ANEXO V. R ESPOSTAS DAS A VALIAÇÕES DO M ODELO 234
COMPARTILHADA AÇÃO
COMPARTILHADA SUPORTE AOS INTERESSES Processo
Típico Apresentação e Promoção Comunicação e Retroalimentação consensoConstrução de Construção parceria de Desenvolvimento comunitário
Métodos
Típicos Folheto Mídia Vídeo
Pesquisas
Reuniões Workshops Planejamento
para escolha
estratégica real
Instâncias de
parcerias Conselho Suporte
Financiamento
Postura do
Iniciador ‘Aqui está o que vamos fazer’ ‘Estas são nossas opções – o que vocês acham? ’
‘Queremos desenvolver opções e decidir as ações em conjunto’ ‘Queremos juntos efetuar decisões conjuntas’ ‘Podemos ajuda‐ los a atingir o que vocês querem dentro destas diretrizes’ Benefícios do Iniciador Aparentemente menor esforço Aumenta as chances de acerto
Novas ideias e
comprometiment o de outras pessoas Traz recursos adicionais Desenvolve capacidade na comunidade e pode reduzir chamadas em serviços Questões para o Iniciador As pessoas aceitarão a consulta?
As opções são realistas? Existem outras? Temos modos similares de decisão? Nós conhecemos e confiamos nos outros?
Como será o balanceamento do controle? Podemos trabalhar juntos? Nossos objetivos serão atingidos tanto quanto os outros
Choguill (1996) apresenta uma adaptação da escada de Arnstein para países em desenvolvimento, com os mesmos oito degraus, mas com alteração da terminologia, argumentando que esta se adéqua melhor ao contexto destes países.
Tritter e McCallum (2006) consideram que a ‘escada de participação’ de Arnstein está desatualizada, apesar de muitos textos em administração pública se basearem nela, principalmente na área de serviços de saúde, e cita os modelos de Wilcox e Choguill como releituras sem crítica de Arnstein. Uma das críticas é que a escada de Arnstein só considera como medida de nível de participação o poder de tomar decisões, e que o objetivo do engajamento dos cidadãos é este controle. Os autores propõem um modelo mais abrangente, pois acreditam que “o envolvimento e fortalecimento dos usuários são fenômenos complexos através dos quais os indivíduos formulam meios e ações que refletem o grau desejado de participação nos processos decisórios individuais e sociais” (TRITTER; MCCALLUM, 2006, p.157). Os autores acreditam que quando não há compatibilidade entre expectativa e método, o envolvimento dos usuários fica mais suscetível às falhas. Diferente de Arnstein, concluem “que o envolvimento do usuário requer estruturas dinâmicas e processos legitimados tanto pelos participantes quanto pelos não participantes” (TRITTER; MCCALLUM, 2006, p.157). Os autores apresentam também criticam a conceituação simplificada dos protagonistas, as falhas na consideração do processo e dos resultados e a falta de métodos e sistemas de retroalimentação.
Na área de projetos de tecnologia de informação, a revisão bibliográfica levantou os seguintes níveis de envolvimento dos usuários (DAMODARAN, 1996):
Informativo: nível em que os usuários apenas fornecem ou recebem informações; Consultivo: neste nível, os usuários são envolvidos para comentar um serviço ou
conjunto de componentes pré‐definidos; e
Participativo: quando os usuários influenciam decisões relativas a todo o sistema.
Uma abordagem que tem sido apresentada em várias áreas, como em design (HO; LEE, 2012) e desenvolvimento de produtos (KAULIO, 1998), apresenta o envolvimento dos usuários em projeto em três diferentes níveis:
Projeto para Usuários: Os usuários são passivos e os profissionais de projeto controlam o processo como um todo;
Projeto com Usuários: Os usuários participam ativamente como projetistas, compartilhando o processo com os profissionais de projeto;
Projeto por Usuários: Os usuários podem se tornar projetistas e colaboradores, uma vez que os profissionais de projeto os capacitam para controlar o processo.
Na área específica de arquitetura, Wulz (1986) apresenta uma visualização do envolvimento do usuário em dois polos opostos que, apesar de não serem comumente aplicados, servem para ilustrar os extremos do processo de projeto arquitetônico: de um lado, a tomada de decisões é feita exclusivamente pelo arquiteto e, do outro lado, o usuário toma as decisões sem intervenção do projetista. Os estágios de influência do arquiteto ou do usuário formam uma escala entre os dois polos, que é recíproca, pois “a diminuição da influência do arquiteto é seguida pelo aumento da influência do usuário” (WULZ, 1986, p.155). Os pontos desta escala são representados pelos níveis de envolvimento, que são denominados como representação, questionário, regionalismo, diálogo, alternativa, co‐decisão e auto‐decisão, conforme descritos no quadro 17 e na figura 18. Quadro 17. Níveis de envolvimento. Fonte: Wulz (1986). FORMA DE
ENVOLVIM. DESCRIÇÃO EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Representação Formano lugar do usuário para considerar suas necessidades e de participação mais passiva, onde o arquiteto se coloca
aspirações (“base da existência da profissão do arquiteto”, está presente em todas as outras).
