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CAPÍTULO 1 PERSPECTIVA DO HUMANISMO NO DIREITO

1.1 HISTORICIDADE DO HUMANISMO : ANTIGUIDADE

1.1.1 Idade Antiga: de 3.500 a.C a 476 d C

O humanismo está alicerçado na filosofia pré-socrática, assim conhecida por anteceder ao filósofo grego Sócrates. Para projetar uma macrovisão sobre o tema, passemos à seguinte divisão:

1.1.1.1 Filosofia Pré-Socrática

Mais apropriadamente denominada de conhecimento mítico, primitivo, não- científico. Neste período a filosofia encontra seu primeiro registro através da escola pitagórica, caracterizada pela doutrina dos números, que considera “filósofo” aquele que

persegue o conhecimento, o saber. Nessa fase a filosofia se desenvolve não na Grécia – a “terra-mãe” –, mas em colônias como a Jônia e a Itália Meridional. O principal foco de interesse é, então, a filosofia natural.

1.1.1.2 Filosofia Ática1

O centro do desenvolvimento filosófico migra das colônias para a Grécia – ou da periferia para a “terra-mãe”. Suas figuras exponenciais são Sócrates, Platão e Aristóteles, e embora ainda se priorize questões envolvendo a natureza, o foco passa a ser o homem e sua relação com a moralidade, o Estado, o espírito e a alma.

1.1.1.3 Filosofia do Helenismo

Caracterizou o período entre 476 e 322 a.C., que marcou a ascensão de Alexandre Magno e a dissolução de seu império entre os sucessores. A fase também é marcada pelas escolas filosóficas de então2: o cinismo o estoicismo e o epicurismo.

No referido primeiro período se inclui a investigação especulativa – a chamada Filosofia primitiva. O homem estava envolvido por forças misteriosas e poderes ocultos, através dos quais as divindades dominam-lhe a vida e ele não consegue se determinar com segurança3. Num segundo momento – o chamado período politeísta – as divindades eram absolutas, sendo confundidas com o universo4. Tal fase da Filosofia grega motivará o surgimento do momento seguinte, conforme OLIVEIRA5:

1

Ver mais in: JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução de Artur M. Parreira 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

2 Ver também: WOLKMER, Antonio Carlos. Síntese de uma história das idéias jurídicas: da antigüidade

clássica à modernidade. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2006; RUSSEL, Bertrand. História da filosofia

ocidental. Livro primeiro. Tradução de Breno Silveira. 3. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967;

SIACCA, Michele Federico. História da Filosofia I : Antigüidade e idade média. Tradução de Luis Wsahington Vita. São Paulo: Jou, 1967.

3 Sobre o período pré-socrático, ver OLIVEIRA, Odete Maria. Conceito de homem: mais humanista, mais

transpessoal. Ijuí: Unijuí, 2006. p. 39-42.

4 “Neste período politeísta cada mito simbolizava o disfarce de uma força física personificada e animada:

deuses que provocavam medo e temor e que exigiam adoração. Desse modo, misteriosamente foram surgindo mitos e também deuses no mundo e que assim foram se inserindo no âmbito da filosofia. Impregnada desse conteúdo de mistério religioso, a mente do humano passou a se deslocar do particular para o universal – Uno – distanciando-se do vôo temporal em direção ao vôo transcendental. Essa divindade mítica tudo podia. Era

[...] o cosmológico – que, libertando-se desse caráter fantástico, tornar-se-á mais especulativo em suas investigações e desenvolvimento, polarizando-se em duas direções: o princípio (arché): princípio primeiro ou conjunto de vários princípios, onde o homem ainda não era uma preocupação e a natureza (physis).

Destarte, neste momento a natureza física e o universo eram o centro do interesse filosófico. A problemática do homem não era ainda o ponto central, mas a realidade cósmica em seus princípios, daí a denominação de período cosmológico.

Em meio a tais preocupações envolvendo a natureza e seus elementos (água, terra, ar e fogo), os filósofos passaram a indagar acerca da “concepção6

de um Ser absoluto: Princípio primeiro – motor imóvel – transcendente ao homem e às coisas”. E assim chegaram à preocupação filosófica do “devir7 (vir-a-ser), do movimento e do tempo, e finalmente sobre a indagação sobre o porquê do homem, o porquê da vida do homem, o porquê o homem nasce e o porquê o homem morre”.

Assim, no século V a.C inicia-se uma nova etapa da filosofia grega8, envolvendo uma volta do homem sobre si mesmo, sobre sua vida e sua finitude – é o período antropológico. Um momento em que, conforme OLIVEIRA9, o “homem se dá conta de que tem que fazer questão de quem ele é”. Há, neste caminhar histórico, uma mudança no foco das preocupações dos pensadores, passando-se do naturalismo dos pré-socráticos ao humanismo a que se dedicam os sofistas – um humanismo que tem como preocupação central a vida do homem e os problemas práticos do cotidiano.

Os sofistas preocuparam-se com vários temas: sociais, jurídicos, políticos, morais e psicológicos, incluindo até a oratória – enfim, com todas as questões que envolvessem o homem e seu lugar na sociedade. Por outro lado, os sofistas provocaram discussões e reflexões sobre o homem – o homem no mundo e o homem pelo homem – de forma realista, sem idealismos, afetando de maneira importante a filosofia grega. Oliveira10

vista tanto como lei da natureza quanto poderosa força de mistério a dominar os humanus. O natural e o divino não se distinguiam. Os deuses confundiam-se com o universo”. Idem, p. 40.

5 Idem, Ibid., p. 40-41. 6

Idem, op. cit., p. 41.

7 Idem, op. cit., p. 42.

8 “Surgimento das escolas: Iônica ou Primeira Escola (séculos VII a VI a.C.), Pitagórica ou doutrina de

números (séculos VI – IV a.C.) e Eleática ou da Dialética (séculos VI a V a.C.). Foram destaques da Escola Iônica: Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto e Heráclito de Éfeso. Da Escola Pitagórica, como o próprio nome diz em homenagem a Pitágoras, seu fundador e destaque. Escola Eleática, também tendo como destaque o fundador Xenófanes, de Colofon”. Ver mais sobre estas escolas em: OLIVEIRA, op. cit., p. 43-53.

9

TOBEÑAS, José Castan. Humanismo y derecho. Madri: Reus, 1962. p. 20.

prossegue, afirmando que “saindo do mundo cosmológico voltou-se ao mundo antropológico. Conseqüentemente, se a história do humanismo não se inicia exatamente com os sofistas, com eles certamente firmou profundas e seguras raízes”.

Os sofistas – termo cujo significado original se liga à noção de “sábio” ou aos que se dedicavam ao estudo das ciências e das artes – tinham características em comum com os chamados filósofos naturais ou da natureza, dentre elas a da crítica à mitologia tradicional. Mais tarde foram assim chamados os professores, os que detinham algum saber técnico. Então se verifica uma distorção, pois tornaram-se mercenários. Ávidos de poder pecuniário, usando de argumentos falsos sob o pretexto de verdadeiros, eram arrogantes e vaidosos na busca de ascensão na pirâmide social da época.

Para o presente estudo, todavia, a sofística (doutrina dos sofistas) é “o conjunto de doutrinas, métodos e atitudes intelectuais daqueles pensadores gregos da época socrática”, de acordo com Vilela11

. O sofista Protágoras (487 a.C. – 420 a.C.) afirmava que “o homem é a medida de todas as coisas”12

e era considerado um agnóstico.