• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 PERSPECTIVA DO HUMANISMO NO DIREITO

1.1 HISTORICIDADE DO HUMANISMO : ANTIGUIDADE

1.1.3 Platão (429 a.C – 347 a.C.)

O verdadeiro nome de Platão (429 a.C. – 347 a.C.) era Arístocles – que significa “de família nobre e rica”. O apelido “Platão” se deve ao fato de ele ser espadaúdo, pois o filósofo foi atleta na juventude. Discípulo de Sócrates, foi uma das maiores fontes do

16 “Dizem que a mãe de Sócrates era parteira, e o próprio Sócrates costumava comparar a atividade que exercia

com a de uma parteira. Ela só fica por perto para ajudar durante o parto. Sócrates achava, portanto, que sua tarefa era ajudar as pessoas a „parir‟ uma opinião própria, assim acertada, pois o verdadeiro conhecimento tem de vir de dentro e não pode ser obtido „espremendo-se os outros‟. Só o conhecimento que vem de dentro é capaz de revelar o verdadeiro discernimento”. Ver mais em: VILELA, op. cit., p. 30-34.

17 “Foram destaque das Escolas Socráticas Menores: a) Escola Cínica e Escola Cirenaíca (séculos IV a.C. a III

d.C.), avultaram a academia fundada por Antístenes de Atenas, cuja doutrina observa que o prazer individual e imediato é o único bem possível, sendo por isso princípio e fim da vida moral. Todo prazer enquanto tal é um bem: hedonismo. Em resumo, para o hedonismo todo o humano e a humanidade têm sua razão de ser no prazer. b) Escola de Megara (séculos V a IV a.C.). Fundada por Euclides de Megara no século V a.C., surgiu a denominação da Escola Megárica, que buscava aproximar e discutir a doutrina socrática do conhecimento universal e a doutrina do Ser uno e imutável dos eleatas”. OLIVEIRA, op. cit., p. 53.

pensamento socrático, tendo fundado uma Escola de Filosofia – a Academia19 – onde se

ensinava através de diálogos entre os acadêmicos e os professores. Sobre o pensamento de

Platão, aduz SCIACCA20:

Platão, além de revelar a imperfeição do método socrático, destituído do procedimento da dedução – do universal ao particular -, assinala, advertido pelo estudo das matemáticas, cujas verdades objetivamente válidas não são induzidas da experiência, que a percepção sensorial não é induzível do particular e não é nem mesmo uma formação mental.

Tal como ocorria com Sócrates, a investigação de Platão respeitava àquilo que é eterno e imutável, e que por outro lado flui. E esta questão estava relacionada com a moral do homem e os ideais da sociedade – o que fluía era a discussão sobre o certo e o errado. Conforme VILELA21, “por mais estranho que possa parecer à primeira vista,

platonismo é, a um só tempo, um idealismo e um realismo exagerado. Mais: idealismo e

realismo exagerado constituem o centro unificador de todo o sistema platônico, em torno dele tudo gravita e ele a tudo vicia também”. Platão acreditava numa realidade autônoma por trás do “mundo dos sentidos. A esta realidade ele deu o nome de mundo das idéias”. A Dialética deriva daí. Concebida como a ciência das idéias, compreende duas partes: o método (caminho) que conduz à sua contemplação e o estudo das idéias, que VILELA22 conceitua como a “intuição intelectiva das idéias, sobretudo da idéia do Bem (que se confunde com a idéia de Deus, segundo a melhor interpretação), idéia imparticipada e da qual tudo o mais participa”. Também conhecida como a teoria das idéias. A filosofia de Platão observa RUSSEL23:

[...] É uma espécie de visão, a “visão da verdade”. Não é puramente intelectual, não é meramente sabedoria, mas amor da sabedoria. O “amor intelectual de Deus”. [...] A visão de Platão, na qual ele confiou inteiramente na ocasião em que escreveu a República, necessita da ajuda de uma parábola, a parábola da caverna24, a fim de

19 “A Escola foi fundada nos arredores de Atneas, num bosque que levava o nome do legendário herói grego

Academos. Desde então, centenas de milhares de academias foram fundadas no mundo inteiro. Até hoje empregamos as expressões „acadêmicos‟ e „disciplinas acadêmicas”. Idem, op. cit., p. 97.

20 SIACCA, Michele Fredeirco. História da filosofia. História da filosofia I: antiguidade e idade média.

Tradução de Luís Washington Vita. 3.ed. São Paulo: Jou, 1967, p. 64-65.

21 VILELA, op. cit. p. 38. 22

Idem, p. 39.

23 RUSSEL, Bertrand. História da filosofia ocidental. Livro primeiro. Traduação de Breno Silveira. 3. ed.

Companhia Editora Nacional, 1968, p. 144.

24 A parábola da caverna conduz: “aquêles que são destituídos de filosofia podem ser comparados a prisioneiros

numa caverna que só podem olhar numa direção, pois que estão agriolhados, tendo atrás um fogo e na frente uma parede. Entre eles e a parede não existe nada; vêem apenas as suas próprias sombras e a dos objetos que

explicar ao leitor sua natureza. Mas é conduzida por várias discussões preliminares, destinadas a fazer com que o leitor veja a necessidade do mundo das idéias.