Projetos com usuário
final anônimo
(planejamento urbano ou
edifícios de
apartamentos).
Questionário Pressupõe estudos sistemáticos, tratados estatisticamente, sobre as características e requisitos comuns dos clientes, que
serão estruturados e generalizados.
Produção em massa de
edifícios habitacionais
(1930s), que reforçou a
separação entre
cliente/usuário e entre
usuário/arquiteto.
Regionalismo Focaespecífica, combinando representação e questionário. as qualidades simbólicas e arquitetônicas de uma área
Diferencia‐se da representação pela maneira sistematizada de levantar as características da arquitetura do local do projeto, e do questionário, por considerar as características culturais e específicas, dentro de uma área geográfica limitada. Origens: repúdio dos usuários à uniformização da arquitetura das áreas residenciais, ocorrida nos anos 1960s em partes da Europa.
Diálogo Baseando‐se em conversas informais, o arquiteto utiliza o conhecimento do usuário no processo e lhe fornece informações
sobre as propostas iniciais, para comentários nas primeiras fases do processo. Mas as decisões finais são tomadas apenas pelo arquiteto. Objetivos: democratização do planejamento,
alimentação do projeto com sugestões do usuário,
conhecimento das características regionais e fim do anonimato tanto do arquiteto como do usuário.
Alternativa Sem anonimato, os usuários escolhem uma alternativa dentro de uma estrutura fixa, e o arquiteto apresenta as soluções numa
linguagem que os leigos consigam entender. Em casos onde a
escolha afeta um número maior de pessoas, a decisão pode ser feita por meio de voto, o que pode provocar a insatisfação de
minorias com opiniões divergentes.
Co‐decisão O usuário tem poder de decisão balanceado com o do arquiteto, e está envolvido desde o início do processo. Para viabilizar a
participação ativa e direta do usuário depende que os envolvidos se conheçam individualmente, estejam dispostos e tenham tempo de participar de todo o processo, além dos usuários
custearem eventuais acréscimos no período de planejamento.
Auto‐decisão Os próprios usuários tomam as decisões, com o arquiteto no papel de garantir que os requisitos da sociedade sejam
respeitados. Como objetivo último, almeja‐se uma situação ideal de evitar e abolir a intervenção das autoridades, que se dão, por exemplo, por regulamentações, normas e leis. Pressupõe que as pessoas são entidades criativas e que a forma pura de democracia seja a independência de todas as formas de intervenção autoritária.
Formas de auto‐
construção – finalização de obras inacabadas que possuam pelo menos estrutura, instalações e
cobertura, onde o
arquiteto é visto como consultor – e autoajuda.
Figura 18. Formas de envolvimento do usuário no processo de projeto. Fonte: Preparada a partir do texto de Wulz (1986).
Numa outra abordagem, Sanders e Stappers (2008) descrevem dois níveis de envolvimento dos usuários em processo de projeto: projeto centrado no usuário e co‐design. No processo de projeto centrado no usuário, o pesquisador observa e entrevista o usuário, para ampliar seus conhecimentos sobre ele e informar os projetistas. O usuário é visto, portanto, como um objeto de estudo passivo. Já no co‐design, os usuários são tidos como parceiros, e desenvolvem um papel importante no desenvolvimento do conhecimento, na geração de ideias, entre outros. A Figura 19 ilustra os dois níveis descritos pelos autores.
Figura 19. Papéis dos usuários (U), pesquisadores (PE) e projetistas (P) no processo de projeto centrado no usuário (à esquerda) e no co‐design (à direita). Fonte: Sanders e
Em âmbito nacional, diversos textos utilizam o termo ‘projeto participativo’ para descrever o envolvimento dos usuários em processo de projeto arquitetônico, com sentido semelhante ao proposto por Damodaran (1996). Em Lana (2007), a descrição apresentada refere‐se ao projeto arquitetônico com participação ativa do usuário final, que não é somente provedor de recursos ou fornecedor do programa de necessidades, mas compartilha as decisões com o arquiteto ao longo do processo. A autora ressalta, entretanto, que não se trata de coautoria, mas de compartilhamento de decisões. Para comparar as diversas abordagens sobre níveis de participação apresentadas, o quadro 18 sintetiza os níveis de participação em projeto propostos por cada autor, permitindo uma melhor visualização dos mesmos. Quadro 18. Comparação dos níveis de envolvimento em projeto propostos pelos autores citados. Fonte: Elaborado pela autora.