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Progredimos metodologicamente para a definição das estratégias ela- boradas pelo peão, sendo que as decisões não são tomadas isolada- mente, encontrando-se ligadas, o que produz ligações que se tornam significativas numa situação de resolução de problemas (Passini in Zwaga et al., 2004). Estas estratégias, dependendo muito da necessi- dade de informação individual, devem ser baseadas na compreensão das habilidades de tomada de decisão e limitações do peão.

Conforme refere Mollerup (2013) e Passini ( in Zwaga et al. ,2004), todas as decisões compreendem um plano ou decisão de forma a completar a tarefa original de encontrar um determinado destino. As- sim, perante um problema de orientação, os peões irão desenvolver a sua solução em função das informações disponíveis, sendo lógico que, quanto mais forte o apoio do programa de wayfinding, mais semelhantes serão os planos de decisão efetuados pelos diferentes indivíduos. Portanto, seguindo as referências de Passini ( in Zwaga et

al., 2004), a necessidade primordial é a identificação da forma como os peões devem chegar a um determinado destino, através de uma observação atenta aos fluxos circulatórios, de forma a prever os locais onde irão necessitar de informação.

“We have ample evidence that signs are not seen just because they are there. They tend to be seen when they are needed. “ (Passini in Zwaga et al., 2004, p. 251)

Um processo de orientação não se limita à representação da pessoa do espaço (mapa cognitivo), no sentido em que deve compreender todos os processos mentais envolvidos na mobilidade intencional. Passamos a assumir a expressão “processo de orientação”, em de- trimento de “programa wayfinding”, tendo em consideração a ação resultante do peão e não o programa de constituído pelos elementos formais, e tendo em consideração ainda das limitações do termo na língua inglesa.

Um processo de orientação deve ser determinado pela capacidade e propósito de resolução de problemas espaciais, designando a sua definição através da decomposição em três processos inter-relaciona- dos: 1. tomada de decisão e desenvolvimento de planos de decisão também chamados de planos de ação; 2. execução da decisão, trans- formando planos de decisão em comportamentos, no momento e lugar certo ao longo de uma rota; 3. processamento da informação, compreendendo a perceção da envolvente onde se insere e cogni- ção que providencia ao utilizador as informações necessárias para a tomada de decisão entre duas ou mais hipóteses. (Arthur & Passini, 2002; Passini, 1996)

Na identificação do processo interpretativo do peão, realçamos tam- bém a sistematização dada por Per Mollerup (2013), e corroborada por David Gibson (2009), no campo da análise conceptual do proces- so de wayfinding, sendo que consideram que as estratégias de circu- lação podem ser compartimentadas em três etapas nomeadamente pesquisa, decisão e movimento.

À etapa que constitui a pesquisa podemos inferir a questão “onde es-

tou”, podendo traduzir-se na habilidade de orientação, relacionando

o espaço físico e a coordenadas mentais ou físicas. Reflete a procura de informação, leitura e conjugação com a informação pessoal que cada utilizador possui. Neste campo, a pesquisa abrange a análise de mapas, orientações verbais, orientações na paisagem, sinalética e todas as ajudas possíveis, no sentido em que todas as informações se complementem e acrescentem conhecimento, desenvolvendo ou complementando o seu mapa cognitivo representativo do território. À etapa que constitui a decisão podemos compreender a escolha entre diversas hipóteses, a exploração e referência à questão “para

onde vou”, através da avaliação e comparação de possíveis rotas.

Nesta decisão, ambicionando a procura e tradução do espaço real num mapa mental, estão intrinsecamente incluídos fatores como fa- miliaridade, distancia, trânsito, segurança, paisagem, acessibilidade, facilidade de navegação, economia (portagens, outros transportes), horários e combinação com transportes públicos existentes.

do confronto direto da planificação com o território, podendo ser deduzida a questão “como vou” onde são verificadas as reais capa- cidades de orientação do utilizador. Podem ser aqui envolvidas as tarefas dedutivas de distâncias, percursos e a habilidade de identificar marcos de referência (Mollerup, 2013).

