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O TRABALHO DOCENTE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR SOB A NOVA GESTÃO PÚBLICA

2.6 Elementos estruturais e ideológicos da divisão do trabalho docente

A ênfase para o treinamento técnico dos professores ou o retorno do tecnicismo educacional abre uma agenda predominantemente de reformas educacionais neoliberais haja vista a ênfase reducionista aos aspectos mais práticos para formação docente na contemporaneidade. A visão e o papel do trabalho docente encontra de forma crescente a correspondência dos esforços jurídico-legais, das políticas públicas educacionais, programas e projetos direcionados para o reforço do ‗treinamento técnico‘ para os futuros professores.

A retórica da eficiência baseada no custo, da reestruturação, da reengenharia e do enxugamento tornaram-se palavras de código para amarrar a educação de forma ainda mais estreita aos imperativos ideológicos e econômicos do mercado de trabalho. Isto é evidente, por exemplo, na atual avaliação conservadora dos programas de Humanidades dos cursos de graduação como ideologicamente carregados e economicamente inviáveis. Em muitas universidades, incluindo as universidadse de Minesota e de Yale, programas críticos em Humanidades, fiscalizando a etnia, o feminismo e os estudos literários foram ou eliminados ou drasticamente reduzidos. A influência empresarial sobre a universidade pode ser vista nos projetos de pesquisa e nos institutos de política pública organizados em torno de interesses ideológicos conservadores e de programas de treinamento que prometem emprego futuro na nova ordem global. (GIROUX 2013, p.90)

122 Os termos técnicos e gerenciais transferidos para o âmbito educacional ferem sobremaneira a possibilidade de compreensão da pluralidade e multidisciplinaridade ao qual o conhecimento científico suporta em seu âmago. A abordagem crítica dos conteúdos, com seus temas geradores perdem o seu sentido se estiverem sintonizados com a retórica do mercado de trabalho global. Isso atinge os futuros docentes quando em sua formação inicial não se cogita debates e controvérsias de alcance e densidade provocativa. A mídia em tese movimenta uma nova geração de profissionais radicalmente diferentes, de ficção científica, fantasmagórica e alienígena. (GREEN e BIGUM 2013, p.204)

Os aspectos mais prementes que marcaram a condição do processo de trabalho docente podem ser melhor identificadas pelas etapas de massificação do proletariado elencadas por Alain Bhir (2010) que resultam no período de introdução da especialização para o trabalho, do chamado para a qualificação técnica em serviço, e pela absorção das máquinas mediante a introdução dos métodos fordistas de produção. Em destaque emerge uma nova figura hegemônica do proletariado ocidental a do

operário massa em substituição a figura do operário de ofício, que por sua vez, desempenha um papel central na luta de classe . Um movimento histórico do operário- massa fabril, em aspecto semelhante com o operário- massa intelectual. As características do seu trabalho é parcelarizado e repetitivo, não possui particularidades de lugar e de profissão ou de inserção a um dado grupo social. A uniformização da identidade profissional agrava as particularidades da profissão e da inserção em um dado grupo social que permite a sua caracterização enquanto operário e a sua força enquanto coletividade. As características desse operário-massa giram em torno não apenas da invasão subjetiva do controle que lhe é imposto, mas também, nas relações estabelecidas em relação ao domínio de sua existência.

O surgimento da nova figura hegemônica no interior do proletariado, ou seja, o operário-massa corresponde ao desempenho de um novo tipo de conflito entre as classes, embora esses trabalhadores compõem um universo reificado em suas relações mercantis, reduzido a dispersão geográfica e ao enraizamento, recusam a expropriação generalizada e a individualização, pois enfraquecem as redes de socialização e a consciência de classe. Essa contradição constitui-se em um processo de personalização estrutural e ideológica de estimulação ao desejo da autonomia do proletariado perante o processo de trabalho e consequentemente a formação de conselhos de oficinas e de conselhos de fábrica, difusão da autogestão e de reivindicações de formas não alienantes

123 de trabalho. Os revoltados com o conjunto de obrigações em nome do aumento da produtividade não se calcula o choque advindo das virtudes emancipatórias da auto atividade dos trabalhadores que implicavam na ação da autonomia da classe mediante as organizações políticas e a conquista de negociação com o aparelho ideológico do Estado fazendo-os subordinados as organizações sindicais. (BIHR 2010, p.63).

