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seção 2.2.3.. No outro eixo, opõem-se o que pode ser considerado de Valores Práticos, ou seja, modos de pensar e de encarar o mundo que caracterizam o modo de estar e de agir nas

2.3. FUNDAMENTOS ÉTICOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

2.3.4. A Ética Deontológica

2.3.4.2. Teorias da Justiça

Nos termos abordados, as éticas utilitarista e kantiana sugerem princípios gerais de conduta que podem ser adotados como critério ético de avaliação do comportamento individual em sociedade. Por comparação, estes princípios podem também ser utilizados como critério de avaliação da prática empresarial, julgando a forma como a empresa se relaciona com o meio envolvente e a aceitabilidade ética dos impactos sociais da sua conduta. Embora constituam propostas filosóficas coerentes que influenciaram significativamente os fundamentos da moderna teoria econômica e da ciência política, as suas orientações gerais e abstratas nem sempre oferecem respostas satisfatórias perante alguns problemas e dilemas concretos da vida social. A abordagem ética do conceito de justiça permite compensar algumas dessas insuficiências das doutrinas clássicas. As teorias da justiça abordam, em particular, a forma como são atribuídos direitos e deveres na sociedade e como devem ser distribuídos os benefícios e os encargos entre os cidadãos.

A discussão sobre o conceito de justiça remonta à Grécia antiga. Aristóteles (384-322 a.C.) distinguiu a justiça universal (associada à conduta individual sintonizada com as virtudes morais) da justiça particular (associada à virtude aplicada a situações específicas). Esta justiça particular, segundo Aristóteles, define o justo como aquele que se apropria apenas dos benefícios sociais adequados à sua condição e que suporta, da mesma forma, os custos que lhe competem na repartição justa de encargos que decorrem da vida em sociedade (BOATRIGHT, 2003). A justiça particular subdivide-se ainda em justiça distributiva (ligada à distribuição de benefícios e de encargos), justiça compensatória (ligada à compensação das injustiças) e justiça retributiva (ligada à punição dos infratores que cometem injustiças). As duas últimas estão relacionadas com a correção de condutas e de circunstâncias que geram efeitos injustos para alguém, enquanto a primeira – a justiça distributiva – permite avaliar as instituições políticas, econômicas e sociais, na medida em que promovam uma repartição comparativamente justa pela sociedade dos encargos e dos benefícios que decorrem da cooperação social. O princípio aristotélico de justiça distributiva defende que os indivíduos devem ter um tratamento diferenciado quando existam diferenças relevantes entre as suas condições ou características, devendo essa diferenciação de tratamento corresponder à proporção das diferenças identificadas. Apesar do seu caráter puramente formal e, portanto, de aplicabilidade limitada, este princípio constitui um fundamento essencial do pensamento

sobre justiça, alertando para a necessidade de indivíduos diferenciados terem tratamentos diferenciados.

Assim, a justiça permite avaliar não só a conduta individual, mas também as principais instituições da sociedade. Segundo Rawls (2001), qualquer teoria ética tem que incluir princípios distributivos aplicáveis à estrutura de base da sociedade, constituindo estes princípios a sua doutrina sobre justiça. O autor refere que os princípios de justiça social “fornecem um critério para a atribuição de direitos e deveres nas instituições básicas da

sociedade e definem a distribuição adequada dos encargos e benefícios da cooperação social“ (RAWLS, 2001: p. 28). Enquanto o utilitarismo de Mill considera o valor de cada

indivíduo de acordo com as suas preferências e a sua satisfação e Kant considera todos os seres humanos dotados de uma dignidade que lhes confere igual valor moral como fins em si mesmos, as teorias da justiça distributiva fornecem princípios materiais que identificam quais os critérios relevantes de distribuição de benefícios e de encargos na sociedade, elevando o julgamento ético à reflexão sobre os modelos de organização política, social e econômica. Esta reflexão sobre a organização da sociedade e os critérios de justiça que a determinam parece essencial para o debate sobre a RSE, dado facilitar a compreensão do papel da empresa na sociedade e a avaliação da sintonia das suas práticas com os valores sociais fundamentais. A justiça social, neste caso, parece assumir especial importância quando se pretende definir as fronteiras da atividade empresarial e os critérios que devem presidir à sua conduta, enquanto instituição básica da sociedade.

