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30 Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia

solidificados com “arcos de cantaria, ao nível dos fundamentos, para

permitirem a livre entrada e saída das águas sem afetarem a estrutu- ra dos edifícios e, ao mesmo tempo, proporcionarem também uma fácil entrada e saída de carros-de-bois com mercadorias e pipas.”

(pp.72-73).

Era este o cenário urbanístico do centro histórico até ao século XX, detentor de armazéns, habitações, lojas de comércio e oficinas de tanoaria que ainda hoje podemos deslumbrar (temática especificada no âmbito dos objetos de estudo – estaleiro).

A ligação marítima é também evidenciada por Guimarães (in CMG,2017), nomeadamente na análise aprofundada às centenas de embarcações que outrora passaram e atracaram nos cais ao longo da margem ribeirinha, nomeadamente “bergantins ou brigues, escunas

e galeotas” (p.76).

Aqui é dissecada a atividade internacional vivida entre 1817, “(...) 344 navios portugueses e apenas 189 britânicos (...)” e no período

de 1818 a 1825 onde “ (...) dos mais de 1854 navios mercantes dife-

rentes que entraram a barra, 605 eram britânicos, 509 portugueses, 156 dinamarqueses, 103 estadunidenses, 100 suecos, e os restantes em número menor, de mais dezasseis nacionalidades, entre os quais alguns que arvoravam bandeira ora portuguesa ora brasileira con- forme as indefinições e as conveniências.” (p.76).

Entende-se assim a dinâmica que outrora o território presenciou, onde a construção naval, a “azáfama das tanoarias” e as diversas “indústrias

química, de louça, têxteis, sabões e serralharia (...)”se desenvolviam

ao longo das margens (Guimarães in CMG, 2017, pp.77-78).

A par deste desenvolvimento, Guimarães (in CMG, 2017) realça a im- portância para o trafego comercial da conexão à cota alta da cidade, mais concretamente à Estação das Devesas por um sistema mecânico a vapor, em 1891, na Calçada das Freiras (atual Rua Serpa Pinto). Nesta análise expositiva de Guimarães (in CMG, 2017) realçamos por fim um conjunto de individualidades com intima ligação a esta área espacial delimitada, nomeadamente “Almeida Garrett, escritor

e político, que um dia escreveu «ora eu nasci no Porto, mas criei-me em Gaia»; (...) Frederico William Flower, empregado de armazém de Vinho do Porto e pioneiro da Fotografia a nível mundial; Joseph James Forrester, também ele fotógrafo, além de cartógrafo do Rio Douro; (...); Adriano de Paiva, 1º Conde de Campo Bello, (...) físico e inventor em 1878 da telescopia elétrica, o princípio da televisão; Artur Napoleão, pianista e compositor de fama mundial (...) ; Bel- chior Fernandes da Fonseca e António da Costa Bernardes, pioneiros da aventura de voar; (...) António Soares dos Reis e António Teixeira Lopes, escultores; (...) António Pinho Vargas, músico e compositor, nascido na rua da Barroca” (p. 82).

Ainda, neste contexto, é de salientar o destaque dado à associação recreativa Mareantes do Rio Douro, com mais de 300 anos de his- tória, com a sua “inconfundível tocata de bombos e tambores e a

sua participação na primeira romaria do ano, percorrendo as ruas e saudando os moradores até à igreja matriz da vizinha freguesia de Mafamude” (Guimarães in CMG, 2017, p.86).

Na continuação exploratória dos elementos singulares do território, evi- denciamos a observação de António S. P. Silva31 no campo da análise à

31 Historiador, arqueólogo, investigador bolseiro no centro de investigação transdisciplinar cultura, espaço memória (UP) e Universidade Santiago Compostela, (CMG;2017; p.101)

dimensão física e de narrativas identitárias que o espaço encerra. O autor, considerando o território como “uma constelação de diver-

sos lugares, com identidades sócio-históricas em parte comuns mas em parte distintas acentuadas pelas “micro-identidades particula- res” (Silva in CMG, 2017, p.125), evidencia o Castelo de Gaia como

sendo o “verdadeiro berço fundador da ocupação humana da zona

ribeirinha de Gaia e germe da urbanização que desde a Idade Média – se não mesmo da época romana –“ (p.109) Este local surge assim

como detentor de um imaginário narrativo popular imensurável, onde a Lenda de Gaia, ou do Rei Ramiro foram assumindo inúmeras ver- sões, desde o final do século XIII.

No entanto, o autor refere ainda que o local contém em si reminis- cências arqueológicas, possivelmente, do período da Idade do Ferro e até da Idade do Bronze Final. Estes factos levam à idealização de pequenos centros interpretativos, “desenhados a uma escala realista

mas suficientemente qualificados para ser atrativos, poderiam pro- gressivamente dotar o CH de outros pontos singulares de apoio ao turismo e à comunidade local” (Silva in CMG, 2017, p.128).

António S. P. Silva refere por fim que o desafio patente neste território vivo e dinâmico está no “equilíbrio virtuoso entre a adaptação/reutili-

zação dos valores histórico-culturais” (CMG, 2017, p.131).

Na continuidade analítica ao documento estratégico para a nossa in- vestigação, fazemos uma breve abordagem à comunicação do arqui- teto Rui Ramos Loza, no contexto da unidade estética que o centro histórico de Vila Nova de Gaia representa, inserido em plena área de proteção ao centro histórico do Porto, distinguido pela Unesco em 1996.

