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Interpretação conforme a Constituição

CAPÍTULO 4 – CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE

4.4 Ação direta de inconstitucionalidade

4.4.7 Modalidades de decisão

4.4.7.4 Interpretação conforme a Constituição

Partindo dos pressupostos da supremacia da Constituição, da necessidade

de interpretação das normas jurídicas e da presunção de constitucionalidade das

leis, pode-se concluir que a interpretação jurídica é parte integrante do processo de

aferição de compatibilidade, ou não, de normas infraconstitucionais com a Carta da

República. Assim, segundo Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, “quando uma ou

algumas das interpretações possíveis da norma resultarem em incompatibilidade

com o Texto Magno, avulta a importância da chamada ‘interpretação conforme a

Constituição’, significando que se deve optar pela interpretação da norma que se

coadune com a Lei Maior, eliminando aquelas que a contrariem.”

403

No sentir de Regina Maria Macedo Nery Ferrari, a interpretação conforme a

Constituição

404

é uma técnica que tem por escopo salvar as leis ou atos normativos,

ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; e "d"): livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão; 3. Em consequência, e inconstitucional, também, a Lei Complementar n. 77, de 13.07.1993, sem redução de textos, nos pontos em que determinou a incidência do tributo no mesmo ano (art. 28) e deixou de reconhecer as imunidades previstas no art. 150, VI, "a", "b", "c" e "d" da CF (arts. 3º, 4º e 8º do mesmo diploma, L.C. n. 77/93). 4. Ação Direta de Inconstitucio- nalidade julgada procedente, em parte, para tais fins, por maioria, nos termos do voto do Relator, mantida, com relação a todos os contribuintes, em caráter definitivo, a medida cautelar, que suspendera a cobrança do tributo no ano de 1993.”

402 ADI-QO 319/DF – Relator Ministro Moreira Alves – Julgamento: 03/03/1993 – DJU: 30/04/1993 –

Disponível em: <http:www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 22/11/2009. “Ementa: – Ação direta de inconstitucionalidade. Lei 8.039, de 30 de maio de 1990, que dispõe sobre critérios de reajuste das mensalidades escolares e da outras providencias. – Em face da atual Constituição, para conciliar o fundamento da livre iniciativa e do princípio da livre concorrência com os da defesa do consumidor e da redução das desigualdades sociais, em conformidade com os ditames da justiça social, pode o Estado, por via legislativa, regular a política de preços de bens e de serviços, abusivo que e o poder econômico que visa ao aumento arbitrário dos lucros. – Não e, pois, inconstitucional a Lei 8.039, de 30 de maio de 1990, pelo só fato de ela dispor sobre critérios de reajuste das mensalidades das escolas particulares. – Exame das inconstitucionalidades alegadas com relação a cada um dos artigos da mencionada Lei. Ofensa ao princípio da irretroatividade com relação a expressão "marco" contida no parágrafo 5º do artigo 2º da referida Lei. Interpretação conforme a Constituição aplicada ao "caput" do artigo 2º, ao parágrafo 5º desse mesmo artigo e ao artigo 4º, todos da Lei em causa. Ação que se julga procedente em parte, para declarar a inconstitucionalidade da expressão "marco" contida no parágrafo 5º do artigo 2º da Lei n. 8.039/90, e, parcialmente, o "caput" e o parágrafo 2º do artigo 2º, bem como o artigo 4º os três em todos os sentidos que não aquele segundo o qual de sua aplicação estão ressalvadas as hipóteses em que, no caso concreto, ocorra direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada.”

403 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Controle de constitucionalidade, cit., p. 176.

404 J. J. Gomes Canotilho ressalta que, havendo polissemia de sentidos de um ato normativo, a

possibilitando a sua manutenção no ordenamento jurídico, desde que ofereçam

possibilidade de interpretação que seja compatível com o texto da Carta

Constitucional brasileira. Essa técnica só tem cabimento quando se enfrenta

inconstitucionalidade material, e não formal.

405

Historiando as decisões proferidas pelo Supremo Tribunal, Gilmar Ferreira

Mendes, Inocêncio Mártires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco relatam que,

gradualmente, a Excelsa Corte tem se afastado da posição inicialmente agasalhada,

diferenciando a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto da

interpretação conforme a Constituição.

406

Para Regina Maria Macedo Nery Ferrari, a diferença anotada é evidente. Na

interpretação conforme a Constituição, há reconhecimento da constitucionalidade da

norma em virtude da adoção da interpretação que se adapta à Carta Magna,

enquanto na declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto

considera-se inconstitucional a parte que afronta a Constituição.

407

Há limites para a interpretação conforme a Constituição, na medida em que

o intérprete não pode contrariar frontalmente texto literal e sentido da norma

interpretada. Além disso, deve o intérprete zelar e respeitar a vontade do legislador,

não podendo distorcer o sentido da lei contrariamente à manifesta concepção

original do legislador.

408

Em outros dizeres, significa que a Corte Suprema não pode funcionar como

legislador positivo, sendo admitida a interpretação conforme só quando houver

espaço para a decisão do Judiciário, deixado pelo Legislativo. Ao Supremo Tribunal

com a Constituição. Segundo o constitucionalista português, “A interpretação das leis em conformidade com a Constituição é um meio de o TC (e os outros tribunais) neutralizarem violações constitucionais, escolhendo a alternativa interpretativa conducente a um juízo de compatibilidade do acto normativo com a Constituição.” (Direito constitucional e teoria da Constituição, cit., p. 958-959). Por seu turno, no artigo intitulado “Interpretação constitucional e sincretismo metodológico”, Virgílio Afonso da Silva sustenta que, ao se falar em interpretação conforme a Constituição, não se está versando sobre interpretação constitucional, pois não é a Constituição que deve ser interpretada com ela mesma, mas sim as normas infraconstitucionais. Em suma, a interpretação conforme a Constituição constitui um critério para a interpretação das leis, mas não para a interpretação constitucional (In: SILVA, Virgílio Afonso da (Org.). Interpretação constitucional. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 132-133).

