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5. A metodologia da pesquisa

5.1. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

A UFMG foi fundada em 1927, com o nome de Universidade de Minas Gerais, por iniciativa do governo de Minas Gerais, reunindo quatro instituições de ensino superior já existentes, as Faculdades de Direito e de Medicina, a Escola de Odontologia e Farmácia, e a Escola de Engenharia (UFMG, 2009). Essa universidade possui hoje 95 departamentos acadêmicos, distribuídos em 20 unidades, das quais uma, o Instituto de Ciências Agrárias, fica na cidade de Montes Claros, na região norte de Minas Gerais, e oferece cursos voltados para a vocação da região, predominantemente agrícola. As demais unidades situam-se em Belo Horizonte, distribuídas em dois campi: o campus Pampulha, onde se concentra a maior parte das unidades, e o campus Saúde, que fica na região hospitalar da cidade. Há ainda duas unidades externas aos campi, a Escola de Arquitetura e a Faculdade de Direito, ambas localizadas na região central de Belo Horizonte.

A UFMG ofereceu, no concurso vestibular para o ano de 2009, 5.950 vagas em 66 cursos de graduação, sendo seis deles realizados em Montes Claros. Em 2007, haviam sido 4.674 vagas e o aumento deveu-se à adesão da UFMG ao REUNI (UFMG, 2007). Os prin- cípios que fundamentaram a proposta de associação da UFMG ao REUNI foram: estímulo à implantação de currículos arrojados, consistentes e enxutos, incorporando atividades acadê- micas de cunho multidisciplinar; criação de um grupo novo de cursos, voltados para a inovação; expansão das matrículas em proporções similares na graduação e na pós- graduação; adoção de metodologias de ensino mais aptas ao trabalho com turmas de tamanho variado; aumento expressivo do número de bolsistas nos programas de pós- graduação; direcionamento de parte significativa da expansão das vagas de graduação para cursos que tenham maior potencial de contribuição para o desenvolvimento sustentado e para a eqüidade social; aprimoramento dos processos seletivos para o ingresso; expansão de vagas prioritariamente dirigida ao turno noturno; ampliação do já elevado percentual de conclusões de cursos; fortalecimento dos programas de mobilidade estudantil (pelo inter- câmbio com outras instituições); e aprimoramento dos programas de mobilidade interna (por

meio de reopção e da flexibilização curricular).A meta da UFMG é ofertar, em 2011, cerca de 6.500 vagas em seu vestibular (UFMG, 2007).

No Sistema Universidade Aberta do Brasil - UAB, criado pelo MEC com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País, a UFMG comparece com a oferta de apenas nove cursos em nível de graduação, sendo um de bacharelado e os demais de licenciatura, como pode-se verificar no quadro apresentado no Apêndice 2.

A UFMG é uma das 13 IFES que não vão utilizar os resultados do novo ENEM em seus processos seletivos para o ano de 2010 (BRITO, 2009), mas sua adoção está sendo ali discutida (UFMG, 2009). Já com relação a políticas de inclusão social, a UFMG tem adotado o princípio de “que a oferta de vagas no curso noturno é um poderoso instrumento para a inclusão social no ensino superior público brasileiro” (ARAÚJO et al., 2004, p.174). Em 1990, somente três cursos da UFMG funcionavam no turno noturno: Administração, Ciên- cias Contábeis e Pedagogia, com uma oferta de vagas que correspondia a cerca de 5% do total (UFMG, 2007). Em 2005, eram 14 cursos noturnos, ou 21,4% do total de vagas.É pre- ciso ressaltar que, em 2003, o Conselho Universitário da UFMG definiu a expansão noturna como a política prioritária de inclusão social nessa universidade, mas depois disso apenas mais dois cursos noturnos foram criados, resultado que a própria UFMG considera tímido e que se deveria à redução dos quadros de pessoal da universidade, à imprevisibilidade de sua recomposição e à resistência de professores e funcionários em ter sua carga de traba- lho acrescida (UFMG, 2007).

