• Nenhum resultado encontrado

seção 2.2.3.. No outro eixo, opõem-se o que pode ser considerado de Valores Práticos, ou seja, modos de pensar e de encarar o mundo que caracterizam o modo de estar e de agir nas

2.3. FUNDAMENTOS ÉTICOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

2.3.4. A Ética Deontológica

2.3.4.1. Absolutismo de Kant

A ética utilitarista propõe que o valor moral do comportamento humano seja ditado pela natureza das conseqüências que possa produzir. Neste caso, a ação moralmente aceitável será aquela que previsivelmente maximize a utilidade total de todos os indivíduos a quem ela possa afetar. Apesar da ampla aceitação social dos princípios utilitaristas – ainda hoje visível, por exemplo, nos princípios subjacentes ao moderno “Estado Providência” –, outras correntes de pensamento conquistaram vasta adesão no campo da filosofia moral, constituindo poderosas alternativas à doutrina utilitarista. A abordagem deontológica da ética normativa é freqüentemente considerada a mais influente e melhor fundamentada dessas alternativas. Ao contrário da natureza teleológica – conseqüencialista – do utilitarismo, a deontologia desvaloriza as conseqüências dos atos, definindo o valor moral da ação em função do respeito por determinados princípios e regras universais. Ao procurar estabelecer princípios de conduta independentes das conseqüências dos atos, a deontologia elege o dever como categoria moral fundamental, propondo que a moralidade das ações seja avaliada em função da sua natureza intrínseca80. A mais importante corrente deontológica tem origem no pensamento de Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão, contemporâneo de Bentham, que propôs um sistema moral baseado na obediência a princípios universais determinados pela razão humana.

Para Kant, tudo na natureza age segundo leis, sendo privilégio único do ser humano agir segundo a representação das leis, ou seja, de acordo com princípios racionais. O ser humano é assim dotado de razão e de vontade, constituindo esta a faculdade de escolher a ação que a razão reconhece como boa (KANT, 2005). Kant argumenta que as regras de comportamento que permitem alcançar o bem-estar e a felicidade são indicadas com mais segurança e exatidão pelo instinto natural do que pela razão, restando a esta a finalidade superior de produzir uma boa vontade. Segundo o filósofo, nem os talentos do espírito (como

80

Segundo Scheler (1941), toda a ética que pretenda estabelecer um fim último em relação ao qual se mede o valor moral do querer e do ato, reduz os valores de bem e de mal a uma categoria técnica, sujeitos apenas ao critério definido pelo alcance desse fim. O filósofo defende que a boa e a má conduta não podem medir-se por relação com um fim, uma vez que o próprio fim pode ser bom ou mau. Assim, Scheler aproxima-se do pensamento de Kant que recusa toda a forma de ética que considere os valores bom e mau com referência a determinados fins. As éticas materiais, como a de Mill, esvaziam o conteúdo moral dos fins a que destinam a ação moral, dado que só serão morais os valores cuja realização permite alcançar o fim, excluindo a possibilidade de avaliação da moralidade desse mesmo fim (SCHELER, 1941).

TESE DE DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO Responsabilidade Social das Empresas e Valores Humanos

164

o discernimento ou a capacidade de julgar), nem as qualidades do temperamento (como a coragem ou a persistência), nem os dons da fortuna (como o poder, a riqueza, a saúde ou a felicidade) têm o valor absoluto da boa vontade, uma vez que todos esses dons “dão ânimo

que muitas vezes (...) desanda em soberba”, necessitando de uma “boa vontade que corrija a sua influência sobre a alma (...) e lhes dê utilidade geral” (KANT, 2005: p. 22). Assim, dado

que os demais talentos e dons humanos podem ser utilizados para bons e maus fins, a boa

vontade é a única coisa que pode ser efetivamente considerada boa sem limitação.

