• Nenhum resultado encontrado

F ATORES N ATURAIS I NFLUENCIADORES DA D INÂMICA C OSTEIRA

Ordenamento e Gestão do Território Costeiro

PAÍS Ext total de

4. DINÂMICA COSTEIRA

4.3 F ATORES N ATURAIS I NFLUENCIADORES DA D INÂMICA C OSTEIRA

Como ações naturais com influência na dinâmica costeira, refira-se a importância do vento, “…fundamental no transporte de areias de praia e duna, sendo o principal interveniente no processo

de formação de dunas costeiras. […] é também importante quando se procede a uma análise do clima de agitação, pois é por acção do vento que se formam ondas na superfície do mar…” (Coelho, 2005,

p.65). Este elemento climático é, pois, um dos agentes modeladores do processo de dinâmica costeira.

Também as marés “…exercem um importante controlo na ecologia e na morfologia das praias,

configurando os seus perfis e as faixas emersas e imersas […], afectando a faixa de rebentação, o tipo de rebentação, o espraiamento das ondas e o movimento de sedimentos.” (Coelho, 2005, p.55),

aspetos estes todos inerentes à interação entre a terra e o mar. As marés, ou seja, a sobre- elevação do nível do mar, podem ser astronómicas ou meteorológicas, dependendo as primeiras das forças exercidas pela Lua e pelo Sol e as últimas são resultado de alterações de elementos meteorológicos, tais como pressão atmosférica ou vento (Coelho, 2005).

A agitação marítima, que inclui “Ondas, vagas, seichas e tsunamis…” (Coelho, 2005, p.69), tem também uma grande influência na morfologia desta área onde a terra e o mar se encontram. Entenda-se tsunamis como “…ondas de translação, nomeadamente associadas a fenómenos

sísmicos…”, seichas como “…ondas de oscilação de longo período…” e vagas como resultantes do

Com a chegada da onda à praia, propriamente dita, dá-se o espraiamento, “…entendido como o

pico máximo da elevação da água, medido na vertical em relação ao nível de repouso.”, que surge

alternadamente com os momentos de refluxo das ondas após a sua rebentação, sendo também um fenómeno determinante na caracterização da linha de costa (Coelho, 2005, p.95).

Refira-se, ainda, a influência das alterações climáticas na dinâmica costeira. No Livro Branco

Adaptação às alterações climáticas: para um quadro de acção europeu (CCE, 2009), é, desde logo,

assumido que “As alterações climáticas aumentam as temperaturas da terra e do mar e alteram o

volume e os modelos de precipitação, o que se traduz numa subida do nível médio mundial do mar, em riscos de erosão costeira e num aumento previsto da gravidade das catástrofes naturais relacionadas com fenómenos meteorológicos.” (p.3).

De entre o conjunto de fatores associados às alterações climáticas com influência na posição da linha de costa, a subida do nível médio do mar é uma das alterações que se tem vindo a verificar com um significado determinante em algumas zonas do planeta. Segundo Araújo (2007), “…we are

in a period of slowly rising sea level. This happens because of thermal expansion of seawater and because of glaciers retreat after Little Ice Age.” (p.84), facto que se tem vindo a verificar nos últimos

10 000 anos com a mudança climática que deu início ao Holocénico7.

Esta elevação do nível do mar tem como consequências a potencial inundação de zonas baixas, quer húmidas, quer emersas, o assoreamento de lagunas e estuários e, consequentemente, a diminuição do transporte de sedimentos para o oceano. Este novelo de consequências implica o recuo da linha de costa e, tendo em conta a excessiva e inadequada ocupação comum da zona costeira, poderá ter implicações muito sérias em termos sociais e económicos.

Na figura 4.1 encontra-se representada a exposição da zona costeira europeia à subida do nível do mar, verificando-se um aumento da subida do nível do mar na maioria da orla costeira representada. Refira-se, também, que toda a orla costeira representada se encontra numa cota abaixo de 5m.

No litoral de Portugal Continental, o nível médio do mar subiu cerca de 15cm durante o século XX (1.5mm/ano, em média), “…depois de 2000 anos em que a sua taxa de elevação anual foi uma

ordem de grandeza inferior.”, segundo Santos & Miranda (2006, p.174). Os mesmos autores

assumem como valor de subida do nível médio do mar, para o horizonte temporal de 2100, cerca

7Neste contexto, Andrade (1998) apresenta uma evolução histórica resumida do litoral, com importantes variações da posição da linha de costa - transgressões e regressões, associadas a alterações climáticas globais. O autor afirma que se podem encontrar fósseis de organismos marinhos em diversos lugares no interior dos continentes, o que comprova a existência de períodos em que o nível do oceano foi mais elevado que atualmente. Afirma também que há cerca de 18 000 anos uma porção significativa da água dos oceanos se encontrava sob a forma de gelo nas calotes polares e nos glaciares de montanha, sendo por isso o nível médio do oceano, a nível mundial, consideravelmente abaixo do atual (cerca de 120m). O mesmo autor refere ainda que, por tal facto, “…a generalidade dos fundos que hoje constituem a plataforma continental se encontrava emersa e era atravessada por estuários fluviais, continha manchas de vegetação terrestres apreciáveis e era habitada por fauna diversa, adaptada a um clima mais frio do que o actual.” (p.36) e que, nos dias de hoje, se vive um “…regime transgressivo, caracterizado por uma tendência persistente de elevação do nível médio do mar.” (p.36).

de 1m, considerando que “A taxa de elevação não será constante ao longo do tempo, agravando-se

a partir de 2040.” (p.174). Para estes autores, dois dos principais impactos da referida alteração

do nível médio do mar na orla costeira portuguesa são: “…a) intensificação do processo erosivo; b)

aumento das cotas de inundação e, consequentemente, das áreas inundadas...” (p.174).

Fig. 4.1 – Exposição da zona costeira europeia à subida do nível do mar, 2001 (Fonte: adaptado de EC, 2004)

De acordo com Silva, et al., (2007), num estudo realizado na costa ocidental de Portugal relativamente à aplicação de um modelo para identificação das causas da erosão costeira, concretamente para o caso da Costa Nova do Prado apurou-se que “…the estimated shoreline

retreat due to sea-level rise is 0.16m/year, which is very small when compared with 5.5m/year rate felt between 1978 and 1996 in this coastal stretch…” (p.265). Os autores explicam que, mesmo para o

pior cenário de subida do nível do mar determinado pelo IPCC, que é de 0.88m em 2100, “…the

mean estimated shoreline retreat is 0.84m/year, 15% of the referred rate. This way, the sea-level rising does not justify the present verified erosion.” (p.265), apesar de noutros locais do globo as

alterações climáticas poderem apresentar relevância muito significativa na morfologia costeira. Conclui-se, pois, que apesar da relevância das alterações climáticas, quer pelo aumento da intensidade e eventos naturais associados a fenómenos meteorológicos, quer pela subida generalizada do nível do mar, para a dinâmica costeira, este não é o principal fator influenciador na zona costeira ocidental portuguesa, encontrando-se maior representatividade de influência da dinâmica nos fatores antrópicos.

LEGENDA

Áreas abaixo dos 5 metros Subida do nível do mar observada em mm/ano: