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R ELEVÂNCIA DOS SIG PARA A G ESTÃO DE T ERRITÓRIOS C OSTEIROS

Gestão integrada do risco costeiro

COLABORAÇÃO •Desenvolver parcerias com o

5.8 R ELEVÂNCIA DOS SIG PARA A G ESTÃO DE T ERRITÓRIOS C OSTEIROS

A atratividade característica das zonas costeiras tem levado, como já foi referido, a uma sobre- utilização destas áreas. A excessiva presença de atividades e população, associada a uma infraestruturação e edificação desmedida, origina alterações nas funções ambientais do solo, por vezes sem retorno. Verifica-se, portanto, uma influência humana intensa nos processos de mudança global e, em particular, nas zonas costeiras. Esta coexistência Homem/ meio natural tem que ser devidamente gerida e assentar em regulamentações político-administrativas que visem o desenvolvimento sustentável do território costeiro.

Neste contexto, importa referir os sistemas de informação geográfica como uma ferramenta de análise e tratamento de dados, georeferenciáveis num espaço geográfico, que apresenta relevantes vantagens pela capacidade de armazenar e processar grandes quantidades de informação espacial e pela possibilidade de integrar diferentes tipos de informação, nomeadamente gráfica e alfanumérica.

Allen, et al., (1999) consideram que “…GIS has advantages over conventional methods in integrating

various data sources, performing spatial analysis, modeling spatial process, and mapping the results in land-use change studies.” (p.1). Os sistemas de informação geográfica são já utilizados nas diversas

áreas do planeamento do território, por esta facilidade de integrar distinta informação e por permitir análises espaciais eficientes. “La utilidad de los SIG ofrece un amplio espectro: para trabajar

con los usos de suelo, en la zonificación de espacios protegidos, procesos de erosión, evaluaciones de impacto ambiental, sistemas urbanos, infraestructuras, etc., y todo aquello que tenga posibilidades de ser cartografiado o representado en un mapa.” (Barragán Muñoz, 2003, p.216). É uma ferramenta

que se tornou imprescindível nos dias de hoje, tendo mesmo já sido integrada nos planos curriculares de graduações na área do planeamento do território.

“Planning requires the mapping of coastal realities, and therefore leads to representing the coastal

system and its organization.” (Vallega, 2001, p.124). Neste sentido, os sistemas de informação

geográfica têm um papel primordial também na gestão costeira, uma vez que permitem integrar, analisar e manusear conjuntamente as características físicas/ ambientais e socioeconómicas de uma determinada área, cuja análise cruzada permite um entendimento das dinâmicas territoriais muito

superior em relação a um tratamento de dados setorial. Além disso, a possibilidade de ir integrando nova informação, ou mesmo de fazer análises distintas, variando os elementos a utilizar na análise, é outra vantagem destes instrumentos. “We can conclude that the benefit from GIS for

coastal zone management lies in the fact that GIS can process large amounts of (spatial) data and can integrate different types and sources of data using the location as a common identifier.” (Douven, et al.,

2003, p.619).

Nas distintas fases de um processo de gestão costeira esta ferramenta pode ser útil. “The

development of a GIS database is therefore an integral activity supporting all policy analysis phases.”

(Douven, et al., 2003, p.621). A ferramenta poderá ter diversas finalidades em simultâneo, desde a caracterização e análise do território, à sua utilização técnica para a gestão quotidiana do território, até servir de base ao desenvolvimento de políticas e mesmo informar a população sobre as tomadas de decisão políticas e técnicas em termos de gestão, e também sensibilizar a população sobre conservação das áreas e riscos costeiros. “Geographical Information Systems

provide a key resource for disaster mitigation with many local governments routinely holding archives of contours, rivers, geology, soils, highways, census data, phone listings and areas subject to flooding, or other hazards, for their area.” (Smith, 2001, p.77).

Face à diversificada utilidade de um sistema de informação geográfica de apoio à gestão costeira, com diversos utilizadores previstos, para vários objetivos, e diferentes necessidades, deve assegurar-se que este instrumento seja de fácil uso e entendimento (Douven, et al., 2003), permitindo a sua utilização por todos os interessados.