As teorias da justiça distributiva podem ser classificadas como teorias igualitárias ou

teorias libertarianas88. As primeiras procuram definir as propriedades que diferenciam as pessoas e aquelas que as tornam iguais na distribuição de vantagens sociais. As segundas atribuem prioridade à proteção da liberdade individual e do direito à propriedade privada. Uma das mais influentes teorias igualitárias baseia-se no pensamento do filósofo contemporâneo John Rawls que apresenta uma teoria da justiça como equidade. A filosofia libertariana, por seu lado, pode ser encontrada no pensamento de Milton Friedman ou de Robert Nozick. Ambas as abordagens da justiça distributiva têm implicações relevantes para a gestão empresarial, sugerindo éticas distintas com ampla adesão que merecem, por isso mesmo, atenção mais detalhada.

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Embora existam outras categorias relevantes, tais como as teorias comunitarianas ou utilitaristas (BEAUCHAMP & BOWIE, 2004), a comparação entre as teorias igualitárias e as libertarianas parece adequada e suficiente para os fins desta discussão.

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Teoria da Justiça como Equidade

A teoria igualitária de Rawls, proposta originalmente em 1971, foi concebida pelo autor como alternativa aos princípios utilitaristas clássicos, apresentando uma teoria da justiça social baseada em uma concepção kantiana de igualdade, elegendo o contrato social de Rousseau e de Locke como método filosófico e matriz ética de referência. Rawls (2001) propõe-se desenvolver uma concepção de justiça de inspiração contratualista, embora refira desde o início da sua obra que em diversos aspectos relevantes esta se afasta da ética contratualista clássica. Assim, em vez de conceber um acordo original que permite a adesão a uma determinada sociedade ou a adoção de uma dada forma de governo, é proposto um contrato no âmbito do qual indivíduos livres e racionais aceitam certos princípios de justiça que devem regular os termos da sua associação89. Tratando apenas da justiça, o autor alerta que a sua teoria não pretende ser uma concepção contratual integral, uma vez que a filosofia contratualista pode ser alargada à escolha de um sistema ético completo “que inclua

princípios relativos a todas as virtudes e não apenas à justiça” (RAWLS, 2001: p. 37).

Segundo o contratualismo de Rawls, o acordo sobre os princípios fundamentais de justiça não decorre de uma situação histórica concreta ou de um estado cultural primitivo, mas de uma posição original de igualdade hipotética na qual os indivíduos não conhecem o seu lugar na sociedade, o seu estatuto, os seus talentos naturais, as suas habilitações intelectuais, as suas inclinações psicológicas, os seus projetos particulares, as suas características físicas, as suas concepções de bem, a geração a que pertencem ou a situação política e econômica e o nível de civilização e cultura da sociedade que integram. Esta posição original é caracterizada por este véu de ignorância hipotético que previne que a concepção que cada um tem do seu próprio interesse ou que “o conhecimento dos acasos que afastam os homens uns dos outros e

permitem que eles se deixem guiar pelo preconceito” (RAWLS, 2001: p. 38) afetem a

natureza dos princípios acordados. Ao adotar este método para deduzir os princípios de justiça social, Rawls procura garantir que eles emergem de uma situação inicial na qual ninguém é beneficiado ou prejudicado pelos resultados do acaso natural ou pela contingência das circunstâncias sociais. É precisamente a natureza igualitária desta posição original que

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Rawls (2001: p. 36) refere que “o mérito da terminologia do contrato está em que ela transmite a idéia de que os

princípios da justiça podem ser concebidos como os princípios que seriam escolhidos por sujeitos racionais”, acrescentando

que a palavra “contrato” sugere a pluralidade de interesses conflituais que estão subjacentes ao acordo necessário, realçando também a condição indispensável de aceitação dos princípios por todas as partes. O autor refere ainda que “é característico

das teorias contratualistas realçar a natureza pública dos princípios políticos” (RAWLS, 2001: p. 37), constituindo esta

mais uma vantagem da terminologia adotada, uma vez que os princípios de justiça devem ser conhecidos por todos os membros da sociedade, dado resultarem de um acordo coletivo.

justifica a designação de teoria da justiça como equidade, uma vez que os indivíduos envolvidos no acordo encontram-se numa situação inicial eqüitativa.