405

FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Efeitos da declaração de inconstitucionalidade. 5. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 246.

406 Curso de direito constitucional, cit., p. 1187-1191.

407 FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Efeitos da declaração de inconstitucionalidade, cit., p.

248-249.

408 BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocêncio Mártires; MENDES, Gilmar Ferreira.

Curso de direito constitucional, cit., p. 1192; PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Controle de constitucionalidade, cit., p. 177-178.

cabe a atuação como legislador negativo, não podendo desempenhar atribuição que

lhe é institucionalmente estranha, a de legislador positivo, sob pena de usurpação de

competência que não lhe pertence, com evidente transgressão ao princípio

constitucional da separação de poderes.

A Excelsa Corte vem aplicando a interpretação conforme a Constituição,

consoante se denota, por exemplo, pelo julgamento da ADI-MC 1.344/ES.

409

No artigo 28, parágrafo único, da Lei n. 9.868/99, o legislador optou por

separar as figuras da declaração de inconstitucionalidade sem redução do texto e a

interpretação conforme a Constituição.

410

O predito dispositivo é claro ao preconizar que a interpretação conforme a

Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto

409 ADI-MC 1.344/ES – Relator Ministro Moreira Alves – Julgamento: 18/12/1995 – DJU: 19/04/1996

– Disponível em: <http:www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 22/11/2009. “Ementa: Ação direta de inconstitucionalidade. Pedido de medida liminar. Par. 1º do artigo 71 da Lei Complementar n. 46, de 31 de janeiro de 1994, do artigo 2º da Lei Complementar n. 48, de 19 de abril de 1994, e artigo 1º da Lei Complementar n. 50, de 18 de julho de 1994, todas do Estado do Espírito Santo. – Vantagens pessoais excluídas do teto de remuneração. Plausibilidade jurídica do pedido de liminar com relação as vantagens que as normas impugnadas excluem do teto de remuneração e que não são vantagens de caráter individual, por serem correspondentes ao exercício do cargo ou função, independentemente de quem seja o titular ou do que anteriormente ele tenha sido. No caso, são elas: as gratificações pelo exercício de função gratificada, pelo exercício de cargo em comissão, de produtividade e de representação. – Impossibilidade, na espécie, de se dar interpretação conforme a Constituição, pois essa técnica só e utilizável quando a norma impugnada admite, dentre as varias interpretações possíveis, uma que a compatibilize com a Carta Magna, e não quando o sentido da norma e unívoco, como sucede no caso presente. – Quando, pela redação do texto no qual se inclui a parte da norma que e atacada como inconstitucional, não e possível suprimir dele qualquer expressão para alcançar essa parte, impõe-se a utilização da técnica de concessão da liminar ‘para a suspensão da eficácia parcial do texto impugnado sem a redução de sua

expressão literal’, técnica essa que se inspira na razão de ser da declaração de inconstitucionalidade ‘sem redução do texto’ em decorrência de este permitir ‘interpretação conforme a Constituição’. – Ocorrência, no caso, quer do ‘periculum in mora’, quer da conveniência da suspensão requerida. Pedido de cautelar que se defere, em parte, para suspender a eficácia do artigo 2º da Lei Complementar n. 48, de 19 de abril de 1994, do Estado do Espírito Santo; para suspender, sem redução da letra de seu texto, a aplicação do par. 1º do artigo 71 da Lei Complementar n. 46, de 31 de janeiro de 1994, do Estado do Espírito Santo, no que concerne a remissão a alínea "i" do inciso I do artigo 93 da mesma Lei Complementar, bem como para suspender, sem redução de seu texto, a aplicação do artigo 1º da Lei Complementar estadual n. 50, de 18 de julho de 1994, do Estado do Espírito Santo, no que toca a remissão as alíneas "a", "b" e "i" do inciso I do artigo 93 da Lei Complementar n. 93/94 do mesmo Estado; e para suspender, também, no 1º do artigo 71 da citada Lei Complementar n. 46 e no artigo 1º da referida Lei Complementar n. 50, a remissão que ambos fazem ao inciso III do artigo 93 da também já mencionada Lei Complementar n. 46/94.”

410 “Art. 28. Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da decisão, o Supremo Tribunal

Federal fará publicar em seção especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União a parte dispositiva do acórdão. Parágrafo único. A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal.”

têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder

Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal.

Debruçando-se sobre o tema, Luís Roberto Barroso considera a

interpretação conforme a Constituição como gênero, que, por seu turno, comporta as

seguintes modalidades de atuação do intérprete:

a)

interpretação da norma infraconstitucional de modo e forma que melhor

capte o sentido e o alcance dos valores e fins constitucionais a ela

subjacentes;

b) declaração de que a norma não incide em determinada situação de

fato e

c) declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto,

consistente na exclusão de uma dada interpretação possível da norma,

com afirmação de uma interpretação alternativa que seja compatível

com a Carta Magna.

Para o referido constitucionalista, no primeiro caso não há incidência do

efeito vinculante, pois trata-se de mera declaração de uma interpretação, sem

exclusão expressa de outras. Nas duas outras situações, o jurista em referência

sustenta que há efeito vinculante, concluindo, por conseguinte, que “juízes e

tribunais não poderão aplicar a norma a uma situação de fato que tenha sido

excluída da sua incidência pelo Supremo Tribunal Federal, nem tampouco dar à

norma uma interpretação que haja sido por ele declarada inválida.”

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