Ainda sobre a discussão de Platão sobre a parábola a respeito da caverna, acaso um homem que estivesse preso na caverna e depois descesse para ela, Platão ele indaga: “[..] Se um homem nessas condições descesse de novo para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do sol?25” Também lhe causaria risos ao saber que o que enxergava era apenas sombra e deslumbramento ao entender que o que via não era real. E enfatiza PLATÃO26:

[...] Esse quadro deve agora aplicar-se a tudo quanto dissemos anteriormente, comparando o mundo visível através dos olhos à caverna da prisão, e a luz da fogueira que lá existia à força do Sol. Quanto à subida ao mundo superior e à visão do que lá se encontra, se a tomares como a ascensão da alma ao mundo intelegível, não iludirás a minha expectativa, já que é teu desejo conhecê-la. [...] No limite do cognoscível é que se avista, a custo, a idéia do Bem; e, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de quanto há de justo e belo; que, no mundo visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhora; e que, no mundo intelegível, é ela a senhora da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para se ser sensato na vida particular e pública.

No que se refere à metafísica, TOBEÑAS27 esclarece que “Especialmente a partir de Platão (429-347 a. de J.C.) tem-se o surgimento da Metafísica e ao mesmo tempo o começo do Humanismo”. Relembrando que Sócrates foi um dos pioneiros na reflexão sobre o homem, vale parafrasear Tobeñas para afirmar que na Grécia o humanismo foi a conquista definitiva do antropológico sobre o cosmológico; o descobrimento do homem diante do cosmos. Por outro lado, é importante frisar que na filosofia grega o tema do homem era discutido de forma metafísica e não exatamente de forma humanística. Aduz TOBEÑAS28:

estão atrás deles, projetados na parede pela luz do fogo. Inevitávelmente consideram tais sombras como reais, e não têm noção dos objetos a que pertencem. Por fim, alguém consegue fugir da caverna para a luz do sol; pela primeira vez, vê as coisas reias, percebendo que até então fora enganado por sombras. Se é um filósofo apto a tronar-se guardião, considera seu dever para com a quêles que foram seus companheiros de prisão descer de novo à caverna, instruí-los quanto à verdade e ensinar-lhes o caminho para cima. Mas terá dificuldade em persuadi-los, porque vindo da luz do sol, verá as sombras menos claramente do que eles, lhes parecerá mais tolo do que antes da fuga”. In: RUSSEL, Bertrand. O p. cit., p. 145-146.

25 PLATÃO. A república. Introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. 8. ed. Porto:

Fundação Calouste Gulbenkian, 1996, p. 321.

26 PLATÃO, op. cit., p. 321.

27 TOBEÑAS, idem. op. cit., p. 21-22. “especialmente a partir de Platón (429-347 a. de J.C.) se marca el

comienzo de la Metafísica al mismo tiempo que el comienzo del Humanismo”.

28

Idem, p. 23. “Que la concepción helênica del hombre fué completada y superada por la filosofia Cristiana, ya que, mientras la antropologia pagana está proyectada, de uma manera em cierto modo externa, hacia el Cosmos, el Cristianismo contempla los valores humanos em su intimidad, hecha ya sustantiva, y otorga a la persona una consideración de mayor dignidad. [...] El homen Cristiano se sabe elevado a una especial dignidad por encima del Cosmos, em virtud de la imagen divina que encarna y como consecuencia de la relación filial que le une com Dios”.

A concepção helênica do homem foi completada e superada pela filosofia cristã, já que, enquanto a antropologia pagã está projetada, de uma maneira em certo modo externa, fazia o Cosmos, o Cristianismo contemplar os valores humanos em sua intimidade, esta já substantiva, e outorga à pessoa uma consideração de maior dignidade. [ ] O homem cristão sabe-se elevado a uma especial dignidade acima do Cosmos, em virtude da imagem divina que encarna e como conseqüência da relação filial que o une a Deus”.

Trabalharam os gregos na descoberta do homem-indivíduo, e não o homem enquanto como pessoa. O cristianismo descobriu a persona e deu início à sua filosofia. TOBEÑAS29 relembra:

A filosofia antiga, não obstante a preocupação socrática acerca da essência do homem e a doutrina aristotélica da individuação, desconheceu completamente o problema filosófico da pessoa. [...] É no plano da natureza, único ângulo de visão da filosofia antiga, que o homem não podia ser senão indivíduo. A pessoa é categoria espiritual. Nasce quando o ente psico-físico desperta a consciência de si e de seu destino exclusivo, intransferível. Incide no pensamento filosófico quando a teologia cristã afirma o valor inestimável de cada alma individual.

Na obra Ética a Nicômaco, ARISTÓTELES30 preocupou-se com o tema da justiça como virtude ética por excelência, distinguindo “duas espécies de justiça: o justo distributivo e o justo corretivo”.