Os princípios de justiça de Rawls têm como objeto primário a estrutura básica da sociedade, ou seja, as instituições políticas, sociais e econômicas mais relevantes. Para Rawls, qualquer associação humana bem ordenada requer uma concepção pública de justiça, uma vez que a ausência de um consenso mínimo sobre o que é justo ou injusto dificulta significativamente a coordenação de planos pessoais de forma eficiente e a preservação de acordos mutuamente benéficos. Portanto, a sociedade justa será aquela que é constituída por instituições justas que evitam a discriminação arbitrária na atribuição dos direitos e deveres básicos e cujas regras “estabelecem um equilíbrio adequado entre as diversas pretensões que

concorrem na atribuição dos benefícios da vida em sociedade” (RAWLS, 2001: p. 29). Os

princípios de justiça social constituem, assim, um critério de atribuição de direitos e deveres nas instituições básicas da sociedade e de distribuição dos benefícios e encargos que inevitavelmente decorrem da cooperação social.

Rawls elabora a sua teoria por oposição aos princípios utilitaristas que considera incompatíveis com a concepção de uma cooperação social entre iguais destinada a assegurar benefícios mútuos90. Segundo o autor, a visão utilitarista da justiça não se preocupa, a não ser indiretamente, com a forma como a utilidade é distribuída entre os indivíduos nem com a forma como eles a distribuem no tempo. Assim, liberdades básicas e direitos elementares poderiam ser condicionados desde que a satisfação total, compensando ganhos e perdas de utilidade, aumentasse. Rawls considera esta possibilidade inaceitável. Embora reconheça que o utilitarismo exclui teoricamente os desejos e propensões que, caso fossem encorajados ou permitidos, conduziriam a um bem-estar social menor, Rawls não atribui valor prático a este princípio, argumentando que a generalidade das decisões humanas não permite ter um conhecimento suficiente das circunstâncias que indique com clareza que desejos e propensões serão esses. Por outro lado, o autor critica o fato do utilitarismo estender à sociedade o princípio da escolha que é aplicado a um sujeito isolado, ignorando a relevância da pluralidade e da individualidade de sujeitos com diferentes concepções de bem, múltiplos

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Rawls argumenta que entre o utilitarismo clássico e a teoria da justiça como equidade existe uma diferença implícita na concepção subjacente de sociedade. Para Rawls, a sociedade bem ordenada é uma “estrutura de cooperação que visa obter

vantagens recíprocas, regulada por princípios que são escolhidos por sujeitos colocados numa situação inicial que obedece às regras de equidade” (2001: p. 48). Para o utilitarismo, ao contrário, a sociedade é vista como “a administração eficiente de recursos sociais, que se destina a maximizar a satisfação do sistema de desejos construído por um espectador imparcial a partir de múltiplos sistemas individuais, aceites como dados” (2001: p. 48).

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desejos e interesses. Para Rawls, o princípio regulador da escolha social deve ter em conta as características da própria sociedade, enquanto comunidade de indivíduos que mantêm objetivos e concepções diversas ou até mesmo conflitantes. Aceitando a inevitável pluralidade dos sujeitos, Rawls procura definir princípios de justiça que regulem a vida em sociedades compostas por indivíduos com diversas concepções de bem.

Por oposição ao conseqüencialismo teleológico do utilitarismo, Rawls classifica a sua

teoria da justiça como equidade como deontológica, na medida em que esta “não interpreta

o conceito de justo como maximização do bem” (RAWLS, 2001: p. 46)91. Segundo o autor, as

