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6. Resultados da pesquisa

6.2. Quanto à universidade

No que diz respeito à universidade, as perguntas feitas aos entrevistados versaram sobre as respostas que ela está dando às mudanças que estão acontecendo na sociedade e no mundo globalizado. Também foi investigada a validade do tripé ensino, pesquisa e exten- são nas universidades brasileiras.

Antes de apresentar os resultados encontrados sobre a universidade, vale a pena reproduzir aqui a descrição que um dos entrevistados fez dessa instituição:

A universidade m uma das poucas instituições, talvez eu vá rever isso, que vive, simultaneamente, três situações temporais: passado, presente e futuro, no mes- mo momento. Ela vive o passado, quando pega o conhecimento consolidado em um livro, que virou livro porque era um conhecimento, e transmite aquilo para a socie-

dade, por meio dos estudantes que estão se diplomando, seja na graduação ou na pós-graduação. Ela vive o futuro, quando realiza a pesquisa, naquela linha de: eu não sei para quê, m um teorema, para que m que serve, não interessa, mas vamos pes- quisar. Ela está fazendo uma coisa para o futuro. Lá na frente, esse teorema pode vir a ser um texto, pode ter uma aplicação. E ela vive o presente exatamente nessas interações com a sociedade: aquela empresa ali está precisando de tantos tmcnicos ou tantos engenheiros, o governo precisa resolver este problema da formação dos pro- fessores. Então, no dia-a-dia, naquele momento presente, na interface dela com a sociedade, de uma maneira geral. Então são três, ela vive esses três momentos.

Entr. 9, IEAT Na revisão de literatura, foi discutida de forma breve a história da universidade, com base em autores como Charle e Verger (1996), Minogue (1981) e Ribeiro (1978). Algumas características desenvolvidas pela universidade ao longo dessa história foram mencionadas espontaneamente nas entrevistas, como no trecho destacado a seguir:

A universidade moderna tem uma natureza disciplinar. Foi a universidade moderna que inventou as disciplinas e se deu bem nesse quadro. Quando você compara a universidade moderna e o equivalente antigo, na Grmcia, a escola de Platão era chamada de academia, a de Aristóteles era chamada de Liceu, você tinha o Liceu e tinha a Academia, nessa mpoca, a idmia de disciplina era mais frouxa. Você tinha campos do conhecimento relativamente vastos, sem recortes disciplinares níti- dos como se passou a ter depois na era moderna. E você nota, por exemplo, que gran- des pensadores como Aristóteles, Platão, Pitágoras e outros transitavam em mais de um campo do conhecimento. Aristóteles era biólogo, inventou a taxonomia, e filóso- fo, lógico. Platão tambmm tinha um perfil parecido. No período medieval, a coisa muda, em função das exigências do ensino. O ensino m ligado às prioridades da igreja, da cristandade. Nas escolas medievais católicas, a idmia de disciplina ganha mais força e a divisão de campos fica um pouco mais nítida. E você tem aquela divi- são clássica do período medieval, o trivium e o quadrivium. Mas você nota que ainda assim havia certa frouxidão, certa porosidade no interior de cada campo disciplinar e havia trânsito de um campo para outro, muito ligado às necessidades do ensino [...]. Então, não m mais um liceu, não m mais uma academia antiga. Aparece, inclusive, o termo universidade, com atuação bastante marcada pelas prioridades da igreja, de formação da consciência cristã e educação cristã. Já na era moderna, a coisa muda bastante. Eu não vou fazer história aqui, nessa conversa, não vem ao caso, mas você tem a formação, a constituição de uma universidade mais e mais disciplinar. Há mudanças nessa área? Essa m a pergunta. Há mudanças nessa área, sob o ponto de vista da universidade, como um todo, pensando toda sua complexidade, m claro que há. Mas eu diria que, ainda assim, a natureza da universidade mundo afora m disciplinar.

Entr. 2, IEAT Barbosa (2008) ressalta a importância da universidade para a produção do conheci- mento novo, da inovação, o que é percebido nas entrevistas:

A universidade m um elemento, um componente da sociedade contemporânea, fundamental para o fazer, para a aplicação, para novas soluções, para a qualidade de

vida dos indivíduos e tem, ao mesmo tempo, uma missão, tambmm, de construir a pesquisa básica para lastrear essa ciência prática, aplicada etc.

