KAHN DO BRASIL E PROJETO PARA CONSTRUÇÃO DA CLÍNICA BAUM, DE SANTA C ATARINA
7.2 NÍVEIS DE ENVOLVIMENTO X FASES DO PROCESSO DE PROJETO
Com base nos resultados da revisão bibliográfica e das pesquisas de campo, já mostrados, levantou‐se que o envolvimento efetivo dos usuários é fundamental no início do processo de projeto, quando as decisões que orientarão todo o processo são tomadas, e, segundo Watch, (2001) e Antunes e Calmon (2005), influenciarão definitivamente as etapas seguintes do ciclo de vida da edificação. Além disto, ao fim da fase de projeto conceitual – estudo preliminar – a maior parte dos custos do empreendimento já está comprometida (HICKS et al., 2015).
Ampliando esta discussão para atender ao objetivo específico de se estudar qual nível de envolvimento seria adequado ao longo do processo de projeto, esta seção apresenta a proposta de envolvimento para cada fase deste processo. A ilustração básica parte do texto de Kaulio (1998), que apresenta uma estrutura para analisar algumas abordagens de envolvimento de usuários, identificando‐as num gráfico onde o eixo horizontal se refere às fases do processo de projeto em que são empregadas – ‘especificação’, ‘projeto conceitual’, ‘projeto detalhado’, ‘prototipagem’ e ‘produto final’ – enquanto o eixo vertical registra o nível de envolvimento – ‘projeto para’, ‘projeto com’ e ‘projeto por’ usuários (Figura 70). Figura 70. Estrutura para análise de métodos de envolvimento de usuários em desenvolvimento de produtos. Fonte: Kaulio (1998). Propõe‐se, então, uma estrutura similar para indicar o nível de envolvimento adequado para cada fase do processo de projeto, com base nos resultados obtidos através da revisão bibliográfica e das pesquisas de campo (Gráfico 8). Esta estrutura tem como eixo horizontal, portanto, as macrofases e fases do processo de projeto, definidas na seção 3.5, e como eixo vertical os níveis de envolvimento aqui adotados, mostrados na seção 7.1.3.
Gráfico 8. Nível de envolvimento dos usuários ao longo do processo de projeto de edifícios de assistência à saúde. Fonte: Elaborado pela autora.
Na macrofase de pré‐desenvolvimento, ocorrem os levantamentos. Como a atividade dos projetistas, nestas fases, se restringe a levantamento e registro dos dados, não há tomada de decisões, e, portanto, os usuários podem contribuir apenas fornecendo informações para os projetistas. Considera‐se como nível de envolvimento adequado, portanto, o informativo.
Na análise de tendências e de mercado, a participação conjunta de profissionais de projeto e dirigentes EASs é importante, para se garantir o fluxo de informações da área necessárias e o conhecimento técnico em projeto, essenciais para estas análises. O nível de envolvimento dos usuários adequado para esta fase, portanto, é o co‐design.
Na fase de desenvolvimento do Programa Operacional, em que se esboça o projeto dos serviços, o nível de envolvimento adequado é o co‐design, tanto pela contribuição valiosa do conhecimento dos usuários, como para legitimar as decisões tomadas, que impactarão diretamente as atividades diárias da equipe interna.
A fase seguinte é a determinação do programa físico. Novamente, o nível de envolvimento considerado adequado para esta fase é o co‐design, dada a necessidade de a equipe interna ter voz ativa no dimensionamento da edificação.
