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CAPÍTULO 4 – CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE

4.4 Ação direta de inconstitucionalidade

4.4.2 Competência

A teor do artigo 102, inciso I, alínea a, da Carta da República,

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ao Supremo

Tribunal Federal compete, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe

processar e julgar, originariamente, a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou

ato normativo federal ou estadual.

Por sua vez, à vista do modelo federativo brasileiro, a competência para o

exercício da jurisdição constitucional concentrada de leis estaduais ou municipais,

tendo como parâmetro a Constituição do Estado-membro, é do Tribunal de Justiça

ou do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Nos termos do artigo 125, § 2º, da

Constituição da República,

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os Estados estão autorizados a instituir

representação

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de inconstitucionalidade de leis e atos normativos estaduais ou

municipais em face da Constituição Estadual.

determinada hipótese, não confere a qualquer pretensão a nota da imprescritibilidade. Cabe ao intérprete buscar no sistema normativo, em regra através da interpretação extensiva ou da analogia, o prazo aplicável” (In: BARROSO, Luís Roberto (Org.). Temas de direito constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. t. I, p. 499-501).

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ADI-MC 1.247/PA – Relator Ministro Celso de Mello – Julgamento: 17/08/1995 – DJU: 08/09/1995 – Disponível em: <http:www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 22/11/2009. “Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – INEXISTÊNCIA DE PRAZO DECADENCIAL – ICMS – CONCESSÃO DE ISENÇÃO E DE OUTROS BENEFÍCIOS FISCAIS, INDEPENDENTEMENTE DE PREVIA DELIBERAÇÃO DOS DEMAIS ESTADOS-MEMBROS E DO DISTRITO FEDERAL – LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DO ESTADO-MEMBRO EM TEMA DE ICMS (CF, ART. 155, 2º, XII, "G") – NORMA LEGAL QUE VEICULA INADMISSIVEL DELEGAÇÃO LEGISLATIVA EXTERNA AO GOVERNADOR DO ESTADO – PRECEDENTES DO STF – MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA EM PARTE. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE E PRAZO DECADENCIAL: O ajuizamento da ação direta de inconstitucionalidade não está sujeito a observância de qualquer prazo de natureza prescricional ou de caráter decadencial, eis que atos inconstitucionais jamais se convalidam pelo mero decurso do tempo. Súmula 360. Precedentes do STF (...).

191 “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,

cabendo-lhe: I – processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;”

192 “Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta

Constituição. (...) § 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.”

193 No sentir de Kildare Gonçalves Carvalho, há utilização imprópria do termo “representação”, uma

vez que se trata de verdadeira ação direta de inconstitucionalidade (Direito constitucional. Teoria do Estado e da Constituição. Direito constitucional positivo, cit., p. 435).

Impõe-se observar, nesse horizonte, que não se admite que os Tribunais de

Justiça procedam ao julgamento, em controle abstrato, da constitucionalidade de lei

federal contestada em face da Constituição Estadual, ou de lei estadual ou municipal

em face da Constituição Federal.

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Se houver simultâneo ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade

no âmbito federal e no âmbito estadual, ou seja, perante o Supremo Tribunal Federal

e perante o Tribunal de Justiça, cujo objeto seja lei ou ato normativo estadual,

diferenciando-se apenas o paradigma (no primeiro caso a Constituição Federal e, no

outro, a Constituição Estadual), a decisão que vier a ser proferida pelo Supremo

Tribunal vinculará o Tribunal de Justiça, não ocorrendo, porém, o contrário. Assim,

havendo tramitação concomitante e paralela de duas ações, e sendo a norma

estadual impugnada mera reprodução da Constituição Federal,

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tem-se concluído

pela suspensão do processo na esfera estadual.

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194 ADI 347/SP – Relator Ministro Joaquim Barbosa – Julgamento: 20/09/2006 – DJU: 20/10/2006 –

Disponível em: <http:www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 02/11/2009. “Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ART. 74, XI – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE, PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, DE LEI OU ATO NORMATIVO MUNICIPAL EM FACE DA CONSTI- TUIÇÃO FEDERAL. PROCEDÊNCIA. É pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, antes e depois de 1988, no sentido de que não cabe a Tribunais de Justiça Estaduais exercer o controle de constitucionalidade de leis e demais atos normativos municipais em face da Constituição Federal. Precedentes. Inconstitucionalidade do art. 74, XI, da Constituição do Estado de São Paulo. Pedido julgado procedente.” Há outros precedentes jurisprudenciais: ADI 409/RS – Relator Ministro Sepúlveda Pertence – Julgamento: 13/03/2002 – DJU: 26/04/2002 e ADI-MC 409/DF – Relator Ministro Celso de Mello – Julgamento: 06/12/1990 – DJU: 15/03/1991 – Disponíveis em: <http:www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 02/11/2009.

195 Segundo Clèmerson Merlin Clève, há normas constitucionais compulsoriamente reproduzidas

pelo Estado-membro e outras que, mesmo figurando na esfera da autonomia estadual, repetem dispositivo constante da Carta da República. Em princípio, apenas as primeiras poderiam dar ensejo, no caso de deficiente interpretação, à interposição do recurso extraordinário. As segundas, sendo estritamente normas constitucionais de estatura estadual, serviriam de parâmetro definitivo e único para a apreciação da validade dos atos normativos e das leis estaduais (A fiscalização abstrata da constitucionalidade no direito brasileiro, cit., p. 404).

