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No contexto cada vez mais virtual, a primeira referência à possibili- dade da realidade dos sistemas de sinais físicos serem substituídos pelos sistemas de navegação pessoal, surge com Colin Beatty (Turner, 2010), especialista em navegação por satélite, no Sign Design So- ciety16 em 2008 considerando que no futuro, as informações digitais

disponibilizadas nos vão tornar completamente autónomos e libertos do uso de pistas reais.

Apesar da tecnologia de navegação por satélite estar a ser desenvolvida desde os anos 60, é na primeira década deste século que as aplicações disponíveis ao consumidor ganham terreno, nomeadamente através dos sistemas integrados nas viaturas e nos dispositivos móveis pessoais ambiciosos. Esta tecnologia não se limita apenas a construir mapas pre- cisos, sendo visível a incrementação do nível de detalhe da morfologia e toponímia da estrada, das fachadas dos edifícios ao lado, das entradas para pontos turísticos locais, dos ângulos e das interseções.

Nesta circunstância, os mapas digitais já estão a transformar a cir- culação dos utilizadores, fazendo-nos relembrar os estudos iniciais do processo de wayfinding, onde era referido que as ferramentas de auxilio de navegação limitam a capacidade de apreender as rotas, uma vez que estes dispositivos eliminam a necessidade de decorar e memorizar. Os investigadores no âmbito da “psicologia cognitiva” ar- gumentavam ser o processo de decisão e escolha de rotas que auxilia no desenvolvimento do nosso mapa mental, uma vez que os utiliza- dores, através de sistemas de auxilio, nomeadamente gps, tendem a reter menos informação sobre o mundo que eles encontram.

Assim, corroborando a análise de Passini (in Zawga et al, 2004), Julia Turner considera que estas novas tecnologias de orientação vêm alterar o prisma com que se desenvolve um sistema de wayfinding, nomeadamente através da fixação de uma maior atenção nos espa- ços interiores, deixando a orientação de exterior para as aplicações. Com base nas premissas indicadas por Mollerup (2013), podemos observar que o processo atual de wayfinding se inicia muitas vezes numa tarefa de orientação ainda em casa (procurar), através da ana- lise, impressão ou download de mapas no telemóvel. Assim, torna-se premente a necessidade de explorar novas ferramentas à disposição, de forma a tornar a informação coesa desde o ponto de partida inicial. Questionamos assim a possibilidade das novas ferramentas de nave- gação transformarem a forma de desenhar e usar os sinais físicos no mundo real?

Craig Berger (2005), reafirma as duas funções chave de um programa de wayfinding, a identificação do local atual do utilizador e a indica- ção da orientação pretendida. Neste sentido considera que, com as novas aplicações de navegação pessoal e avanços tecnológicos, os projetos se ajustam mais à primeira função do que à segunda, uma vez que não serão necessárias vinte indicações ao longo do percurso, mas apenas serão necessárias indicações de compreensão do espaço. Neste âmbito, os sinais físicos poderão vir a limitar-se a constituir apenas uma identificação contextual orientadora. Há sempre uma procura de validação nos sinais físicos para garantir a rota certa. 16 Associação de designers gráficos,

consultores de wayfinding, produtores, académicos, investigadores na área da sinalização e design de informação.

Colin Beatty (in Turner, 2010) acredita numa visão mais extremada, na qual não serão necessários quaisquer sinais físicos, tendo em con- sideração a qualidade dos suportes digitais, que se tornarão cada vez mais fiáveis, (tal como os olhos). Destacando os custos elevados de manutenção de uma extensa rede de sinalização rodoviária sendo que no futuro, talvez apenas sejam necessários alguns sinais básicos de emergência como uma falha de segurança.

“it means is that sign design—a profession seemingly enjoying its golden age—is on the verge of having to reinvent itself.” (Colin Beatty in Turner, 2010)

Contrariamente, Greg Giordano considera haver oportunidade de os sinais nas paredes se tornarem inteligentes, no sentido de reconhe- cer pessoas e dar instruções com base nas suas necessidades. Desta forma, há possibilidade de conexão entre sinais inteligentes e a na- vegação por satélite num dispositivo localizador como um telefone, tornando a experiência de orientação focada na individualidade das necessidades momentâneas.

Neste contexto, invertendo ainda a lógica do sinal inteligente que interpreta as necessidades do utilizador, já se encontram disponíveis diversas aplicações para dispositivos móveis desenhadas estritamente para interagir com estabelecimentos e edifícios, através de Qr Codes, alguns dos projetos serão analisados no capitulo 5.

Considera-se, no entanto, que neste momento ainda não foi atingido o ponto máximo de desenvolvimento de aplicações que eliminem a necessidade da sinalização real, uma vez que, acordando com a referencia de Mollerup (2013), há sempre uma necessidade de com- plementar a tecnologia com a realidade, e essa validação surge pelo olhar, no território real, sem intermédio de tecnologias.

“…mal acaba de ser concebida, a informação é interpretada, tornando-se assim subjectiva, até mesmo os símbolos mais obje- tivos, as letras, podem tornar-se ícones culturais de direito pró- prio, quando concebidas com uma intenção cultural especifica (…) uma imagética aparentemente neutra, como a dos painéis de sinalização das ruas, poderá fundamentar-se visualmente na história e identidade culturais do meio envolvente através da linguagem gráfica, diagramática, pictórica.” (Di Sciullo, 2005, Catalysts Expo)

Focando-nos nas especificidades pictóricas, baseadas nas reflexões teorizadas desde o inicio do século XX por Otto Neurath, evidenciadas no capitulo 2.1.2. as origens, avançamos para as definições e propo- sições refletidas por um conjunto de designers nomeadamente Joan Costa, Enric Satué (2001), Abraham A. Moles (1986), Per Mollerup (2013), João Neves (Neves e Silva 2016), na procura da legibilidade visual, procurando desenvolver um corpo teórico sustentado.

