• Nenhum resultado encontrado

Ordenamento e Gestão do Território Costeiro

OBJETIVOS ETAPAS METODOLÓGICAS

3. TERRITÓRIO COSTEIRO

3.4.2 C ONTEXTO NACIONAL

Em Portugal, a ocupação das zonas costeiras evoluiu de uma ocupação apenas resultante da fixação das comunidades piscatórias; para uma ocupação intensa e acelerada nas últimas décadas. A zona costeira continental “…alberga cerca de ¾ da população, os principais centros de

decisão política, pólos comerciais e industriais e oportunidades de emprego…”6 (Santos & Miranda,

2006, p.173).

A faixa litoral ocidental norte e centro, bem como o litoral sul, apresentam uma densidade populacional muito superior à média do país (figura 3.9). Não obstante, a concentração da população não se verifica de uma forma contínua ao longo da costa, nem mesmo ao longo de cada região, ou de cada concelho, existem sim núcleos com bastante população instalada, contrapondo a extensões de costa despovoadas.

Fig. 3.9 – Densidade populacional em Portugal, em 2001 (Fonte: http://www.igeo.pt/atlas, 2007)

6 Numa faixa litoral de 50km de largura, de Setúbal até à Corunha (cerca de 600 Km), localizam-se cerca de 10 milhões de habitantes, sendo 8 destes em Portugal.

Na figura 3.10 apresentam-se as alterações da ocupação do solo em Portugal Continental entre 1985 e 2000, constatando-se um aumento de mais de 40% das áreas artificializadas. Quer as áreas de agricultura, quer de agricultura com áreas naturais, quer de vegetação natural sofreram um decréscimo da sua extensão. Segundo EEA (2006[b]), “Almost 2 000 Km2 of agricultural lands were lost along all coastal zones […] between 1990 and 2000 […] this process is most pronounced in Portugal, the Netherlands, Belgium, Ireland and Italy.” (p.30).

Fig. 3.10 – Alterações da ocupação do solo em Portugal Continental, entre 1985 e 2000 (Fonte: Caetano, et al., 2005)

Com representação espacial, na figura 3.11 pode verificar-se que, efetivamente, a maior percentagem de áreas artificializadas se encontra nas NUTS III localizadas no litoral de Portugal Continental, à exceção da NUTS Alentejo Litoral, que apresenta uma percentagem de ocupação de territórios artificializados apenas até 3%.

Fig. 3.11 – Territórios artificializado em Portugal Continental, por NUTSIII, em 2000 (Fonte: Caetano, et al., 2005)

Em Portugal, sendo as praias costeiras o principal destino turístico, na época balnear a afluência de turistas e visitantes portugueses e estrangeiros a estas áreas é grande, principalmente com o objetivo de consumir os recursos sol e praia. “O turismo balnear, o mais antigo e ainda o mais

procurado dos nossos produtos turísticos, aproveita uma extensa linha de costa onde estão registados mais de 500 locais identificados como praias.” (www.igeo.pt, 2007). Deste universo, em 2009, foram consideradas 436 zonas balneares costeiras ou de transição no Continente, Açores e Madeira (www.inag.pt, 2010).

Apesar de nos finais do Século XIX já existirem algumas urbanizações turísticas em Portugal, tais como S. João do Estoril ou Figueira da Foz (Brito, 2004), como já foi referido foi na segunda metade do século XX que se iniciou a expansão do turismo balnear e a consequente “…pressão

para ocupação das zonas costeiras oceânicas, pois que perante tais afluxos turísticos é forçoso dispor das consequentes acomodações (casas, pensões, hotéis, etc.), bem como de outras estruturas de apoio, designadamente restaurantes, bares, cafés, e comércio em geral. São os primeiros impulsos, embora ainda tímidos, da construção intensiva no litoral, a qual viria, alguns anos mais tarde, a antropizar completamente a paisagem de muitos troços costeiros.” (Alveirinho Dias, 2005, p.14). Refira-se que a

região do Algarve é “…um dos mais famosos destinos de turismo balnear de toda a costa atlântica europeia.” (CSIL & Touring Servizi, 2008, p.8).

Na figura 3.12 encontra-se representada a capacidade de alojamento dos estabelecimentos hoteleiros no país, em 2001, e na figura 3.13 o número de parques de campismo existentes, bem como a sua capacidade, concentrando “…grande parte dos seus quase 168 000 lugares disponíveis

na faixa litoral.” (www.igeo.pt, 2007).

Fig. 3.12 – Capacidade de alojamento dos estabelecimentos hoteleiros, 2001

Fig. 3.13 – Número e capacidade dos parques de campismo (Fonte: www.igeo.pt, 2007)

Também o número de residências secundárias aumentou significativamente a partir da década de 1970. “O fenómeno das residências secundárias ganhou peso, em consequência directa do aumento do

poder de compra, do crescimento das maiores cidades e da degradação do modo de vida urbano.”

(Umbelino & Sousa, 1998, p.334) e, também, da ampliação dos tempos livres (Alveirinho Dias, 2005).

Este turismo de massas tem causado fortes impactos nos ecossistemas costeiros, quer no Algarve, quer na costa ocidental, pois “Em maior ou menor grau, os litorais arenosos oceânicos rapidamente

são ocupados com empreendimentos turísticos, com urbanizações variadas, e com pequenos povoados costeiros convertidos em grandes cidades. Muitos trechos costeiros, que ao longo de toda a História quase não tinham sido ocupados, ficaram sobreocupados em poucas décadas.” (Alveirinho Dias, 2005,

p.15).

Conclui-se, portanto, que a gestão do território e do setor turístico tem ficado muito aquém do desejado, permitindo assim o crescimento descontrolado e desorganizado das áreas turísticas. “O

fenómeno turístico-balnear processou-se com tal rapidez que os organismos de gestão foram apanhados desprevenidos. Até aí, os litorais oceânicos eram de tal modo sub-ocupados que não havia preocupações relevantes com a sua gestão. Perante os benefícios económicos directos do turismo […], a forte concorrência internacional, e a falta de experiência face a este novo fenómeno sociológico, quase tudo foi permitido.” (Alveirinho Dias, 2005, p.23).

Neste contexto, considera-se o turismo costeiro português como um turismo de massas e monotemático, de so e praia. “O facto do turismo balnear permanecer como o principal produto

turístico em Portugal, e a sua incapacidade para escapar à condicionante sazonal, representa uma importante fragilidade deste sector, que conduz simultaneamente à excessiva concentração regional do fenómeno, como demonstra o Algarve.” (www.igeo.pt, 2007).

A ausência de sustentabilidade ambiental, social e económica que se verifica em grande parte da orla costeira portuguesa é o reflexo de todos os aspetos anteriormente referidos. Sendo o turismo costeiro uma atividade muito importante no âmbito do desenvolvimento das zonas costeiras, mas extremamente dependente de fatores ambientais e, consequentemente, da qualidade dos mesmos, é necessário abolir a visão de curto prazo e estritamente económica que lhe está associada, e ter em conta a preservação dos recursos naturais, a manutenção da biodiversidade e a conservação do património cultural e social (Pinho, et al., 2008), tendo em vista a sustentabilidade da atividade e da zona costeira, aos mais diversos níveis.

Desta breve apreciação da ocupação da zona costeira e do seu grau de artificialização, conclui-se existir uma forte pressão nos ecossistemas costeiros devido à excessiva ocupação e ao excessivo uso, originando consequentemente a degradação do meio, por vezes a um estado irreversível e propício a situações de risco perante a dinâmica costeira.