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O TRABALHO DOCENTE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR SOB A NOVA GESTÃO PÚBLICA

2.3 Acesso: mérito ou privilégio?

A democratização do acesso à educação superior a de se cumprir o seu objetivo

de diminuição das injustiças sociais quando ao defender o princípio da igualdade promove nas IFES a defesa de critérios de acesso menos discriminatórios para os estudantes das classes trabalhadoras. Os estudantes oriundos de classes ou grupos sociais discriminados, onde o racismo assumido ou não, é um fato as discriminações raciais e étnicas devem ser confrontadas com programas de ações afirmativas que

62 Na área do acesso a maior frustração da última década foi que o objetivo de democratização do acesso

não foi conseguido, a discriminação de classe, raça, sexo ou etnia continuam a fazer do acesso uma mistura de mérito e privilégio, ao invés de democratização, houve massificação e depois, uma forte segmentação do ensino superior com práticas de autêntico dumping social de diplomas e diplomados. (SANTOS e ALMEIDA FILHO 2008, p.61)

106 acompanhem não apenas o acesso, mas também a permanência e/ou sucesso desses estudantes.

A política de inclusão social no ensino superior prevê bolsas de estudo63 aos alunos de baixa renda e pelo menos 50% das vagas nas universidades públicas são destinadas para os estudantes das escolas públicas distribuídas de acordo com a composição étnico-racial dos estudantes. Estas ações representam o esforço de combate a meritocracia e ao elitismo social tão presente nas universidades públicas mais prestigiadas do país.

A partir da segunda década do século XXI, mais especificamente a partir do Governo Lula da Silva, foram empreendidos uma série de programas no setor do ensino superior com ênfase para o aumento e melhoria de oferta dos serviços educacionais em todo o país, neste sentido, o maior acesso à educação deveria ser distribuído em todo o território nacional por intermédio de uma política pública de reestruturação desse nível de ensino.

Segundo Silva, Vicentim, Nascimento e Oliveira (2015), a identificação dos seguintes programas governamentais: Programa Universidade para Todos (PROUNI), Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), Sistema de Seleção Unificada (SISU), Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), Expansão da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica e Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB).

A composição de um sistema de ensino na modalidade a distância com a

finalidade de expandir a oferta de cursos e programas e com o objetivo de ampliar o

acesso à educação superior e reduzir as desigualdades de oferta de ensino superior entre as diversas regiões brasileiras configura-se da seguinte maneira:

embora a nomenclatura indique Universidade, se trata de uma rede de instituições de ensino superior públicas atuando em consórcio. Embora a nomenclatura indique Aberta, o acesso se dá apenas aos aprovados em exames de seleção, e, embora a modalidade seja a distância, por normativa do Ministério da Educação, são necessários encontros presenciais nos polos de apoio, sendo que para a graduação estes encontros são semanais. (SILVA, VICENTIM, NASCIMENTO E OLIVEIRA 2015, p.12)

63 Criado em 2013, o Programa de Bolsa Permanência (PBP) é uma ação do governo federal de concessão

e auxílio financeiro a estudantes matriculados nas IFES em situação de vulnerabilidade socioeconômica e para estudantes indígenas e quilombolas, a finalidade da bolsa é diminuir a desigualdades sociais e contribuir com a permanência e a diplomação dos estudantes de graduação em situação de fragilidade, além de reduzir custos de manutenção de vagas ociosas em decorrências da evasão e promover a democratização do acesso ao ensino superior. (BRASIL, 2015, p.85)

107 A análise da implementação do sistema UAB após nove anos identificou uma grande expansão estando a UAB presente com seus polos em 622 municípios brasileiros, mais que duas vezes o número de 252 municípios que abrigam campus das Universidades Federais. Quando se trata de redução da desigualdade da oferta de ensino superior em termos regionais, em se tratando da instalação de unidades, a UAB não compensa os desequilíbrios das instalações dos campi universitários, municípios de pequeno e grande porte, de modo que, é possível reduzir a desigualdade de oferta entre municípios pequenos. Vejamos:

