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4 ESCOLHAS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.5 Abordagem de campo

Tendo como base que o método que guiará grande parte da pesquisa consiste na entrevista semi-estruturada com empregados dos CSC e a observação direta de suas atividades rotineiras, algumas considerações devem ser feitas. As entrevistas realizadas foram transcritas para posterior análise, havendo interpretação indutiva dos transcritos das entrevistas por meio da análise de conteúdo. Pretendeu-se realizar uma interpretação direta do conteúdo das entrevistas para contextualização e compreensão das atividades do CSC, tal como para compreender as percepções dos analistas e dos executivos sobre as atividades de gestão de pessoas adotadas nos CSCs, utilizando-se a agregação categórica. Os roteiros dessas entrevistas, de caráter semi-estruturado, podem ser encontrados nos apêndices A e B desse trabalho.

Bernard e Ryan (1998) diferenciam as tradições de estudos e pesquisas sobre os textos (o que vale para as transcrições de entrevistas e dados de campo). Para eles, existe por um lado a tradição lingüística de estudo em que o texto é tratado como o próprio objeto de análise

e existe uma segunda vertente relacionada à tradição sociológica de análise de texto trata-o como uma janela para as experiências humanas. Essa segunda a qual será a abordagem do presente estudo. Ou seja, como já mencionado, as entrevistas obtidas por meio da coleta de dados de campo foram analisadas pela técnica de análise de conteúdo em que as respostas transcritas são consideradas resultados de experiências humanas e sociais. Trata-se de uma técnica adequada aos objetivos do estudo porque a análise de conteúdo é importante para que se consigam reunir os dados descritivos das poucas (ou únicas) experiências abordadas (JAUCH; OSBORN; MARTIN, 1980). A análise de conteúdo está presente em estudos de amostras pequenas e quando os dados estão pouco estruturados (POZZEBON; FREITAS; PETRINI, 1997) e estão em menor quantidade para análise. Como o presente estudo se foca na análise em profundidade de poucos (quatro) casos, a análise de conteúdo se torna viável e adequada.

Adicionalmente, conforme expõe Vergara (2008), a análise com enfoque no conteúdo pode ter cunho quantitativo, qualitativo ou ser uma mistura de ambos, já que estas não são excludentes. É qualitativo quando seu foco está nas peculiaridades ou, ainda, nas relações dos elementos contidos do documento. É quantitativo quando privilegia as freqüências de determinados termos ou palavras-chave. O presente estudo realizou uma análise qualitativa do conteúdo das transcrições, de forma a captar opiniões e percepções dos entrevistados, sejam eles dos analistas operacionais ou dos gestores dos CSCs.

Já a observação sobre o cotidiano das organizações foi também uma forma de coletar os dados, mesmo dentro das restrições das empresas participantes sobre as visitas do pesquisador e dos cuidados específicos requeridos por esse método de coleta de dados. Dessa forma, cabe aqui detalhar que todas as empresas participantes da pesquisa tiveram uma visita prévia para conhecimento da empresa e para uma primeira reunião com o gestor, em que o pesquisador apresentou a pesquisa e solicitou permissão para sua realização.

Lembrando que a observação que é realizada pelo quê o pesquisador olha e escuta (GILLHAM, 2000), não se limita a simplesmente captar acontecimentos, mas também, em se compreender a cultura e o modo de agir institucionalizado na organização. Por isso ela será feita de forma em que a inserção e participação do pesquisador na realidade organizacional seja a mínima possível. Ou seja, em teoria, a inserção do pesquisador no campo não deve ocorrer a ponto de que ele interfira no andamento natural dos fenômenos observados, devendo assim manter um distanciamento entre pesquisador e objeto de estudo (ELIAS, 1990) suficiente para a compreensão do fenômeno por si só. Não é intenção deste estudo propor uma pesquisa construcionista para análise da realidade. A intenção é identificar essa realidade

dentro de uma perspectiva fenomenológica, tal como defende Husserl (1999), em que a realidade observada é aquela que o pesquisador observa e julga ser verdadeira através de suas percepções, mindset e valores.

Diante disso, é importante reforçar que apesar dessa perspectiva poder ser considerada uma abordagem positivista da pesquisa qualitativa, tal como é defendido por Silverman (2009), deve-se ter em mente que não existe um extremo positivista porque se sabe que a interação entre pesquisador e pesquisado geram resultados sociais por natureza. Por isso, a idéia é que, dado que existe o resultado dessa interação entre pesquisador e objeto, tentar-se-á interagir o mínimo possível com o pesquisado e o fenômeno pesquisado. Desta forma, a relação com os funcionários operacionais não se dará em forma de entrevistas, mas sim, de observação de seu cotidiano. Por isso, a inserção do pesquisador no campo deve existir de forma ponderada, de maneira que ele possa por um lado absorver o clima organizacional que permeia as relações sociais e os fenômenos existentes até o ponto que consegue compreender os valores e cultura que guiam as ações naquele contexto, mas sem interferir na realidade do fenômeno observado.

Eventualmente, quando necessário, poder-se-á abordar documentações formais para melhor compreender os fenômenos organizacionais de forma a complementar outra estratégia de coleta de dados. Isso vai de encontro com as definições de análise documental de Godoy (1995, p. 67), que diz: “a análise de documentos constitui-se numa valiosa técnica de abordagem de dados qualitativos, podendo também ser utilizada para complementar informações obtidas em outras fontes”. Tem-se nas ciências sociais e, portanto, na Administração, um contexto em que o mais usual é que as pesquisas documentais estejam acompanhadas por outros métodos geradores de dados, como a observação, as entrevistas ou discussões em grupo (RITCHIE; SPENCER, 1994). Portanto, informações coletadas a partir de documentos podem ser úteis para complementar a compreensão de atividades diárias do CSC.

Patton (2002) lista as formas mais tradicionais de documentos: materiais escritos dos registros da organização; memorandos e correspondências; publicações e notificações oficiais; diários pessoais, cartas, trabalhos artísticos, fotos e lembranças físicas; respostas escritas de questionários públicos. Entretanto, no contexto das organizações, grande parte das documentações segue padrões formais estabelecidos pelos profissionais de negócios. Isso indica que a maioria dos documentos organizacionais é focada em escritas, havendo mais documentos de teor escrito que de gravuras. Não obstante, a análise documental nas

organizações pode ser feita através de documentos eletrônicos ou documentos físicos pertencentes ao cotidiano das organizações (CASEY; WONG, 1990).

Portanto, a escolha pela triangulação de métodos se justifica porque diferentes métodos científicos não necessariamente se anulam ou são concorrentes, mas podem também ser complementares e, portanto, triangulados (JICK, 1979). Assim sendo, diante dessas estratégias a serem usadas em triangulação para confirmação e complementaridade na coleta de dados empíricos, foi desenvolvido um instrumento de pesquisa e alguns cuidados com o acesso ao campo foram estabelecidos. É fundamental que num estudo de caso se realize um protocolo com as atividades a serem realizadas e os procedimentos a serem adotados (CAMPOMAR, 1991).