Segundo o pensamento kantiano, associado à idéia de boa vontade está o conceito de

dever, definido como a necessidade de uma ação por respeito à lei (entendida aqui como lei

moral). Discutindo apenas as ações humanas conformes ao dever, Kant considera que estas podem ser praticadas por dever, por inclinação imediata81 ou com intenção egoísta, residindo o seu valor moral no princípio do querer que as determina e não no propósito que com elas se pretende atingir. Assim, para Kant, as ações moralmente válidas são aquelas que são praticadas por dever e não por inclinação imediata ou com intenção egoísta. A avaliação moral de uma ação fica portanto limitada à análise do motivo que a gerou e não dos efeitos produzidos ou esperados, afastando-se neste ponto radicalmente da tese utilitarista. Kant rejeita mesmo toda a contribuição que possa vir da experiência, considerando o empirismo uma fonte de motivos contingentes que comprometem a liberdade de uma vontade absolutamente boa, cujo valor moral depende exatamente da conservação desta liberdade. Desta forma, o valor moral de uma ação dependerá exclusivamente do respeito pela lei que determina a boa vontade. Essa lei é definida por Kant como imperativo categórico82.

Pela sua natureza incondicional, o imperativo categórico de Kant é apenas um, embora possa ser enunciado de diversas formas. A sua formulação mais comum é apresentada nos seguintes termos: age apenas segundo uma máxima que possas querer que se torne lei

universal da natureza83. Este imperativo tem então o caráter de uma lei prática, ou seja, “mandamento incondicional que não deixa à vontade a liberdade de escolha relativamente ao

contrário do que ordena” (KANT, 2005: p. 57). Em síntese, Kant defende que a ação só terá

81

A inclinação imediata é definida por Kant como “a dependência em que a faculdade de desejar está em face das

sensações” (KANT, 2005: p. 49), referindo-se portanto ao impulso que responde a uma necessidade.

82

O imperativo, segundo Kant, será a fórmula do mandamento que representa um princípio objetivo que obriga a vontade humana. Os imperativos podem ordenar de forma hipotética ou categórica. O imperativo hipotético, mais comum, representa a necessidade prática de empreender uma ação como meio para alcançar algo que se deseja. O imperativo categórico, por seu lado, representa “uma ação como objetivamente necessária por si mesma, sem relação com qualquer outra finalidade” (KANT, 2005: p. 50).

83

Na linguagem de Kant, a máxima corresponde ao princípio subjetivo da ação segundo o qual o sujeito age, e o imperativo

valor moral se for praticada por dever, i.e., por puro respeito à lei prática, “perante o qual tem

de ceder qualquer outro motivo, porque ele é a condição de uma vontade boa em si, cujo valor é superior a tudo” (KANT, 2005: p. 35). Subjacente a esta lei estão dois princípios.

Primeiro, o princípio da universalidade que pressupõe que as máximas que comandam a ação sejam, por desejo do sujeito, aplicáveis a todas as pessoas que se encontrem em situação idêntica. Este princípio permite contrariar a tentação natural de admitir exceções em benefício próprio e auxilia o julgamento sobre o que devem ser deveres morais. No entanto, diversos autores consideram-no insuficiente ao não excluir a posição de indivíduos fanáticos que ficariam satisfeitos se todas as pessoas agissem como eles, como no exemplo extremo de um radical Nazi que defende a pureza da raça ariana e o conseqüente extermínio ou subjugação das outras (HARE, 1965). O segundo princípio subjacente ao imperativo categórico é o do

querer, o qual impõe que a universalização da máxima para toda a humanidade decorra de

uma vontade livre do sujeito, do seu querer, sem que com isso ele entre em contradição com os seus desejos. Assim, cada indivíduo deve querer que as máximas que orientam as suas ações sejam adotadas por todas as pessoas, sem exceções. E este é o critério que cada pessoa deve utilizar para julgar a moralidade de uma ação: querer a universalidade da máxima que a

sustenta.

