações judiciais ou administrativas” de acordo com o art. 7°. Poderá haver redução de multas e acréscimos moratórios decorrentes do descumprimento de obrigação tributária e redução de

78 PROCURADORIA GERAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Disponível em:

<http://www.unuhospedagem.com.br/pge/documento/imagens/110209121215_p_Tabela_arrecadacao_DAE_DE Z.doc>. Acesso em: 27 nov. 2011.

honorários incidentes sobre os débitos. Os percentuais de redução dos débitos dependem da forma de parcelamento, conforme especificado na lei.

Notícia vinculada no site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, a qual engloba o Estado da Bahia, informa sobre a realização de audiências de conciliação entre os contribuintes e a Procuradoria-Geral do Estado com o objetivo de finalizar cerca de 35 (trinta e cinco) mil processos de cobrança de débitos relativos ao ICMS. Estima-se que as ações, ajuizadas até 31 de dezembro de 2009 representem um montante de R$600 milhões em créditos para a Secretaria da Fazenda da Bahia (Sefaz-BA), segundo declaração do superintendente Cláudio Meireles em outubro de 2011.79

A transação tributária nos moldes definidos pela Lei n° 12.218, não deixa ao administrador público qualquer margem de discricionariedade, por estabelecer, de forma objetiva, todos os requisitos para as concessões de cada parte. Dispensa tratamento igualitário a todos os contribuintes que se encontrem nas situações estabelecidas na lei. Delimita o período de aplicação e com isto, não abre precedente para que os contribuintes possam adotar posturas de sonegação contando com a possibilidade de utilização do mecanismo da transação tributária.

1.8.3. Município de Belo Horizonte

A transação tributária no município de Belo Horizonte, em relação ao Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) foi instituída pela Lei n° 8.725, de 30 de dezembro de 2003 e regulamentada pelo Decreto 12.926 de 05 de novembro de 2007. Dispõe o art. 35 da Lei, o seguinte:

Art. 35 - Para a extinção do crédito tributário objeto de processo administrativo ou judicial envolvendo o Município e a sociedade cooperativa constituída na forma da lei e envolvendo o Município e a instituição financeira e equiparada, autorizada,

79 TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO. Notícias. Disponível em:

pelo Banco Central do Brasil, a funcionar, poderá ser celebrada, na condição estipulada em regulamento específico, transação para prevenção ou terminação de litígio que contenha questão relativa ao ISSQN, como a controvérsia sobre local de incidência e o conflito de competência decorrente do enquadramento de atividades na Lista de Serviços que integra o Anexo Único desta Lei.

Posteriormente, a Lei n° 9.799 de 30 de dezembro de 2009, no art. 16 estendeu o instituto da transação tributária às pessoas jurídicas prestadoras de serviços, a fatos geradores acorridos até 31 de julho de 2003, conforme art. 16:

Art. 16 - Visando à extinção de créditos tributários relativos ao ISSQN, fica o Executivo autorizado a celebrar transação com as pessoas jurídicas prestadoras de serviços, para a prevenção ou terminação de litígios em processos administrativos ou judiciais, que tenham por objeto controvérsia sobre:

I - a legitimidade ativa do Município quanto ao imposto incidente sobre os serviços relacionados nos incisos II a XX do § 1º do art. 4º da Lei nº 8.725/03, prestados fora do Município e relativos a fatos geradores ocorridos até 31 de julho de 2003, lançado com base nas disposições do art. 12 do Decreto-Lei nº 406, de 31 de dezembro de 1968;

II - a incidência do imposto sobre serviços cujos créditos foram lançados com base nos itens 17 e 20 da Lista de Serviços anexa ao Decreto-Lei nº 406/68, com redação dada pela Lei Complementar nº 56/87, relativos a fatos geradores ocorridos até 31 de julho de 2003.

§ 1º - Nas transações de que trata este artigo, poderão ser concedidas, nos termos do regulamento, reduções do valor do principal e acréscimos legais incidentes sobre o crédito tributário objeto da controvérsia.

§ 2º - Nas transações envolvendo crédito em matéria tributária objeto de processo judicial ou administrativo, a que se refere este artigo, cada parte responderá pelo pagamento dos honorários de seu advogado, se for o caso.

Posteriormente o Decreto nº 13.837, de 30 de dezembro de 2009, regulamentou a transação tributária nos termos da Lei Municipal n° 9.799/2009. Interessante ressaltar que embora não se trate de uma lei geral sobre transação tributária, pois restrita a determinados fatos geradores, inova ao permitir inclusive a redução do valor principal do tributo e considerar a possibilidade de prevenir ou terminar litígios administrativos ou judiciais.

1.8.4. Município de Campinas

O município de Campinas institui a transação tributária por meio da Lei Municipal n° 12.920, de 04 de maio de 2007, aplicável aos créditos tributários e não tributários da administração direta do Município. O Executivo foi autorizado a celebrar a transação, para encerramento de litígio judicial, mediante despacho fundamentado do Secretário Municipal de

Assuntos Jurídicos, nas hipóteses de controvérsia que tiver sido decidida pelo Supremo Tribunal Federal, de forma reiterada, para montante de tributo fixado por estimativa ou arbitramento e para casos nos quais fossem constatadas distorções no cálculo do tributo. A referida lei foi regulamentada pelo Decreto n° 16.452, de 2008.

Posteriormente, foi editada a Lei n° 13.449, de 23 de outubro de 2008, estendendo a aplicação da transação tributária aos créditos tributários imobiliários, na hipótese prevista no inciso I do art. 2º da Lei nº 12.920, de 2007. Denominou de transação tributária por adesão e limitou o prazo para a celebração da transação por 90 dias contados da regulamentação da lei, podendo ser prorrogado por mais 30 (trinta) dias no caso de pagamento em parcela única.

1.9. OUTRAS FORMAS NEGOCIADAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITO NO DIREITO