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Gestão integrada do risco costeiro

ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR

As abordagens à participação da população têm evoluído ao longo dos tempos, de forma geral desde um aumento da sensibilização dos cidadãos, nos finais da década de 1960, passando pela integração das perspetivas locais no processo de planeamento, na década de 1970, e pelo desenvolvimento de técnicas que permitissem o reconhecimento devido do saber local, na década de 1980, até um aumento da utilização das formas de participação para alcançar o desenvolvimento sustentável, na década de 1990, e, mais recentemente, a consciencialização das suas limitações, seguida de uma visão positiva de aprendizagem com os erros e com os sucessos da participação realizada, com o objetivo de alcançar consensos (Reed, 2008).

De acordo com André, et al., (2006), “A participação pública pode ser definida como o envolvimento

de indivíduos e grupos que são positiva ou negativamente afectados por uma intervenção proposta (por exemplo, um projecto, um programa, um plano, uma política) sujeita a um processo de decisão ou que estão interessados na mesma.” (p.1).

Em Portugal, “…a questão da participação das populações nos processos de tomada de decisão e

concretização de medidas e políticas é considerada fundamental. Esta questão situa-se num contexto político e social no qual o efectivo exercício da cidadania é condição considerada essencial para conferir legitimidade aos decisores públicos e ao poder político, nas suas várias manifestações.”

(Figueiredo & Martins, 2001, p.145). Não obstante, e de acordo com Gonçalves (2000[a]), os processos de decisão têm falhado na integração do conhecimento científico e da participação pública de forma sistemática. “Na ausência de mecanismos institucionais capazes de assegurar uma

negociação continuada e interactiva entre a ciência, a política e o público, estes subsistemas têm mostrado um fraco grau de comunicação e interacção mútuas.” Gonçalves (2000[a], p.219). Também

de acordo com Figueiredo (2009), “…apesar do reconhecimento actual da integração das

perspectivas leigas e especialistas, existem dificuldades importantes que decorrem das tradicionais dicotomias entre estes dois universos e da adopção de uma estratégia de comunicação – por parte dos

ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR E PARTICIPADA DINÂMICAS DO USO E DA OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO ASPETOS BIOFÍSICOS ASPETOS SOCIAIS ASPETOS AMBIENTAIS ASPETOS ECONÓMICOS POPULAÇÃO EM GERAL

PROPRIETÁRIOS UTILIZADORES POLÍTICOS PLANEADORES

SETOR PRIVADO ASSOCIAÇÕES

experts e dos decisores políticos relativamente ao público em geral – que não o tem sido de facto.”

(p.21).

Jesus (1996) considera várias potencialidades decorrentes do envolvimento da população nos diversos estudos e planos, tais como, a possibilidade de se “…adquirir um conhecimento local mais

profundo que complementa o conhecimento técnico das equipas…” (p.45) permitindo também antever

as consequências da implementação de determinadas ações; a possibilidade de se “…entrar em

linha de conta com as reacções locais aos projectos […] nomeadamente, aos interesses contraditórios existentes entre grupos distintos…” (p.45), uma vez que o público não é uma “…entidade mítica uniforme. De facto, dentro do público, há grupos com interesses muito distintos, que entram em conflito entre si e, também, muitas vezes com a administração pública…” (p.45-46), sendo a participação

pública um meio de minimizar estes conflitos de interesses; a possibilidade de reduzir a resistência à mudança, à inovação e de “…contribuir para a compatibilização entre os objectivos de protecção

do ambiente e os objectivos de desenvolvimento socioeconómico.” (p.46).

Mas muitas são também as dificuldades apontadas pelo mesmo autor (1996), que considera que “…a primeira grande dificuldade é a falta de vontade de alterar decisões. No fundo, o que muitas

vezes se pretende com o processo de discussão pública não é ouvir as pessoas a apresentar alterações ao projecto de acordo com as informações que estão a ser transmitidas, mas sim legitimar o projecto apresentado e poder dizer-se, no fim, que foi sujeito a consulta pública conforme os relatórios confirmam.” (p.46), considerando este o grande problema da administração e, também, dos

promotores. Além disso, o que é trazido para a discussão são meros pormenores, uma vez que, nesta fase, as decisões de fundo já estão tomadas. Outras dificuldades apontadas, relacionadas com a administração, são a falta de meios financeiros e humanos e, também, “…o facto de a

participação pública, ao dar uma certa abertura e transparência aos processos de tomada de decisão, revelar fraquezas e conflitos entre sectores da Administração.” (p.47), tornando-a mais vulnerável a

críticas.