Kant acrescenta ao imperativo categórico um outro princípio prático supremo essencial para compreender a sua filosofia. Esse princípio baseia-se na premissa de que todos os seres racionais existem como fim em si mesmos e não apenas como meios para o cumprimento arbitrário de uma qualquer vontade. Segundo Kant, todas as inclinações humanas são dirigidas a objetos que têm um valor condicional, dado esse valor depender da existência das necessidades nas quais se baseiam as inclinações. Portanto, o valor do ser humano não poderá depender apenas da inclinação imediata que o considera em função do desejo individual, mas deverá constituir um fim objetivo cuja existência é em si mesma um fim. O princípio prático supremo de Kant tem a seguinte formulação: “age de tal maneira que

uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio” (KANT, 2005: p. 69). Kant

considera que no reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade, sendo que esta última apenas pode caracterizar o que não pode ser substituído, o que não tem equivalente, ou seja, o que não tem preço. Assim, a humanidade e a sua capacidade de agir por dever são as únicas dignidades existentes. Esta dignidade do ser humano perante os outros seres irracionais obriga-o a considerar as suas máximas do seu ponto de vista e sempre simultaneamente do

TESE DE DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO Responsabilidade Social das Empresas e Valores Humanos

166

ponto de vista de todos os outros seres racionais como legisladores universais. Tal como refere Kant, “a dignidade da humanidade consiste precisamente nesta sua capacidade de ser

legislador universal” (KANT, 2005: p. 85).

A filosofia kantiana pressupõe, portanto, que as pessoas, enquanto seres racionais, têm um valor absoluto. Tudo o resto tem valor apenas na medida em que as pessoas lhe atribuam valor como meio para atingir um fim, ou seja, tudo o resto tem valor condicional. Por outro lado, a racionalidade distingue o ser humano dos outros seres porque é o que lhe permite ter livre arbítrio, agindo como ser autônomo capaz de criar as regras que governam a sua própria conduta. Assim, o respeito de cada ser humano pelos outros consiste no respeito pela sua autonomia. No Quadro 13 são reunidas algumas das idéias fundamentais da ética kantiana.

Razão Fonte da lei moral.

Faculdade humana que permite descobrir quais os princípios morais corretos.

Valor Moral Só têm valor moral as ações que são praticadas por dever, em obediência à lei

prática definida pelo Imperativo Categórico.

Imperativo Hipotético Relacionado com os deveres não morais.

Determina ações necessárias como meio para alcançar um “desejo relevante”.

Imperativo Categórico

Relacionado com os deveres morais.

Lei prática que determina que o ser humano deve agir sempre de modo que a máxima da sua ação possa tornar-se, pela sua vontade, em uma lei universal.

Princípio Prático Supremo Princípio incondicional, segundo o qual todos os seres humanos devem ser

considerados como um fim em si mesmos e nunca exclusivamente como meio.

Quando aplicada ao contexto empresarial, tal como ele se caracteriza na atualidade, a ética absolutista de Kant constitui um desafio que desperta mais dúvidas do que parece apresentar respostas. Embora não seja imune à crítica, o esforço de análise das suas implicações pode contribuir, no entanto, para esclarecer a moralidade de algumas decisões gerenciais e sugerir caminhos para o desenvolvimento moral das organizações em geral e das empresas em particular.

Desde logo, o valor moral das ações empresariais deve respeitar o critério definido por Kant para todas as ações humanas. Isto implica que as práticas empresariais que interfiram com o interesse das pessoas em geral, para que tenham valor moral, devem ser motivadas

exclusivamente por um sentido racional de dever. Assim, as ações que se enquadrem no âmbito da RSE devem ser praticadas por dever e não por inclinação, ou seja, não por generosidade e espírito caridoso do dirigente ou empresário. De acordo com a ética kantiana, a empresa que promove o bem-estar social porque a ação é lucrativa ou porque obterá publicidade favorável, age por prudência e não por obrigação moral (BEAUCHAMP & BOWIE, 2004). Esta pureza do motivo defendida por Kant para classificar uma ação como moral dificulta significativamente o julgamento sobre a moralidade das práticas empresariais e compromete, provavelmente, o valor moral da maioria delas. A ética kantiana é freqüentemente acusada de ser demasiado exigente nos pressupostos que assume, tornando-se inútil como critério moral. No entanto, os seus princípios podem constituir um importante referencial para desenhar novas formas de gestão e avaliar, com base em critérios éticos, a validade de determinadas práticas empresariais, sem ficar necessariamente refém da rigidez imposta pela doutrina original. Tal como reconhece o filósofo, “na realidade, é absolutamente

impossível encontrar na experiência com perfeita certeza um único caso em que a máxima de uma ação, de resto conforme ao dever, se tenha baseado puramente em motivos morais e na representação do dever” (KANT, 2005: p. 40).

