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CAPÍTULO 2 ENSINO DO DIREITO DO BRASIL

2.3 TRADIÇÃO DO HUMANISMO DO ENSINO DO DIREITO BRASILEIRO

2.3.2 Acesso ao ensino do Direito

Uma questão importante a ser analisada envolve o acesso ao ensino superior. São as seguintes as formas de acesso, conforme o INEP329:

TABELA III

Formas de acesso ao ensino superior330

VESTIBULAR – processo seletivo tradicionalmente utilizado no ensino superior brasileiro e cujas provas deverão cobrir os conteúdos das disciplinas cursadas no ensino médio (língua portuguesa brasileira, matemática, biologia, física, química, história e geografia), uma língua estrangeira moderna (inglês, espanhol, alemão) e uma prova de redação.

ENEM – é o Exame Nacional do Ensino Médio, realizado pelo INEP, ao qual os alunos concluintes ou egressos do ensino médio poderão submeter-se voluntariamente. Cobre o conteúdo estudado em todo o ensino médio, através de questões objetivas que procuram integrar as várias disciplinas do currículo escolar e de uma redação, tentando identificar processos de reflexão e habilidades intelectuais adquiridos pelos alunos.

AVALIAÇÃO SERIADA DO ENSINO MÉDIO – é uma modalidade de acesso ao ensino superior que abre para o estudante do ensino médio o acesso à universidade de forma gradual e progressiva, compreendendo avaliações realizadas ao término de cada uma das três séries. O participante do programa não está impedido de concorrer também ao vestibular tradicional, ao concluir a terceira etapa do processo.

TESTE/PROVA/AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS – é o processo seletivo utilizado por algumas IES para avaliar o conhecimento dos alunos que pretendem ingressar nos seus cursos de graduação. As questões, que podem ser objetivas ou subjetivas, e o conteúdo ficam a critério da própria instituição, em função do curso pretendido.

AVALIAÇÃO DE DADOS PESSOAIS/PROFISSIONAIS – processo seletivo para ingresso na educação superior que substitui a realização de provas e testes pelo exame dos dados pessoais (escolarização, curso, histórico escolar) e ou profissionais (experiência/desempenho profissional). Outras formas de acesso através de avaliação de dados pessoais: ENTREVISTA e EXAME CURRICULAR DO HISTÓRICO ESCOLAR.

A questão do acesso ao ensino superior é preocupação declarada do governo brasileiro, que vem implementando mecanismos para a efetiva democratização da educação

330

Formas de acesso definidas pelo INEP. Disponível em: <http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/formas_ acesso.stm.>. Acesso em 08 maio 2008.

em favor de classes ou grupos sociais discriminados. Um desses mecanismos é o Programa Universidade para Todos (ProUni)331, criado em 2004 e institucionalizado em 13 de janeiro de 2005 pela Lei nº 11.096. O ProUni concede bolsas de estudo em IES privadas – que ficam isentas de alguns tributos – e é dirigido a alunos da rede pública e particular cujas famílias tenham renda de até três salários mínimos. Outro mecanismo é a possibilidade de o aluno que é bolsista parcial financiar 100% da mensalidade não-coberta pela bolsa do programa.

É inegável o mérito de iniciativas como o Programa Universidade para Todos - ProUni e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior - FIES, que são formas efetivas de democratizar o ensino, permitindo o acesso ao ensino superior a alunos de baixa renda. Mas há o outro lado: a preocupação com o endividamento destes estudantes no início de sua vida profissional.

Desde 2004 – data de sua criação – até o primeiro semestre de 2008, o ProUni já beneficiou cerca de 385 mil estudantes, 270 mil deles com bolsas integrais332. No segundo semestre de 2008 o programa ofertará bolsas nos mesmos moldes do primeiro semestre, distribuindo-as da seguinte forma entre as unidades da Federação:

331

“O ProUni oferece também ações conjuntas de incentivo à permanência dos estudantes nas instituições, como a Bolsa Permanência, o convênio de estágio MEC/CAIXA e o FIES – Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, que possibilita ao bolsista parcial financiar até 100% da mensalidade não coberta pela bolsa do programa. [...] Desde 2007, o ProUni – e sua articulação com o FIES – é uma das ações integrantes do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE. Assim, o Programa Universidade para Todos, somado à expansão das Universidades Federais e ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidade Federais – REUNI, ampliam significativamente o número de vagas na educação superior, contribuindo para o cumprimento de uma das metas do Plano Nacional de Educação, que prevê a oferta de educação superior até 2001 para, pelo menos 30% dos jovens de 18 a 24 anos”. Disponível em: < http://prouni-inscricao.mec.gov.br/pruni/Oprograma.shtm>. Acesso em: 09 jun. 2008. A respeito deste tema é importante salientar que as instituições privadas que aderirem ao ProUni devem destinar não menos que 10% das suas vagas para estudantes de baixa renda, enquanto as universidade federais devem destinar no mínimo 50% das suas vagas para estudantes de escolas públicas, dentre negros e índios.