A partir do processo seletivo de alunos para o ano de 2009, a UFMG passou a ofe- recer aos candidatos que cursaram as quatro últimas séries do Ensino Fundamental e todo o Ensino Médio em escola pública, no Brasil, a opção por concorrer a um programa de bô- nus de 10% em sua nota final, em cada uma das etapas do Concurso. Para candidatos que atendem a esses requisitos e se autodeclarem pardos ou pretos, o bônus passa a ser de 15%. O bônus do vestibular foi aprovado pelo Conselho Universitário da UFMG, em 15 de maio de 2009, a partir de estudo realizado pela Pró-reitoria de Graduação da UFMG, com base nos números do Vestibular 2006, o qual mostrou que sua concessão ampliaria o aces- so a estudantes de escolas públicas em cerca de 15%, ou seja, de 35%, os ingressantes provenientes de instituições públicas de ensino passariam a corresponder a 50% dos apro- vados, igualando-se, assim, aos de escolas privadas.

A concessão do bônus para alunos oriundos de escolas públicas conseguiu real- mente aumentar seu índice de aprovação no vestibular, o que pode ser verificado no gráfico 1, que apresenta dados obtidos do Censo Socioeconômico e Étnico da UFMG. O Censo Socioeconômico e Étnico na UFMG se baseia em perguntas, de resposta obrigatória, formu- ladas aos candidatos que prestaram o vestibular, desde 2003, trabalhando apenas com os

dados relativos aos candidatos aprovados23. Entretanto, a comparação com o gráfico 2, que mostra a distribuição de alunos matriculados no ensino médio, no Brasil, por tipo de escola, de acordo com levantamento realizado pelo INEP, deixa claro que essa iniciativa ainda pre- cisa ser aperfeiçoada, de modo a se aproximar da proporção existente entre o número de alunos em escolas públicas e o de escolas privadas.

GRÁFICO 1 - Evolução do número de alunos aprovados no vestibular da UFMG, de 2003 a 2009, por tipo de escola em que cursaram o ensino médio

Fonte: CENSO SOCIOECONÔMICO E ÉTNICO DA UFMG, 2009

GRÁFICO 2 - Alunos matriculados no ensino médio, no Brasil, por tipo de escola

Fonte: INEP, 2008

O bônus melhorou também o índice de aprovação dos candidatos que se declaram pardos ou pretos, mas o resultado ainda está distante da proporção encontrada na popula-

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Mais informações a respeito desse sistema podem ser obtidas em http://www.ufmg.br/censo. Brasil - Tipo de e scola do e nsino médio

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Pública federal Pública estadual Pública

municipal

Particular

%

UFMG - T ipo de escola do ensi no médio

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Pública federal Pública est adual Pública municipal Particular

ção brasileira, como pode ser verificado comparando-se o gráfico 3, que mostra a distribui- ção dos aprovados na UFMG, de acordo com a raça ou cor, e o gráfico 4, que apresenta os dados relativos à população brasileira.

UFMG- Aprovados no vestibular, por cor ou raça

0 10 20 30 40 50 60 70 80 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Branca Preta Amarela Parda Indígena Não desejo declarar

%

GRÁFICO 3 - Evolução do número de alunos aprovados no vestibular da UFMG, por cor ou raça autodeclarada, de 2003 a 2009

Fonte: CENSO SOCIOECONÔMICO E ÉTNICO DA UFMG, 2009

GRÁFICO 4 - Distribuição da população brasileira, por cor ou raça

Fonte: IBGE, 2009

No nível de pós-graduação, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação - PRPG informa que são 67 Programas de Pós-Graduação, envolvendo 56 cursos de doutorado e 65 de mestra- do. Entre os cursos de pós-graduação stricto sensu oferecidos pela UFMG, quatro são cre- denciados como multidisciplinares: Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável (mestra- do), Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais (mestrado) Lazer (mestrado) e Neuroci-

