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CENÁRIO ATUAL DOS EDIFÍCIOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE 

ANEXO   V.  R ESPOSTAS DAS A VALIAÇÕES DO M ODELO 234 

FONTE DE EVIDÊNCIA

3.1 CENÁRIO ATUAL DOS EDIFÍCIOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE 

No século XX, o desenvolvimento tecnológico ocorrido revolucionou a medicina, privilegiando  o  ambiente  hospitalar  como  local  da  prática  médica,  de  forma  que  a  edificação  deveria  ser  capaz  de  abrigar  convenientemente  os  equipamentos  para  investigação,  diagnóstico  e  terapêutica,  além  de  poder  continuamente  incorporar  os  avanços  do  setor  (SANTOS;  BURSZTYN,  2004).  A  anatomia  destas  edificações  a  partir  deste  período  conta  com  agrupamentos  departamentais,  reunidos  por  atividades  e  funções  correlatas,  cada  um  com  suas  próprias  características  e  necessidades  de  planejamento  funcional  (MIQUELIN,  1992;  SANTOS; BURSZTYN, 2004). 

Ainda na segunda metade do século XX, entretanto, os primeiros sinais de crise deste  modelo de atenção médica começaram a aparecer (SANTOS; BURSZTYN, 2004): 

 O crescente custo da tecnologia médica cria restrições de acesso; 

 Aumento  da  demanda  por  tecnologia  de  média  e  alta  complexidade,  devido  à  prevalência de doenças crônico‐degenerativas intensificada pelo envelhecimento da  população; 

 O  impacto  desejado  sobre  a  saúde  nem  sempre  é  produzido  pelo  alto  grau  de  especialização gerado pela tecnologia, e isto norteia a demanda por um modelo de  atenção mais efetivo. 

Estes  autores  relatam  que,  na  virada  do  século  XXI,  busca‐se  um  novo  modelo  de  hospital,  centrado na promoção da saúde. A princípio relacionado à ideia de um corpo livre de doenças,  o entendimento de atenção à saúde evoluiu para incluir uma visão holística de bem‐estar físico  e mental e, como consequência, os edifícios de assistência à saúde estão mudando tanto em  forma como em função (GESLER et al., 2004). 

Em síntese, ao longo da evolução destes edifícios na história, a arquitetura priorizou  o  espaço  do  hospital,  bem  como  o  seu  aparato  médico  e  tecnológico,  privilegiando  o  tratamento cada vez mais especializado da doença. O paciente em si, passivo, estava relegado  a um papel de coadjuvante no processo. Eram os tempos da “arquitetura hospitalar”. Assiste‐ se agora, entretanto, à mudança de foco nestes projetos, da edificação para os usuários, com  novas propostas que buscam a promoção da humanização, da saúde e da qualidade de vida,  dentro do que se nomeia “arquitetura da saúde” (INSTITUTO DOS ARQUITETOS DO BRASIL –  IAB/RJ; PROCEL/Eletrobrás, 2005).  3.1.1 Rede de atendimento à saúde no Brasil 

No  Brasil,  as  buscas  pela  solução  dos  problemas  de  saúde  são  numerosas  e  multifacetadas,  destacando‐se  a  criação  do  SUS  –  Sistema  Único  de  Saúde  –  em  1990  (GÓES,  2004).  A  implantação  do  SUS  foi  uma  estratégia  para  universalizar  a  cobertura  das  ações  de  saúde 

pública no país, pois até então era destinada apenas aos beneficiários do INAMPS16 (SOUZA, 

2002). O artigo 4º, da Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990, institui como constituintes do SUS: 

“O  conjunto  de  ações  e  serviços  de  saúde,  prestados  por  órgãos  e  instituições  públicas  federais,  estaduais  e  municipais,  da  Administração  direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público”. 

Ainda segundo esta lei, a assistência à saúde se daria de forma “hierarquizada em níveis de  complexidade crescente”. Segundo Góes (2004), a legislação em vigor categoriza os níveis de  atendimento  em  três,  pelo  critério  de  complexidade:  primário,  secundário  e  terciário.  O  quadro 6 apresenta a definição de cada nível. 

Quadro 6. Níveis de atendimento à saúde. Fonte: Góes (2004) 

Nível  Descrição das Atividades  (Estabelecimento)Estrutura Física   Descrição do Estabelecimento

Primário

 

 

Ações  de  promoção, 

proteção  e 

recuperação  da 

saúde,  de  baixa  complexidade   

Postos de Saúde (PS)  Serviços  básicos  para  agrupamentos 

populacionais entre 500 e 2.000 hab.  Centros  de  Saúde  (CS)  / 

Unidade Básica de Saúde (UBS)  Serviços básicos, acrescidos de assistência médica  e  atendimento  a  encaminhados 

dos  PS  para  agrupamentos  populacionais 

entre 2.000 e 10.000 hab. 

Secu

ndário

 

   

Apoio  ao  nível 

primário,  acrescido  das  clínicas  básicas 

(médica,  cirúrgica, 

obstétrica/ginecológi ca e pediátrica)   

 

Ambulatórios  Equipamento  de  Referência  para  os  CS, 

com  atendimento  às  quatro  clínicas  básicas. 

Unidades Mistas  Ações  ambulatoriais  nas  quatro  clínicas 

básicas  acrescido  de  internação 

(geralmente de até 24h e principalmente 

de  parturientes),  para  agrupamento 

populacional entre 10.000 e 20.000 hab. 

