• Nenhum resultado encontrado

Ordenamento e Gestão do Território Costeiro

OBJETIVOS ETAPAS METODOLÓGICAS

2. RISCO E PERCEÇÃO SOCIAL

2.5 G ESTÃO DO R ISCO

2.5.3 ISO 31000 SOBRE GESTÃO DO RISCO

No âmbito da gestão do risco, importa referir a ISO 31000 publicada em 2009 pela Organização Internacional de Normalização (170 países), que define princípios e linhas da implementação da gestão do risco. Esta norma veio estabelecer diretrizes e uma linguagem comum para a gestão do

risco por qualquer organização de qualquer setor de atividade ou por indivíduos. No documento, entre outras diretrizes, estão definidos os princípios gerais para uma gestão do risco, dos quais importa destacar: a) a gestão do risco cria valor porque contribui para a concretização de objetivos e para a melhoria, por exemplo, da segurança humana; b) a gestão do risco é dinâmica, interativa e recetiva a mudanças; c) a gestão do risco é parte do processo de tomada de decisão, informando e fundamentando a decisão e permitindo a definição de prioridades; d) a gestão do risco aborda explicitamente a incerteza, incluindo aspetos incertos na tomada de decisão; e) a gestão do risco é sistemática, estruturada e oportuna, contribuindo para resultados eficientes, consistentes, fiáveis e comparáveis; f) a gestão do risco é baseada na melhor informação disponível, sendo contudo necessário ter em conta as limitações dos dados; g) a gestão do risco é ajustada aos contextos em que o risco ocorre; h) a gestão do risco tem em conta fatores humanos e culturais, reconhecendo capacidades, perceções e intenções das pessoas; e i) a gestão do risco é inclusiva e transparente, uma vez que envolve as partes interessadas nos momentos oportunos, permitindo que a sua opinião seja tida em conta.

É de referir que também esta norma valoriza a perceção social e o envolvimento das partes interessadas, reconhecendo a importância do conhecimento comum para a gestão do risco, que no caso das zonas costeiras é fundamental pela vivência da população costeira nesse sistema tão dinâmico.

2.6SISTEMATIZAÇÃO

O conceito de risco é uma característica das sociedades contemporâneas, tendo sofrido alterações ao longo dos tempos (Smith, 2001). A consciencialização da complexa inter-relação entre o Homem e a Natureza e das consequências que determinados eventos podem ter, associada, consequentemente, a alguma incerteza sobre as capacidades técnico-científicas existentes, caracteriza o conceito de risco ambiental atual (Flynn & Slovic, 2000).

O risco não deve ser reduzido à sua dimensão técnica, deve considerar também as conceções leigas, uma vez que o conceito de risco dos especialistas é diferente do conceito construído pelo cidadão comum. Portanto, a análise técnica rigorosa, por si só não é suficiente, havendo necessidade de ser complementada com a perceção do público (Flynn & Slovic, 2000; Smith, 2001).

São múltiplos os fatores influenciadores da perceção social, desde a idade ou sexo, até todo o contexto social e económico, à forma como o risco é comunicado, entre muitos outros (Lima, 2004; Smith, 2001).

Refira-se, ainda, o facto de as probabilidades subjetivas de um evento aumentarem sempre que um evento ocorre e tornarem-se menores se o evento não acontecer durante um longo período de tempo (Filatova, et al., 2011). Acresce o facto de as pessoas que caracterizam o risco com base nas consequências terem tendência a considerar os riscos mais elevados do que aquelas que se focam mais nas probabilidades, pelo que as potenciais consequências apresentam um peso mais relevante na perceção do risco (Sjöberg, 1998).

No âmbito das respostas comportamentais ao risco, e de acordo com a teoria da racionalidade limitada, os decisores tendem a simplificar a realidade devido a um conjunto de cognições que minimizam o risco e que ocultam o medo (Lima, 1997). Esta negligência do risco pode derivar de vários fatores, desde uma comunicação errada do risco, passando pelo excesso de confiança nas tecnologias, nas estruturas de proteção, nas entidades gestoras, ou até no Divino, até ao facto de o risco compensar em termos económicos, ou em termos de afetividade, ou em termos de lazer. Refira-se, no contexto desta investigação, que a consciência individual do risco influencia a ocupação do território. Uma reduzida consciencialização do risco leva as pessoas a adquirirem propriedades em zonas vulneráveis (Filatova, et al., 2011. Acresce que em zonas onde a probabilidade de ocorrência de desastre é muito baixa e existem benefícios apelativos tende a ocorrer uma expansão da ocupação urbana, dada a reduzida perceção social do risco que tal facto induz.

Considera-se, pois, crucial uma mudança de paradigma quanto à gestão do risco. A cooperação entre o setor público e privado, a informação e o envolvimento dos diversos atores e da população,

a utilização e o desenvolvimento de conhecimento são alguns dos aspetos a ter em conta neste processo.

A comunicação do risco é uma componente fundamental para a informação, a gestão, o planeamento e o apoio em situações de crise, ocupando os meios de comunicação social um lugar central neste âmbito (Serra, 2007). Não obstante a sua relevância, estes veículos nem sempre comunicam de uma forma neutra e sensata, pelo que podem induzir alterações significativas na perceção social do risco. A comunicação do risco é um processo de longo prazo, que provavelmente implicará alterações nas normas sociais que durante séculos assentaram na responsabilidade coletiva, ignorando a responsabilidade individual de quem provoca ou de quem se expõe ao risco. Refira-se, ainda, uma recomendação da OECD (2003) que se prende com a importância da partilha de boas práticas e de lições retiradas entre diferentes áreas do risco, favorecendo um processo mais rápido para atingir uma minimização dos impactos dos riscos.

Beatley, et al. (2002) referem, para o caso do território costeiro, que é fundamental assumir uma atitude de “Avoid hazardous coastal locations, such as incipient inlet zones, floodplains, and high

erosion zones.” (p.281). Um caráter preventivo associado ao desenvolvimento de esforços no sentido

da redução do risco, com forte envolvimento da população e dos mais diversos atores, consideram- se fatores-chave para a minimização dos impactos dos desastres por invasão do mar.