KAHN DO BRASIL E PROJETO PARA CONSTRUÇÃO DA CLÍNICA BAUM, DE SANTA C ATARINA
PARA ANÁLISE CRITÉRIOS DE PASSAGEM RELATÓRIO DE REVISÃO
7.4 A VALIAÇÃO DO M ODELO I NICIAL 1 Avaliação do Modelo: Resultados
O processo de avaliação do modelo, descrito na seção 2.2.3, teve como objetivo checar a potencialidade do modelo em auxiliar os arquitetos no envolvimento dos usuários em co‐ design, tendo potencialidade para aplicação em projetos reais, e também aprimorá‐lo com base nas críticas dos avaliadores. Os resultados obtidos são apresentados a seguir.
7.4.1.1 Avaliador 1
O Avaliador 1 respondeu à avaliação por contato telefônico, complementado por imagem enviada por correio eletrônico. Este avaliador é o arquiteto diretor de uma empresa em São Paulo, com mais de 50 anos no mercado.
Sobre as fases do modelo, o Avaliador 1 ressalta que o ‘Programa Físico’ não é definitivo, e precisa passar por reciclagens ao longo do processo de projeto. Este programa é a peça‐chave para o arquiteto trabalhar. Assim, este avaliador defende que, durante o pré‐
desenvolvimento, seja realizado um ‘esboço’ do Programa Operacional, seguido de um ‘esboço’ do Programa Físico e do partido arquitetônico, que permitem dimensionar o terreno a ser adquirido para o empreendimento. De posse deste esboço e do terreno idealizado, é possível realizar a ‘pré‐viabilidade econômica’. Esta pré‐viabilidade permite avaliar os custos de construção e de operação do empreendimento, e se as receitas geradas serão suficientes para cobrir o investimento e os custos de operação.
Se a pré‐viabilidade indicar que não haverá retorno suficiente, devem ser realizadas simulações para adequar o empreendimento. Estas simulações podem alterar o programa operacional, ou o programa físico, os tipos de serviços, a ‘quantidade’ de serviços prestados, etc. Simular programa operacional: se o entrave for a produção; Simular programa físico: se o entrave for espaço; Simular investimento: se o entrave for os recursos financeiros. É justamente neste momento de simulações que o Avaliador 1 considera fundamental o co‐ design – que ele denomina co‐decisão. A presença dos usuários para ‘ajustar’ os serviços ao orçamento é considerada fundamental. O diagrama apresentado na Figura 72 mostra as fases do Pré‐desenvolvimento propostas pelo Avaliador 1, ilustrando o ‘loop’ de esboço dos programas e as simulações de viabilidade possíveis.
De acordo com o Avaliador 1, se não houver esta pré‐viabilidade para ajustar o planejamento do empreendimento, ou seja, este estudo de investimento frente ao retorno de receitas, corre‐se o risco de tornar a operação do empreendimento inviável financeiramente, uma vez que, mesmo edifícios bem resolvidos arquitetonicamente e com o empreendimento operando em todo seu potencial, pode‐se não conseguir o retorno dos investimentos.
Figura 72. Fases do pré‐desenvolvimento. Fonte: Avaliador 152.
7.4.1.2 Avaliador 2
O Avaliador 2 é uma arquiteta de Porto Alegre, que participou do projeto que foi objeto do EC‐ 1. Tem vasta experiência na área de projetos de EAS, além de ter sido diretora regional da ABDEH no Rio Grande do Sul. Também ministra aulas sobre arquitetura de EAS em cursos de pós‐graduação em gestão de saúde.
O questionário enviado para avaliação foi respondido por correio eletrônico (ver Anexo IV).
O Avaliador 2 considerou que foram pertinentes as fases do processo de projeto em que o co‐design foi indicado como nível de envolvimento adequado, sendo que esta definição clara é uma característica positiva a ser destacada. Este avaliador também considerou que o modelo pode facilitar o co‐design com usuários e que utilizaria o modelo, pois o mesmo
52 Imagem de autoria do Avaliador 1. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <michele.caixeta@gmail.com> em 3 ago. 2015.
identifica o papel dos partícipes do processo e define suas atribuições, além de especificar uma metodologia para os projetos de EAS.
Como dificuldades de aplicação do modelo, o Avaliador 2 pondera que “a dificuldade é pertinente ao projetar”, uma vez que existe dificuldade em transmitir para as equipes internas que um novo espaço físico significa revisão nos processos. “Projeto novo=processo novo (revisado)”. E é justamente esta revisão dos processos operacionais que é destacada como maior desafio do arquiteto pelo avaliador.
Como falha do modelo, o Avaliador 2 aponta que não está claro “em que momento o processo de produção é revisado/definido pela equipe interna”. Também alerta para o fato de que o desconhecimento das normas, por parte dos usuários, os induz a realizar as atividades de modo errado e repetir estes erros no projeto. O avaliador cita uma frase muito comum entre os usuários: “mas nós fazemos assim desde sempre!”.
Por fim, entre as observações finais o avaliador destaca que as nomenclaturas dos ambientes e a forma correta de uso destes devem ser informadas a todos os membros da equipe interna. Sem o treinamento e a informação adequada sobre o uso dos espaços, ocorrem situações como a utilização do DML – Depósito de Material de Limpeza – como um depósito geral, ou a ociosidade do ambiente.
7.4.1.3 Avaliador 3
O Avaliador 3 é arquiteto e pesquisador doutor em arquitetura de ambientes de saúde, com vasta experiência em projetos e pesquisas na área, além de ser presidente da ABDEH e membro de diversas entidades voltadas à produção de EASs53. A avaliação do modelo ocorreu
por contato telefônico, após análise do material enviado.
O primeiro ponto destacado pelo avaliador é a necessidade de um olhar menos focado no ‘negócio’, e mais voltado para as questões humanas do EAS. Por outro lado, avalia como positivo e pertinente a proposição de um método para o processo de projeto e o envolvimento do usuário.
No tocante ao recorte de usuários proposto para foco do modelo, o Avaliador 3 considera muito pertinente, e acredita que o modelo deveria ir além à restrição ao número de usuários participantes do projeto, para garantir que o número de pessoas envolvidas não inviabilize o processo de projeto. Neste sentido, considera fundamental a escolha de representantes da equipe interna para participar, uma vez que EASs de grande porte chegam a
53 Fonte:
ter mais de mil pessoas na equipe interna. Neste ponto, o avaliador propõe que a pesquisa utilize os setores funcionais listados na RDC nº 50 (ANVISA, 2002) para determinar o número mínimo de representantes, garantindo que todos os setores sejam representados e uma caracterização mais específica da representatividade. Basear‐se nesta norma é uma forma de sistematizar a escolha de representantes, além de orientar o coordenador de cada processo de projeto e permitir que este determine o número necessário de acordo com os setores existentes no projeto específico em que está trabalhando. Concluindo, o Avaliador 3 destacou a necessidade de verificabilidade do processo. O modelo deve definir claramente quem são os atores e suas responsabilidades, além de propor que indique uma ideia de cronologia, com tempo estimado para cada fase. 7.4.1.4 Avaliador 4 O Avaliador 4 é arquiteto e pesquisador doutor na Universidade de Bath, Inglaterra, com vasta experiência em pesquisas em arquitetura de edifícios de assistência à saúde. O foco de suas pesquisas se dá em projeto baseado em evidência, BIM e Lean Design, principalmente nos impactos gerados pelo ambiente construído sobre a saúde e o bem‐estar dos indivíduos54.
A avaliação do modelo foi realizada por respostas ao questionário enviado, transmitidas por correio eletrônico (ver Anexo IV).
Como características positivas do modelo, o Avaliador 4 destaca a união dos stakeholders no processo, bem como a ênfase de se trabalhar o projeto dos serviços, pois assim como é necessário esclarecer os stakeholders sobre o processo de projeto, os projetistas precisam ser esclarecidos sobre os serviços.
De acordo com o Avaliador 4, as fases em que o co‐design foi indicado como nível de envolvimento adequado foram pertinentes, mas talvez precisem de aprofundamento, no sentido de esclarecer os pontos de início e término de cada uma, bem como seus produtos – se são desenhos, documentos, ou diretrizes, por exemplo.
O avaliador não utilizaria o modelo, pois avalia que este ainda precisa de outros aprofundamentos, uma vez que ainda há questões sem resposta. Além dos pontos já colocados, cita a questão da relação de hierarquia dentro das instituições, que deve ser considerada para permitir que se chegue à melhor solução de projeto. Por exemplo, “enfermeiras sempre vão concordar com os médicos se as reuniões de co‐design forem organizadas com os dois grupos juntos”.
54 Fonte:
Ressalta também a questão da mudança de poder e de influência dos stakeholders ao longo do processo, que não está prevista no modelo. Se, por um lado, é interessante a ideia de co‐design por se basear num processo democrático, por outro lado a realidade não é tão democrática quanto o modelo, pois existem questões de poder na tomada de decisões que precisam ser consideradas.
Segundo este avaliador, o desenvolvimento de uma única solução de projeto “pode não ajudar com a questão de tempo”, pois os usuários muitas vezes só conseguem entender ‘o que querem’ e ‘o que não querem’ quando visualizam a solução. Neste sentido, o Avaliador 4 recomenda a adoção do set‐based design (SBD)55para auxiliar projetistas e usuários na
avaliação dos trade‐offs56.