Tornou-se substancial a organização teórica por destacamento das temáticas, tendo em consideração a complexidade estrutural.

2.3.2.

OS SIGNOS

Universalidade

Reforçando a intervenção de Robert Dewar (in Zwaga et al., 2004), inferimos que num contexto de globalização atual, onde o crescimen- to exponencial económico ligado aos transportes aéreos, terrestres e marítimos promove um incremento da mobilidade entre países, tor- na-se mais do que nunca necessário saber comunicar as mensagens necessárias entre linguagens diversas, de forma eficaz e instantânea. Na ânsia de comunicar de forma eficiente e quase instantânea, há ne- cessidade de criação de novos códigos ou ampliação e melhoramento dos códigos existentes.

A universalidade de muitos pictogramas depende das diferenças cultu- rais e sociais, podendo afetar o seu reconhecimento e apreensão corre- ta. (Calori & Vanden-Eynden, 2005). Assim, assiste-se ainda um pouco por todos os destinos, a uma diversidade pictórica, por vezes dotada de alguma incoerência e falta normalização, introduzindo ainda mais ruído visual e pouca assertividade na comunicação da mensagem.

Ao contrário da linguagem verbal, a construção visual não possui uma gramática específica e rígida, mantendo-se contínua a pesquisa sobre a interpretação da combinação de elementos de uma imagem por parte do utilizador, mediante novas realidades que abarcam novas tecnologias e novas interpretações e usos.

“As famílias de pictogramas sucederam-se na segunda metade do séc. XX como um encadeado de combinações práticas, cultu- ras e formas, deixando visível o rasto da sua genealogia.” (Provi- dência, 2012, p.161)

Tal como o vocabulário tipográfico, deve possuir características de- terminantes para a sua aprendizagem e reconhecimento. Segundo Dewar (in Zwaga et al. 2004) e Calori & Vanden-Eynden (2015), a sua utilização pode ser traduzida numa maior capacidade de identificação a uma maior distância, de forma mais célere e mais precisa, desde que a mensagem se paute pela simplicidade, claridade e coesão. Sendo considerados códigos de apreensão imediata, com extremo poder de síntese, estes, regem-se pelos princípios de simplicidade, clareza e legibilidade, contendo um poder amplificador e exemplifica- tivo. (Satué, 2001)

O léxico pictórico tem como objetivo a transmissão de uma mensa- gem ou conceito, à luz da depuração formal, ao maior número de leitores, cuja identidade pode abarcar um sem número de linguagens, particularidades sociais e culturais.

No contexto da sinalética, estes símbolos podem traduzir mensagens com graus de complexidade diversos, mediante a representação de simples palavras ou conceitos e ações, no entanto, segundo Francisco Providência (2012), há como que um “esforço coletivo no redesenho do abecedário sem, no entanto, se questionar cada uma das letras” (p.161), onde o processo de apropriação e justaposição é considera- do natural na evolução humana.

Estas representações pictóricas, podendo ser associadas a pequenas palavras, possuem uma capacidade de enfatizar e reforçar uma men- sagem, uma ideia ou um objetivo a transmitir.

Esta aptidão representativa obtém uma importância crucial em ambientes onde há necessidade de informação bilingue, hospitais, aeroportos, centros de exposição parques temáticos, uma vez que se traduz numa economia de espaço fundamental nos suportes de sinalização (Calori & Vanden-Eynden, 2015).

De acordo com Dewar sua versatilidade é compreendida pela incorpo- ração de inúmeras características que a podem tornar um vocabulário pictográfico multidisciplinar, nomeadamente através da combinação da cor, forma e tamanho (Zwaga et al., 2004).

No entanto, Satué (2001) considera que a sua utilização massiva num projeto pode retardar o tempo de apreensão dos mesmos, uma vez que o leitor tentará interpretar uma linguagem, e não apenas elemen- tos isolados.

É de referir ainda a importância que o contexto e experiência cultural podem desempenhar na compreensão dos símbolos, alertando Dewar ainda para a importância das mudanças físicas de alguns objetos ao longo do tempo. Assim, a facilidade de interpretação de um símbolo/ pictograma, e consequentemente a sua eficácia, dependem intima- mente do objeto em causa e da sua mensagem, designadamente dos “atributos psicológicos da informação” (in Zwaga et al., 2004, p.285).

Cumpre ainda realçar as preocupações com o processo cognitivo le- vantado por Kolers já em 1969, referido por Dewar (in Zwaga et al., 2004), uma vez que indica a relevância da sua análise num processo criativo de símbolos. Kolers (1969) conclui que ‘deveria ser evidente que as alegações de “imediatismo” e “objetividade” de entendimento dos pictogramas e especialmente as reivindicações da “linguagem

instantânea” sejam drasticamente excessivas’, propondo assim a

conciliação de esforço de todas as disciplinas circundantes, nomea- damente a investigação comportamental, de forma a aumentar a eficácia final de todos os tipos de símbolos no sentido de melhorar a qualidade da pesquisa sobre símbolos.