ANEXO V. R ESPOSTAS DAS A VALIAÇÕES DO M ODELO 234
AUTORES NÍVEIS DE ENVOLVIMENTO DOS USUÁRIOS
4.1.2 Tipos de Usuários em projetos de Edifícios
Quando se fala em envolvimento de usuários, White (1996) destaca a importância de se questionar quem são os usuários, dando a dimensão de que estes não formam um grupo homogêneo. O termo usuário é amplo e complexo, e abrange muitos grupos distintos, com valores e necessidades diversas e muitas vezes conflitantes, embora possa aparentar se referir a uma única pessoa ou um grupo bem definido de pessoas (BERTELSEN; EMMITT, 2005; JENSEN, 2006; OLSSON; BLAKSTAD; HANSEN, 2010; JENSEN, 2011).
Para abordar a questão de usuários de edifícios, dentro do contexto do processo de projeto, é importante também definir os termos ‘cliente’ e ‘stakeholder’. As organizações ou os indivíduos que encomendam uma obra de infraestrutura ou um edifício são denominados clientes (DE BLOIS et al., 2011). Estes autores identificam diferentes tipos de clientes da construção, por meio de revisão bibliográfica, de acordo com sua origem, perfil e experiência, conforme resume o quadro 20.
Quadro 20. Tipos de clientes da construção civil, segundo origem, perfil ou experiência em construção. Fonte: revisão bibliográfica apresentada por De Blois et al.
(2011).
CRITÉRIO ORIGEM PERFIL
(Razão para demandar um edifício) EXPERIÊNCIA EM CONSTRUÇÃO Tipos de cliente ‐ Cliente individual ‐ Cliente corporativo ‐ Cliente público ‐ Cliente Primário
(investidor, que constrói para venda, aluguel, etc.)
‐ Cliente Secundário
(utiliza o edifício para realizar
suas atividades)
‐ Cliente experiente ‐ Cliente inexperiente
Para Newcombe (2003), o surgimento do conceito de ‘stakeholder’ amplia o escopo da definição de cliente, uma vez que passa a considerar também, por exemplo, os usuários do serviço. O termo ‘stakeholder’ pode ser traduzido livremente como ‘interveniente’. Segundo o Project Management Institute – PMI (2000, p.16), stakeholders
[...] são indivíduos ou organizações que estão ativamente envolvidas no projeto, ou cujos interesses podem ser positiva ou negativamente afetados pelo resultado da execução do projeto ou de sua conclusão; também podem exercer influência sobre o projeto e seus resultados. Wilcox (1994) lista exemplos de sakeholders como os que se beneficiam das propostas, os que são negativamente afetados, os que decidem, os que podem ajudar ou dificultar as propostas e os que possuem habilidades, dinheiro ou outros recursos envolvidos. De acordo com Olsson, Blakstad e Hansen (2010), usuários são stakeholders. Estes autores estudaram diversos projetos de edifícios na Noruega, juntamente com revisões bibliográficas internacionais sobre o assunto, para mapear as categorias de usuários ao longo das etapas do processo de projeto, iniciando pelo briefing, projeto, construção até durante a etapa de uso. Como resultado, levantaram diversos tipos de usuários baseando‐se numa abordagem de cadeia de suprimentos das atividades realizadas no edifício: olha‐se para os diferentes usuários em um número de passos desta cadeia, originando‐se no edifício em si (proprietários do edifício). Segue‐se, então, pelas atividades que ocorrem subsequentemente: operação do edifício, que tem como cliente a organização provedora do edifício, que por sua vez tem como cliente os usuários diretos do serviço. Estes, por fim, tem relação ou como clientes os usuários indiretos do serviço. A figura 20 ilustra as categorias de usuários ao longo desta cadeia de suprimentos.
Figura 20. Cadeia de suprimentos com as diferentes categorias de usuários de edifícios. Fonte: Olsson et al. (2010).
O quadro 21 descreve cada uma destas categorias e fornece exemplos, considerando um edifício de saúde.
Quadro 21. Categoria de usuários de um edifício, considerando exemplos de um serviço de saúde. Fonte: Olsson et al. (2010).
CATEGORIA DE USUÁRIO DESCRIÇÃO EXEMPLO
Proprietários do edifício Sofrem impactos em sua propriedade, embora nem sempre estejam envolvidos na operação
do edifício.
‐‐‐
Gerente de operações e equipe de serviços
‘Operam o edifício’ (gerenciam a edificação, realizam manutenções, entre outros), na ‘esfera de suprimentos’, agindo em função dos demais usuários, que estão geralmente na esfera da ‘demanda’.
Equipes de
manutenção, de
limpeza, etc.
Organização Provedora do Serviço Gerente: responsáveis pela administração da organização provedora. Gerência do EAS.
Empregados: proveem os serviços. Médicos e Enfermeiros.
Usuários diretos do Serviço Beneficiam‐se dos serviços fornecidos pelo grupo anterior. Pacientes.
Usuários indiretos do Serviço Possuem relação com os usuários diretos. Familiares de pacientes.
Hyett e Jenner (200837 apud COLLINGE, 2012) dividem os usuários de edifícios de assistência à
saúde em três grupos: pacientes, visitantes e equipe interna. Destes, o grupo que permanece mais tempo na edificação é a equipe interna (BECKER; POE JR., 1980), e muitas vezes está mais familiarizada com a edificação e seu funcionamento. Comparada à classificação proposta por Olsson et al.(2010), temos:
37 HYETT, P., JENNER, J. Rebuilding Britain’s Health Service. In: PRASAD, S. (ed) Changing Hospital Architecture”. London: RIBA Enterprises Limited, 2008.
Quadro 22. Comparação entre as classificações dos usuários propostas por Hyett e Jenner e Olsson et al. Fonte: Elaborado pela autora.
Autores Hyett e Jenner (2008) Olsson et al.(2010)
Tip o s de us uários (Edifícios de assis tênc ia à s aúde)
Equipe Interna Proprietários do edifício
Gerente de operações e equipe de serviços Organização Provedora do Serviço
Pacientes Usuários diretos do Serviço
Visitantes Usuários indiretos do Serviço
Considerando a bibliografia pesquisada, adota‐se para o presente trabalho a classificação apresentada por Olsson et al. (2010), por se considerar a que se adéqua ao perfil dos edifícios de assistência à saúde com mais precisão, e com detalhamento considerado adequado para esta pesquisa.
4.2
CO‐
DESIGNEsta seção apresenta a revisão bibliográfica específica sobre co‐design, aprofundando a exposição e discussão das suas principais características e peculiaridades. Inicia‐se com a apresentação das razões que justificam o emprego do co‐design, ou seja, os benefícios que este pode trazer para a eficiência operacional dos serviços do edifício de saúde. Em seguida, abordam‐se os desafios de sua implantação, em termos de processo de projeto. Apresentam‐ se então as questões relativas à seleção dos usuários para o co‐design e, por fim, são elencados métodos e instrumentos utilizados. O objetivo desta seção é aprofundar os conhecimentos específicos sobre co‐design, para embasar as pesquisas de campo e as demais etapas deste trabalho.