ANEXO V. R ESPOSTAS DAS A VALIAÇÕES DO M ODELO 234
PAÍS MÉDICOS/1000 HAB ENFERMEIROS 21
3.2 C OMPLEXIDADE DO P ROJETO DE E DIFÍCIOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE
“Um dos programas mais complexos a ser atendido pela composição arquitetônica”, os edifícios de assistência à saúde apresentam múltiplas faces, com diversas interações, por
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
TOTAL Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro‐Oeste leitos por mil habitantes
concentrar na mesma edificação tanto serviços de cunho industrial – por exemplo, nutrição, transportes e lavanderia – como processos de atuação médica refinados e atividades de alta tecnologia (GÓES, 2004, p.29). Além disto, tem como ocupante principal o paciente fragilizado, que carece de relações humanas (SAMPAIO, 2005). As impressões dos pacientes em relação às configurações do espaço físico variam muito, bem como as interpretações sociais e culturais dos pacientes sobre quão eficientes e terapêuticos estes edifícios são (GESLER et al., 2004). O projeto de edifícios de assistência à saúde, portanto, é complexo devido a diversas questões, que envolvem a qualidade do espaço físico e a necessidade de este dar suporte aos serviços de saúde (TZORTZOPOULOS et al., 2009). Não obstante, cada edifício de saúde tem sua construção orientada por sua visão própria (BROMLEY, 2012), e possui edifício, perfil de pacientes, equipe interna, missão e serviços próprios, tornando a figura genérica apenas uma abstração (RISSE, 1999).
Vidal e Marle (2008) classificam os fatores que caracterizam a complexidade do projeto em: dimensão do projeto, variedade do projeto, interdependência dentro do sistema de projeto e elementos do contexto do projeto. Ou seja, além da dimensão, o número de variáveis do projeto e a forma como estas interagem influenciam a complexidade do projeto, bem como os fatores ligados ao seu contexto.
Baseados neste texto, Caixeta (2011) e Caixeta e Fabricio (2011) trazem esta classificação para os projetos de edifícios de assistência à saúde, apontando os fatores determinantes da complexidade do projeto para obras novas e para obras de intervenção. Em relação aos projetos de obras novas, primeiramente o grau de complexidade do processo de projeto depende da dimensão do empreendimento projetado. Em segundo, das variáveis deste projeto, que se dividem em tecnológicas – relacionadas aos sistemas prediais e aos equipamentos ‐ e espaciais – referentes ao espaço físico. Estas variáveis estão relacionadas ao nível de atendimento à saúde da edificação, ou seja, partindo do nível primário para o terciário, aumenta o número de variáveis com que os projetistas terão que trabalhar. Em terceiro, a complexidade do projeto varia de acordo com o modo como estas variáveis interagem no projeto. Por fim, os elementos do contexto, como a disponibilidade de recursos, as características do local de implantação e de seu entorno, entre outros, também influenciam a complexidade do projeto (Figura 4).
Figura 4. Fatores determinantes da complexidade do projeto, segundo Vidal e Marle (2008), adaptados para edifícios de assistência à saúde (obras novas). Fonte: Caixeta e Fabricio (2011). Já no caso de projetos de intervenções em edificações existentes – reformas, ampliações ou retrofits – existem diversos elementos que não podem ser alterados, tais como a morfologia do edifício, sua implantação, ou ainda elementos de valor artístico ou histórico. Desta forma, pode‐se dizer que o grau de complexidade de um projeto de intervenção em edifício de saúde é maior do que em obras novas (CARVALHO; SALGADO; BASTOS, 2009). Além da dimensão do empreendimento existente, a complexidade depende, portanto, da área de abrangência da intervenção, se é apenas em um setor ou em toda a edificação. Em relação às variáveis, as de ordem tecnológica se referem aos sistemas prediais e aos equipamentos que serão afetados pela intervenção, enquanto as variáveis de ordem espacial são referentes ao modo como se intervirá no espaço físico. As interferências entre estas variáveis, da mesma forma, aumentam a dificuldade do projeto e da obra. Por último, destacam‐se as questões referentes à contaminação e dificuldade de paralisação de setores críticos – como UTI e centro cirúrgico – como fatores de complexidade relativos ao contexto, pois requerem maior planejamento para execução (figura 5).
Figura 5. Fatores determinantes da complexidade do projeto, segundo Vidal e Marle (2008), adaptados para edifícios de assistência à saúde (obras de intervenção). Fonte: Caixeta e Fabricio (2011).