TABELA IV

Bolsas ofertadas pelo ProUni no segundo semestre de 2008

Unidade da Federação

Número de bolsas

Integral Parcial Total

Acre 151 134 285 Alagoas 394 18 412 Amazonas 613 692 1.305 Amapá 223 30 253 Bahia 2.583 8.275 10.858 Ceará 686 688 1.374 Distrito Federal 1.262 3.091 4.353 Espírito Santo 1.265 2.204 3.469 Goiás 1.836 3.342 5.178 Maranhão 556 741 1.297 Minas Gerais 5.981 10.250 16.231

Mato Grosso do Sul 260 509 769

Mato Grosso 769 743 1.512 Pará 1.080 441 1.521 Paraíba 493 697 1.190 Pernambuco 908 815 1.723 Piauí 410 312 722 Paraná 3.240 5.687 9.107 Rio de Janeiro 4.381 2.780 7.161

Rio Grande do Norte 449 3.342 3.791

Rondônia 541 740 1.281

Roraima 95 46 141

Rio Grande do Sul 3.322 1.311 4.633

Santa Catarina 2.074 1.560 3.634

Sergipe 1.210 2.056 3.266

São Paulo 11.687 21.964 33.651

Tocantins 357 55 412

Total 47.006 72.523 119.529

Fonte: Ministério da Educação333. Dados atualizados em 03/01/2008.

333 Dados disponíveis e atualizados em 03/01/2008 sobre o Programa Universidade para Todos (ProUni).

Disponível em: < http://prouni.incricao.mec.gov.br/prouni/pdf/Numero_bolsas_UF_1_semestre_2008.pdf>. Acesso em: 09 jun. 2008.

A tabela evidencia uma projeção de 106.134 bolsas334 para o segundo semestre de 2008, sendo 52.977 integrais e 53.157 parciais – o que significa que o ProUni335 beneficiará mais de 100 mil alunos no total.

Não só o acesso, todavia, mas a permanência do aluno nas IES deve ser uma prioridade dos órgãos responsáveis pela educação. Para que isso aconteça é preciso ir além dos programas de bolsas e de financiamento das mensalidades, abrangendo a qualidade do ensino, aliada à preocupação com o mercado de trabalho e a demanda.

Massificar o ensino, como vem ocorrendo, não representa um incentivo ao estudante – especialmente no caso dos muito jovens, que estão construindo seu futuro profissional. Considerar que o ensino superior melhora a qualidade de vida das pessoas é um simplismo e equivale a fazer tabula rasa de todo um contexto que deve ser levado em conta. No caso do Direito, o excesso de cursos compromete indiscutivelmente o futuro profissional dos estudantes, com milhares de novos advogados ingressando a cada ano no mercado de trabalho e outros milhares de estagiários inscritos na OAB. Sem dúvida tais excessos implicam a mercantilização da advocacia, como é possível comprovar na tabela abaixo, cujos dados advêm do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil:

334

Sobre os financiamentos relativos ao ProUni/FIES: “[...] agora com carência de seis meses após a formatura e a dilatação do prazo de pagamento para duas vezes o tempo gasto na formação. Além disso, o Fies hoje pode financiar até 100% do valores das anuidades”. Conforme o Ministério da Educação. Educação de qualidade: compromisso de todos. Nova Escola, São Paulo, n. 213, p. 32-33, jun./jul. 2008.

335

Importantes as colocações de Boaventura de Sousa Santos ao refletir sobre o Programa, no que concerne à autonomia das universidades em relação ao ProUni: “Em consonância com o princípio da autonomia universitária, o projecto garante latitude para que cada instituição determine critérios de distribuição e de seleção para o preenchimento das vagas reservadas a estudantes de baixa renda e grupos raciais sub- representados no ensino superior. Estas propostas representam um esforço meritório no sentido de combater o tradicional elitismo social na universidade pública, em parte responsável pela perda de legitimidade social desta, sendo, por isso, de saudar. [...] Tem enfrentado muita resistência. O debate tem incidido no tema convencional da contraposição entre democratização do acesso e a meritocracia mas também em temas novos, como o do método da reserva de vagas e as dificuldades em aplicar o critério racial numa sociedade altamente miscigenada. O critério racial se dá pela auto-declaração”. In: SANTOS, 2004, p. 71-72.

TABELA V Advogados no Brasil

Seccional Advogados Estagiários TOTAL

AC 1.615 334 1.971 AL 5.182 161 5.376 AM 4.071 105 4.193 AP 1.005 45 1.083 BA 18.383 3.823 22.421 CE 11.965 580 12.587 DF 17.991 3.161 21.411 ES 9.509 867 10.473 GO 16.275 3.443 19.900 MA 5.141 268 5.498 MG 55.436 10 55.679 MS 7.475 987 8.594 MT 7.130 2.832 10.161 PA 8.681 654 9.414 PB 7.140 718 7.900 PE 16.010 1.898 17.994 PI 4.174 376 4.583 PR 31.599 512 32.509 RJ 108.609 27.221 136.786 RN 4.606 270 4.900 RO 3.287 173 2.511 RR 491 32 530 RS 47.274 4.472 51.893 SC 16.377 682 17.411 SE 3.031 295 3.368 SP 219.284 32.748 255.050 TO 2.723 169 2.972 TOTAL 634.464 86.836 728.169

Fonte: Ordem dos Advogados do Brasil – Conselho Federal336

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Dados disponíveis e atualizados em 14/12//2008 pela Ordem dos Advogados do Brasil – Conselho Federal. Disponível em: <http://www.oab.org.br/relatorioAdvOAb.asp>. Acesso em: 17 dez. 2008.

Não bastasse a demasia de tais números337 na maioria dos Estados brasileiros, vale destacar que os totais aumentam a cada novo Exame de Ordem no caso dos advogados e diariamente no que se refere aos estagiários. Quanto à qualidade dos cursos responsáveis pela formação desses contingentes de novos profissionais e/ou operadores do Direito, um indício concreto – e preocupante – são os baixos índices de aprovação dos alunos no Exame de Ordem. O fato também se deve, obviamente, à baixa qualidade de nosso ensino básico e médio, o que será abordado no item sobre o perfil do egresso do curso de Direito no Brasil.