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Admissibilidade de amicus curiae

CAPÍTULO 4 – CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE

4.4 Ação direta de inconstitucionalidade

4.4.4 Processo e julgamento

4.4.4.6 Admissibilidade de amicus curiae

O artigo 7º, § 2º, da Lei n. 9.868/99

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prevê a figura do amicus curiae,

contemplando a possibilidade de determinados órgãos ou entidades se

manifestarem sobre a matéria alvo da ação direta, em caso de relevância da

discussão e de representatividade dos postulantes.

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Conquanto não chegue a conferir caráter contraditório ao processo, a

instituição do amicus curiae propicia a participação de setores organizados da

sociedade, tornando mais democrático e pluralista o controle abstrato no Brasil.

Ademais, não se pode perder de vista que no controle concentrado há causa

de pedir aberta

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e, assim, a participação do amicus curiae reveste-se de patente

importância, visto que permite à Alta Corte o conhecimento das posições jurídicas e

256 Carlos Gustavo Rodrigues Del Prá explicita que amicus curiae significa “amigo da corte” e que,

em todas suas possíveis formas, agirá imediatamente em benefício da própria corte, conquanto possa, mediatamente, buscar a satisfação de um interesse próprio ou de terceiro. Relativamente à previsão contida no artigo 7º, § 2º, da Lei n. 9.868/99, só é possível se admitir a intervenção voluntária de ‘outros órgãos ou entidades’, sendo que quaisquer outras pessoas, tais como professores, ‘experts’, etc., não estão autorizadas a manifestar-se voluntariamente com fundamento nesse dispositivo. Diferentemente ocorre quanto à hipótese em que há manifestação por iniciativa do relator (‘Amicus curiae’: instrumento de participação democrática e de aperfeiçoamento da prestação jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2008. p. 82-84).

257 “Art. 7º Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta de

inconstitucionalidade. § 1º (vetado). § 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.”

258 Cássio Scarpinella Bueno, ao comentar os requisitos para o ingresso do amicus curiae, afirma

que por relevância da matéria deve ser entendida a necessidade concreta sentida pelo relator de que sejam trazidos aos autos outros elementos para a formação do seu convencimento. Tal relevância deve ser “indicativa da necessidade ou, quando menos, da conveniência de um diálogo entre a norma questionada e os valores dispersos pela sociedade civil ou, até mesmo, com outros entes governamentais.” Quanto à questão da representatividade do postulante, o supracitado jurista entende que “terá ‘representatividade adequada’ toda aquela pessoa, grupo de pessoas ou entidade, de direito público ou de direito privado, que conseguir demonstrar que tem um específico ‘interesse institucional’ na causa e, justamente em função disso, tem condições de contribuir para o debate da matéria, fornecendo elementos ou informações úteis e necessárias para o proferimento de melhor decisão jurisdicional. Meros interesses corporativos, que dizem respeito apenas à própria entidade que reclama seu ingresso em juízo, não são suficientes para sua admissão na qualidade de ‘amicus curiae’.” (‘Amicus curiae’ no processo civil brasileiro, cit., p. 139-147).

259 A Suprema Corte, ao apreciar o pedido na ação direta de inconstitucionalidade, não se cinge aos

fundamentos e argumentos expendidos na inicial, devendo apreciar todos os aspectos relevantes para a verificação da compatibilidade entre a norma impugnada e a Constituição Federal.

o acesso a todos os elementos informativos possíveis e necessários à resolução da

controvérsia.

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Superando o entendimento inicial de que a manifestação deveria ser apenas

por escrito, o Supremo Tribunal Federal fixou novo posicionamento, admitindo a

possibilidade excepcional de sustentação oral pelo amicus curiae.

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A manifestação do amicus curiae pode ocorrer após o encerramento do

prazo de informações,

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todavia não pode ser admitida quando já estiver em curso

o julgamento.