Tabela 8

Panorama da expansão universitária no Brasil

2002 2014

IFES 45 63

Campus 148 321

Cursos de Graduação Presencial 2.047 4.867

Vagas Graduação Presencial 113.263 245.983

Matrículas Graduação Presencial 500.459 932.263

Matrículas Educação à Distância 11.964 83.605

Matrículas Pós-Graduação 48.925 203.717

Fonte: CENSO/2013-Inep

A preocupação com o direito de todos à educação e ao acesso a educação superior foi princípio importante ressaltado há anos nos relatórios para a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Constituição Federal, a LDB, a Conferencia Mundial sobre educação Superior, Convenção de luta contra a Discriminação, dentre outros documentos. O art. 26 do parágrafo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 declara que "Toda pessoa tem o direito à educação", e que "a educação superior deverá ser igualmente acessível a todos com base no respectivo mérito". Já a Convenção relativa a luta contra a discriminação, realizada pela UNESCO em 1960 aconselha a todos os Estados a "tornarem obrigatório e gratuito o ensino primário; generalizarem e tornarem acessível a todos o ensino secundário em suas diversas formas; em plena igualdade, em função das capacidades de cada um, o ensino

108 superior." A Convenção das Nações Unidas realizada em 1989 pela Organização das Nações Unidas - ONU, estipula que os Estados "assegurem a todos o acesso ao ensino superior, em função das capacidades de cada um, por todos os meios apropriados." Submersos no sistema capitalista de produção sob a égide do ideário neoliberal a reconfiguração de conceitos e a releitura dos ideais educacionais são levados para outros rumos assim como ocorre a adoção de peculiaridades para as relações de trabalho, os termos igualdade de direitos, justiça, solidariedade, acesso e permanência no ensino não são mais máximas universais, mas são apenas tidas como um mínimo necessário a convivência, a mudança de enfoque para as iniciativas individuais, competências e habilidades tornou no auge da prática neoliberal a exclusão em seu nítido viés democrático.

Ocorre uma substituição do conceito de igualdade por equidade ao se admitir que algum não pudesse ou não deverão ser atendidos, seja por falta de capacidade, talento, condição socioeconômica do indivíduo ou recursos financeiros ou administrativos do poder público. Criando assim duas categorias de cidadãos: os que devem ser atendidos nos sistemas de ensino e os que estão fora e lá devem ficar. A substituição de termos é uma das estratégias de grupos de poder dominantes a fim de difundir novos conceitos e valores, apagando da memória do povo noções de cidadania, solidariedade, igualdade e direitos sociais. Assim a responsabilidade da democracia de oferecer oportunidades iguais para todos é reconfigurada, dando lugar à competição e ao mérito individual. (SOUZA 2007, p.66)

Os dilemas práticos da sociedade capitalista não se confundem aqui apenas se

agravam ao tomar uma proporção maior, que é o caso do emaranhado das políticas de acesso ao ensino superior com ênfase para a flexibilização e democratização do acesso ao ensino superior. Souza (2007) problematiza o crescimento desordenado desse nível de ensino a partir dos anos de 1990 e o advento de suas novas formas de seleção que em si não contribuíram para democratizar o acesso a esse nível de ensino ressaltando o esforço individual daqueles que conquistaram outrora. Para ela, o neoliberalismo questiona a noção de direito e igualdade, os quais são considerados nas sociedades democráticas, direitos sociais. Um sistema democrático segundo o modelo neoliberal permite ao indivíduo desenvolver sua capacidade e potencialidade no mercado, considerando ainda que o Populismo e o Estado de bem-estar, com suas práticas coletivistas, intensificaram os efeitos improdutivos da educação, já que são os critérios meritocráticos, pautados na aptidão individual os responsáveis pela liberdade individual

109 e pelo sucesso educacional, colaborando com a exclusão da maioria das pessoas, por isso, que o sentido pleno da equidade não se cumpre em seu sentido etimológico.