ANEXO V. R ESPOSTAS DAS A VALIAÇÕES DO M ODELO 234
AUTORES NÍVEIS DE ENVOLVIMENTO DOS USUÁRIOS
4.2.1 Justificativa e Benefícios do Co‐design
Central para toda a noção de ‘participação do usuário’ é o direito das pessoas a ter uma influência direta sobre assuntos que lhes digam respeito, em seu trabalho (CLEMENT; VAN DEN BESSELAAR, 1993, p.36).
Esta seção inicia‐se apresentando benefícios e justificativas gerais extraídas de textos que abordam o projeto participativo, mas que são aplicáveis também ao co‐design. Na sequência, abordam‐se questões específicas ao co‐design.
No projeto e desenvolvimento de outros produtos – não edifícios – já é comum o emprego de processos orientados ao cliente, pois o diálogo durante o processo criativo ajuda a determinar o máximo de diretrizes possíveis antes de se iniciar a produção (SVETOFT, 2006). No contexto do processo de projeto, a participação dos usuários ajuda a detectar suas reais necessidades, expectativas e preferências, que estão em constante evolução, e também corrobora para garantir alta qualidade no desempenho das edificações no futuro (STERN et al., 2003; STEEN; KUIJT‐EVERS; KLOK, 2007; SFANDYARIFARD; TZORTZOPOULOS, 2011). Outro aspecto que justifica a participação dos usuários é sua contribuição para legitimar as decisões tomadas durante o processo de projeto, podendo evitar, desta fora, discordâncias em relação aos resultados do projeto (OLSSON et al., 2010).
Vários autores discorrem sobre fatores que justificam a busca por participação dos usuários, destacando os benefícios que esta prática pode trazer. Johnson (1979) acredita que o arquiteto pode propiciar um processo de trabalho conjunto com o usuário e gerar uma situação de aprendizagem mútua, onde o arquiteto pode se inteirar das necessidades, aspirações e problemas vivenciados pela comunidade. Por sua vez, a comunidade pode aprender a utilizar melhor os recursos disponíveis, e a buscar uma gama maior de soluções para seus problemas particulares, através de uma visão ampliada dos mesmos.
A abordagem participativa também é eficaz, segundo Baek e Lee (2008), quando os usuários são crianças, uma vez que permite que os projetistas lidem com as habilidades imaturas de linguagem e timidez destes usuários, por olhar para o problema a partir do ponto de vista da criança. Diversos benefícios para o processo de projeto, descritos nas áreas de tecnologia de informação e desenvolvimento de serviços, se aplicam à área de arquitetura, e podem ser aqui citados. Damodaran (1996) elenca alguns destes benefícios, esperados pela participação dos usuários: Melhoria da qualidade do produto, por proporcionar um maior conhecimento dos reais requisitos dos usuários; Prevenção de inclusão de itens dispendiosos, que os usuários não podem utilizar ou simplesmente não requerem; Melhoria nos níveis de aceitação; Maior entendimento do sistema pelos usuários, resultando no uso mais efetivo.
Barreto (2005, p.20) discorre sobre a importância da participação dos usuários no campo específico de arquitetura e urbanismo:
O que é aparente desde as críticas ao modernismo da Carta de Atenas e da obra dos grandes mestres da arquitetura até a metade do século 20 é que o arquiteto isolado não detém todas as informações necessárias ao projeto de arquitetura e de urbanismo e que a promoção da qualidade ambiental ocorre através de processos sociais mais amplos, que não se restringem ao projeto de arquitetura e urbanismo, mas que devem contar com sua participação. Dessa forma, a participação do usuário envolve desenvolvimentos que, num certo sentido, enriquecem e renovam a própria disciplina do projeto.