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ADI-MC 2.321/DF – Relator Ministro Celso de Mello – Julgamento: 25/10/2000 – DJU: 10/06/2005 – Disponível em: <http:www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 02/11/2009. “Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – RESOLUÇÃO EMANADA NO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL – (...) – MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA – FISCALIZAÇÃO NORMATIVA ABSTRATA – PROCESSO DE CARÁTER OBJETIVO – INAPLICABILIDADE DOS INSTITUTOS DO IMPEDIMENTO E DA SUSPEIÇÃO – CONSEQUENTE POSSIBILIDADE DE PARTICIPAÇÃO DE MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (QUE ATUOU NO TSE) NO JULGAMENTO DE AÇÃO DIRETA AJUIZADA EM FACE DE ATO EMANADO DAQUELA ALTA CORTE ELEITORAL. (...) PROCESSO OBJETIVO DE CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO – POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO DO ‘AMICUS CURIAE’: UM FATOR DE PLURALIZAÇÃO E DE LEGITIMAÇÃO DO DEBATE CONSTITUCIONAL. (...) A intervenção do ‘amicus curiae’, para legitimar-se, deve apoiar-se em razões que tornem desejável e útil a sua atuação processual na causa, em ordem a proporcionar meios que viabilizem uma adequada resolução do litígio constitucional. A ideia nuclear que anima os propósitos teleológicos que motivaram a formulação da norma legal em causa, viabilizadora da intervenção do ‘amicus curiae’ no processo de fiscalização normativa abstrata, tem por objetivo essencial pluralizar o debate constitucional, permitindo, desse modo, que o Supremo Tribunal Federal venha a dispor de todos os elementos informativos possíveis e necessários à resolução da controvérsia, visando-se, ainda, com tal abertura procedimental, superar a grave questão pertinente à legitimidade democrática das decisões emanadas desta Suprema Corte, quando no desempenho de seu extraordinário poder de efetuar, em abstrato, o controle concentrado de constitucionalidade (...)”.

261 ADI-QO 2.777/SP – Relator Ministro Sepúlveda Pertence – Informativo STF n. 349 – Disponível

em: <http:www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo349.htm>. Acesso em: 14/11/2009. O Ministro Sepúlveda Pertence, revendo seu posicionamento inicial, passou a admitir a sustentação oral dos amici curiae, consignando, inclusive, que cabia ao Tribunal criar uma fórmula regimental que a discipline, em especial, para as hipóteses em que sejam muitos os admitidos à discussão da causa.

262 Na ADI 1.104/DF, DJU 29/10/2003, o Ministro Gilmar Mendes reconsiderou decisão anterior,

admitindo a manifestação da Companhia Energética de Brasília na condição de amicus curiae, mesmo após encerrado o prazo das informações. “Decisão: Não obstante a plausibilidade da interpretação adotada na decisão de fl. 73, no sentido de que o prazo das informações seria o marco para a abertura procedimental prevista no art. 7º, § 2º, da Lei n. 9.868, de 1999, cabe reconhecer que a leitura sistemática deste diploma legal remete o intérprete a uma perspectiva pluralista do controle abstrato de normas. Assim, consideradas as circunstâncias do caso concreto, reconsidero a decisão de fl. 73, para admitir a manifestação da Companhia Energética de Brasília, que intervirá no feito na condição de ‘amicus curiae’. Fixo o prazo de cinco dias para a manifestação. Após o registro, na autuação, do nome da interessada e de seus patronos, publique-se. Brasília, 21 de outubro de 2003. Ministro Gilmar Mendes Relator.” Disponível em: <http:www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 14/11/2009.

263 Na ADI 1.842/RJ, DJU 06/03/2006, o Ministro Joaquim Barbosa indeferiu o pedido de inclusão

do Estado da Bahia no feito como amicus curiae, fundamentando a sua decisão nos seguintes termos: “Decisão: (...) Decido. O pedido é extemporâneo. Com efeito, no caso, já foi lançado relatório e proferido o voto do ministro relator Maurício Corrêa. O pedido deveria ocorrer antes do início do julgamento e perante o relator da causa. A sequência de artigos em que inserido o

Outro ponto fundamental a ser ressaltado é que o amicus curiae não tem

direito a formular pedido ou de aditar o pedido já delimitado pelo autor da ação,

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bem como não pode interpor recursos ou impugnações.

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