3.3
PROCESSO DE PROJETO
No que se refere à garantia de qualidade dos edifícios, o processo de projeto possui um papel essencial. Diversos estudos apontam que a falta de qualidade no processo de projeto pode gerar uma série de problemas para a edificação e ser responsável pela sua baixa qualidade e atrasos durante sua construção (BIBBY; BOUCHLAGHEM; AUSTIN, 2002; ROMANO, 2006). Segundo Korkmaz et al. (2010), decisões imprecisas são tomadas pela falta de orientação do processo de projeto, fazendo com que em novos projetos se repitam erros anteriores, que geram desperdícios com retrabalho desnecessário em projeto, alterações caras e edifícios ineficientes.O processo de projeto, segundo diversos autores citados por Romano (2003), permeia ou deve permear todo o processo desenvolvimento do produto – PDP23, desde o
planejamento até o uso, para permitir a retroalimentação do sistema a partir da obra, da avaliação pós‐ocupação e da análise financeira do empreendimento. 23Neste trabalho, o PDP tem como produto a edificação de saúde. Segundo (Rozenfeld et al., 2006), o PDP “[...] é o processo de negócio, isto é, o conjunto de atividades capaz de transformar informações tecnológicas e de mercado em produtos/serviços [...] por meio da criação de bens e informações para produção, acompanhamento e retirada de um produto do mercado. ”
É necessário diferenciar obras novas de intervenções em edifícios de assistência à saúde, devido a algumas diferenças importantes levantadas por Caixeta e Fabricio (2013), que afetam o processo de projeto:
Enquanto a obra nova se inicia num terreno vazio, em intervenções é necessário investigar a edificação existente, com suas barreiras, restrições e valores;
A macrofase de levantamento se refere a legislações incidentes sobre o projeto e, no caso de obras novas, aos dados relativos ao terreno onde a edificação será implantada e seu entorno. Já em intervenções, é necessário levantar ainda os dados referentes ao edifício existente;
Em intervenções, existem usuários com conhecimento do edifício, que podem fornecer informações valiosas para os projetistas sobre o funcionamento do mesmo; As obras de intervenções não podem interromper o atendimento à saúde, o que implica em planejamento adicional para evitar contaminações da obra em setores críticos – como UTI ou centro cirúrgico – ou interrupções no seu fornecimento de eletricidade, água, gases, entre outros;
No Brasil, nem sempre as obras de intervenções em edificações públicas se iniciam com recursos financeiros suficientes para sua conclusão. Faz‐se necessário, portanto, que o planejamento permita a menor interferência no uso possível durante a intervenção, para evitar que os recursos acabem e o setor se torne inoperante.
De acordo com Roders (2007), novas informações podem ser descobertas durante a obra intervenção, e isto pode requerer desde pequenas alterações no projeto até novas aprovações legais. Como estas alterações não são geradas por falhas no projeto, podem significar remunerações extras para a equipe.
Em projetos para edificações complexas, o planejamento e organização do processo de projeto é um aspecto de grande importância, tanto no que se refere à área de arquitetura como de engenharia (VAN AKEN, 2005). Segundo Kagioglou et al. (2000), um modelo genérico de processo pode facilitar a gestão de equipes fragmentadas na indústria da construção e melhorar a comunicação entre seus agentes, contribuindo assim para uma mudança cultural neste campo.
Modelos de Projeto são as representações de filosofias ou estratégias propostas para mostrar como o projeto é e pode ser feito. Geralmente, são desenhados como diagramas de fluxos, mostrando a natureza iterativa do processo de projeto por uma corrente de retroalimentação (EVBUONWAN; SIVALOGANATHAN; JEBB, 1996, p.305).
O modelo mostra o mapeamento das ações dos projetistas do início ao fim do processo, que o levam à solução desejada (TREBILCOCK, 2009). Roozenburg e Cross (1991) apresentam sumariamente e discutem a evolução dos modelos de processo de projeto em arquitetura, com suas origens nas críticas a modelos de processo de projeto em engenharia. Estes autores acreditam que exista um ‘modelo consensual’ em projetos de engenharia, com variações muito sutis apresentadas por diferentes autores. Segundo este modelo consensual, o processo de projeto em engenharia é composto por quatro fases, que agrupam uma sequência de atividades. Estas fases são: esclarecimento da tarefa; projeto conceitual; desenvolvimento do projeto e projeto detalhado. Este modelo considera que, para abranger o maior número de soluções possíveis, o projeto deve partir do geral e abstrato para o particular e concreto. Além disto, para solucionar problemas complexos, estes devem ser divididos em ‘subproblemas’, com sub‐soluções mais acessíveis, cuja ‘sintetização’ traz uma solução geral para o problema de projeto (ROOZENBURG; CROSS, 1991).
Nesta linha, Geoffrey Broadbent e Christopher Alexander, delinearam o processo de projeto como um mapa generalizado, indicando a sequência de atividades em ‘análise, síntese e avaliação’ (TREBILCOCK, 2009). O modelo resultante, chamado de Análise/Síntese, tem influência em Bacon e Descartes e é composto por quatro etapas, conforme apresentado no quadro 7 (BAMFORD, 2002).
Quadro 7. O modelo A/S. Fonte: Broadbent (196624 apud BAMFORD, 2002) e Jones
(197025 apud BAMFORD, 2002)