Quando as informações certas chegam às pessoas certas no tempo certo, o projeto tem sucesso (KAGIOGLOU et al., 2000). Segundo estes autores, há tempos a indústria reconhece a importância de equipes multidisciplinares no processo de desenvolvimento de produtos, cujas decisões tomadas em conjunto nas fases iniciais reduzem a probabilidade de dificuldades na produção e alterações onerosas nas fases posteriores. Semelhantemente, na construção de edifícios, o envolvimento ativo dos participantes pode facilitar a comunicação e permitir que a tomada de decisões seja apropriada e no tempo certo, principalmente se este envolvimento se der nas primeiras fases do processo de projeto (KAGIOGLOU et al., 2000). Segundo Arias et al. (2000), em projetos complexos, há um requisito de conhecimento que geralmente está distribuído entre os diversos stakeholders, pois é maior do que uma única pessoa pode possuir. Neste sentido, o processo de projeto de edifícios de assistência à saúde, por sua complexidade já abordada, pressupõe uma equipe multidisciplinar de profissionais para a etapa de projeto, e o co‐design inclui, nesta equipe, o usuário como ‘especialista de suas experiências’ (SLEESWIJK VISSER et al. 2005), podendo facilitar ainda mais a identificação apropriada de seus requisitos.
Steen, Manschot e De Koning (2011) apresentam um quadro resumindo os benefícios específicos do co‐design para projetos de serviços, a partir de três estudos de caso e revisão bibliográfica. Os benefícios foram categorizados em relação ao projeto de serviços, aos consumidores e usuários e à organização (Quadro 23).
Quando o projeto do edifício está atrelado a um processo de mudança organizacional da empresa ou instituição que abriga, torna‐se ainda mais importante envolver os usuários (LAHTINEN et al., 2014). Em edifícios de assistência à saúde, podem ser destacadas duas
vantagens em utilizar a abordagem do co‐design para envolver a equipe interna no redesenho dos serviços: por um lado, incluir no projeto a valiosa experiência que possuem no cuidado diário e, por outro, aumentar o comprometimento da equipe na criação de uma nova situação de trabalho (DAVIES, 2004; GARDE; VAN DER VOORT, 2012).
Por fim, o co‐design permite ajustar o projeto para o contexto específico do projeto em questão. A ideia de um edifício de saúde genérico é uma abstração, uma vez que cada edifício de saúde tem seu próprio espaço físico, pacientes, equipes de funcionários e financiadores (RISSE, 1999). Portanto, cada edifício requer uma visão única para orientar sua construção (BROMLEY, 2012). Quadro 23. Benefícios do co‐design no projeto de serviços. Fonte: Steen et al. (2011). Benefícios para o projeto de serviços Benefícios para os consumidores e usuários dos serviços Benefícios para a organização Melhoria na ge raç ão de id e ias
Ideias com maior
originalidade e valor para o usuário;
Melhor conhecimento das necessidades dos clientes e usuários (mudando visões existentes ou validando conceitos);
Melhor geração de ideias.
Melhoria na criatividade; Melhoria do foco em clientes e usuários e, por ex., melhor disseminação dos dados sobre as necessidades dos clientes e usuários;
Melhor cooperação entre diferentes pessoas e organizações, e entre as disciplinas.
Melhoria
no
s
serviços
Maiordos serviços; qualidade da definição
Inovações mais bem‐
sucedidas, (redução do risco de falha do produto).
Melhor ajuste entre serviço e necessidades dos clientes e usuários, e melhor experiência nos serviços; Maior qualidade nos serviços; Serviços mais diferenciados. Melhoria na ge st ão do proj eto Melhor tomada de decisões;
Custos de desenvolvimento menores;
Redução do tempo de
desenvolvimento; Melhorias contínuas. Melhoria no s efeitos em longo prazo
Maior satisfação dos clientes ou usuários;
Maior fidelidade dos clientes ou usuários;
Educação dos usuários.
Inovações bem‐sucedidas; Melhoria nas inovações; Maior apoio e entusiasmo para inovações e mudanças; Melhores relações entre provedor de serviços e usuários;