Entr. 16, Projeto Manuelzão A universidade é uma instituição importante para o avanço do conhecimento (BAR- BOSA, 2008; GUSDORF, 2006a, 2006b), mas Buarque (1994) a também como uma insti- tuição estagnada, conservadora, apegada a seus dogmas, que não se aventura pelo novo. Em algumas respostas dos entrevistados, encontramos as duas facetas, a de produção do novo e a de conservadorismo, convivendo na instituição universitária:

O que faz da universidade uma instituição robusta, que ela consiga estar sobrevivendo há tanto tempo, porque todas as instituições são codificadas para o extermínio, para a extinção? É que ela sabe conciliar, de uma forma bastante sábia, posturas ultraconservadoras (o local onde você vai achar pessoas mais conserva- doras da sociedade m dentro da universidade) e posturas ultraprogressistas, numa gama contínua entre esses dois extremos. Você vai achar, dentro da universidade, personalidades, figuras, abordagens, metodologias, que varrem esse mapa todo, e isso m que a faz robusta. Quando ela m estimulada, ela responde progressivamente, senão ela fica quieta, ela se torna conservadora. Ela está o tempo inteiro misturando isso, m assim que ela m, e isso garante a robustez dela, que ela não se sente ameaçada, nunca foi ameaçada. Mesmo em regimes ultra-autoritários, ela não foi, minima- mente destruída. Você pode ter fechamento de uma escola, ações muito pontuais, mas a instituição universitária sai cada vez mais robusta, de cada crise.

Entr. 3, IEAT A universidade precisa ter um corpo bem conservador, para manter aquilo que está dando certo, mas precisa tambmm de um grupo de pessoas que seja inovador, que possa experimentar, que possa buscar novos caminhos. É preciso que haja instrumentos para facilitar para esses professores que saem buscando novos caminhos. A gente precisa da pesquisa de novos caminhos, certamente a gente vai encontrar, mas m preciso que a universidade tenha mecanismos para que isso aconteça, e ela m extremamente conservadora.

Entr. 8, IEAT Buarque (1994) considera ainda que a universidade tornou-se uma instituição em que os professores só se preocupam com suas carreiras bem-consolidadas. Um dos entre- vistados, cuja fala é reproduzida abaixo, compartilha essa visão:

Eu acho que a universidade, ela m importantíssima, m um ambiente que per- mite um distanciamento da demanda premente, m como se fosse uma ilha de privilm- gios, mas positivamente. Você se afasta um pouco da coisa imediata, da eleição, de ter que sair correndo para resolver um problema para você pensar. Então, a univer- sidade m uma maravilha. Mas eu acho que a universidade aproveita pouco o privilmgio que m ser universidade, que falta um pouco de desejo, de vontade de melhorar o mundo. Eu vejo professores ali muito preocupados em melhorar o currículo deles.

Casper (2003) vê o futuro da universidade sofrendo efeitos das tecnologias da infor- mação, com a World Wide Web e as tecnologias de apresentação virtual e interativa assu- mindo o papel de transmissor de conhecimento, o que também é identificado nas entre- vistas:

A tecnologia da escola m atrasada. Então, os meninos ficam meio revoltados. Meu menino falou “acho que daqui uns tempos ningumm vai mais na escola não, você vai aprender em casa, vai estudar na Internet”. Então nós estamos entrando em uma era em que a escola vai acabar. Acabar assim, o prmdio de escola vai virar museu. Eu acho que já está acontecendo. Os meninos estão aprendendo mais em casa, sozinhos, com os pais, do que estão aprendendo na escola.

Entr. 13, Projeto Manuelzão Quer dizer, as ferramentas pedagógicas de que a gente dispõe hoje, na acade- mia, são atrasadas em relação às ferramentas que o mundo coloca, disponibiliza, e as pessoas estão aprendendo de fato, nessas outras ferramentas, sem saber que estão aprendendo. [...] E essa geração de professores na academia está sofrendo mais com isso, porque muitos deles não tiveram essa experiência que esses jovens têm, desses jogos, jogos em rede, jogos colaborativos, pouca gente teve. Então, assim m preciso ter essa experiência, saber como m isso, o que está acontecendo, ver o que m que tem no mundo, para poder explicar o mundo, m esse mundo que eles têm que explicar, não m aquele mundo que já passou, não, m completamente diferente, mas m muito diferente mesmo.

