ANEXO V. R ESPOSTAS DAS A VALIAÇÕES DO M ODELO 234
Figura 60 Painel instalado na circulação para informar usuários sobre a intervenção que
ocorrerá no complexo do HCPA. Foto: autora. Figura 61. Painel instalado na circulação para informar usuários sobre a intervenção que ocorrerá no complexo do HCPA. Foto: autora.
Um dos arquitetos entrevistados defende que o envolvimento do usuário é muito importante durante as fases iniciais até a definição do projeto. Após esta etapa, quanto menos o usuário interferir é melhor.
Foi realizada uma licitação para desenvolvimento do projeto executivo, que levou à contratação de um consórcio formado por outras empresas de projeto, distintas da Bross. Atualmente, a obra está sendo realizada, e tem previsão de conclusão para novembro de 2017.
6.1.5 Análise Intra‐Caso – EC‐1
Os resultados do estudo de caso denotam o papel importante dos usuários de edifícios de assistência à saúde no desenho das atividades e fluxos para o projeto dos serviços, o que está de acordo com a revisão bibliográfica. Deste modo, pode‐se dizer que o envolvimento dos usuários pode ser benéfico e trazer melhorias para a eficiência operacional dos edifícios, uma vez que o projeto dos serviços pode ser beneficiado pela experiência dos usuários, por viabilizar o ajuste do edifício ao melhor modo de realização das atividades de atendimento à saúde. Por outro lado, o projeto do edifício propriamente dito requer conhecimentos específicos nas disciplinas relacionadas às áreas de arquitetura e engenharia, e sua linguagem tem caráter técnico. Muitas vezes, os usuários não estão acostumados a esta linguagem e às questões que envolvem o projeto, o que dificulta o envolvimento.
Em relação ao tipo de usuário que deve ser envolvido, o EC‐1 ressalta a importância de envolver indivíduos que trabalham no edifício de saúde, para aumentar a eficiência operacional, reduzir desperdícios e atender aos requisitos destes usuários. Pela sua experiência no setor, a Empresa acredita que os benefícios do envolvimento da equipe interna do edifício de saúde sejam mais garantidos, porque ela possui conhecimento e experiência sobre a operação do edifício e a cadeia de suprimentos. No entanto, a empresa defende que é mais difícil alcançar benefícios reais com o envolvimento de usuários externos, como pacientes e visitantes, tanto pela grande quantidade e variedade de perfis destes usuários como pelo fato da maior parte deles não permanecer no edifício por tempo suficiente para trazer contribuições importantes para o processo.
Ressalta‐se também a importância do envolvimento da presidência do edifício de saúde no processo de projeto, como observado neste EC. O presidente do HCPA foi o coordenador dos usuários e foi envolvido efetivamente no processo. Segundo Rabner (2012), apesar de em muitos casos o presidente do hospital delegar o acompanhamento do projeto a
terceiros, ele é quem possui qualificações ‘excepcionais’ para gerenciar a disputa entre as forças políticas e as necessidades organizacionais e conduzir o projeto de forma a refletir as estratégias, os valores e os objetivos operacionais da organização da melhor maneira possível.
Considera‐se muito importante que os profissionais de projeto conheçam os processos de realização de serviços, ou seja, quais são as atividades realizadas desde o momento em que o paciente entra no edifício de saúde até o momento que deixa a edificação. Isto permite o alinhamento entre o projeto do espaço físico e o projeto dos serviços. Também permite detectar gargalos e configurações que trazem desperdício de tempo, para redesenhar a cadeia de suprimentos do edifício de saúde, propondo melhorias nos serviços por meio de fluxos estruturados mais adequadamente e da aproximação ou afastamento de setores, de acordo com as necessidades das atividades. Estas melhorias podem gerar valor para os usuários. Pelos dados levantados no EC‐1, o envolvimento dos usuários pode ser descrito pela figura 62. Os resultados sugerem um nível maior de envolvimento dos usuários no projeto dos serviços e menor no projeto da edificação propriamente dita. Figura 62. Fases do envolvimento dos usuários ao longo do processo de projeto de intervenção e ampliação do HCPA. Fonte: Elaborada pela autora.