Assim destacamos os fatores que o autor refere como demonstrativos dessa unicidade:

“a) um conjunto urbano; b) consolidado historicamente; c) justificado por uma atividade continuada; d) de grande dimensão; e) coerente com a geografia do local; f) com uma grande unidade arquitetónica; g) com elevado valor paisagístico; h) integrado num vasto centro histórico que inclui Porto e Gaia; i) na margem de um rio de elevado valor patrimonial; j) em convívio com monumentos de significativo valor artístico e paisagístico; l) inseridas num sistema de bens do Património Mundial que incluem o Porto, cidade sede da gestão do Vinho do Porto e o Alto Douro Vinhateiro, região de produção do mesmo vinho.” (Loza in CMG, 2017, pp.172-173).

O autor refere ainda a relevância visual e estética que a adaptação do edificado à topografia produziu, através da “diversidade de formas

e de orientações no conjunto dos armazéns” (p.177), enumerando

ainda os diferentes materiais associados “pedra de granito, madeira

de carvalho e telha cerâmica de barro vermelho com argamassas caiadas como acabamento das fachadas” (p.174).

No contexto da reabilitação do território validámos, através da co- municação de Daniel Couto32 (in CMG, 2017), a importância que a

temática tem vindo a adquirir nos últimos quarenta anos. Iniciando com a aprovação da proposta defendida por J. A. Gonçalves Guima- rães da área delimitada de Centro Histórico em 1984, pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. Como consequência foi criado o 32 Arquiteto, presidente do conselho de

administração da Gaiurb, urbanismo e habitação.

Gabinete Técnico Local, tendo publicado as normas pioneiras para as intervenções no edificado. Assim, foram sendo classificadas áreas de intervenção associadas a planos de pormenor, nomeadamente da zona do Castelo de Gaia, dos eixos Rua Cândido dos Reis/Rua Guilher- me Gomes Fernandes, da Escarpa da Serra do Pilar, integrando a Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística.

Destaca-se ainda a definição da Frente Urbana da Ribeira pelo PDM (plano diretor municipal) no ano de 1993, já assumindo a intenção de promover a classificação internacional dos Centros Históricos de Por- to e Gaia. Já em 1996 é criado o Projeto Municipal de Reabilitação do Centro Histórico de Vila Nova de Gaia, ambicionando um projeto de Salvaguarda e Valorização do Centro Histórico. De acordo com Couto (in CMG, 2017), como consequência e corporizando as propostas apresentadas, foi criado em 1997 o GRUCH, Gabinete de Reabilitação Urbana do Centro Histórico.

Em 2006 é apresentado ao Município o estudo de enquadramento estratégico, Masterplan, encomendado à entidade Parque expo, e que foi previamente analisado no ponto anterior.

Já em 2008 é criada a “CidadedeGaia - Sociedade de Reabilitação

Urbana, entretanto reestruturada como DRU, Departamento de Rea- bilitação Urbana, numa estratégia consolidada em 2013” (p.194),

assumindo atualmente a designação de Divisão de operacionalização da Reabilitação Urbana.

Conclui-se desta breve descrição cronológica a importância que a área de intervenção da nossa investigação aplicada assume no contexto municipal, numa tentativa de promover a sua reabilitação, tendo em consideração os seus elementos identitários patrimoniais.

A análise destes três documentos, Masterplan CidadeGaia (2006), ORU - projeto da operação de reabilitação urbana (2016) e Livro de Atas da Conferência Internacional de Vila Nova de Gaia (Cidades de Rio e Vinho – memória, património, reabilitação) (2017) permitiu um amplo conhecimento sobre o território e intervenções públicas ao longo dos anos.

Verificou-se que no documento de enquadramento estratégico Mas- terplan CidadeGaia, datado de 2006, já estão detalhadas muitas das atuais potencialidades e condicionantes no âmbito das acessibilida- des, morfologia, espaço público e tecido social que se verificam no documento ORU (2016). Neste sentido, verificamos no documento ORU a pertinência das ações propostas para efetiva implementação, bem como a incidência na preocupação de inclusão da população local no sentido de introduzir o fator de inclusão e sensação de per- tença em todas as ações estruturantes.

Na continuidade de análise explorámos as intervenções no âmbito da Conferência Internacional de Vila Nova de Gaia -Cidades de Rio e Vinho, das quais destacamos as incidências na necessidade de preser- var a memória e as suas narrativas em consonância com as dinâmicas atuais, num equilíbrio necessário e premente.

“Raios partam as etiquetas” (Álvaro Domingues, 2013)33 No contexto exploratório a principal nota dada por Álvaro Domin- gues remete-nos para noção de reinvenção da temática “sinalética”, salientando a importância da tipografia de grande escala existente no espaço concreto. Domingues destaca que a sinalética como elemento facilitador deve resumir-se ao básico, com capacidade de deixar o turista perder-se no espaço e incentivar a necessidade de descoberta. Realçamos aqui a evidência da sinalética já existente, constituindo por si só uma marca tipográfica de grande escala no território, desenhada e presente ao longo dos anos na morfologia acentuada do centro histórico, não sendo apenas o acréscimo de letras soltas colado à necessidade de orientação turística.

3.3.

A TIPOGRAFIA

DA CIDADE CONCRETA

33 Anexo E01 Figura 69 Letras soltas Arquivo autor

Figura 70 Arquivo Gaiurb