Brasil - População residente, por cor ou raça

0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00

Branca Preta Amarela Parda Indígena Sem declaraç ão %

ências (mestrado e doutorado). Um quinto curso criado nessa modalidade, o de Bioinformá- tica (apenas doutorado), foi recentemente transferido para a área de Ciências Biológicas, apesar de manter o perfil multidisciplinar. A UFMG ofertou, em 2008, 79 cursos de especiali- zação, dos quais oito na modalidade à distância24 (ver Apêndice 1). No Sistema UAB, do MEC, a UFMG oferece quatro cursos de especialização, que podem ser verificados no Apêndice 2. E o Hospital das Clínicas da UFMG ofertou, para o ano de 2009, 135 vagas para residência médica, em 39 especialidades.

No caso dos indígenas, a UFMG oferece, desde 2005, o Curso de Formação Inter- cultural de Professores, voltado para a formação de professores oriundos da população indí- gena de Minas Gerais, e anunciou, no início de junho de 2009, que fará um vestibular dife- renciado para candidatos indígenas, para os cursos de Medicina, Enfermagem, Odontologia, Ciências Biológicas, Ciências Sociais e Agronomia, esse último em Montes Claros (UFMG, 2009). Serão duas vagas para cada curso e o vestibular será realizado em parceria com a Fundação Nacional do Índio - FUNAI.

Dados fornecidos pela Pró-Reitoria de Pesquisa - PRPQ, obtidos a partir do Diretório de Grupos de Pesquisa da Plataforma Lattes, do CNPQ, mostram que a UFMG tem 737 gru- pos ali certificados e 2.946 linhas de pesquisa registradas25. É também a PRPQ que informa que a UFMG teve 1.761 artigos indexados em 2008, número que confirma a tendência de crescimento nos últimos três anos26, e já tem registrados 238 patentes nacionais, 55 paten- tes internacionais, 14 contratos de transferência tecnológica e 46 marcas/software.

Nogueira (2005) relata que a UFMG registra a realização de atividades de extensão desde 1930, por meio de cursos e conferências, os quais foram institucionalizados pelo Con- selho Universitário em 1932, passando a contar com rubricas orçamentárias para sua exe- cução. Em 2008, de acordo com dados repassados pela Pró-Reitoria de Extensão da UFMG - PROEX, ela ofereceu 55 programas, 326 projetos e 596 cursos de extensão, 605 eventos e 696 itens de prestação de serviços, beneficiando um público de mais de sete milhões de pessoas. Tais números reafirmam a importância da UFMG no país e seu compromisso com o tripé ensino-pesquisa-extensão que caracteriza uma instituição universitária.

Segundo dados fornecidos pelo Departamento de Registro e Controle Acadêmico - DRCA, relativos ao primeiro semestre de 2009, a UFMG tinha 25.871 alunos matriculados em cursos de graduação e 12.612 em cursos de pós-graduação (2.880 no nível de douto-

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A UFMG foi credenciada para ofertar cursos de Pós-Graduação lato sensu à distância mediante a Portaria Nº 1.735, de 17 de junho de 2004.

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Dados extraídos em 12/4/2009.

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rado, 3.814 no mestrado e 5.918 em cursos de especialização). Para realização de suas atividades, conta com, de acordo com informações da Pró-Reitoria de Recursos Humanos - PRORH, 2.796 professores, dos quais cerca de 65% são doutores e mais de 80% trabalham em regime de dedicação exclusiva, e 4.445 funcionários técnicos e administrativos.