O imperativo categórico de Kant oferece um critério moral baseado na coerência lógica de cada ação. Por exemplo, se uma empresa, para aumentar as vendas imediatas e evitar a falência, decidisse anunciar um produto promovendo utilidades que ele não tem, poderia resolver as suas dificuldades financeiras de curto prazo, mas os clientes enganados não voltariam a comprar aquele produto ou qualquer outro da mesma empresa. Neste caso, o imperativo categórico impõe que se analise o que acontece quando a máxima da ação praticada – a publicidade enganosa – ascende a lei universal. Se todas as empresas fizessem publicidade enganosa aos seus produtos, o público perderia progressivamente a confiança na informação divulgada pelos meios publicitários e a publicidade deixaria de ter utilidade para estimular as vendas, extinguindo-se inevitavelmente como técnica de promoção comercial. Assim, de acordo com o imperativo categórico de Kant, a publicidade enganosa, quando transformada em princípio adotado por todas as empresas, é uma prática incoerente, dado conduzir à sua própria extinção. E desta forma não se pode desejar que ela seja lei universal, não sendo, portanto, eticamente aceitável. Provavelmente, poucos empresários ou dirigentes defenderão explicitamente a prática de publicidade enganosa, concordando sem reservas com a conclusão da ética kantiana.

TESE DE DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO Responsabilidade Social das Empresas e Valores Humanos

168

A mesma análise pode ser feita em relação a outras práticas, tais como a ocultação de informação financeira relevante para efeitos de tributação fiscal, a compra de matérias-primas no mercado paralelo ou o não cumprimento de cláusulas contratuais. Todos estes comportamentos seriam considerados imorais pela doutrina kantiana. Bowie (1999) relata diversos casos reais de situações nas quais a adoção de determinadas práticas no contexto empresarial comprometeram a sobrevivência das próprias práticas, como por exemplo a utilização generalizada de cheques bancários sem cobertura em Maryland, nos EUA. O autor considera que o pensamento de Kant pode fornecer orientações socialmente relevantes para a condução dos negócios, defendendo a pertinência do imperativo categórico como critério que permite avaliar a moralidade das ações empresariais (BOWIE, 1999)84.

O princípio prático supremo de Kant que manda tratar todos os seres humanos como fins e nunca apenas como meios tem algumas das implicações mais significativas do pensamento kantiano para a gestão de negócios. No ambiente empresarial, este princípio pode ser entendido como um mandamento que impõe o respeito pelas liberdades das pessoas envolvidas nas múltiplas transações e relações que caracterizam esse ambiente. Essas liberdades podem ser liberdades negativas ou liberdades positivas. As primeiras, segundo Korsgaard (1996), implicam estar livre de coerção ou engano por parte de outros. O autor considera que, segundo a fórmula da humanidade, a coerção – uso inapropriado do poder ou da força para alcançar um objetivo – e o engano – aproveitamento instrumental de falsidades para influenciar os outros – são as formas fundamentais de mau trato do ser humano, constituindo a fonte de todos os males, uma vez que a primeira implica tratar as pessoas como uma ferramenta e a segunda implica tratar a sua racionalidade como ferramenta (KORSGAARD, 1996). Por outro lado, Bowie (1999) refere que as liberdades positivas correspondem à liberdade de auto-desenvolvimento, a qual, segundo Kant, significa o aperfeiçoamento das capacidades racionais e morais de cada pessoa. Assim, atuar com respeito pelos outros no contexto empresarial significa não adotar estratégias nem