Entr. 8, IEAT As exigências feitas à universidade, por parte do Estado e da sociedade, como a de- mocratização do acesso e a realização de atividades e pesquisas de interesse social, con- forme discutido por Santos (1997, 2004a), Vieira (1989) e Schwartzman (1981), são identifi- cadas pelos pesquisadores, tendo inclusive sofrido críticas:

De repente, a universidade passou a ter que assumir, eu não sei se necessari- amente ela assumiu, o papel de ser responsável pela pesquisa de ponta, pelas ino- vações tecnológicas, do novo pensar, instalar uma nova ordem, atender os novos pa- radigmas, paradigmas das práticas, para atender as novas concepções da prática do saber no mundo e tanto o seu ponto de vista da visão ou então do estudo ou do pensamento teórico, da teoria, da ciência pela ciência, como tambmm estender para a prática, para aplicar o conhecimento, o saber na situação empírica e na aplicação social. De repente, ela assumiu todo esse papel. Então, a universidade, enquanto a instituição responsável pela construção do saber, pela inovação tecnológica, passou tambmm a ter a responsabilidade de levar o saber à sociedade, a comunidade, ao ho- mem, aos grupos sociais etc. [...] E, almm disso, uma responsabilidade social, porque ela não pode ser dissociada das adversidades, das aflições da sociedade, da popula- ção, ela tem certa responsabilidade, atm porque ela que está interagindo com o espa- ço da ciência e o espaço da aplicação do saber construído em razão das tecnologias, das soluções para aplicação na prática, então ela tem que ter essa responsabilidade tambmm social.

A universidade não pode ficar a reboque da sociedade tal como ela m. Claro que tem essa sociedade, sobretudo num país como o nosso, de desigualdade social muito grande, ela está em função de uma certa utopia, de um certo imaginário de uma sociedade tal como ela deveria ser. Então, eu acho que essa questão da interface com a sociedade, isso para mim m um problema, porque isso me leva, muitas vezes, a ficar contra questões tais como a questão de cotas, me faz parecer um pouco elitista, mas isso para mim m porque a gente precisa construir ou fazer a universidade se relacionar com a sociedade, tal como ela m, sem dúvida, mas ela não pode ficar a reboque disso, o que mais nos interessa m a sociedade tal como ela deveria ser. E aí a gente tem que ter uma grande dose de imaginação e de ideal. Num mundo pragmático como o nosso, essa imaginação e essa idealidade, uma capacidade de pensar sociedades novas, está sendo expropriada.

Entr. 6, IEAT A estanqueidade do trabalho de pesquisadores (JAPIASSU, 1976, 2006), favorecida pela estrutura departamental da universidade, também emerge das entrevistas. A equipe do Projeto Manuelzão se ressente da dificuldade em conseguir a necessária participação de outros setores da UFMG em seu trabalho, e outros pesquisadores relatam que há pouca interação mesmo dentro de seus departamentos:

Os grandes problemas que ficam, não vou dizer todos, porque eu posso estar me esquecendo de algum, mas eu diria que nenhum deles m resolvido por uma disciplina, e muitos exigem o concurso de muitas áreas do conhecimento. Agora, se a estrutura da universidade, e do conhecimento de uma maneira geral, m toda compartimentalizada, então fica difícil, a universidade pode correr o risco de não saber atacar os problemas que são realmente importantes.

Entr. 1, IEAT

Não há como a gente, no meio acadêmico, querer desenvolver essas coisas se essas pessoas não conviverem. Se não, o Apolo diz que cada um vai falando uma língua diferente, e de fato m. Então, quem acha que m cientista vai falar uma língua própria, quem acha que m educador, a sua língua, quem m extensionista, tal. Então, ou a gente, na universidade, consegue fazer as pessoas conviverem, ou essa ligação forte entre as três áreas ou finalidades fica comprometida. Eu acho que o Manuelzão tem a estrutura de fato ao viabilizar a convivência das pessoas, todos os que traba- lham no projeto, para então isso ser viável. Há grandes dificuldades quanto a isso. Por exemplo, eu estou dentro do departamento. Quando eu saio do meu depar- tamento aqui e estou lá no laboratório do Nuvelhas, que fica na Unidade 3, para o meu departamento, parece que eu não estou trabalhando. Se eu saio daqui e vou ter uma reunião na Faculdade de Medicina, para o meu departamento, eu não estou trabalhando. E isso m muito complicado. Então, a estrutura administrativa da univer- sidade, em departamentos, cursos, faculdades etc., isso, por si só, já nos isola uns dos outros. Então, a convivência, para poder fomentar essa troca de experiências e a construção de algo conjunto, fica impedida já pela estrutura administrativa.