A natureza dinâmica do ambiente costeiro a várias escalas espaciais e temporais, as alterações do nível do mar, a erosão costeira, as inundações e as intervenções humanas originam múltiplas alterações nos ecossistemas costeiros, que inclusivamente dependem das características costeiras para a sua sobrevivência. Neste sentido, a gestão das zonas costeiras requer tecnologias que tenham em linha de conta todas estas características dinâmicas do sistema costeiro. Os sistemas de informação geográfica são, portanto, fundamentais para a análise, simulação e previsão da evolução do processo dinâmico, pois permitem ter em conta todas essas variáveis. “A well-designed

coastal zone information system could, therefore, be a significant technological contribution to development of integrated and sustainable coastal management.” (UNITAR, 1993, p.8).

5.9SISTEMATIZAÇÃO

A conservação e o uso múltiplo sustentável da zona costeira requerem uma política consolidada de ordenamento e gestão deste território.

É notória uma clara preocupação com o estado das zonas costeiras e com o seu futuro. Desde a década de 1960, têm sido lançados vários documentos orientadores para o uso sustentável do território costeiro, inclusivamente particularizando a necessidade de prevenção dos riscos costeiros e valorizando o envolvimento da população.

Apesar dos esforços que têm sido desenvolvidos, e inclusivamente de se encontrarem aprovadas as Estratégias Europeia e Nacional para a Gestão Integrada da Zona Costeira, bem como a ênfase que o Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território coloca na necessidade de minimizar alguns problemas característicos da zona costeira, ainda existe um longo caminho a percorrer para a implementação desta estratégia em Portugal.

As dificuldades de aplicação dos instrumentos de ordenamento e gestão existentes, tais como a reserva ecológica nacional, o domínio público marítimo, os planos de ordenamento da orla costeira e os planos diretores municipais, as dificuldades de desenvolvimento de trabalho interinstitucional, bem como a setorialização da intervenção de cada um dos planos, para além do facto de a área de abrangência de alguns destes instrumentos nem sempre ser suficiente para os objetivos subjacentes à sua existência, são alguns dos fatores limitativos para a sustentabilidade ambiental do território costeiro, bem como para o controlo da exposição da população aos riscos costeiros. Efetivamente, a gestão estratégica da zona costeira é um processo muito abrangente e complexo, sendo vários os fatores determinantes, passando pelos domínios das políticas, da governança, da administração/ gestão, dos desafios globais, dos problemas locais, das ambições da população, dos aspetos físicos, ambientais, culturais e socioeconómicos dos territórios costeiros.

Ao nível europeu e de acordo com o relatório final sobre a avaliação da gestão integrada das zonas costeiras na Europa, de Agosto de 2006, nos vinte e quatro Estados-Membros “No country has implemented an ICZM National Strategy […] In seven countries, namely Finland, Germany, Malta, Portugal, Spain, Romania, and United Kingdom, the implementation of an ICZM Nacional Strategy is pending. In six further countries, namely Belgium, Cyprus, France, Greece, Netherlands, and Slovenia, documents considered as equivalent to an ICZM National Strategy have been developed […] In eleven countries, namely Bulgaria, Croatia, Denmark, Estonia, Ireland, Italy, Latvia, Lithuania, Poland, Sweden, and Turkey, no ICZM equivalent policies are in advanced stages of preparation, only fragmented tools are in place to address coastal issues.” (Rupprecht Consult & International Ocean Institute, 2006, p.9).

A propensão das zonas costeiras para a ocorrência de conflitos socioambientais, pela conflitualidade das múltiplas atividades que decorrem neste território com o seu próprio funcionamento sistémico ambiental dificulta em grande medida a gestão deste território (Alveirinho Dias, 2005). Neste sentido, o conhecimento profundo das interações entre processos naturais e humanos, associado à consciencialização da população para a preservação dos recursos naturais e para os perigos que decorrem da destruição dos recursos e de uma localização próxima do mar, são condições básicas para o sucesso da gestão territorial costeira, que necessita de ser flexível e capaz de ser ajustada às diferentes realidades. O grande objetivo é obter um entendimento das relações existentes entre os processos ambientais e os fenómenos socioeconómicos que ocorrem nas zonas costeiras para que, em cada caso específico, se tomem decisões de gestão mais sustentáveis e se preservem os recursos costeiros para as gerações futuras (Trujillo, et al., 2003). As alterações climáticas e a erosão costeira são dois aspetos relevantes a ter em consideração.