84

A RSE, na medida em que promove uma conduta que reflita preocupação com o bem-estar de empregados, clientes, fornecedores e comunidade em geral, é sustentada pelas reflexões de Kant sobre as implicações do seu imperativo categórico. Kant refere que a humanidade poderia sobreviver com uma lei que justificasse uma conduta individual de indiferença perante o sofrimento alheio, segundo a qual a prestação de auxílio ao outro não existisse. Mas alerta simultaneamente que não seria possível, no entanto, que esta lei fosse desejada livremente por cada um, dado que implicaria a rejeição do auxílio para si próprio em situação de apuro. Logo, se não é possível querer a lei, o imperativo categórico rejeita a moralidade daquela máxima que justificasse comportamentos indiferentes perante a infelicidade dos outros. Assim, Kant defende que cada pessoa deve “procurar fomentar a felicidade alheia, não como se (...) tivesse qualquer interesse na sua existência (quer por

inclinação imediata, quer, indiretamente, por qualquer satisfação obtida pela razão), mas somente porque a máxima que exclua essa felicidade não pode estar incluída num só e mesmo querer como lei universal” (KANT, 2005: p. 86).

comportamentos que recorram a coerção ou engano e permitir ou promover, simultaneamente, o desenvolvimento das capacidades racionais e morais de cada indivíduo (BOWIE, 1999).

As implicações deste princípio no âmbito da RSE e dos modelos de gestão são imediatas. Por exemplo, a avaliação da moralidade de um despedimento coletivo deve considerar, além da análise das condições contratuais específicas, a natureza da relação da empresa com os seus empregados com vista a avaliar se alguma das liberdades negativas foi violada, ou seja, se eles foram em algum momento alvo de coerção ou de engano em qualquer circunstância. Em outro exemplo, a ética kantiana recomendaria que fosse reduzida a assimetria de informação sobre os negócios da empresa que habitualmente existe entre dirigentes e restantes empregados, uma vez que esta assimetria facilita abusos de poder e estratégias de comunicação dissimulada, violando igualmente liberdades negativas. Esta concepção da assimetria de informação sugere o desenvolvimento de modelos de gestão participativa, nos quais condições mínimas de democracia fossem asseguradas por meio da participação de todos os stakeholders, representados por grupos nomeados ou eleitos para esse fim, nas decisões fundamentais sobre as normas e as políticas de governo da empresa (BOWIE, 1999). Por outro lado, as liberdades positivas também justificam reflexão sobre o modelo ideal de organização empresarial. Neste caso, a ética de Kant sugeriria modelos de gestão que promovessem o desenvolvimento das competências individuais, proporcionando um trabalho com significado, fruto de uma escolha livre e no âmbito do qual as pessoas fossem incentivadas a exercer as suas funções com autonomia. Isto implicaria, por exemplo, mais uma vez a participação nas decisões gerenciais, um planejamento de carreiras adequado e o investimento em programas de treinamento relevantes para os interesses de todas as partes.

Kant nunca escreveu extensamente sobre métodos de gestão ou modelos organizacionais ideais, no entanto, é possível inferir a partir da sua doutrina alguns eixos centrais da estrutura de uma empresa eticamente viável. O Quadro 14 apresenta algumas dessas características.

TESE DE DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO Responsabilidade Social das Empresas e Valores Humanos

170

1. A empresa deve considerar os interesses de todos os stakeholders em todas as decisões que toma.

2. Todos os afetados pelas regras e políticas da empresa devem poder participar na sua definição antes de serem implementadas.

3. Nenhum stakeholder específico deve ser considerado automaticamente prioritário em todas as decisões da empresa.

4. O número de indivíduos pertencentes a cada grupo de stakeholders não deve constituir critério suficiente que justifique a preferência pelos interesses de um grupo em detrimento de outro.

5. Todas as empresas com fins lucrativos têm um dever genuíno, embora limitado, de beneficência perante a sociedade.

Como pode se constata, embora algumas das propostas pareçam tão utópicas como a própria doutrina kantiana, elas representam um esforço interessante de aplicação dos