teorias teleológicas definem o conceito de bem previamente e independentemente do conceito de justo, correspondendo este último à maximização do primeiro. Assim, para um utilitarista hedonista, a justiça consistirá na maximização do prazer, dado que considera o prazer como o bem primário. Rawls, pelo contrário, defende um critério de justiça prévio ao conceito de bem, impondo limites iniciais à noção de bem e aos tipos de caráter moralmente válidos. Rawls acusa o utilitarismo de, no cálculo do melhor equilíbrio líquido das utilidades, não considerar relevante, a não ser de forma indireta, aquilo sobre que incidem os desejos, dependendo o bem-estar social apenas, diretamente, dos níveis de satisfação ou de insatisfação dos sujeitos. Ao não impor limites aos objetos de desejo, o utilitarismo permite incluir na equação das utilidades desejos que Rawls considera inaceitáveis, como por exemplo, algumas formas de redução coerciva da liberdade individual. Na sua teoria da justiça como equidade, “as partes aceitam antecipadamente um princípio de igual liberdade,

e fazem-no sem ter conhecimento dos seus objetivos particulares. Concordam implicitamente, portanto, em conformar a sua concepção sobre o próprio bem às exigências dos princípios da justiça ou, pelo menos, a não fazerem exigências que os violem diretamente” (RAWLS, 2001:

p. 46). Esta é uma diferença fundamental que afasta definitivamente a concepção ética de Rawls da doutrina utilitarista.

Além disso, para Rawls, não há motivo para assumir que um ser racional, desejando proteger os seus interesses, consinta em uma perda significativa da sua posição em nome de um valor líquido de satisfação superior. Este ser racional, colocado na posição original sob o

véu da ignorância, não aceitaria uma estrutura básica cujo critério visasse apenas e sempre a

maximização da soma algébrica dos benefícios, tal como postulado pela doutrina utilitarista.

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Rawls define as teorias deontológicas por exclusão face às teleológicas, ampliando o âmbito daquelas para além do significado estrito original.

Assim, pressupondo o pluralismo dos sujeitos e aceitando a inevitabilidade dos conflitos de interesse resultantes da existência de bens escassos e desejos ilimitados de posse, Rawls (2001: p. 239) define os seguintes princípios de justiça social formulados com base no acordo entre indivíduos livres e racionais hipoteticamente situados numa posição original sob um véu da ignorância:

Primeiro Princípio

Cada pessoa deve ter um direito igual ao mais amplo sistema total de liberdades básicas iguais que seja compatível com um sistema semelhante de liberdades para todos.

Segundo Princípio

As desigualdades econômicas e sociais devem ser distribuídas por forma a que, simultaneamente:

a) redundem nos maiores benefícios possíveis para os menos beneficiados, de uma forma que seja compatível com o princípio da poupança justa;

b) sejam a conseqüência do exercício de cargos e funções abertos a todos em circunstâncias de igualdade eqüitativa de oportunidades.

Os princípios transcritos são dispostos por Rawls em ordem serial, tendo o primeiro prioridade sobre o segundo, o que significa que as liberdades básicas iguais protegidas pelo primeiro princípio não podem ser violadas, ou compensadas, por um qualquer benefício social decorrente da diminuição das desigualdades. A prioridade absoluta da liberdade e dos direitos fundamentais sobre os benefícios econômicos e sociais é um elemento-chave da filosofia política de Rawls. Segundo o autor, entre as liberdades básicas mais importantes, estão a

liberdade política (direito de votar e de ocupar um cargo público), a liberdade de expressão e de reunião, a liberdade de consciência e de pensamento, o direito à integridade pessoal

(proteção contra a opressão psicológica e a agressão física), o direito à propriedade privada e a proteção face à detenção e à prisão arbitrárias. (RAWLS, 2001: p. 68). Para Rawls, estas liberdades devem ser iguais para todos e apenas poderão ser limitadas ou restringidas na medida em que colidam entre si e provoquem, por isso mesmo, uma distribuição mais desigual de liberdades. O segundo princípio sugere que a distribuição da riqueza e do rendimento deve ser feita de forma a beneficiar os mais desfavorecidos com a desigualdade. Rawls sintetiza o seu pensamento em uma concepção que ele próprio classifica de mais geral, nos seguintes termos: “Todos os valores sociais – liberdade e oportunidade, rendimento e

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riqueza, e as bases sociais do respeito próprio – devem ser distribuídos igualmente, salvo se uma distribuição desigual de algum desses valores, ou de todos eles, redunde em benefício para todos. Assim, a injustiça é simplesmente a desigualdade que não resulta em benefício de todos.” (RAWLS, 2001: p. 69). Eis algumas das principais implicações dos princípios

enunciados:

Liberdades

As liberdades e direitos básicos não podem ser violados a não ser em benefício das próprias liberdades e direitos, logo, a liberdade não pode ser trocada por bem-estar (p. 198; p. 239).

