• Nenhum resultado encontrado

Após inúmeras tentativas de tradução do conceito, optou-se por adotar o termo original wayfinding ao longo desta investigação. Pe- rante este facto, podemos até questionar a terminologia da presente dissertação, no sentido em que a significação do título desta disser- tação mais não é do que uma procura de significado de um termo globalizante, wayfinding, que encerra em si mesmo um conjunto de predicados e características difíceis de definir num único termo. Como tal, e de forma a dotar o tom discursivo de mais simplicidade, assumimos um programa ou projeto visual de orientação urbana com o termo wayfinding, no âmbito da análise da problemática no campo projetual e da definição de técnicas.

Segundo Nuno Gusmão (2016)9, elemento fundador do estúdio P-06,

a questão da nomenclatura pode definir-se pelos termos projetuais assumidos em contexto de orçamentação com a designação de modelo de comunicação + sinalética, assumindo a necessidade de distinguir os dois conceitos inerentes, sendo o primeiro referente ao âmbito conceptual e integrador e o segundo à conceção material. Corroborando em parte essa perspetiva, João Neves (2016)10 enfa-

tiza a utilização do termo sistema, mais concretamente sistema de informação e orientação, sentindo-se necessidade de acrescentar e associar a estes o conceito de design de espaços construídos (e não de ambientes).

Assim, apesar de ser considerado por alguns designers portugueses um recurso desobrigado de um estrangeirismo, assumimos essa simplificação de nomenclatura, sendo devidamente caracterizada no ponto 2.1.1. referente à terminologia.

Os elementos constituintes aqui identificados permitem a análise ge- ral que antecede as especificidades formais inerentes a um programa de orientação visual urbana.

Como tal, serão examinados à luz da perspetiva holística, e mediante uma exposição da terminologia associada, no sentido de promover um melhor entendimento global do conceito primordial deste capítulo.

2.1.

ELEMENTOS

CONSTITUINTES DE

UM PROGRAMA DE

WAYFINDING

8 Caleidoscópio.

Etimologicamente, a palavra caleidoscópio (grego kállos, beleza+eîdos, o que é visto, forma+scópio)

1. Aparelho de física, para obter imagens em espelhos inclinados,

e que a cada momento apresenta combinações variadas e interessantes. 2. Conjunto de coisas

que se sucedem, mudando. in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, consultado em 02-05-2017 9 Anexo E08

“design gráfico não é tão somente a visualização do discurso; ele é uma forma de discurso em si mesmo”. (Margolin, 1994, p.13)

a) Wayfinding

Nos anos 60, Kevin Lynch proclama o termo na sua obra a “imagem da cidade” (2003), no contexto do processo implícito de formar uma imagem mental do espaço. O conceito de wayfinding, no entender de Lynch (2003), reflete-se na interpretação pelo individuo/peão dos estímulos recebidos pelo ambiente externo, através de uma imagem mental criada pela sensação imediata ou pela memória passada.

“o ambiente sugere especificidades e relações, e o observador - com grande capacidade de adaptação e à luz de seus próprios objetivos – seleciona, organiza e confere significado àquilo que vê”. (Lynch, 2003, p.14)

Esta distinção ganhou notoriedade nos anos 70, na medida em que foram analisadas as estratégias de orientação dos peões.

Reforçando a abordagem a esta terminologia, Gibson (2009) destaca também a responsabilidade de Romedi Passini (2002), pelo desenvol- vimento e reconhecimento do termo wayfinding que, 20 anos após a definição de Kevin Lynch, nos anos 80 e através da obra “wayfinding

in architecture”, onde então este conceito é aprofundado. Sendo que

nos anos 90, mais concretamente em 1992 e em colaboração com Paul Arthur, Passini escreveu “wayfinding: people signs and archi-

tecture”, reincidindo nos estudos de lynch e acrescentando o termo signage (sinalética).

Referenciando a origem da terminologia, Passini (1996; in Zwaga et al, 2004) assinala que no campo investigativo da psicologia a noção de “way-finding” foi precedida por ‘orientação espacial’, que se refere à habilidade mental de uma pessoa para imaginar ou representar um ambiente físico e a situar-se espacialmente dentro essa representação. Nesta breve análise cronológica, e seguindo o raciocínio de Hunter (2010), destacamos a maior dinâmica no processo de wayfinding referida por Arthur e Passini (1992), ao contrário do identificado por Lynch (2003), tendo em consideração a capacidade avaliativa do utili- zador/peão perante um espaço concreto, com base na sua movimen- tação e na apreensão das informações e pistas que vão adquirindo. Estes autores refletem, deste modo, a complexidade da perceção, através das atividades do peão no ambiente envolvido. Realçam ain- da o facto de uma decisão de wayfinding ser um comportamento em resposta a um estímulo num determinado local, podendo estes estímulos serem especificados por umas escadas, um cruzamento ou um anúncio publicitário.

Perante este cenário, é reforçada a ideia de que uma informação apreendida no local errado pode traduzir-se numa desinformação completa (Arthur & Passini, 1992).

2.1.1.

A TERMINOLOGIA

O objetivo

Para Arthur and Passini (1992), reforçado por David Gibson (2009) e pela definição oficial da SEGD11, wayfinding deve assumir-se como

um programa ou um processo de utilização de informações espaciais e ambientais (SEGD), que permita a resolução de problemas espaciais de orientação, representando a assertividade de solução ao longo da circulação. Segundo esta perspetiva, a concretização de wayfinding está na garantia de um ambiente capaz de fazer entender a localiza- ção do peão, englobando a experiência da escolha de um percurso, como o conjunto de elementos de design que auxiliam essa decisão, de forma a favorecer a construção de um mapa mental do lugar. Ainda de acordo com o conceito indicado pela SEGD, o termo wayfin-

ding, não sendo referente a uma atividade diferente ou separada de

um projeto de sinalização tradicional, pode ser caracterizado pela amplitude e abrangência avaliativa de todas as questões que influen- ciam a capacidade de encontrar um percurso e destino. Assim, a esta denominação está associado um sistema ou programa abrangente composto por uma multiplicidade de componentes, nomeadamente, suportes sinalizadores, mapas, símbolos, cores e outras comunicações, integrando uma variedade de tecnologias e materiais, desde aplica- ções móveis, monitores digitais, RFID e outras tecnologias sem fio.