Há certa sobreposição de fases, uma vez que o mapeamento da cadeia de suprimentos ocorreu, em parte, paralelamente ao levantamento do espaço físico. O envolvimento dos usuários se inicia no mapeamento da cadeia de suprimentos, no nível informativo, uma vez que os usuários fornecem as informações necessárias para que os profissionais de projeto realizem este mapeamento. Não há dados disponíveis sobre o número de usuários envolvidos nesta fase, mas sabe‐se que todos os setores forneceram as informações necessárias.
A fase seguinte foi o acolhimento das demandas e contribuições. Nesta fase foram levantados os requisitos norteadores do projeto. Os dados levantados indicam que todos os funcionários do hospital receberam os formulários para expressarem suas opiniões e demandas, mas não há registros de quantos responderam ao questionário, a informação disponível é apenas que foram “muitos”. Neste ponto, ressalta‐se a importância do coordenador da equipe de usuários para resolver os requisitos conflitantes e determinar os mais importantes. No caso do EC‐1, este coordenador foi o presidente do HCPA.
Durante o desenvolvimento do programa operacional, houve o envolvimento dos usuários em nível de co‐design. Os representantes dos usuários participaram das reuniões de projeto junto aos representantes dos arquitetos. Não há registro do número exato de representantes dos usuários que participaram, a Empresa apenas informa que foram no máximo cinco pessoas. Um número maior que este, segundo a empresa, inviabiliza o processo, pela dificuldade de coordenação.
Para viabilizar o co‐design, o instrumento utilizado foi o diagrama de bolhas. Na literatura, a definição encontrada para o diagrama de bolhas é a colocada a seguir. Um diagrama de bolha é uma técnica gráfica adotada pelos arquitetos para investigar o edifício como uma rede de elementos funcionais. Usualmente, espaços destinados às atividades previstas no programa são representados como bolhas, cujas medidas podem indicar a sua área e insinuar sua forma preterida. As diversas bolhas são conectadas por linhas que podem indicar propriedades como acessibilidade, conexão visual ou adjacência (VELOSO, 2014, p.115).
O uso de instrumentos para promover o co‐design foi ressaltado tanto na literatura como no estudo de caso, pois muitos usuários não estão preparados para trazer os resultados esperados pelo seu envolvimento no processo de projeto. Portanto, a grande barreira para o envolvimento efetivo, observada tanto na revisão bibliográfica quanto nas pesquisas de campo, é a linguagem. O diagrama de bolhas é um instrumento que permite que os usuários projetem, expressem suas ideias e entendam o que está sendo projetado pelos demais, devido à linguagem acessível, simplificada e que não demanda conhecimentos em desenho técnico.
Para Steen et al. (2007), a organização de equipes de trabalho multidisciplinares e conversas permitem que os usuários tenham voz no processo e que os arquitetos possam ser inspirados por eles. Caso contrário, o envolvimento de usuários não traz valor ao processo. De
acordo com o EC‐1, o treinamento prévio dos usuários, aliado a esforços para simplificar a representação do projeto, facilitam o envolvimento dos usuários no processo de projeto. O método utilizado pela empresa, que faz o mapeamento da cadeia de suprimentos e propõe um plano diretor com base num programa operacional, desenvolvido em conjunto com a equipe interna, resultou num projeto que atendeu as expectativas dos usuários, segundo o presidente do HCPA.
Outro ponto observado foi a importância de envolver os usuários para que eles entendessem e aceitassem certas limitações de projeto, aumentando a satisfação com o projeto resultante. Como exemplo, o presidente do HCPA ressaltou que os médicos professores tinham como requisito possuírem salas individuais dentro do HCPA. Entretanto, não havia espaço suficiente para isto, e foi necessário alocar apenas uma sala coletiva de professores. Como os usuários co‐projetaram a intervenção e ampliação, eles entenderam e aceitaram a situação final. Segundo Fenker (2012), o aprendizado adquirido pelos usuários envolvidos ao longo do processo de projeto, faz com que o espaço tenha significado para eles e os ajuda a se apropriar deste espaço, pois entendem o porquê de cada decisão.
[...] é o artefato no processo de projeto que implica o envolvimento do cliente e usuário para se tornar um objeto ou espaço de trabalho útil e significativo. O objeto e sua utilidade para o usuário não é a manifestação de uma estrutura atemporal. É o produto de um processo contínuo de construção de significado que inclui a variedade de conhecimentos disponíveis através das partes envolvidas. O curso deste processo, que se iniciou muito antes da entrega do projeto, necessita de constantes correções de acordo com as mudanças das situações de uso (FENKER, 2012, p.240).