Hospitais Locais/Regionais17  50  a  100  leitos,  destinados  às  quatro 

clínicas básicas, sendo referência para PS  e  CS,  para  agrupamento  populacional  entre 50.000 e 100.000 hab.  Terciário     Tratamento  dos  casos  mais  complexos  do  sistema  (ambulatório,  urgência  e  internação) 

Hospital de Base ou Referência  151  a  200  leitos,  com  elevado  índice  profissional e tecnológico         16 O INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social – atuou até 1993, quando foi extinto e  passou a integrar a estrutura do Ministério da Saúde.  17Dependendo da complexidade das tecnologias de diagnóstico e terapia que estes hospitais possuem, passam a ser  considerados como de nível terciário. 

O  gráfico  1  mostra  o  número  de  estabelecimentos  no  Brasil  por  níveis,  considerando  as  estruturas  físicas  citadas  no  quadro  6,  com  o  intuito  de  ilustrar  a  distribuição  geral  destas  estruturas.  Outros  tipos  de  estabelecimentos,  como  clínicas  e  consultórios,  não  foram  considerados.  Gráfico 1. Quantidade Geral de Estabelecimentos por Nível de Atenção no Brasil.  Período: Mar/2015. Fonte: CNES, Ministério da Saúde18   Os hospitais podem ainda ser classificados pelo seu porte, da seguinte forma (BRASIL, 1985):   Hospital de pequeno porte: capacidade instalada de até 50 leitos.   Hospital de médio porte: capacidade instalada de 51 a 150 leitos.   Hospital de grande porte: capacidade instalada de 151 a 500 leitos.   Hospital de porte especial: capacidade instalada acima de 500 leitos. 

Parte  da  população  tem  buscado  planos  e  seguros  de  saúde  privados,  devido  aos  “baixos  investimentos em saúde e consequente queda da qualidade dos serviços” (MALTA et al., 2004,  p.434). Até o ano de 1998, quando foi promulgada a Lei nº 9.656, este segmento não estava  normatizado,  e  as  operadoras  de  planos  privados  utilizavam  critérios  próprios  do  mercado  para  atendimento  aos  seus  beneficiários  (ALBUQUERQUE  et  al.,  2008).  No  ano  de  2000,  foi  criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), vinculada ao Ministério da Saúde, com         18 Disponível em:  http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?cnes/cnv/atencbr.def, acesso em 15 mai. 2015.  688 1.034 5.101 9.889 35.041 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000 UNIDADE MISTA HOSPITAL ESPECIALIZADO HOSPITAL GERAL POSTO DE SAUDE CENTRO DE SAÚDE/UBS

a  missão  de  “Promover  a  defesa  do  interesse  público  na  assistência  suplementar  à  saúde,  regular  as  operadoras  setoriais  ‐  inclusive  quanto  às  suas  relações  com  prestadores  e  consumidores  ‐  e  contribuir  para  o  desenvolvimento  das  ações  de  saúde  no  país”19.  O 

crescimento do mercado de saúde suplementar no Brasil, segundo Albuquerque et al. (2008), é  pouco conhecido até o ano de 2000, mas a partir de então é composto por planos privados,  regulados  pela  ANS,  e  por  planos  vinculados  a  instituições  de  assistência  aos  servidores  públicos, civis e militares, não regulados pela ANS. 

Muito  se  especula,  na  mídia  nacional,  sobre  a  deficiência  do  setor  de  saúde  em  atender às necessidades da população, tanto em termos de déficit de espaço físico, como em  falta de profissionais, principalmente na esfera pública.  Em relação à falta de profissionais, o  déficit de médicos estimados pelo Ministério da Saúde no ano de 2013 era de 54 mil, segundo  Fagundes (2013). Outros exemplos podem ser encontrados em Costa (2015) e Perrin (2015).  Apesar  disto,  não  existem  padrões  validados  para  determinar  este  déficit,  tanto  em  âmbito  nacional  como  internacional  (Saúde,  2008).  Outros  entraves  à  determinação  deste  déficit,  segundo Rede Interagencial de Informação para a Saúde – RIPSA (2008), são: 

 Alguns  parâmetros  utilizados  para  comparação  e  determinação  da  quantidade  mínima  de  médicos  por  habitante  não  podem  ser  aplicados  a  todos  os  contextos  (por exemplo, 1/1000hab); 

 Não  são  conhecidos  processos  de  verificação  da  efetividade  do  exercício  profissional; 

 As  quantificações  apresentadas  pelos  órgãos  oficiais  não  separam  os  profissionais  que atendem à saúde daqueles que se encontram em atividades gerenciais. 

Dada  a  falta  de  parâmetros,  apresenta‐se  aqui  uma  tabela  comparativa  (tabela  1)  entre  o  número de profissionais de saúde para 1000 habitantes no Brasil e em países desenvolvidos –  Estados Unidos, Reino Unido e Suíça – e em Cuba, cujo desempenho na atenção à saúde tem  sido destacado tanto nas estatísticas da Organização Mundial da Saúde – OMS – quanto em  publicações internacionais – ver, por exemplo, Campion e Morrissey (2013).         19 Fonte: ANS. Disponível em:  http://www.ans.gov.br/ Acesso em: 31 ago. 2015. 

Tabela 1. Número de Profissionais de Saúde por mil habitantes. Fonte: OMS20