Os departamentos não se comunicam e, mais do que isso, os pesquisadores dentro dos departamentos tambmm não se comunicam, numa dimensão realmente sistêmica, m mais referenciado na competência das pessoas, na capacidade de arti- cular grupos que em qualquer outra coisa. Mas se, hoje, você me perguntar o que m feito dentro do departamento, eu não saberia responder. E a maioria dos docentes não saberia, porque a especialização disciplinar leva a um aprofundamento do conhecimento, e fica muito difícil você saber o que está sendo feito em cada área, no estado da arte.

Entr. 3, IEAT Não ficou de fora das reflexões dos entrevistados sobre a universidade a questão da competição por recursos e por reconhecimento, um dos pontos que levaram Bourdieu (2004) a enxergar o campo científico como campo de lutas:

A gente pensa: ‘mas a universidade m fechada’. Ela m, sim, as pessoas são fechadas, os departamentos são fechados. Aqui, eu estou dentro da minha salinha, este espaço m meu, ningumm entra aqui e ponto final. E ali tem um outro que m dono daquele outro espaço, outro que m dono do laboratório e isso, naturalmente, as pessoas, enquanto pessoas, começam a ser donas tambmm de parte do conhecimento. Então, meu mmtodo m melhor que o seu, descobri tal coisa, e essa descoberta m minha, e eu, quando muito dou referências de onde veio a informação. Às vezes, a informa- ção vem de caminhos tão tortuosos que eu nem sei de onde que ela veio, necessaria- mente, então m como se ela fosse minha. Isso ocorre tambmm, ocorre porque somos pessoas. Mas a instituição, em si, nela não cabe esse tipo de coisa. [...] Porque existem esses conflitos, às vezes atm um pouquinho mais violentos. Quer dizer, a pessoa deixa de citar o seu trabalho, porque não considera aquilo uma coisa smria. [...] Na área de Humanas, na área de Letras, como a da Vera, este conflito pode che- gar às raias do absurdo, entre aspas. Quer dizer, as pessoas deixam de citar o trabalho do outro, porque têm uma visão diferente, outro enfoque. Na psicologia, ocorre muito isso, tem um rogeriano, o outro m não sei o quê, aí aquele não cita esse, umas coisas assim.

Entr. 9, IEAT A maioria das vezes que eu vi tentativa de trabalho interdisciplinar, multidisciplinar, ou transdisciplinar na universidade, eram pessoas que se juntavam como óleo e água, sem ter nada a ver um com outro para dividir um dinheiro que tinha sido captado. É assim que eu vejo, juntam-se pessoas que não têm afinidade nenhuma e cujo objetivo vai ser cada um fortalecer seu próprio departamento, seu próprio laboratório, seu próprio umbigo.

Entr. 13, Projeto Manuelzão A relação entre pesquisa, ensino e extensão vistas como indissociáveis na literatura consultada (TRINDADE, 2001; PAULA, 2005; NOGUEIRA, 2005) e também na Constituição Brasileira (BRASIL, 1988), foi alvo de pergunta específica durante as entrevistas. As respos- tas dos pesquisadores mostraram uma visão muito crítica dessa questão e uma diferença

grande na posição de participantes de um e outro projeto, como pode ser verificado pelas falas apresentadas a seguir:

Eu não sei bem o que m extensão, não. Porque eu não vejo, e toda vez que a universidade quer fazer isso, ela faz mal. A universidade, ela m para criar conhe- cimento e transmitir conhecimento. Toda vez que ela quer prestar serviço, ela presta mal.

