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O TRABALHO DOCENTE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR SOB A NOVA GESTÃO PÚBLICA

2.2 Expansão desenfreada à exemplo os IFETs

Aos futuros trabalhadores a expansão da educação superior profissionalizante atesta uma antiga tendência de diversificação do sistema de educação superior amparados legalmente60 para o direcionamento de ressignificação do ensino pós-secundário enquanto ensino superior o que acaba por afetar o trabalho do professor

59 Para explicar melhor qual expansão? Onde e quando? Voltamos à historicidade do ensino

profissionalizante, pois a expansão tem a finalidade última de acolher aqueles que se propõem a ascender à profissão, portanto, nessa perspectiva a educação é o benefício que instrumentaliza para o trabalho. O que se expande é o número de salas de aula na universidade pública brasileira para acolher esses jovens na segunda década do século XXI traduzida em novo campus universitários que acolhem os jovens ingressantes no ensino médio profissionalizante sem se importar muito com as condições de trabalho físico-estruturais dos laboratórios para acolher esses alunos e os seus professores.

97 e a sua formação. Segundo a cartilha do Banco Mundial desde os anos de 1990 essa modalidade de ensino é denominada de educação terciária61.

As escolas de formação profissional criadas no Brasil desde 1909 paralelamente à rede de escolas destinadas à formação propedêutica atendiam populações com diferentes origens de classe e definiam, assim, o caráter de classe da educação brasileira. Para os futuros trabalhadores, não era requerida uma escolarização geral e ampliada, uma vez que não havia necessidades significativas de trabalho intelectual, portanto, os cursos profissionais superiores os denominados Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, os (IFETs) atuais possuem as mesmas, por sua vez, características de acolher as diferentes necessidades profissionais para atender a demandas da indústria, em crescente desenvolvimento devido à necessidade de absorver profissionais mais especializados na prestação de serviços. Mais recentemente, surge uma segunda regulação da Lei nº 12.513,em 26 de outubro de 2011, que institucionaliza o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC). Esse programa se propõe à expansão, interiorização e democratização da oferta de cursos de educação profissional técnica de nível médio presencial e a distância e de cursos e programas de formação inicial e continuada ou qualificação profissional.

A seguir a ilustração exemplifica a implementação dessa interiorização institucional do IFET/MG, de modo que a sede se encontra na capital do Estado de Minas Gerais na cidade de Belo Horizonte e suas respectivas macrorregiões, cidades que alojam a instituição totalizando 6 (seis) Campi Avançados em cada cidade em específico. Vejamos a figura 2 (dois) na página seguinte:

61―Em nome da ―educação terciária‖, o Banco Mundial reivindica o aprofundamento da diversificação

das instituições de ensino superior, dos cursos, currículos, dando ênfase ao ensino de graduação (o mais aligeirado possível), desvinculado da pesquisa e da produção crítica e criativa do conhecimento, mas organicamente vinculado ao mercado e suas demandas. Este texto discute um dos braços desta diversificação: a expansão do ensino profissional e tecnológico no Brasil, mais especificamente, na rede federal de educação superior‖. (MANCEBO & SILVA JUNIOR 2015, p. 76-77)

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Fonte: https://www2.ifmg.edu.br/governadorvaladares/unidades-do-ifmg

Essas inovações desenvolvem-se no âmbito da sedimentação dos modelos da universidade pública brasileira a partir dos anos de 2011, a primeira inovação de estimulo a diversificação no ensino superior e a segunda inovação de incentivo a expansão do ensino profissionalizante também para a modalidade do ensino superior. A adaptação desses antigos Cefets, Escolas Agrotécnicas e escolas vinculadas às Universidades Federais são fortemente criticadas pela carência de profissionais, pelo ensino improvisado e de baixa qualidade, também essa inovação revela os conflitos e tensões que vêm marcando as relações interpessoais nos IFETs e os reflexos negativos que acarretam para o campo pedagógico. Por outro lado, permite pensar sobre a hierarquia existente entre áreas e campos do saber, entre os diversos níveis de ensino e sobre os estigmas em relação à formação de trabalhadores, particularmente no que tange à educação de jovens e adultos. Outra preocupação que deve estar presente na análise dos IFETs, refere-se à obrigatoriedade do oferecimento das licenciaturas e capacitação pedagógica de professores, em instituições que, na maioria das vezes, não contam, em seus quadros, com docentes licenciados e, portanto, com formação pedagógica e com tradição de pesquisa no campo da formação docente.