Uma restrição da liberdade deve fortalecer o sistema total de liberdade partilhado por todos (p. 239).

Modificação da Estrutura Básica

Sem violar o princípio da igual liberdade ou da acessibilidade aos cargos, a estrutura básica da sociedade pode ser modificada de forma a aumentar as expectativas dos sujeitos representativos (p. 75).

Igualdade de Oportunidades

Para permitir uma genuína igualdade de oportunidades, a sociedade deve dar especial atenção aos que, por desigualdade de nascimento ou menor capacidade natural, são menos favorecidos (p. 95).

As diversas carreiras devem estar abertas à competência de cada um (p. 72).

Desigualdades

A desigualdade econômica e social só é admissível se ela funcionar em benefício dos menos favorecidos ou se a sua redução piorar ainda mais as expectativas destes relativamente aos bens sociais primários92 (p. 80).

Só devem ser atribuídas maiores vantagens a quem está em melhor posição se com isso se beneficiar os menos afortunados (p. 99).

A teoria de Rawls visa apresentar um modelo de justiça social destinado essencialmente à organização política e legislativa dos Estados. O autor fundamenta os seus princípios na necessidade de construir um sistema de governo mais justo e adequado às contingências da realidade contemporânea. Apesar do papel secundário que Rawls atribui às empresas, a sua filosofia tem implicações significativas para o meio empresarial, sugerindo

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Rawls refere como categorias de bens sociais primários os “direitos e liberdades, oportunidades e poderes, rendimento e

riqueza” (2001; p. 90). No entanto, o autor destaca o respeito próprio (auto-estima) como o mais importante bem primário,

incluindo “o sentido que cada pessoa tem do seu próprio valor, a sua convicção segura de que a sua concepção do bem, o

seu projeto de vida, merece ser posta em prática”, pressupondo ainda a existência de confiança para cumprir as próprias

intenções, na medida em que tal esteja ao alcance de cada um (RAWLS, 2001; p. 337).

uma ética baseada na justiça que influencia os modelos de gestão e os critérios aplicados à problemática da responsabilidade social.

Se aplicada ao contexto empresarial, a teoria da justiça como equidade sugere de imediato que a empresa seja encarada como uma instituição social e econômica que deve reger a sua conduta com referência aos princípios acordados entre sujeitos representativos, assumindo a existência de um contrato social imaginário que condiciona a forma como a empresa se relaciona com a sociedade. Este “contrato” implicará a necessidade da empresa adotar estratégias, políticas e práticas que respondam com eficácia às expectativas sociais que justificam a sua existência. É neste sentido que se justifica a responsabilidade ética da empresa, tal como definida no modelo de RSE, constituindo um dever moral que não está regulado por lei e que compromete a empresa para além do estrito fim lucrativo. A função original da empresa é produzir – e transacionar com objetivos lucrativos – bens e serviços que satisfaçam necessidades sociais, mas é esperado que este fim econômico seja alcançado em sintonia com os valores da sociedade, adotando princípios éticos de justiça adequados à matriz ética que caracteriza a concepção política e moral do meio envolvente.

De acordo com o primeiro princípio, as liberdades básicas só devem ser restringidas na medida em que comprometam outras liberdades. Tal como refere Florenzano (2004), a manutenção da ordem e segurança públicas é condição essencial para que todos os indivíduos possam livremente realizar os seus objetivos, constituindo um perigo para a liberdade de todos o rompimento destas condições. Assim se justifica que sejam restringidas atividades empresariais que causem danos significativos ao meio ambiente ou que representem perigo para a saúde humana. Mas estas preocupações ultrapassam largamente o âmbito legal, devendo as empresas proceder a um julgamento moral das suas ações e evitar condutas cujos efeitos comprometam a liberdade, tal como entendida por Rawls, de cada pessoa prosseguir os seus projetos de vida. A liberdade dos consumidores é igualmente condicionada se a empresa