Na sequência, a fase é a de estudo de viabilidade econômica. Segundo dados levantados no EC‐1, este estudo é realizado, em geral, por consultores externos. Os profissionais de projeto e a direção do empreendimento de saúde fornecem os dados necessários para a realização do estudo. Neste sentido, os usuários seriam informativos. No entanto, os dados levantados no EC‐1 mostram que, caso os resultados apontem a inviabilidade do empreendimento, podem ser feitas alterações no planejamento, requerendo atuação integrada de membros do empreendimento, profissionais de projeto e outros profissionais consultores, com o intuito de viabilizar o empreendimento. Podem ser realizadas simulações tanto com alteração de valores do terreno, construção e equipamentos, para reduzir investimentos, quanto através da busca por outras fontes de captação de recursos, para ampliar receitas (BROSS, 2010). Assim, o nível de envolvimento adequado é o co‐design, pois estas simulações podem impactar a configuração do edifício, em termos de operação e espaço físico.
Em caso de obras de intervenção, a fase seguinte é a de determinação da estratégia de intervenção. O que se defende aqui é o nível participativo, pois os usuários podem influenciar decisões sobre quais setores são críticos para as atividades específicas do edifício de saúde em questão, mas a decisão final sobre a estratégia cabe aos profissionais de projeto, por possuírem conhecimentos técnicos necessários para planejar a obra.
Pelo modelo do processo de projeto aqui considerado, a macrofase de desenvolvimento se inicia pelo plano diretor do espaço físico do empreendimento. Para tanto, faz‐se necessário, novamente, a atuação conjunta de profissionais de projeto e membros da organização provedora dos serviços de saúde, para que a soma de seus conhecimentos possa resultar num plano diretor físico viável. O nível de envolvimento adequado, portanto, é o co‐ design.
No estudo preliminar (de arquitetura), o que se propõe é que os profissionais de projeto utilizem instrumentos para viabilizar o co‐design como nível de envolvimento adequado durante a produção do estudo preliminar. Entretanto, a representação final do estudo preliminar deverá permanecer a cargo dos profissionais de projeto, por se tratar de desenho técnico, que requer conhecimentos específicos de arquitetura, o que dificulta a participação dos usuários.
Já o anteprojeto (de arquitetura) é uma fase que requer a atuação de arquitetos, em que os usuários pouco podem contribuir, segundo a pesquisa. O nível de envolvimento adequado aqui proposto é o consultivo, para que os usuários possam aprovar decisões que forem necessárias, ou escolher entre alternativas possíveis, quando for o caso.
Pode‐se dizer que as definições que pressupõem envolvimento dos usuários são tomadas até este momento do processo de projeto e, nas demais fases de projeto – desenvolvimento de projetos básico, legal, complementares e executivos – as decisões são de caráter técnico construtivo e ficam a cargo dos profissionais de projeto, pois estas fases contemplam a preparação dos desenhos para aprovação junto aos órgãos competentes e para construção. Se forem necessárias alterações na concepção do espaço físico, geralmente é necessário que o projeto retorne a fases anteriores, em que os usuários podem compartilhar decisões. Mediante o exposto, o nível de envolvimento considerado adequado para estas fases é o informativo, para que os usuários possam estar a par da evolução do processo de projeto.
Após o início da obra, as fases são acompanhamento da construção e da montagem dos equipamentos. O nível proposto como adequado é o consultivo, pois nesta fase, muitas vezes surgem situações que pressupõem intervenção dos profissionais de projeto, e estes podem consultar os usuários sobre suas preferências dentre as soluções possíveis.
Após a entrega da obra, na macrofase de pós‐desenvolvimento, as fases são de avaliação de desempenho e acompanhamento da manutenção. Na avaliação de desempenho, os usuários são envolvidos como informantes, pois a avaliação exige conhecimentos técnicos específicos, com coleta de informações junto aos usuários.
O acompanhamento da manutenção por profissionais de projeto com conhecimento da edificação é importante para garantir a qualidade da manutenção. O nível considerado
adequado para o envolvimento do usuário é o consultivo, uma vez que podem ser necessárias decisões sobre determinadas ações de manutenção, que envolvem recursos físicos e podem gerar interferências nas atividades. Neste caso, a organização responsável pelo EAS deve ser consultada sobre as opções de que dispõe.