Efetivamente, os riscos costeiros têm vindo a aumentar em diversas regiões costeiras, quer por intervenções antrópicas diretas e indiretas, quer por influência das alterações climáticas. Os riscos costeiros de inundação e de erosão encontram expressão significativa na orla costeira ocidental portuguesa, preocupação aliás que motivou o desenvolvimento desta investigação.

O ordenamento e a gestão do território podem e devem assumir um papel preponderante na prevenção do risco costeiro. A incerteza e a complexidade são aspetos que têm que ser tidos em conta nesse processo, favorecendo um tipo de atuação preventiva. Várias são as metodologias já desenvolvidas para avaliação da vulnerabilidade do território face a eventos costeiros, as quais facilitam uma antecipação dos impactos de situações costeiras perigosas que possam ocorrer no futuro e a definição de prioridades de atuação para a minimização do risco.

Também a avaliação da sustentabilidade da zona costeira poderá ter um contributo nesse sentido. O conhecimento da evolução dos processos que nela decorrem deverá basear-se em indicadores de mudança nos domínios social, económico, urbano, ambiental e natural, não obstante as dificuldades que decorrem da falta de informação disponível. O conjunto de indicadores desenvolvido pelo WG-ID poderá servir como uma base aberta e dinâmica a uma versão mais apurada incluindo, por exemplo, indicadores obtidos através da realização de estudos de perceção social.

A integração dos conhecimentos científico, técnico e comum sobre os processos evolutivos das zonas costeiras assume relevância num contexto de planeamento e gestão participativos. A investigação científica rigorosa, englobando conhecimento e participação democrática de entidades governativas nacionais e locais, setor privado e comunidades locais, é essencial para qualquer iniciativa de gestão costeira (Editorial O&CM, 2004).

As vantagens do envolvimento da população são várias, desde a possibilidade da população expressar a opinião atempadamente, conhecimento local mais profundo que complementa o conhecimento técnico, definição mais precisa de problemas, conflitos, objetivos e estratégias, antevisão de consequências das ações e de reações locais aos projetos, consciencialização da população, redução da resistência à mudança, maior facilidade em obter consensos, minimização de conflitos de interesses, compatibilização de objetivos de proteção ambiental e de desenvolvimento socioeconómico e sucesso da implementação das estratégias. Contudo, a participação das populações nos processos de tomada de decisão é baixa e reveste-se de um caráter meramente informativo ou de consulta sobre propostas em fase de decisão.

O processo de gestão costeira deve consistir em práticas sociais que se materializem de forma integrada (Kay & Alder, 2005), tornando-se necessário “…uma reforma dos procedimentos

democráticos que promova a clareza, a transparência e uma discussão informada sobre os fundamentos científicos e técnicos das opções políticas e administrativas.” (Gonçalves, 2000[b],

p.156), sendo imprescindível assumir que “…os gestores (quer políticos, quer técnicos) das zonas

costeiras têm por função a gestão de espaços que pertencem à sociedade, e que perante ela são

responsáveis…” (Alveirinho Dias, 2003, p.5).

Os sistemas de informação geográfica assumem, neste contexto, um papel de grande relevância, ao permitir a integração e análises dinâmicas de uma multiplicidade de dados passíveis de representação espacial, incluindo os resultantes de estudos empíricos, sendo considerados fundamentais como suporte à gestão territorial e tomada de decisão. No contexto desta investigação é interessante verificar que, no projeto EUrosion (EC, 2004), se identifica como prioridade o desenvolvimento de técnicas de avaliação que permitam a representação cartográfica dos valores ecológicos, sociais e económicos das zonas costeiras, aos quais se sugere acrescentar os resultados de estudos de perceção social.