Entr. 7, IEAT A extensão, eu acho que m a irmã pobre de todas as três. Teoricamente, do ponto de vista do discurso, elas se equivalem, mas, por exemplo, quem faz a extensão m muito menos valorizado, ou mesmo atm desqualificado em relação a quem faz ensino ou quem faz a pesquisa. Então, a extensão não tem o mesmo grau de valorização dentro da instituição, sendo que normalmente m a extensão que mais projeta a universidade para dentro da sociedade.

Entr. 11, Projeto Manuelzão Que extensão a universidade deveria fazer que não pudesse ser absorvida pelo ensino e pela pesquisa? A pesquisa boa, ela já tem uma questão de relação com a sociedade, em proveito da sociedade, ou tira da sociedade. O ensino m a mesma coisa. Então, você tem de pensar: qual m a extensão que se legitima autonomamente, ou seja, que não tem interface com pesquisa e ensino? Isso m um ponto, e m um ponto político. Eu tenho medo de a extensão, com sua captação de recursos, engolir justa- mente a pesquisa e o ensino, de tal forma que essa interface com a sociedade acabe legitimando só aquilo que dá recurso, por exemplo. Isso m importante, sem dúvida, mas eu tenho um pm atrás.

Entr. 6, IEAT É uma idmia muito bacana, mas ela não m praticada com todo rigor, não. Acaba que m o seguinte: você separa, dentro da universidade, nesses três, m difícil a reunião, essa integração, e às vezes m difícil para a própria pessoa. Eu falo: ‘eu faço extensão?’. Eu faço, pelo Manuelzão, esse trabalho de professor no Internato Rural m isso tambmm. Pesquisa? Estou fazendo algumas. Ensino? Eu sou professor dessa disciplina, eu vou lá com o aluno, acompanhar o processo dele. Será que eu estou conseguindo integrar isso? Eu estou falando de uma questão pessoal, eu sou um agente que deveria estar fazendo [isso]. Aliás, mais uma coisa, que m a tal admi- nistração. Hoje, a minha tarefa docente pressupõe que faça essas coisas integrada- mente, não pode ser dissociado, mas acaba que você pode ter isso em momentos, mas se você vira um pesquisador de ponta, você não tem muito tempo para extensão. Entr. 17, Projeto Manuelzão Foram feitos também alguns comentários sobre o percurso histórico da universidade brasileira, como mostram os trechos a seguir, que enfocam a implantação da organização baseada em departamentos, feita pela reforma de 1968 (BRASIL, 1968), a grande expansão da rede privada de ensino superior ocorrida nos últimos anos (CUNHA, 2003) e a ação do

governo atual no sentido de financiar a expansão das universidades federais, por meio do REUNI (MEC, 2007; REUNI, 2009):

Então você tem, em 68, o primeiro movimento, que m o deslocar do professor catedrático na sua individualidade, na sua soberba, na sua arrogância, normalmente, em alguns casos, pessoas realmente fantásticas, mas outras não tanto, para entrar no departamento disciplinar. Então, você não se refere mais ao catedrático de física, mas ao departamento de física. Então m uma estrutura muito mais complexa, envolvendo muito mais gente, envolvendo elaborações mentais muito mais refinadas na área, descobrindo. [...] Vinte anos depois, o departamento já estava sendo questionado. Quantas e quantas vezes, em reunião do Conselho Universitário, a gente ouvia a expressão ‘o departamento não dá conta mais, o departamento etc.’.

Entr. 3, IEAT

Nós temos uma situação nacional na qual mais de 70% dos alunos univer- sitários estão nas universidades privadas. [...] Mas eu acho esse modelo como um legado maldito que o governo Fernando Henrique nos deixou, principalmente com o ministro Paulo Renato, quando houve essa explosão de universidades.

Entr. 7, IEAT

O REUNI, para mim m um exemplo típico de uma política de governo que m absolutamente fantástica. Imagina, você dotar a universidade de recursos e falar assim: “resolve isso da melhor maneira possível”. Eu nunca vi isso.

Entr. 8, IEAT Um dos entrevistados, que se aposentou como professor da UFMG e passou a fazer parte do quadro de uma universidade privada, elaborou um interessante contraponto entre essas duas modalidades de instituição, o qual está reproduzido abaixo:

Eu aposentei na UFMG, uma universidade federal, que m uma universidade federal, uma universidade pública. Eu entendo, pela minha experiência, minha vivên- cia, meu trânsito no meio acadêmico, que a universidade federal, ela m responsável