o sistema federal de educação superior é composto de duas redes: a das universidades e a rede profissional. E, a despeito do que é proclamado, têm objetivos, funções e controles distintos, além de se destinarem a públicos também diferentes. Além do pragmatismo, cuja inspiração advém das recomendações do Banco Mundial, que indica serem as universidades de

99 pesquisa muito dispendiosas, além do marketing que a expansão da rede profissional proporciona, há que se arguir sobre interesses mais estruturais para a compreensão de uma aposta tão forte nesse novo modelo. Uma hipótese bastante plausível é a de que essa reforma configura processos formativos e educativos que atendem (e reproduzem) o capitalismo e suas formas de alienação necessárias à sua manutenção, na atual conjuntura. (...) a educação constrói-se, historicamente, à luz das demandas de valorização do capital, para o que os processos de capacitação ou disciplinamento da força de trabalho são vitais. (MANCEBO & SILVA JUNIOR 2015, p. 89).

Neste sentido, a educação se fortalece mediante uma lógica de adaptação a processos de formação e capacitação dual e flexível destinada para uma realidade educacional simplificada e de qualidade questionável. A complexidade da expansão se assenta nesse paradoxo de formação. São políticas que desviam o direito à educação para o direito à certificação de escolaridade. Os interesses nesse novo modelo indicam à possibilidade de expansão de processos formativos que reproduzem o sistema capitalista e seus modos de produção ao disciplinar a força de trabalho.

A rede profissional associada à formação de nível superior estimula outras vertentes teóricas para a formação e está direcionada para a formação do trabalhador e as demandas de concorrência do mercado, assim, a lógica paradoxal e dual da formação cumpre mais uma vez o papel de formatar e adestrar os novos postos de trabalho inaugurando saberes vinculado para o calculo monetário, simplista, reducionista, produtivista e mecânico.

Vislumbremos os dados disponibilizados pelo Ministério da Educação (MEC) que atestam, por sua vez, também a ampliação das Universidades Federais Mineiras.

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Tabela 3: Expansão da educação superior nas universidades federais por região

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Tabela 4: Expansão de indicadores acadêmicos na educação superior Universidade Federais Brasileiras por região

Fonte: INEP/CENSO

Segundo os dados estatísticos demonstrados comprovamos que, nos últimos dez anos pode-se visualizar com mais clareza esse crescimento e suas taxas de matrícula nas universidades, centros universitários, faculdades, IFETs e Cefets segundo a categoria e grau acadêmico. Os dados do Censo da Educação Superior disponibilizados no Sistema Unificado de Ensino Superior, indicam que no período de 2012 à 2013, a matrícula cresceu 4,4% nos cursos de bacharelado, 0,6% nos

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cursos de licenciatura e 5,4% nos cursos tecnológicos. Os cursos de bacharelado têm uma participação de 67,5% na matrícula, enquanto os cursos de licenciatura e tecnológicos participam com 18.9% e 13,7%, respectivamente. Também nesse mesmo período, temos que a matrícula cresceu 3,9 % nos cursos presenciais e 3,6% nos cursos à distância. Os cursos a distância já contam com uma participação superior a 15% na matrícula de graduação (BRASIL/MEC/INEP, 2015, p.10)

As finalidades educacionais para a educação superior a distância de acordo com o ponto de vista de Feltran (2004) deve-se pretender, mas que a mera preparação dos alunos para o mercado de trabalho, a despeito de sua grande importância e complexidade, o objetivo da formação básica dos universitários na preparação do ‗profissional‘ passa a ter preponderância a preparação do cidadão comprometido com seu próprio desenvolvimento diante a volatilidade requeridas pelo mundo do trabalho donde serão requeridas o seu papel social. Destarte, temos que os cursos de licenciatura em EAD ocupam grande parcela de demanda para a formação nas universidades federais, para tanto, consultemos os dados estatísticos disponibilizados respectivamente para análise a seguir.