Apesar de lenta e burocratizada, como qualquer outra universidade pública do país, a UFMG se caracteriza também pela busca da inovação, o que a levou a alterar seus estatu- tos, em 1999, de modo a permitir a instauração de outras formas de organização que não a estrutura de departamentos. Aproveitando-se dessa abertura, a Faculdade de Letras, em 7 de novembro de 2002, teve aprovado, pelo Conselho Universitário da UFMG, o Regimento que aboliu a estrutura departamental no âmbito daquela unidade (Resolução 12/2002). Essa nova organização, até então inédita no âmbito das IFES brasileiras, foi implantada em 14 de março de 2003. Como é um processo recente, ainda não se tem uma avaliação de seus resultados.

Por ocasião da criação do IEAT, ocorrida em 1999, Paula e Silva (2001) reconheceu que, muito antes disso, ela já experimentava a inquietação e a errância transdisciplinares, que a experiência transdisciplinar já encontrava nela um terreno propício para a prática que ali estava sendo nomeada, institucionalizada. Algumas dessas experiências foram relatadas por ele em entrevista concedida durante esta pesquisa, começando pelo trabalho do profes- sor Alfred Schaffer27, que, mesmo antes da formalização da UFMG, reunia alunos e profes- sores oriundos de três instituições de ensino superior que existiam então em Belo Horizonte (Faculdade de Medicina, Escola de Odontologia e Farmácia e Escola de Engenharia28. No início dos anos 1970, o professor Célio Garcia, do Departamento de Psicologia, conduziu seminários abertos para a filosofia, psicanálise, lingüística e literatura, usando a epistemo- logia das ciências, a análise automática do discurso e outros campos como vetores de diálo- go. Também o professor Nelson Vaz, do Departamento de Bioquímica e Imunologia, promo- veu o trânsito entre diferentes abordagens e inquietações científicas e epistemológicas. Paula e Silva citou ainda a professora Sonia Pinto de Carvalho, do Departamento de Mate- mática, que promoveu o encontro de pesquisadores de horizontes variados em torno da gê- nese e evolução das ciências.

Entretanto, as resistências ao trabalho além das fronteiras das disciplinas são tam- bém encontradas nessa universidade. Melliandro Galinari, graduado em Música e doutor em Lingüística pela Faculdade de Letras, ambas da UFMG, manifestou, no Boletim UFMG, seu

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Alfred Schaeffer, pesquisador alemão, foi contratado para instalar e dirigir o Laboratório de Análise do Estado, em Belo Horizonte, onde projetou e instalou o Instituto de Química (1921-1931).

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descontentamento com o fato de que, apesar de a interdisciplinaridade estar sendo procla- mada como um valor a ser perseguido nos tempos atuais, a maioria dos concursos para preenchimento de vagas de professor em universidades continua exigindo uma formação disciplinar, com graduação, mestrado e doutorado em um mesmo campo de conhecimento, o que impede a participação de pesquisadores que seguiram caminhos interdisciplinares em sua formação (GALINARI, 2007). Essa mesma questão foi, recentemente, alvo de acalorada discussão entre os alunos ligados ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Infor- mação da UFMG, um curso reconhecidamente interdisciplinar, que atrai pessoas dos mais diversos campos de conhecimento, discussão essa provocada pela exigência de graduação em Biblioteconomia em concurso a ser realizado pela Escola de Ciência da Informação, responsável pelo curso.

Mas é fato que iniciativas rumo à transdisciplinaridade são encontradas na UFMG. Entre essas, foram escolhidos como alvos deste estudo dois grandes projetos transdiscipli- nares nela implantados no final dos anos 1990, de forma independente: o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares, criado em 1999, e o Projeto Manuelzão, um projeto de extensão dedicado à recuperação da bacia do Rio das Velhas, surgido em 1997. A escolha do IEAT se deveu ao fato de ser ele um projeto institucional que revela o desejo da UFMG de se inserir nessa nova prática científica, a transdisciplinaridade. Já o Projeto Manuelzão foi selecionado por se dedicar a problemas reconhecidamente transdisciplinares: a água e a preservação ambiental. As características desses dois projetos serão apresen- tadas nas próximas seções.