Outro ponto destacado é a necessidade de se estabelecer claramente as metas que se deve atingir com o projeto, desde o início do processo. É também recomendável que exista uma base de comparação, com a descrição dos cenários anteriores e posteriores ao projeto, para que se possa avaliar a efetividade do projeto frente às metas estabelecidas.
Há ainda a questão da responsabilidade sobre as decisões, não discutida pelo modelo. O avaliador coloca que esta questão precisa estar clara, pois relata, por sua experiência, que é comum usuários desejarem ‘ter voz’ no processo de projeto, mas sem assumirem responsabilidade sobre suas escolhas, que fica a cargo dos diretores de projeto, principalmente em casos de falhas. Assim como o Avaliador 3, o Avaliador 4 ressalta a necessidade de maior clareza na seleção dos usuários para participar. O detalhamento desta seleção é importante para que o modelo possa facilitar o co‐design com usuários. 55 “Set‐based Design (SBD) é um método de projeto complexo que exige uma mudança na forma como se pensa e gerencia o projeto”. O paradigma do SBD pode substituir o point based design em projetos. O SBD também “permite que se use mais do esforço de projeto para avançar simultaneamente e adia especificações detalhadas até que os trade‐offs estejam completamente compreendidos” (SINGER; DOERRY; BUCKLEY, 2009).
56 “Trade‐off ou tradeoff é uma expressão em inglês que significa o ato de escolher uma coisa em detrimento de outra e muitas vezes é traduzida como ‘perde‐e‐ganha’. O trade‐off implica um conflito de escolha e uma consequente relação de compromisso, porque a escolha de uma coisa em relação à outra, implica não usufruir dos benefícios da coisa que não é escolhida. Isso implica que para que aconteça o trade‐off, elemento que faz a escolha deve conhecer os lados positivos e negativos das suas oportunidades”. Fonte:
7.4.2 Avaliação do Modelo: Discussão
Os avaliadores consideraram adequadas as fases do processo de projeto em que o co‐design foi indicado como nível de envolvimento adequado, concentradas no início do processo de projeto.
Como falhas do modelo levantadas pelos avaliadores, têm‐se:
1. Necessidade de maior trabalho nos programas operacionais e físicos, que não podem ser definitivos, mas dever contar com um estágio inicial de esboços e avaliações de viabilidade, para que possam melhor se adequar aos recursos disponíveis e as receitas previstas para operação (Avaliador 1); 2. O modelo não deixa claro o momento em que o processo de produção é revisado/definido pela equipe interna (Avaliador 2); 3. A equipe interna tende a repetir os erros na realização de atividades no projeto, por falta de conhecimento das normas (Avaliador 2); 4. Necessidade de treinar os usuários para garantir que os espaços sejam utilizados conforme previsto em projeto, garantindo a funcionalidade prevista (Avaliador 2).
5. Necessidade de um processo com um olhar mais focado no fator humano, e menos no ‘negócio’ de saúde (Avaliado 3);
6. Necessidade de o modelo apresentar maior clareza na seleção dos representantes dos usuários para participar do processo (Avaliadores 3 e 4); 7. Definição clara dos atores do processo de projeto e de suas responsabilidades (Avaliadores 3 e 4); 8. Definição de tempos estimados para cada fase (Avaliador 3); 9. Definição dos pontos de início e término de cada fase (Avaliador 4); 10. Definição dos produtos de cada fase (Avaliador 4); 11. Necessidade de trabalhar a hierarquia de poder dentro da instituição, para permitir que os usuários expressem seus verdadeiros requisitos durante o co‐design (Avaliador 4);
12. Necessidade de considerar a questão da mudança de poder e de influência dos stakeholders ao longo do processo (Avaliador 4);
13. Necessidade de definição das metas que o projeto deve atingir, no início do processo, para avaliar a efetividade do projeto (Avaliador 4);
14. O modelo deveria considerar o SBD, para auxiliar projetistas e usuários na avaliação dos trade‐offs (Avaliador 4).
Os avaliadores focaram suas análises em pontos distintos do processo, com algumas críticas comuns entre dois avaliadores (itens 6 e 8). Todos os pontos levantados foram considerados pertinentes e contribuições potenciais à qualidade do modelo final. Com base nestas críticas, as alterações realizadas no modelo foram as apresentadas no quadro 38. Quadro 38. Falhas indicadas pelos avaliadores e soluções propostas. Fonte: Elaborado pela autora. FALHA INDICADA SOLUÇÃO PROPOSTA
1 Foram acrescentadas fases de Revisão do Programa Operacional e Físico na Macrofase de