De acordo com David Gibson (2009), conscientemente ou não, po- demos fazer tais perguntas todos os dias enquanto navegamos a lugares e espaços de nossas vidas. A descriminação destas etapas de planificação é assim maioritariamente elaborada de forma incons- ciente pelo utilizador, que poderá efetuar ajustes ao longo do trajeto, consoante dificuldades que surjam, ou elementos inesperados que o confrontem no seu percurso.

Neste contexto de definição de estratégias de circulação do peão, às duas primeiras premissas Susan Hunter (2010) adiciona mais duas, uma vez que subdivide a questão “como vou” em dois: desenvolvi- mento de um plano para a sua deslocação até ao destino pretendido e execução desse plano, com possíveis correções necessárias ao lon- go do trajeto.

Orientação espacial

Entramos aqui no parâmetro da capacidade de orientação espacial, não dependente apenas da capacidade de resposta à metalingua- gem da sinalética, uma vez que reside parcialmente do fator me- mória, capacidade inata e animal, que persiste em paralelo com as nossas atividades racionais. Este fator foi bastante evidenciado por Lynch (2003), no âmbito da procura da forma como o espaço ur- bano afetava a memória espacial. Referia também como elementos fundamentais a distância e o reconhecimento do território para a tomada de decisão, evidenciando-os na comparação diferencial en- tre percorrer um local familiar e uma cidade desconhecida ou mesmo outro continente.

“This city can be known only by an activity of an ethnographic kind: you must orient yourself in it not by book, by address, but by walking, by sight, by habit, by experience; here every discovery is intense and fragile, it can be repeated or recovered only by memory of the trace it has left in you: to visit a place for the first time is thereby to begin to write it: the address not being written, it must establish its own writing.” (Barthes, 1989, p.36)

A planificação da orientação baseia-se assim na dicotomia entre co- nhecimento do território e no auxílio de informação disponibilizada por uma diversidade de meios e materiais. Assim, a uma solução mental, constituída pela tomada de decisão da viagem, dá origem a uma solução física, que se traduz na execução das tarefas definidas. Analiticamente, Mollerup realça o fato inerente à planificação de longos percursos, no sentido da divisão da rota em segmentos me- nores. Mentalmente, o percurso torna-se mais acessível, tornando-se dependente dos obstáculos e auxílios ao longo da viagem. Esta frag- mentação é evidenciada na planificação e procura de informação nos aeroportos, uma vez que há uma expectativa na correspondência a

uma hierarquia estabelecida, surgindo primeiro a porta área de embar- que e só depois a porta, dentro da área já definida (Mollerup, 2013). Este autor define nove estratégias inerentes ao peão na tarefa de orientação, uma vez que estes optam por definir a sua estratégia de orientação do percurso para executar a sua viagem. Esta estratégia pode ser definida com base nos princípios racionais de procura, deci- são e movimento. Nesta definição é incluída a procura inteligente e excluí o método aleatório.

Alguns viajantes normalmente fazem uma procura aleatória quando se sentem perdidos sem qualquer sentido de orientação. Apesar des- tas estratégias não serem reconhecidas racionalmente pelo utilizador, a sua escolha e possível combinação, construídas através da sua ca- pacidade de leitura da envolvente, depende da sua disposição, do seu conhecimento anterior do local, das fontes de informação que possui, dependendo ainda da envolvente durante o percurso.

Em certa medida, a tecnologia gpps e as aplicações para smartpho- nes tornam as estratégias normais redundantes. No entanto, nem todos os viajantes têm esse equipamento ou aptidão tecnologia de- senvolvida. Importa ainda referir que essa tecnologia não auxilia em ambientes fechados, uma vez que os sistemas gpps não funcionam nesses espaços. Na maioria dos casos, o gpps traz o viajante perto do destino, onde as estratégias de orientação espacial usuais reassumem a sua importância.