Por outro lado, e para além da divulgação dos momentos de participação pública nem sempre ser a mais adequada para a mobilização da população, existem dificuldades em motivar o público a participar, quer pelas características culturais, quer pela descrença no processo, quer pelo facto de os projetos ou planos serem apresentados como algo já consumado.

Ainda no contexto do que foi referido quanto às dificuldades inerentes ao sucesso dos processos de participação, Figueiredo & Martins (2001) referem, relativamente à participação no processo de constituição do Parque Arqueológico do Vale do Côa que, “Em princípio, interessaria participar a

todos os actores locais, sociais, económicos e políticos…” (p.155) mas, “…Na prática, observamos […] que a maior parte dos actores locais não tem sequer conhecimento dessa possibilidade de intervenção em momentos considerados chave do processo.” (p.155), salientando que, mesmo as

Juntas de Freguesia, desconhecem a forma como podem participar no processo, não sendo, pois, de estranhar que a população em geral não participe.

Martins & Albuquerque (2009) referem, associado ao ordenamento e à gestão territorial costeira, que Portugal “…ainda se encontra num processo de baixa adesão à participação pública, muitas

vezes por falta de adequação dos momentos de informação e de participação disponibilizados à população, como também por inércia da própria população.” (p.348).

Efetivamente, em Portugal, a participação pública tem-se resumido à disponibilização dos processos dos projetos em questão, em vários locais estratégicos, para recolha de sugestões por escrito, ou seja, o nível de participação é baixo. A habitual utilização de linguagem técnica não acessível a todos os possíveis interessados, bem como o baixo nível de divulgação dos processos em consulta, dos assuntos da consulta, e dos períodos da consulta, habitualmente curtos, a abertura do período da consulta apenas no final da elaboração dos projetos ou planos e, também, a enormidade dos volumes de papel disponíveis para consulta “…tornam estas formas institucionais

pouco eficazes e contribuem mesmo para reforçar o desinteresse e também o conformismo social em relação a eles.” (Figueiredo & Martins, 2001, p.156). Trata-se, portanto, tal como refere Barragán

Muñoz (2003), de uma participação meramente formal. Também Lima (2000[a]) considera que “Esta perspectiva que reconhece aos técnicos a propriedade da verdade e o dever de encontrar as

soluções mais correctas para uma população cientificamente iliterada e emocionalmente vulnerável dificilmente pode conceber os debates públicos com funções que ultrapassem a mera passagem de informação.” (p.104-105).

Mas, nos dias de hoje, começa finalmente a ser impensável o ordenamento e a gestão do território sem o envolvimento efetivo da população, até porque, de uma forma ou de outra, todos os instrumentos de ordenamento do território pretendem contribuir para um desenvolvimento sustentável. Refira-se que qualquer estratégia que vise contribuir para o desenvolvimento sustentável deve conquistar, logo numa fase inicial, o envolvimento ativo dos cidadãos. Partidário,

et al., (2007) referem que “A consideração da participação do público nos processos de planeamento ambiental e de sustentabilidade desde fases iniciais do processo, demonstra mais uma vez que tem uma razão de ser que deriva das mais-valias inegáveis que a participação dos vários agentes de uma comunidade têm na definição do futuro de um determinado território.” (p.6). Este envolvimento é

fundamental, quer pela facilidade em obter consensos, quer pelo enriquecimento que pode dar às propostas em desenvolvimento.

De acordo com International Association for Public Participation (2007), existem cinco níveis de participação pública – informação, consulta, envolvimento, colaboração e responsabilização – de acordo com o nível de envolvimento da população no processo, como se pode verificar na figura 5.20.

Nível crescente de participação do público no processo de tomada de decisão

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