Tabela5:

Estimativa dos concluintes dos cursos de licenciatura presencial e EAD de 2009 a 2013. (a seguir)

Tabela 6:

Estimativa dos ingressantes dos cursos de licenciatura presencial e EAD de 2009 a 2013. (página seguinte)

Tabela 7:

Demanda de concluintes por componente curricular no período de 20 anos. (página seguinte)

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104 No país a crise do capital intensifica o paradoxo na formação dos professores ao estimular como prioridade a certificação. A expansão têm evidenciado que 86,6% dos cursos em EAD estão sendo ofertados nas universidades privadas e 13,4% pelo espaço púbico. Destes percentuais de 86,6%, 29,6% são cursos na modalidade de tecnológicos, 39,1% em cursos de licenciaturas, 31,3% em cursos de bacharelado na categoria EAD. A distribuição das matrículas é destinada para os seguintes tipos de instituições: 70,8% em Universidades, 25, 2% em Centros Universitários, 3,2% em Faculdades e 0,8% em Ifets e Cefets.

A porcentagem dos cursos de licenciaturas que ofertam a modalidade de EAD em universidade públicas federais é ínfima, portanto, qualquer que forem as análises contribui para alertar para a não proliferação dessa modalidade nas IFES devido a grande parcela de carência de profissionais, pelo ensino improvisado e de baixa qualidade, pela inovação que revela os conflitos e tensões nas relações interpessoais e pelos estigmas em relação à formação de trabalhadores. (MANCEBO & SILVA JUNIOR, 2015, p. 90)

Principalmente aos estigmas na formação dos trabalhadores são denotados pela ampla frequência de estudos que não se aproximam a realidade do espaço/tempo de formação desse futuro professor, são ambientes virtuais de aprendizagem que distanciam o estudo mais crítico-reflexivo da realidade da docência.

Martins, Azevedo & Nonato (2014) analisam que para a formação do professor universitário e da docência no ensino superior é preciso traçar um perfil ideal do ―novo‖ professor ressaltando sobre a importância das competências didático- pedagógicas. Os elementos essenciais para esse fazer docente concentram- se em criar estratégias para melhorar a qualidade da formação docente, quais sejam: o aprimoramento das metodologias para o ensino superior, introdução de ambiente virtual de aprendizagem, identificação das características do(a) professor(a) universitário(a) e da docência no contexto atual. Por fim, ressaltam o não ensejo em traçar um perfil do professor ideal, mas sim discutir as inúmeras significações produzidas em relação a esse ―novo‖ professor, principalmente sob a ótica de estudantes de pós-graduação, que se encontram na linha tênue entre estar na condição de aluno e ser professor. A construção de significados para a docência reside então em comparecer ao encontro presencial e procurar o contato diretamente

105 com as produções coletivas para não tornar o conhecimento e a produção do conhecimento pedagógico vazio de significado.

Tendo em vista a essa expansão, temos que as condições de trabalho docente no contexto da expansão da educação superior é alvo de grandes embates visto que o aumento de matrículas na universidade pública brasileira e o não aumento no quadro de profissionais é um indicativo de precarização do trabalho docente. Coelho (2015) afirma que a precarização e intensificação do trabalho docente na educação superior têm sido objeto de estudo, tomando como referência a reestruturação produtiva e seus impactos no âmbito educacional, para a autora os aspectos decorrentes dessas exigências apontam para uma possível precarização e intensificação do trabalho docente. Como por exemplo: a desqualificação da formação da profissão professor

justificada pela pedagogia das competências; as perdas salariais não repostas; o aumento da jornada de trabalho e atuação em diversas instituições a fim de permitir melhores ganhos financeiros; a submissão a novas estratégias de controle externo por meio da aplicação de exames nacionais e auditorias que responsabilizam o docente por eventuais fracassos escolares; aumento do trabalho burocrático e das atribuições do professor no âmbito da escola (registro de tarefas, prestação de contas, gestão escolar, etc.); exigência de titulação e formação continuada; aumento da proporção do número de alunos por professor; dentre outros fatores. (COELHO 2015, p.77)