Nesta perspectiva, o conjunto de fatores internos sustentados pela explosão da contradição acabou por inverter a premissa de subordinação total do proletariado. Os elementos constitutivos e estratégicos de sustentação da relação social impõem ao capital e ao processo de produção capitalista a radicalidade de uma crise estrutural do capitalismo. As transformações do capitalismo denotam que o movimento operário triunfou resultado de uma revisão de seu papel hegemônico e de seu espaço em mutação. Na atualidade os ventos da ideologia da social-democracia chama o movimento operário para o compromisso da profissão. Chamo atenção para esse aspecto, pois a hipótese que funda a contradição é que move a busca de perspectivas posteriores de luta do proletariado. Em linhas gerais, o desemprego e a instabilidade dos contratos de trabalho edificam provisoriamente a bandeira de luta e a agenda de reformas.

O plano ideológico sustenta basicamente esses micropoderes concedidos a princípio pelas transformações na organização da divisão do trabalho. Ainda são estimulados métodos e técnicas rígidos para se justificar a não redução do tempo de trabalho mesmo que sejam veementemente contestados.

É bem verdade que fazer da profissão professor uma rotina incessante de corrida para resultados impulsiona para a mesma reinvenção, ao invés de condenar o ofício, é preciso colocar-se profundamente no emaranhado de sua relações sociais e buscar o compromisso não da condenação mas da memória do trabalho e do conjunto de realizações alcançadas. Em estudo crítico sobre a formação do professor foi possível despertar para o desenvolvimento em primeiro lugar das respostas encontradas no exercício da reflexão no afã da docência, os princípios da autobiografia, da história de vida, da ego história, da biografia educativa, da narrativa de formação e da cartografia perfazem o interesse em suscitar o enfrentamento de si mesmo e do escolher ser professor. Evidentemente, quando tratamos do processo de formação nos cursos de licenciatura o ponto de partida é inventariar toda uma vida e enche-la de princípios organizativos de uma prática em sua totalidade.

124 Nestes marcos me identifico com a instância teórica de Pereira (2013) que conceitua o professor em seu vir a ser, em seus dizeres, para o exercício de um novo professor em mim. O devir-professor-em-mim era virtual e abandonou o caminho seguro e repetitivo das aulas/palestras e se permitiu trilhar o caminho das aulas/pesquisa. O ‗dador de aulas‘, alguém que, sobretudo, abreviava o trabalho dos alunos, o desempenho concentrava-se em ler o que os alunos deveriam ter lido, pensar o que eles deveriam ter pensado, compor a aula e em seguida apresentar o percurso, de fato, o professor seria um atalho para a formação de seus alunos. Segundo o ponto de vista institucional a universidade contribuía para trazer a forma pronta, a redução dos tópicos a serem planejados e a formação instrucional de treinamento e fabricação de identidades.

Neste contexto, a realidade do trabalho docente conjuga o trivial. Que se restaure o movimento infinito e cíclico das disciplinas e dos campos do saber, que se espalhem o desvelamento da apropriação dos meios de produção da subjetividade. Em suma, a mediação no processo de formação de professores incorpora a didática do recomeço, da recriação, da cristalização, da referencia, do parâmetro, da decisão, da vontade, da consciência, do compromisso, da ruptura, da emancipação, dos sonhos, do experimentar, da possibilidade, do quem traz para o ensino a associação do saber e sua relação com o cotidiano em suas situações reais.

Em linhas gerias procuramos problematizar nesse capítulo sobre a importância de estabelecer vínculos teórico-conceituais de maior aplicabilidade real para os alunos dos cursos de licenciatura de modo a sedimentar de maneira mais significativa os saberes da ciência distante da contaminação imposta pela sociedade capitalista, a qual, valoriza, a competição, a individualização e a fragmentação não apenas dos conceitos da ideologia burguesa dominante, mas também a grande confusão conceitual de que a profissão professor se não bem conduzindo no papel do professor ela pode servir como massa de manobra para apenas a reprodução do capital tal e qual.

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CAPÍTULO III

QUAL PROFISSIONALIZAÇÃO DA DOCÊNCIA E QUE