Mollerup (2003) destaca assim as seguintes estratégicas:

1. Seguir um percurso, track following, estratégia mais básica, uma vez que se baseia nos sentidos da visão, ocasionalmente auxilia- dos pelo tato ou audição. Muitas vezes o próprio percurso conduz ao destino, nomeadamente com guias no pavimento salientadas pela cor ou tipo de revestimento.

2. Seguir uma rota, route following, estratégia que exige perceção atenta, uma vez que há necessidade de informação acrescida, através de indicações fornecidas por suportes auxiliares, ou des- crições facultadas por habitantes. As instruções, pictóricas ou verbais, são fornecidas hierarquicamente, por ordem de apresen- tação territorial.

3. Seguir cognitivamente, educated seeking, estratégia que implica o uso de conhecimento já adquirido em situações semelhantes, onde o ponto crucial é a validade das premissas.

“truly inteligente behavior calls for the ability to use information acquired in one situation to solve problems in another” (Arno Penzias in Mollerup, 2013, p.34)

4. Seguir dedutivamente, inference, estratégia que salienta o uso das qualidades estruturais, como números de policias, toponímia, e outra informação fornecida. A dedução depende maioritaria- mente da organização numérica, operando pela capacidade de

sense making, uma compreensão mais profunda do problema, no

sentido que exige um esforço intelectual maior. Surge através da aplicação sequencial e ordenada das designações, definindo es- truturas compreensivas e seguindo os padrões culturais comuns.

Aqui destaca-se a incapacidade de orientação perante codifica- ções não pertencentes a padrões culturais semelhantes, (oriente). 5. Efetuar uma triagem, screening, estratégia que envolve a compe- tência e destreza de procurar algo específico numa determinada área, de forma sistemática. Mollerup diferencia assim de forma limitada, onde poderá ser procurada uma bomba de gasolina in- determinada, ou de forma total, no caso de uma procura de um local concreto.

6. Seguir através de contacto visual direto, aiming, estratégia mais facilitada, correspondendo ao movimento na direção do alvo percetível.

7. Seguir à leitura de mapas, map reading, estratégia que permite uma vista de larga escala do território que será percorrido, através da análise de uma vista aérea que possui a vantagem de efetuar uma triagem dos elementos relevantes, descobrindo as suas no- menclaturas. No entanto, a sua leitura implica o reconhecimento do destino, de forma a poder analisar e definir a rota mais indica- da. Esta estratégia implica a definição e capacidade de coordena- ção cognitiva entre mapa e identificação dos marcos no território. 8. Seguir as coordenadas e pontos cardeais, compassing, estratégia

recomendada para grandes áreas e em ambientes construídos. Nesta situação, o mapa mental do utilizador inclui uma ideia vaga dos pontos cardeais, podendo ter noção territorial orientada de alguns marcos relevantes, nomeadamente rios ou oceanos ou orientação solar. Há inúmeras cidades que associam à sua toponí- mia a indicação dos pontos cardeais.

9. Seguir, navegar ou circular com base social, social navigation, estratégia que significa percorrer um trajeto através de indicações dadas por outros que efetuam o percurso, através da analise dos seus testemunhos. Estratégia aplicada numa área com múltiplas saídas, recorrendo às opções mais utilizadas por outros utilizado- res. Os próprios percursos podem indiciar a sua utilização.

Figura 25

indicação este/oeste. Shangai. Arquivo autor

Na prática, e ainda de acordo como o autor, o peão emprega assim várias estratégias de orientação de forma intuitiva e inconsciente. Possuindo esta análise cognitiva é possível antecipar as suas necessi- dades, sendo necessário fazer com que os destinos e percursos sejam reconhecidos pela sua variedade, hierarquia, posição relativa e iden- tificação de sinais.