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ADI-MC 1.423 – Relator Ministro Moreira Alves – Julgamento: 20/06/1996 – DJU: 20/11/1996 – Disponível em: <http:www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 02/11/2009. “Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – PEDIDO DE LIMINAR – LEI N. 9.332, DE 27 DE DEZEMBRO DE 1995, DO ESTADO DE SÃO PAULO. Rejeição das preliminares de litispendência e de continência, porquanto, quando tramitam paralelamente duas ações diretas de inconstitucionalidade, uma no Tribunal de Justiça local e outra no Supremo Tribunal Federal, contra a mesma lei estadual impugnada em face de princípios constitucionais estaduais que são reprodução de princípios da Constituição Federal, suspende-se o curso da ação direta proposta perante o Tribunal estadual até o julgamento final da ação direta proposta perante o Supremo Tribunal Federal, conforme sustentou o relator da presente ação direta de inconstitucionalidade em voto que proferiu, em pedido de vista, na Reclamação 425. Ocorrência, no caso, de relevância da fundamentação jurídica do autor, bem como de conveniência da concessão da cautelar. Suspenso o curso da ação direta de inconstitucionalidade n. 31.819 proposta perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, defere-se o pedido de liminar para suspender, ‘ex nunc’ e até decisão final, a eficácia da Lei n. 9.332, de 27 de dezembro de 1995, do Estado de São Paulo.”

Na hipótese de lei ou ato normativo municipal contrariar disposição da

Constituição Estadual, de observância obrigatória de dispositivo da Constituição

Federal, a Corte Suprema tem decidido que cabe a representação de

inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justiça do respectivo Estado-membro,

ressalvando, porém, a possibilidade de manejo de recurso extraordinário se a

interpretação da norma constitucional estadual contrariar o sentido e o alcance da

Carta da República.

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Outrossim, quando se trata de lei ou ato normativo municipal em face da

Constituição Federal, existem, no Brasil, duas formas de proceder ao controle de

constitucionalidade, ou seja, pela via da arguição de descumprimento de preceito

fundamental ou pela via do controle difuso, exercido incidenter tantum, no caso

concreto, por todos os órgãos do Poder Judiciário.

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Nesse particular, a Máxima

Corte fixou orientação de que as leis municipais que ferem a Lei Maior não podem

ser impugnadas por meio de ação direta, cabendo, nesse caso, o controle difuso.

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Rcl 383/SP – Relator Ministro Moreira Alves – Julgamento: 11/06/1992 – DJU: 21/05/1993 – Disponível em: <http:www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 02/11/2009. “Ementa: RECLAMAÇÃO COM FUNDAMENTO NA PRESERVAÇÃO DA COMPE- TÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROPOSTA PERANTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA NA QUAL SE IMPUGNA LEI MUNICIPAL SOB A ALEGAÇÃO DE OFENSA A DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS ESTADUAIS QUE REPRO- DUZEM DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS FEDERAIS DE OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA PE- LOS ESTADOS – EFICÁCIA JURÍDICA DESSES DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS ESTADUAIS – JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL DOS ESTADOS-MEMBROS. Admissão da propositura da ação direta de inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justiça local, com possibilidade de recurso extraordinário se a interpretação da norma constitucional estadual, que reproduz a norma constitucional federal de observância obrigatória pelos Estados, contrariar o sentido e o alcance desta. Reclamação conhecida, mas julgada improcedente.”

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BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional, cit., p. 130.

199 Rcl 337/DF – Relator Ministro Paulo Brossard – Julgamento: 18/08/1994 – DJU: 19/12/1994 –

Disponível em: <http:www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 02/11/2009. “Ementa: RECLAMAÇÃO – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI MUNICIPAL EM FACE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – COMPETÊNCIA – AJUIZAMENTO PERANTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADUAL – LEI MUNICIPAL – INCONSTITUCIONALIDADE POR OFENSA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ARGUIÇÃO ‘IN ABSTRATO’, POR MEIO DE AÇÃO DIRETA, PERANTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. O nosso sistema constitucional não admite o controle concentrado de constitucionalidade de lei ou ato normativo municipal em face da Constituição Federal; nem mesmo perante o Supremo Tribunal Federal que tem, como competência precípua, a sua guarda, art. 102. O único controle de constitucionalidade de lei e de ato normativo municipal em face da Constituição Federal que se admite é o difuso, exercido ‘incidenter tantum’, por todos os órgãos do Poder Judiciário, quando do julgamento de cada caso concreto. Hipótese excepcional de controle concentrado de lei municipal. Alegação de ofensa à norma constitucional estadual que reproduz dispositivo constitucional federal de observância obrigatória pelos Estados. Competência do Tribunal de Justiça estadual, com possibilidade de recurso extraordinário para o STF. Precedentes RCL 383-SP e REMC 161.390-AL. Reclamação julgada procedente para cassar a decisão cautelar do Tribunal de Justiça do Estado, exorbitante de sua competência e ofensiva a jurisdição desta Corte, como guardiã primacial da Constituição Federal. Art. 102, ‘caput’, I, ‘e’, da CF.”

Relativamente ao controle concentrado de lei ou ato normativo distrital em

face da Constituição Federal, deve-se ter em conta que, nos termos do artigo 32 da

Carta Política,

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o Distrito Federal possui as competências administrativas e

legislativas cumuladas dos Estados e dos Municípios.

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Nesse diapasão, o Supremo Tribunal Federal concluiu ser admissível, e de

sua própria competência, a ação direta de inconstitucionalidade em face de lei ou

ato normativo do Distrito Federal, desde que no exercício de competência estadual,

que contrariar a Constituição Federal. De outra margem, tratando-se de lei ou ato

normativo distrital no exercício de competência municipal, não será possível o

controle concentrado, por equivaler à arguição de uma lei municipal em face da

Constituição da República.

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